Bifurcados - O Apocalipse Zumbi escrita por Cadu


Capítulo 24
Sopro de Vento


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo betado pela Carol!
Nesse recomendo ouvir "Para Abrir os Olhos" - Vanguart.
http://www.kboing.com.br/radio-show/playlists/1847828/760373/
Boa Leitura :)



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Bifurcados - O Apocalipse Zumbi

Capítulo Vinte e Um - "Sopro de Vento"

⊂ ⊗ 

A escuridão era a única companheira de Heitor. Seus olhos arregalados ainda mostravam preocupação com o brilho em sua retina. Já que a insônia não o deixava pregaros olhos, levantou-se e ficou a espreita. Dava voltas na caminhonete, as vezes tentava sintonizar o rádio – apenas uma perda de tempo, já que até os avisos do exército pararam de ser mandados -, ou apenas observava o céu estrelado daquela noite agradável. Às vezes uma brisa gélida o atingia, mas na maioria das vezes o clima estava ameno.

Abriu a caçamba lentamente tentando não fazer nenhum barulho que acordasse seus companheiros, empurro algumas sacolas deixando algum espaço, e sentou-se ali, observando os que dormiam. André estava no canto oposto em que Heitor dormia, Ana Júlia espremia-se em uma posição fetal, Henrique ficava entre Ana e Clarissa – que aparentemente tinha o sono mais pesado de todos. Clarissa agarrava um dos travesseiros fortemente, e parecia que algo ruim ela sonhava. Seus olhos estavam apertados e sua boca contraída. Preferiu não acordá-la, mas quando viu que suas pernas tremiam sentiu-se obrigado de cobri-la.

Sutilmente aproximou-se agarrando a manta e lentamente fez seus ombros desaparecerem, apenas deixando seu rosto de fora. Retorna onde estava sentado, e daquele jeito permanece por mais algumas horas. As pernas de Heitor começaram a doer, então sentiu-se obrigado e dar uma volta pela região – obviamente não muito longe. Passou pela lateral da caminhonete e continuou a andar. Caminhou pela rodovia, chutando alguns pedregulhos, com suas mãos coladas aos bolsos do shorts jeans. Enquanto andejava observando sua jaqueta repleta de pingos de sangue um barulho o fez fugir do devaneio momentâneo.

— Onde está indo? — Clarissa sussurra no meio do nada.

— Você me assustou... — Ele riu, sentindo-se um idiota por espantar-se com uma menina o chamando. — Lugar algum. Estou apenas caminhando.

— Insônia? — ela cruza seus braços, soltando um bocejo longo.

— Acertou.

Heitor caminha em direção a garota, e a poucos passos volta a conversa.

— Volta para a cama. Você precisa dormir...

— Não, quero ficar acordada... Agora é sua vez.

— Adoraria, mas não vou conseguir. Meu corpo não deixa — Heitor reclama desapontado. Os dois continuam a andar em direção a caminhonete avermelhada. Chegando ao automóvel sentam na caçamba.

Um silêncio incomodativo instalou-se no ar. Após alguns minutos, Clarissa o retira.

— Será que devemos confiar neles? — ela sussurra observando-os em sono profundo.

— Acho que sim. Pelo menos em partes... Talvez devêssemos pegar um carro abandonado e continuar nossa viagem.

— E Henrique? Pelo visto ele também quer ir para Minas Gerais.

— Vamos ver... Ainda temos chão pela frente antes de chegarmos à divisa do estado.

Clarissa fita a face de Heitor por algum tempo. Heitor percebe, mas finge não olhar, apenas para não trocar olhares.

— Engraçado — Clarissa ri baixinho — Sua barba nunca estava tão comprida. Pelo menos desde que começamos nossa viagem...

— Estou precisando de um barbeador — Heitor passa os dedos no cavanhaque, sentindo o som áspero dos pelos com as palmas — ou apenas uma lâmina.

— Você de uma lâmina e eu de um banho.  — ela estrala suas costas, mantendo sua postura reta — Estou mal acostumada.

Heitor ri de lado, achando graça no jeito da garota.

— Para de rir! Olha isso — Clarissa tira seu cabelo de um coque mostrando as madeixas desgrenhadas. A obscuridade de seus fios formavam cavernas turvas, que apenas bravos descobridores conseguiriam adentrar nelas. Ela riu, fazendo Heitor ri de seus cabelos embaraçados.

Mais uma onda de silêncio os inunda enquanto Clarissa tenta desembaraçar alguns fios de cabelo.

— Podíamos parar em algum lugar, um hotel ou algo assim... Passar um tempo. Ou apenas tomar um banho. — Clarissa idealiza, imaginando a relaxante água quente desaguando em seu pescoço – o qual doía de dormir de mau jeito ultimamente.

