A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 16
Cópia


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais chegou! Boa Leitura!



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– Sofia, por favor, você tem que me contar – implorei. Estávamos na cozinha da casa de Sofia, sentadas à mesa de jantar enquanto ela cortava alguns legumes e eu tentava arrancar informações.

– Não Luiza, não insista, por favor!- Ela tinha um tom de voz irritado, indicio de que toda essa conversa a chateava, mas eu não ia desistir assim tão fácil, ela que deixasse suas iras de lado pelo bem da minha curiosidade.

– Victor odeia que falemos disso, se ele quisesse que você soubesse ele teria te contado. – continuou como se pedisse desculpas por não me contar a verdade.

– Eu não entendo, qual o problema com o lugar onde vocês nasceram?

– Por que é tão importante pra você saber onde nascemos? - perguntou ela, batendo com força a faca que usava na mesa - Isso não faz diferença nenhuma Luiza – completou olhando em meus olhos querendo me intimidar para que eu mudasse de assunto.

Ela foi bem sucedida. Eu não ia conseguir nada por aqui, o melhor seria que eu procurasse por outra fonte. Talvez Chang soubesse de algo. Será que ele me contaria? De uma forma ou de outra, tudo isso só me deixou mais e mais intrigada e curiosa, eu iria até o fim pra investigar. Minha intuição me dizia que tinha algo muito nebuloso ai, um mistério que eu ainda iria descobrir. Achei prudente mudar o rumo de nossa conversa, então quis saber sobre uma coisa que me intrigava desde que passei a ficar na casa de Victor e Sofia.

– Por que você faz as coisas com as mãos? – perguntei pra mudar de assunto.

– Por que eu não posso tirar elas? – ela respondeu zombeteira e começamos a rir. Sofy, sempre fazendo graça! Era tão fácil rir com as piadas bobas dela, sempre tão espontâneas, difícil não rir.

– Não – corrigi depois de me acalmar - Victor me disse que todos aqui são preguiçosos, usam a telecinese pra tudo, mas você não parece fazer isso. Você sempre faz tudo usando isso - mostrei lhe minhas mãos, mexendo os dedos aleatoriamente.

– Bem eu escolhi ser uma curandeira.

– O que isso significa? Você não sabe fazer então? – perguntei tentando entender.

Ela bufou. Uma caneca parecida com a que eu tomei chá de gibromela pela primeira vez, veio flutuando em minha direção.

– Vai chá?

Eu ri e peguei a caneca no ar. Ela estava leve e sem nada dentro, então, resolvi entrar na brincadeira e fingi beber o líquido invisível.

– Hmmm gostoso, Chá de ar, muito bom – brinquei e ela riu baixinho balançando a cabeça.

– Você pode ser engraçada às vezes Lu.

– Eu posso ser muitas coisas que você não sabe Sofy, engraçada é só uma delas – eu ri.

– E nem vou saber se você não ficar não é?

– Você também com isso? Não é sobre mim essa conversa, de volta a você Sofy... Porque nunca usa suas habilidades?

– Por que... – ela parou como se procurando as palavras corretas - pense nisso como um acumulo de energia. Curar as pessoas não é algo fácil, eu gasto muita “energia” e nunca se sabe quando alguém vai precisar. Então, eu não posso sair por aí desperdiçando. Por falar nisso, não conte ao Chang sobre a caneca, se você ainda quiser ter uma amiga amanhã.

– Ah! Pode apostar que eu quero. Mas porque você quis ser curandeira, então? Não é chato não poder usar suas habilidades o tempo todo?

– Às vezes sim, a maioria das vezes não, tem suas vantagens. Salvar a vida de alguém vale muito a pena. Mas não tem um porquê de eu querer ser curandeira, eu sempre quis isso desde que vi Chang. Além do mais, como você mesmo disse, é difícil ter que abrir mão de muitas coisas, ninguém quer treinar pra isso. Bom, alguém tinha que cuidar da aldeia, afinal ele não vai durar pra sempre, eu me ofereci e não me arrependo.

– Ele treina você?

– Sim e eu ajudo ele com a casa da cura.

Parei pra pensar um pouco. Havia tantas coisas legais que Sofy poderia fazer se usasse suas habilidades e tantas coisas que ela não precisaria fazer, e mesmo assim, ela deixou tudo para ajudar os outros. Era um sacrifício muito grande em minha opinião, nobre até demais e isso só me fez gostar e admira-la ainda mais. Eu tinha sorte por tê-la como amiga.

