The 17th Hunger Games escrita por DowneyEvans


Capítulo 8
Não tem mais volta


Notas iniciais do capítulo

Eu tava aqui fazendo minhas contas quando percebi que fazem exatamente 45 dias que eu não postava ;-; aí eu fui olhar lá e tava aparecendo que eu provavelmente tinha abandonado a história :s e eu não fiz isso tá, vocês são tão legais ;D Mas tá, é por que eu tava muito sem jeito pra escrever esse capítulo (tanto é que a lontra aqui escreveu os 3 próximos primeiro, lol) ele não é o mais importante e nem ficou muito legal, mas ele era preciso.
Ow, o fim de mundo foi dahora né véi??



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– SINCERAMENTE SARAH, VOCÊ TEM TITICA DE GALINHA NA CABEÇA????

– FALE UMA COISA QUE ELES POSSAM ENTENDER LENNY!! TITICA DE PEIXE??

– EU FALEI PRA ELA, FALEI!

– PORQUE VOCÊ SE SUICIDOU ASSIM?? PODERIA TER VIVIDO MAIS DO QUE O PRIMEIRO DIA!!

– ISSO É INACEITÁVEL!!

– VÃO DESCONTAR TUDO NA GENTE!!

– AI MEUS DEUS COMO EU ESTOU GORDA!!!

De repente todos param de tagarelar e olham para Orchid, que se olhava no espelho do elevador. Em seguida ela se recompôs e murmurou um ‘’desculpe’’ baixinho.

Não preciso nem comentar que desde que Baron saiu do palco, ninguém parou de me xingar um segundo. Minha vontade era de gritar, espernear, dizer tudo o que eu sinto, e dar uma boa porrada em todo mundo. Mas preferi ficar calada, o que estava sendo uma tarefa muito difícil, já que com essa gente toda me enchendo o saco, o elevador estava demorando uma eternidade a mais que o normal até chegar no andar 4.

Baron continuou cabisbaixo e sem dizer uma única palavra desde a entrevista. Eu precisava falar com ele, eu sei o que ele tem. Mas não no meio desses doidos incompreensíveis!

Finalmente o elevador parou e eu mais que rápido, saltei para fora e caminhei rapidamente até o ‘’meu’’ quarto. Eu queria tirar toda essa porcaria do meu rosto, mas isso não foi possível ainda.

– Com licença. – Baron passou por mim e se trancou em seu quarto. Eu já ia fazendo o mesmo, mas Saffra me parou.

– Aah espera aí!! Ainda temos muito a conversar sobre seu futuro próximo!!

Me virei bruscamente.

– QUE FUTURO PRÓXIMO?? Quero dizer, que futuro EU tenho??? Eu vou morrer amanhã Saffra, isso é inevitável! Ou melhor, não é não! Mas as pessoas só não evitam porque sentem prazer em nos ver morrer!

Ela ia abrir a boca de novo, mas eu interrompi.

– Não! Agora é minha vez de falar!! Eu ouvi vocês me atormentarem a viajem inteira, agora a palavra é minha! Sabem como eu me sinto?? Não!! Isso nem ao menos importa para vocês!! Só modos, só patrocinadores! Já Pensaram que eu possa sobreviver sozinha, sem a ajuda de nenhum paraquedas prateado caindo do céu?? Que eu realmente sou boa, e tenho as habilidades necessárias?? NÃAAAO!! Vocês acham que eu roubei tirando um 9, é isso?? Porque uma nota assim, só se tira quem é realmente boa, não uma pessoa ‘selvagem’ que ameaçou os idealizadores com sua voracidade! NÃO! EU NÃO SOU UMA PESSOA SELVAGEM, NEM MUITO MENOS INDEFESA! SOU APENAS UMA GAROTA NORMAL, QUE TEM SENTIMENTOS!!!! Vocês me julgaram por estar usando uma roupa suja e rasgada, mas caso não tenham percebido, tirando a Capital, que tem tudo de bom e do melhor, o país inteiro se veste assim, pois, caso também não se lembrem, só se passaram 17 anos após uma guerra horrorosa, que deixou milhares de nós marcados pela dor, sem casa, famintos... Enquanto que aqui, pessoas como Orchid se esforçam para não comer demais para não engordar! Aparência. Aparência é tudo aqui. Criaram uma imagem de louca para mim por causa das minhas vestias. Fico imaginando o que falaram então, dos pobres moribundos do 11 e do 12. Vocês me disseram para fazer coisas ridículas, como ser sarcástica e amedrontadora. Me disseram para fazer papel de idiota, fingindo não ter medo, mas se existe um sentimento dentro de mim maior que o meu orgulho, é o medo. EU NÃO SOU ASSIM, TÁ LEGAL?? Se vocês queriam alguém que impusesse medo, não deviam ter procurado por uma garotinha de 14 anos, sem amigos, que nesse momento está quase implorando por mais um abraço daquela mãe horrível da qual eu desprezei. E o pior: vocês põe a culpa em mim, como se ela realmente fosse. NÃO FUI EU QUEM ESCOLHEU ESSA ROUPA MEDONHA! NÃO FUI EU QUEM ESCOLHEU O BATOM VERMELHO! NÃO FUI EU QUEM DISSE PARA AGIR DAQUELE MODO LÁ NO PALCO COM BRUCUS!! NÃO FUI EU QUEM ESCOLHI ENTRAR PARA OS JOGOS!!!!

