A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 17
Encucada


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, peço desculpa por estar demorando tanto para postar novos capítulos, mas é que além de eu estar com pouco tempo de sobra, ainda estou com bloqueio literário, tenho demorado o dobro do tempo para escrever aquilo que eu faria em poucos minutos, então o que eu peço é só um pouquinho de paciência e que continuem acompanhando a história. Obrigada pelos reviews deixados no último capítulo e boa leitura!



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Eu estava deitada no sofá da sala com Runa sobre minha barriga enquanto Sofia trocava de roupa. Eu acariciava aqueles pelos dourados perdida em pensamentos. A lembrança dessa manhã, meu encontro tempestuoso com minha irmã gêmea, não saía de minha cabeça. Nós éramos praticamente idênticas exceto, pelo cabelo mais comprido e pela sua pele mais escura bronzeada pelo sol. Não é a toa que Claude, me confundira com ela aquele dia. Claude, tai, mais uma coisa curiosa da qual eu não sabia toda a verdade e precisava descobrir. Já eram tantas que eu nem sabia as quantas andava.

A vida tinha se dividido em um enorme quebra cabeças com muitas peças faltando e eu tinha que procurar e encaixar todas elas. Quem sabe assim minha vida voltaria a ser semelhante a que era antes. Apenas semelhante por que nada voltaria a ser como fora. A conversa de Laura e Sofia voltou em minha mente:

- Não enche Laura! – defendeu-me Sofia – O que você veio fazer aqui afinal? Você sabe que não é bem vinda...

- Só por você não é baby? Se bem me lembro, seu irmão adorava minhas visitas, principalmente quando a gente ia lá para o sofá e...

- Você disse bem, adorava, do verbo não adora mais – interrompeu minha amiga rapidamente- Agora diga logo por que veio, e suma daqui.

O que exatamente será que Laura quis dizer com “a gente ia lá para o sofá”? Minha intuição me dizia que havia algo sobre Laura e Victor que eu ainda não conhecia, algo que não me cheirava muito bem. Talvez fosse hora de encarnar o espírito de Hercule Poirot como numa aventura de Agatha Christie e sair investigando por ai. Chang seria uma boa testemunha, pensei. Mas pensando melhor, talvez eu devesse começar por Sofia já que ela não deixou que Laura concluísse sua fala. Mas porque Sofia tinha feito isso? Ou ela não tivesse feito... Pensei nas possibilidades: Sofia poderia estar apenas sem paciência de escutar o que minha irmã tinha a dizer, ou então... Talvez ela não quisesse que eu escutasse o que Laura ia dizer a seguir. Algo macio tocou meus lábios distraindo-me de meus pensamentos.

- Eu estava com saudade disso – disse Victor após me beijar. Como o encosto do sofá estava entre nós, ele deu a volta e eu me sentei para que ficássemos lado a lado. Runa continuou em meu colo e eu sorri em resposta.

- No que estava pensando? Você parecia distraída.

- Numas coisas aí. Nada de importante – menti.

- É mesmo? – perguntou com um sorriso de quem está tramando algo. Ele me puxou pelo braço e me beijou mais uma vez, dessa vez um beijo mais longo.

- O que foi isso? – perguntei e como ele não entendeu, fiz questão de explicar – Você não tem grandes demonstrações de afetos...

- Droga! – ele disse brincalhão – vou ter que melhorar sobre isso – ele sorriu e me beijou mais uma vez.

 Escutamos passos na escada e nos afastamos. Sofia tinha terminado de se arrumar e exalava um gostoso perfume de flores. Quando ela viu que Victor estava na sala repetiu o aviso de Laura como quem dá um recado nada agradável.

- Laura quer que você vá a casa dela com urgência. Ela está te esperando para o jantar.

Victor enrijeceu ao meu lado tomado de repente por uma tensão. Estranho...

- Ela esteve aqui hoje? – ele perguntou parecendo preocupado.

- Ela fez uma cena aqui hoje...

- Eu vou pegar algo pra beber – interrompi, colocando em seguida Runa no colo de Victor e desejando sair dali o mais rápido possível. Eu não tinha a mínima vontade de relembrar nosso encontro mais uma vez – alguém quer algo? – perguntei tentando soar educada.

Como ninguém quis nada, segui para a cozinha e peguei um copo de limonada. Demorei o máximo que pude para bebê-lo dando tempo para que Sofia contasse a narrativa toda para Victor. Depois de protelar ao máximo, voltei à sala em passos lentos. Victor e Sofia conversavam baixinho e como pareciam não me terem visto, voltei a cozinha e me escondi atrás da parede para ouvir o que eles estavam dizendo:

- Mas ela não disse que... – é ele realmente estava preocupado com a visita de Laura. Do que ele tinha medo afinal?

- Não, não se preocupe, eu não deixei que Laura falasse sobre... Você sabe

- Menos mal...

- Francamente Victor, eu acho melhor você contar logo a Luiza antes que ela descubra sozinha.

Um minuto de silêncio se passou quando Sofia voltou a falar:

- Se ela me perguntar eu não sei se vou conseguir mentir sobre isso também...

Também? O que mais Sofia estava escondendo?

- Por favor Sofy, eu estou me acostumando com a presença dela e estou até gostando de uma forma que me surpreende.

- Eu vejo e fico feliz que você esteja superando tudo isso finalmente, mas ela é minha amiga e eu não vou mais mentir pra ela, principalmente sobre isso. Se você não contar logo... - Sofia olhou para cima e notou minha presença, fingi que estava voltando para sala e que não tinha ouvido uma só palavra. Sentei no sofá e eles mudaram totalmente de assunto. Sobre o que será que eles falavam que Victor não queria que eu soubesse e que ele estava superando?