—Adoraria... Vamos dar a ideia quando eles acordarem.

Heitor e Clarissa continuavam suas conversas sussurradas até perceberem que André abre os olhos e passa a observar os dois, assustado. Cessam a conversa no momento do olhar, fazendo-o pensar que os vizinhos roubariam o carro – ou que planejavam algo contra os três. Passou a noite com os olhos entre abertos, observando-os, enquanto o casal achava que ele dormia.

⊂ ⊗ ⊃

Era já de manhã quando aos poucos todos acordavam. Clarissa tinha voltado a dormir, não na rodovia junto com os outros, mas sim no banco traseiro da caminhonete – com as pernas para fora da porta traseira aberta. Heitor estava no banco de motorista em uma batalha mortal se o sono o conseguiria abater ou não. Fora mais forte, esperando ansiosamente o sol nascer, já que os raios solares o fariam acordar.

Pelo retrovisor Heitor conseguiu observar André já de pé, alongando suas costas, com um charuto em seus grossos lábios. Suas roupas – jeans, camiseta e um suéter enrolado em sua cintura – estavam completamente amassadas, com fortes marcas após a noite de sono. Ele não havia dormido nas últimas horas com receio de levarem seu carro – o qual tinha um afago enorme.

— Vamos continuar logo essa viagem? — Rudemente André solta uma baforada de charuto no rosto de Heitor. 

Ok... Esperamos os outros acordarem ou acordamos? 

Antes mesmo de responder, André já estava acordando Henrique e Ana Júlia, que possuíam um profundo sono mesmo com o sol radiante.  Heitor encarregou-se de fazer o mesmo, mas com Clarissa. Abriu a porta onde sua cabeça estava acomodada e balançou-a lentamente, arrumando alguns fios que caiam do seu coque desgrenhado.

— Clarissa... — chamou-a em um baixo tom de voz — Acorda. Vamos continuar a viagem.

Os olhos castanhos abriram-se, em um movimento como as asas de uma borboleta batendo forte, fazendo seus cílios se encontrarem várias vezes. Observou o rosto borrado de Heitor. Seu moletom tinha pequenas manchas de sangue – por causa da recente morte do zumbi no carro – e havia duas grandes bolsas escuras embaixo de seus olhos.

— Vamos continuar? — Heitor assentou como resposta, Clarissa continuou — Desculpa não ter feito companhia o resto da madrugada, estava morrendo de sono.

— Não precisa se desculpar, você tinha que dormir mesmo. — Ele sorriu enquanto ela levantou-se saindo do carro.

Heitor foi à caçamba e apanhou sua mochila, pegando uma das barras de cereal que havia pegado no mercado e uma garrafa de água morna. Era a única solução para matar sua sede momentânea, já que não teria como congelar um pouco dela e fazer gelo. As mordomias haviam acabado. 

Ana Júlia e Henrique agarravam as cobertas e jogaram por cima das sacolas – talvez pudesse disfarçar se alguns sobreviventes tentassem saqueá-los.

— Vamos? — André conferiu se nada havia ficado na rodovia.

Todos entraram no carro, na mesma ordem inicial. André no volante, Ana no banco de passageiros – ainda dormindo -, Heitor na janela do lado esquerdo, Henrique ficava na janela oposta. E Clarissa acomodava-se no meio dos dois, tentando evitar contato de pele com o menino que ainda não conhecia. 

No carro tudo estava quieto, a não ser pelo vento assoviando nos cabelos de Heitor. Sua face estava parcialmente iluminada pelo sol da manhã, e seus fios pareciam confusos com as rajadas de vento que a velocidade proporcionava. Clarissa observa cada movimento de Heitor com um jeito curioso. Ele tinha uma aparência triste já que vento lembrava-lhe de Amanda.

Nas madrugadas em que apenas o tédio permanecia no quarto, Heitor e Amanda saiam nas ruas de carro. Com o teto solar aberto, os cabelos longos e vermelhos da menina pareciam flertar com as rajadas que os levavam para longe. Ela ria como uma criança, divertindo-se com o barulho forte que impedia de ouvir a animada música que saia do rádio. Heitor a observava timidamente, até entrar na brincadeira e encher sua barriga de cócegas. Amanda gargalhava, voltava a sentar no banco de passageiro com um jeito infantil e seus lábios explodiam enquanto o beijo fazia dos dois apenas um.

O devaneio foi arrancado de Heitor quando André, com um tom desconfiado observando uma placa, exclama alto enquanto a fumaça do terceiro charuto invade todos os bancos.

— Vinte quilômetros para Ribeirão Pires. Devemos parar?


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Postarei o próximo em breve! Espero que tenham gostado. Obrigado por lerem!