Parei um pouco para respirar, eu estava chorando tanto que nesse momento, eu devia estar parecendo um monstro cadáver. Todos eles continuaram olhando para mim. Totalmente sem palavras. Tudo o que eu queria era tomar um banho de mar e me deitar na minha velha cama de madeira, mas nem isso eu podia mais. Eu não sabia mais o que dizer, estava lá parada, os encarando, chorando sem parar, esperando algum deles prosseguir, mas já que parece que isso não vai acontecer, fui eu mesma.

– Eu só... Fiz o que vocês pediram... Mas, como todo erro da humanidade é culpa minha, que seja. Que vocês prefiram discutir ao passar um tempo comigo, na nossa ultima noite juntos, como uma família de verdade que eu nunca tive... Sabe que... Meu irmão trabalha duro, dia e noite, não para em casa. O meu pai?? Nos abandonou quando eu tinha apenas 6 anos!! Minha mãe, só serve para me acordar gritando e sair com suas amigas peçonhentas. – comecei a chorar de verdade. Eu sempre estive sozinha. - Nesse pouco tempo que passei com vocês, eu realmente me senti no meu lugar... Mesmo sabendo que não passaria de uma semana, eu me senti bem, me senti querida, acolhida entre vocês... Mas tudo bem. Agora me deem licença, eu preciso tirar essa coisa de mim – apontei para o meu rosto, me virei e fui andando lentamente, cabisbaixa até o meu quarto, onde tranquei a porta. Nenhum deles falou mais um pio até que eu entrei no chuveiro, onde não se dava para ouvir mais nada de lá.

Minha cabeça estava explodindo! Um turbilhão de sentimentos, confusões, pensamentos, choros!! Isso é muito para a cabeça de uma criança! Eu sou só uma criança! Não posso negar isso!!

Deixei a água quente cair em minhas costas e relaxei por um longo tempo, até que me lembrei do meu estado. Peguei uma esponja e a esfreguei com bastante força em todo o meu corpo, tentando tirar qualquer resquício daquela coisa cinza estúpida. Tentei pentear meu cabelo, porém, ele estava muito embaraçado por eu ter o molhado com todos aqueles produtos que Tiberius havia passado nele. Não estava com paciência para desembolar, ou secar, então deixei solto e assim mesmo, não importa. Vesti sem pressa uma blusa larga de malha cinza, um short e pantufas quentinhas. Me olhei no espelho finalmente, então comecei a tirar violentamente a mancha preta dos meus olhos. Aquilo não era eu. Estava louca para me livrar daquele troço, então fiz o mais rápido possível, mesmo parecendo que eu havia levado um soco.

Finalmente, essa era eu. A verdadeira eu. A Sarah estranha, sem amigos e triste.

Abri a porta bem devagar, para não chamar atenção dos outros, o que não deu muito certo, já que eles, que estavam todos reunidos no sofá da sala (aparentemente discutindo como iriam se desculpar de mim) e viraram na hora.

– Óh Sarah! Espera um segundo! – Saffra foi em minha direção e eu rapidamente bati na porta de Baron, que disse baixinho para eu entrar, e quando eu entrei, fechei a porta correndo, dizendo que me deixassem em paz.