Minha mente começou a vagar e deixei de prestar atenção na conversa. A voz de Sofia me chamou de volta:

- Luiza? – ela praticamente gritou – Você está bem?

- Oi? – eu disse desorientada – Estou. Só pensativa.

- O que eu não daria pra poder ouvi-los – disse Victor tocando o dedo indicador em minha testa – Acho melhor eu ir logo até a Casa Principal, quanto antes eu for, mais rápido eu volto.

- Duvido que seja rápido – disse Sofia desgostosa e recebeu um olhar de desaprovação de Victor – É a verdade – defendeu-se ela dando de ombros.

- Acho que você está certa, provavelmente eu vou demorar. Não me esperem... – dito isso, ele me puxou em um abraço e me beijou mais uma vez. Eu estava ganhando muitos beijos hoje. Mais uma das trezentas faces do humor de Victor. Bom, se fossemos continuar nos dando bem assim, eu poderia suportar mais umas mil faces se preciso. Mas ele também poderia estar agindo assim só por se sentir culpado, já que ele estava escondendo algo de mim, algo muito fedorento me parecia.

 Ele olhou profundamente em meus olhos e disse antes de sair:

                - Durma bem.  

                Sofia e eu jantamos em silêncio, ambas com seus pensamentos. Naquela noite eu tive dificuldade para dormir e quando finalmente peguei no sono um pesadelo me acordou. Dei uma volta pela casa, passei pelo quarto de Victor, bati à porta e quando ninguém veio, abri a porta delicadamente. O quarto estava vazio. Fechei a porta rapidamente me sentindo uma invasora e com uma sensação estranha no coração. Ele ainda não tinha chegado. Que horas seriam? Eu não tinha ideia já que não existiam relógios na Iméria.

                Desci e fui até a cozinha, peguei um pouco de água e enquanto bebia pensei em como as coisas ali eram ao mesmo tempo tão diferentes e tão iguais às da Fortaleza.  A alimentação era bastante parecida, os hábitos diários por outro lado eram bem diferentes. A vida aqui era mais complicada, nós tínhamos que ir atrás pra conseguir o que queríamos, lá as coisas vinham prontas em nossa mão. Fui até a sala e sentei no sofá. Runa pulou em meu colo logo em seguida, pelo jeito eu tinha ganhado uma admiradora, não que eu não gostasse. Acariciar o pelo macio dessa gata, de certa forma, me acalmava. Decidi esperar por Victor e peguei no sono por ele ter demorado.

                - Lu... Lu... Luiza acorde - disse Sofia enquanto me chacoalhava delicadamente.

                - Acho que peguei no sono enquanto esperava por Victor, eu não estava conseguindo dormir então desci pra esperar.

                Ela balançou a cabeça em reconhecimento.

                - Já amanheceu? – perguntei desnorteada.

                - Já sim e eu estou atrasada, tenho que ajudar Chang hoje.

                - Hmmm... Que horas ele chegou que eu não vi?

                - Ele não chegou – ela disse sem jeito.

                - O jantar foi bom pelo jeito então - eu disse amargamente.

                - Não é o que você está pensando Luiza, pode tirar essas ideias da sua cabecinha...

                O que eu estava pensando? Eu não estava pensando nada... Mas então se Victor não tinha dormido em casa ele... Dormiu na casa principal? Não. Ele dormiu na casa principal com Laura. Na casa. Com Laura. As palavras da minha irmã e de Sofia voltaram em minha mente mais uma vez: seu irmão adorava minhas visitas... Quando a gente ia lá para o sofá e... Você disse bem, adorava, do verbo não adora mais... Não é o que você está pensando Luiza, pode tirar essas ideias da sua cabecinha...

                As coisas pareciam se encaixar agora. Laura e Victor. Outra conversa mais antiga dessa vez, me veio à lembrança. Maicon e eu conversávamos na noite em que planejamos o resgate de Sofia: Victor não queria vir para essa missão, ele só veio porque foi obrigado... Acho que ele pensou que essa viagem poderia ajuda-lo a esquecer... A namorada, ex na verdade. Eles terminaram uma semana antes de sairmos para te resgatar...

                Seria isso então que Victor não queria que eu soubesse? Era por ela que ele estava apaixonado antes de ir até a Fortaleza me resgatar? Eu não podia esperar mais, eu tinha que descobrir, mas eu também não podia perguntar para Sofia ou eu a colocaria em maus lençóis, não era justo que ela tivesse que escolher entre mim e o seu irmão.

                - Preciso ver Chang - informei.

                - Espere! Coma algo antes e nós vamos juntas.

                - Não estou com fome – eu disse alto.

                - Me faça companhia então Luiza... – pediu Sofia tentando me manter em casa.

                - Eu preciso falar com Chang – repeti.

                - Espere por Victor então, ele já deve estar chegando – tentou me convencer. Era impressão minha ou ela estava tentando me manter em casa?

                - Eu não vou esperar por ele, eu estou saindo agora – falei como quem dá uma ordem.

                - Mas Luiza você não pode sair assim! Espere ele voltar e então ele te explica tudo, você não precisa ficar enciumada – argumentou Sofia, mas era tarde. Sai da sala e me dirigi para o caminho da casa de Chang.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e mil perdões se exagerei no drama. Abraços!



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