Me aproximei de Baron, ele estava deitado na cama, olhando para o teto, parecia estar chorando. Não parecia, estava.

– Baron olha pra mim. – ordenei com um tom um tanto de superioridade. Ele olhou um pouco surpreso pelo jeito que eu falei, e ficou esperando o que eu ia dizer.

Olhei para o chão, respirei fundo, e em seguida me voltei para ele, seriamente. –Ela era sua namorada, não é? A garota loira, que chorara na Colheita.

Acho que o peguei de surpresa. Ele se ajeitou rapidamente e veio em minha direção.

– A conheço desde que nasci. Nossas famílias são amigas, nadávamos enquanto nossos pais pescavam na parte mais funda da praia. Ela é a pessoa da qual mais confio nesse mundo, minha melhor amiga, eu a amo, ela é, é... Tudo o que eu tenho... E agora ela deve de estar presa por me gritar na Colheita, e... Isso é tudo minha culpa!! Por que eu tive de ser escolhido?? Eu deveria ter ficado lá, a defendido, e não ter vindo para a estúpida Capital!! Mas que escolha eu tive?? Nenhuma!!

Ele começou a chorar sem nem se importar com a minha presença ali. Quero dizer, eu não sabia que ele a amava tanto assim e que ela era o motivo dos choros toda noite. Admito que fiquei um pouco decepcionada, mas eu compreendo... Eu é que nunca tive alguém especial assim para amar...

– Bom, eu te entendo, eu...

– Não Sarah, não entende, ela é como minha irmã, e agora deve estar presa em algum lugar repugnante, apanhando, sofrendo... – ele tentou engolir o choro mas não conseguiu – e eu não posso fazer nada contra isso!!

Eu o abracei. Acho que era a melhor coisa a fazer no momento. Ele continuava a resmungar coisas do tipo ‘’ é tudo culpa minha’’ mas eu o acalmei.

Eu quero muito ganhar. Quero sobreviver, e vou tentar fazer isso, mas... Também quero que Baron possa encontrá-la de novo, libertá-la da possível prisão em que ela está agora, se é que não a fizeram coisa pior. Sei que fizeram, e isso me enfurece!! Não é justo!! Aliás, porque TODOS NÓS não podemos voltar para casa e ficar com quem amamos?? Hein??

– Escuta, eu quero muito que você ganhe, de verdade, quero que você volte para a...

– Jenn. Jennifer.

– É... E que seja feliz com ela, espero realmente que não a tenham feito nada ruim... Quero que volte!

Ele me olhava seriamente.

– Obrigado Sarah, você é a pessoa mais incrível que eu já conheci, você... Você vai ganhar, eu quero que ganhe!!

– Aah... Eu também Baron. O problema é que ao contrário de você, eu não tenho muitos motivos pra voltar...

– É claro que tem! Você vai provar que não é isso o que dizem de você!! Vai provar o seu valor, que sua vida é muito mais do que uma mera brincadeira! Vai provar que é capaz, e vai conseguir!!

– Ér... Obrigada... – eu nunca tive uma conversa assim com alguém antes, alguém que me achava capaz de verdade, e que eu sei que não está mentindo. Posso ver isso em seus olhos tristes que ainda me encaravam sem nem piscar, o que me deixava mais sem graça ainda.

Eu não sabia muito o que dizer. Eu queria acalmá-lo de alguma forma, ele ainda estava muito abalado, mas eu não sou muito boa em reanimar as pessoas. Eu não consigo dizer nada muito inspirador... Então achei que a melhor forma de fazê-lo se sentir confiante, é demonstrando que eu confio nele.

–Você... É o único amigo que eu já tive em toda a minha vida, e... Quer saber?! Eu não queria entrar naquela Arena pra matar, só quando fosse preciso, mas saiba que se alguém te pegar, eu vou vingar sua morte! Não importa como! Quem quer que seja que tire a sua oportunidade de ver Jenn de novo, vai ter que se ver comigo!! Não importa se custe a minha vida, essa pessoa irá pagar!!

Ele ficou encarando o nada por um tempo, depois disse firmemente – Eu farei o mesmo por você, se alguém te pegar, eu irei vingar.

Ele me abraçou novamente, e eu pela primeira vez na vida me senti querida. Aqueles ‘’fãs’’ não me queriam bem! Nunca!

Algum tempo se passou e ainda estávamos abraçados, sem dizer nada. Só sentindo a ‘’proteção’’ do abraço um do outro. Alguém do qual podíamos contar, que não nos faria mal. Mas minha dúvida era se Baron ainda tinha dúvidas sobre mim, se eu faria qualquer mal à ele na Arena, então me afastei um pouco e disse a verdade da qual eu tentaria fazer:

– Baron, agora é sério. Se você se for, eu irei vingar sua morte.

– Igualmente. Eu vou vingar sua morte, custe o que custar. Amiga...

Subitamente demos um toque de mãos, e um leve sorriso. Tínhamos alguém de confiança.

Durante essa conversa, eu já havia me sentado ao seu lado, na cama. Agora ela já tinha escorado a cabeça em meu ombro e parecia um pouquinho melhor. Passamos um bom tempo assim, sem nem dizer nada, até que ele dormiu. Eu me levantei devagarzinho, fazendo o menos barulho possível e parei para observá-lo. Eu não acho que ele tenha muitas chances de ganhar. Não que eu tenha, claro que não, é só que... Ele mesmo se diz horrível, nem ele mesmo tem muitas esperanças de rever a tal menina, pelo que eu entendi... Mas de uma coisa ele pode ter certeza, de que a minha promessa eu fiz com sinceridade.

Abri a porta com cuidado, não queria acordá-lo nem chamar a atenção dos demais. Dei uma ultima olhada no quarto e para Baron, que dormia feito um anjo. Sinto tanta pena dele...

Apaguei a luz e fechei a porta. Está tudo escuro aqui, os outros já devem ter ido dormir. Quanto tempo será que eu fiquei no quarto do Baron?? Eu sei lá, só sei que eu também devo ir dormir logo, afinal, amanhã é o dia.

Mas quem disse que tenho sono?? Pois é, é agora que eu não durmo mesmo... Sabe que, desde que cheguei da entrevista estou morrendo de sede... Aah!! Olha só pra mim, que fracasso!! Imagina se eu ficar mais de 2 horas sem água na Arena?? É bye bye Sarah, até a próxima e, ops, só que não!

Mas eu ainda estou aqui, não é mesmo? Vou desfrutar-me dos prazeres da vida enquanto ela ainda me resta – lê-se beber água enquanto há tempo.

Fui andando pelos corredores escuros do apartamento e cheguei à cozinha. É, parece que eu fiquei moscando um tempão no quarto de Baron, nem as Avoxes estão mais aqui.

Enquanto eu enchia o meu copo de água do filtro, comecei a ouvir alguns barulhos vindos do lado de fora, parecia uma... Sei lá, festa (?)

Há uma janela da cozinha que dá em direção à rua. Me aproximei para ver o que estava acontecendo lá embaixo e me deparei com a maior algazarra. As pessoas da Capital estavam todas nas ruas festejando e bebendo... Qual seria o motivo de tanta felicidade?? Oh, deixe me ver... O INICIO DOS MARAVILHOSOS JOGOS SEREM AMANHÃ!!

Virei o copo inteiro de uma vez e estreitei os olhos. Que pessoas imbecis.

***

Tudo o que eu sentia era medo e desapontamento. Mais nada.

Ninguém falava nada na mesa, apenas tomávamos nosso café silenciosamente e encarávamos uns aos outros, olhares tristes.

Eu já não consigo mais pensar em nada, vou para arena brigada com essas pessoas, isso é horrível, irei morrer sem ter ao menos alguém torcendo por mim.

– Comam crianças, não posso garantir-lhes que farão isso na Arena – nos alertou Saffra, e eu e Baron obedecemos sem reclamar.

– Mas não comam muuuito assim, porque ninguém consegue correr com a barriga muito cheia – falou Lenny logo em seguida. Eu não conseguia comer mais nada.

– Eu acho que já estou satisfeita. – disse me levantando e me retirando da mesa.

– Ahn, tudo bem então querida, vamos para o seu quarto para que eu possa te arrumar – levantou-se Tiberius atrás de mim, ele passava um batom meio vinho que logo guardou no bolso de sua jaqueta para me seguir.

Chegamos no meu quarto e encima da cama havia algumas roupas.

Eu vesti tudo calmamente. Pus a calça camuflada verde escura e marrom, a camiseta simples branca e as botas pretas que lembravam aquelas de lenhador que usávamos no treinamento, só que um tanto menos ‘’arrogantes’’.

Tiberius começou a fazer duas tranças laterais embutidas no meu cabelo. Eu nem falava nada, fiquei só esperando ele terminar.

– Já estou pronta Tiberius? – perguntei me direcionando à porta.

– Não ainda. Quero dizer, quando chegarmos à sala de iniciar você receberá o resto dos equipamentos.

– Tudo bem... – saí em direção à copa novamente e fiquei esperando Baron sair de seu quarto sentada no sofá. Saffra ficou cochichando alguma coisa com Merope, Tiberius e Lenny. É claro que era sobre mim, quero dizer, dá pra sentir isso! Aí, depois de muito cu doce, Saffra resolveu ir falar comigo. Aiai... O que eu terei de aguentar agora??

– Ahn, Sarah...

– Que foi?

– Nós só... Queríamos dizer que sentimos muito mesmo, olha, é estressante para todos nós e às vezes...

Eu a abracei interrompendo mais um falatório inútil que estava por vir. É, parece que meus abraços dizem tudo que as palavras não conseguem falar por mim... Eu estava magoada com eles, mas eu admito que eu precisava de alguém naquele momento.

– Ok, vamos esquecer – pedi.

– Tudo bem então – respondeu ela, mas mesmo assim continuamos todos calados até que Baron saiu com a roupa igual à minha de seu quarto.

– Todos prontos, então vamos. – Lenny se levantou e eu e Baron o seguimos para fora do apartamento. Dei uma ultima olhada para traz e me despedi de todos com um simples aceno de cabeça. Fomos até a plataforma onde o aerodeslizador que nos levaria à Arena nos aguardava. Os estilistas também deixaram o prédio, mas não foram conosco, segundo Lenny, nos encontraríamos com eles de novo na ‘’sala de partida’’.

– Bom, é isso. – disse Lenny colocando um charuto na boca assim que chegamos na pista. Eu estava muito angustiada, meu estômago revirava e eu não conseguia retirar os olhos do chão, muito menos escutar o que Lenny dizia à Baron. Quando percebi que Baron me encarava cheio de preocupação, era como se tudo à nossa volta sumisse, e eu o abracei tão forte quanto minha força permitia. Nunca mais irei ter a chance de abraçar alguém que eu gosto!

Nos separamos muito tristes e ele fez uma coisa que eu nunca imaginei que iria fazer: ele me beijou.

Tudo bem que não foi um beeeijo, foi apenas um selinho na verdade, mas foi o bastante para que eu ficasse com uma cara de ponto de interrogação maior que a que o Lenny já estava.

– Por que... Fez isso? – murmurei.

– Éer... Sabe, acho que as garotas na Arena não vão querer muito me beijar, então esse é o ultimo beijo que dou em alguém na minha vida... – ele passou a mão nos cabelos – e também é uma despedida. Boa sorte. – ele sorriu triste e dando um aperto de mãos em Lenny seguiu para o seu aerodeslizador, que já estava lotado, e decolou.

E eu ficaria lá olhando pro nada tentando entender aquilo por mais um século se uma risadinha abafada de Lenny não tivesse me chamado atenção.

– Vocês são mesmo muito loucos... – ele disse enquanto soprava fumaça pela boca.

Eu ainda tinha essa duvida, não poderia morrer com ela:

– Lenny por que faz isso hein?? Você uma vez me disse que se sentia protegido, mas eu não vejo do que e nem porque destruir sua saúde desta maneira!!

Ele ficou rígido e tenso com a pergunta novamente, eu pensei que fosse vomitar a qualquer hora só pela sua expressão, até que ele disse bem baixinho:

– Esquenta a gente...

Demorei alguns segundos para raciocinar mas logo a fixa caiu. Eu fiquei tão tensa quanto ele, minha cara devia estar mais pálida do que nunca.

Leonard Lockhearst: Vencedor da 9ª Edição dos Jogos Vorazes.

O ano da Arena congelada.

COMO EU NÃO TINHA PERCEBIDO ISSO ANTES?? Eu assisti ao vídeo desta Edição no trem, mas nem tinha reparado que o garoto baixo e fraco de 13 anos que só ganhou por ter sido o único a não ter morrido congelado e quase sem forças se tratava de Lenny, o nosso mentor fumante!

Em apenas um segundo eu comecei a relembrar de todos os apertos que ele passou, o chão pareceu girar e em um momento parece que vivi tudo isso com ele.

Ele era assim como eu, sem muitas chances de ganhar, estava tendo uma nevasca desgraçada e a maioria dos tributos estava morrendo de frio e de fome e a besta da sua parceira de Distrito havia se unido aos Carreiristas, que ainda estavam vivos e matando a todos os que ainda não haviam congelado. O ‘’acampamento’’ de Lenny estava bem afastado em relação aos outros. O frio era tão intenso e ele chegou a queimar o próprio casaco. E além do casaco, também todo tipo de planta que ainda se encontrava no local, que eram mínimas. Ele teve de inalar a fumaça para se sentir um pouco mais quente. Explicado. E agora eu sei o porque dele ser tão friorento: para se sentir seguro, com ele mesmo já tinha me dito. Protegido de congelar, mesmo estando já há tempos fora da Arena. Seria isso trauma? É a melhor forma de se explicar.

Lenny percebendo que eu havia entrado em transe alguns momentos atrás, pegou a minha mão e me fez olhar direto em seus olhos, escuros e... frios, para me alertar:

– Sarah, os Jogos mudam as pessoas. Mesmo não querendo, é uma coisa que te persegue pelo resto de sua vida. Se é que eu ainda vivo. Espero que o mesmo não aconteça com você.

Fiquei sem palavras um instante.

– Eu não preciso te dar mais dicas, já sabe as regras. Boa sorte. – ele me deu um empurrãozinho me fazendo voltar à realidade, se é que isso era possível. Caminhei até o aerodeslizador refletindo os fatos. É agora que a minha cabeça explode.

Ficamos esperando o garoto do 3 chegar, o que não demorou muito e assim partimos. Uma mulher passou injetando um pequeno rastreador nos nossos braços direitos, o que doeu um pouco, mas não liguei muito, eu tinha coisas mais importantes para pensar.

Não demorou muito e os únicos que restaram foram Lenny e os Carreiristas. Lenny sobrevivia de pinhas e queimar os pinheiros. Certo dia ele sentiu os Carreiristas aproximarem. Eles iam achar seu esconderijo, com certeza. Lenny se viu sem saída, não daria para fugir, eles o pegariam, então ele fez o que eu diria ser a ultima opção: ele se enterrou na neve. Pode parecer uma loucura, e é, mas foi o que o salvou. Os Carreiristas vasculharam o lugar e não acharam nada, os mesmos já estavam bastante fracos e morreram por lá mesmo, assim Lenny restou, mas o que eu não disse é que ele ficou enterrado na neve sem nem casaco por horas, esperando os Carreiristas se mandarem. Os caras do aerodeslizador tiveram de ir buscá-lo desacordado, ele quase morreu. Voltou para o Distrito assim, morto-vivo... traumatizado...

Eu sinto tanto ódio!! Vou matar todos dessa Capital assim que voltar!! SIM, EU VOU VOLTAR, AGORA ELES ME PAGAM!!! O que eles fizeram com Lenny, isso não tem preço!! Eu, eu... tenho QUASE certeza absoluta de que não voltarei mas eu gostaria TANTO poder me vingar pelo Lenny, e pelos vencedores das outras Edições!! Isso é desumano!! Conseguiram mudar ele, e agora ele é um dependente de drogas sem confiança alguma!! AAARGH!!

Eu juro, agora eu juro solenemente, que se eles quiserem me mudar é isso que vão ter. Queriam a ‘’menina selvagem’’ não é mesmo??

Ela está por vir.

Eu vou ser a PIOR pessoa que eles já conheceram, vou ser importante, não vou ser mais nenhuma peça do joguinho deles. Eu vou ser A Peça. Está decidido.

A viajem demorou pouco tempo, pelo menos pra mim, eu acho. Fiquei pensando em formas de chamar a atenção na Arena, agora é guerra!! Mas eu acho que para os outros Tributos deve ter demorado uma eternidade, já que a menina do 11, sentada de frente para mim tremia e respirava com dificuldade e Dixie do meu lado estava concentradíssima em suas unhas.

Fomos conduzidos cada um para uma sala subterrânea onde encontraríamos nossos estilistas e esperaríamos até a hora certa de entrar na Arena. Toda a minha preocupação e angústia se foram e estou mais confiante do que nunca. Um enorme sorriso malicioso não sai do meu rosto. Agora sim eu tenho um objetivo.

Entrei na sala e avistei Tiberius arrumando sua gravata olhando para o nada. Fui chamar a atenção dele.

– E aí Tiberius?? – perguntei animadamente e ele se surpreendeu com meu tom.

– Ah, oi Sarah... Acho que está animada demais para ser você mesma devido aos recentes acontecimentos.

– Eu sei mas agora eu estou decidida do que quero fazer. Ahn, Tiberius por favor, você teria uns dois elásticos de cabelo sobrando aí?

– Érr, sim – ele disse meio confuso me entregando os elásticos – pra que isso?

– Se vou ser o que eles querem pelo menos ainda vou deixar um pouco de mim – disse mais pra mim do que pra ele enquanto prendia as duas tranças atrás da cabeça, fazendo aquele meu penteado, o que não solta.

– Toma. –Tiberius me entregou uma jaqueta preta e confortável que eu vesti e ele a ajeitou – E isso aqui também, você vai precisar para guardar seus pertences – ele prendeu um cinto na minha cintura com um sorriso de lado, como se dissesse ‘’eu sei que você vai conseguir alguma coisa’’.

Ficamos nos encarando por um tempo sem dizer nada, mas aí eu lembrei da coisa mais importante.

– Tiberius você ainda está com aquele batom no bolso? O que guardou na jaqueta hoje de manhã?

– Sim, eu estou com ele – afirmou estreitando os olhos para mim, acho que ele pensou que eu nem tinha notado, mas aí mudou de expressão – Você... mudou de ideia?

– Todos mudam, e os Jogos são uma das razões para as pessoas mudarem. – disse sorridente lembrando das palavras de Lenny. Devem achar que eu sou doida, mas eu sou mesmo.

– Você quem sabe então – ele me entregou o pequeno cilindro preto brilhante e eu passei.

– Posso ficar com ele? Você sabe, não vai durar muito tempo na minha boca, preciso retocar – perguntei sarcástica.

– Bom, as regras dizem que não podem levar nada para a Arena – olhei para baixo – mas eu acho que você não mataria ninguém com um batom, a única coisa que tem aqui é um espelhinho na tampa.

– Não matarei ninguém com um espelhinho. – sorrimos e eu o guardei no bolso da calça. Ele não deve estar entendendo nada, aliás acho que ninguém entenderá, mas acho que preciso esclarecer as coisas com ele.

– Tiberius, eu sei que você não deve estar entendendo nada, é só que...

Uma voz feminina invadiu a sala com uma contagem regressiva. Era a hora. Tiberius segurou meus ombros e me olhou nos olhos.

– Sarah, e eu sei que nós não nos aproximamos tanto quanto você e Baron e você e Lenny, mas saiba que estou torcendo por você. Você vai ganhar... menina que NÃO é selvagem. – ele abriu um sorriso largo derramando uma lágrima.

– Valeu – agradeci e me direcionei ao tubo do qual me levaria para a superfície já na Arena. Dei o ‘’sinal de soldados’’ pra ele, que retribuiu e senti que estava subindo. Estava tudo muito escuro e eu não fazia a menor ideia de como seria adiante. Fechei meus olhos e respirei fundo até que senti uma brisa suave em meu rosto. Abri meus olhos e eles encontraram luz novamente.

Eu estava na Arena.

Eu tinha um objetivo.

Não tem mais volta.


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Notas finais do capítulo

A cena do beijinho ficou horrivel principalmente porque eu não ia colocar ela lol só pus por causa da MahDants ^^
Fuck yeah, o próximo é o banho de sangue õ// Haa peguei vocês né? vocês aí achando que o banho de sangue seria agora né... jovens padawans... sqn, mas é legal ter a ideia de que eu trolei as pessoas, sabe... É como os escritores fodões se sentem kkk



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