– Acho que eu não seria capaz de trocar tudo por ser uma curandeira – declarei como uma extensão de meus pensamentos, a pura verdade. Eu ajudaria os outros sem pensar duas vezes, no entanto, eu não chegaria ao ponto de sacrificar toda uma vida por isso. Você poderia chamar isso de egoísmo, mas eu chamaria de instinto de sobrevivência, algo do qual eu não conseguiria lutar contra.

– Mas isso é por que você é uma mavriana muito da mimada – brincou ela.

– Ei eu não sou mimada – protestei.

Então eu tive uma ideia maliciosa. Molhei a mão numa bacia de água que estava sobre a mesa e espirrei nela. Ela, que agora estava na pia lavando os legumes picados, usou suas habilidades telecinéticas e fez a água da torneira desviar pra me acertar. Quando percebi sua intenção, corri tentando escapar em direção à porta sem deixar de olhar o percurso que as gotas de água flutuantes estavam fazendo. Eu ia ficar encharcada se ela me acertasse. Quando vi que não teria chances de sair ilesa, me joguei no chão.

– Deixe Chang saber que você esta usando telecinese para brincar com sua amiguinha, Sofia. Ele não vai gostar nada disso. – disse uma voz desconhecida, com muita raiva estalando a língua. Ao que parece alguém tinha se molhado em meu lugar.

– Ele só vai saber se você contar – disse Sofia alheia ao tom de voz irritado que parecia ser feminino.

– Então ele vai saber.

Naquele momento eu tive raiva daquela pessoa, era só um pouco de água. Meu Deus, quanto drama! Eu já tinha ficado tempo suficiente abaixada para recuperar o fôlego, agora era hora de interceder por Sofia. Eu ia colocar essa chata no lugar dela. Levantei-me, mas quando abri a boca pra lhe falar poucas e boas, engoli as palavras e me calei.

A moça a minha frente era uns dois dedos mais alta que eu. Seu corpo era reto, sem muitas curvas. Seu cabelo castanho caia em ondas até o ombro e seria muito parecido com o meu se ele não se estendesse por mais ou menos uma palma abaixo de um tom mais claro, provavelmente queimado pelo sol. Seus olhos eram acinzentados assim como os meus. Foi só então que notei. Eles não eram só parecidos, eram idênticos. Cabelos, formato do rosto, corpo, olhos e até a boca com o lábio inferior mais grosso, tudo era exatamente como eu. Não tinha dúvidas. Cassia dissera que eu tinha uma irmã, mas ela não dissera que ela tinha sobrevivido também. Minha irmã gêmea estava parada em minha frente na entrada da casa de Sofia.

– Ora, ora, uma cópia! – disse a gêmea – muito mal feita por sinal.

Eu não me defendi, só fiquei lá, olhando como uma idiota pra ela. Eu poderia ter imaginado todas as hipóteses, mas em nenhuma delas eu teria suposto que tinha uma irmã gêmea. Uma irmã gêmea detestável falando nisso.

– Olha e pelo jeito ela é muda também – continuou desfazendo-se de mim.

E eu só conseguia ficar lá, olhando pra ela, devido ao choque do reconhecimento. Eu tinha que encontrar as palavras, mas elas evaporavam da minha cabeça. Santo Deus, o que mais me falta acontecer?

– Aposto que você é a minha irmãzinha querida não é? Ah mamãe! Nem pra você me avisar que ela era um clone meu? Isso vai ser muito divertido – ela continuou esnobe, tramando algo em sua cabeça.

– Não enche Laura! – defendeu-me Sofia – O que você veio fazer aqui afinal? Você sabe que não é bem vinda...

– Só por você não é baby? Se bem me lembro, seu irmão adorava minhas visitas, principalmente quando a gente ia lá pro sofá e...

– Você disse bem, adorava, do verbo não adora mais – interrompeu minha amiga rapidamente- Agora diga logo por que veio, e suma daqui.

– Eu vim só dar um recado pro seu irmão...

– E você já viu que ele não está – cortou Sofy sem paciência.

– Sim, o que é uma pena, mas pelo menos eu não perdi a viagem já que pude conhecer minha irmãzinha querida. Nós vamos nos dar muito bem – disse ela ironicamente demorando mais nas duas ultimas palavras.

– Já acabou Laura? – interrompeu Sofia mais uma vez. Estava obvio que ela não suportava minha irmã.

– Sim, diga a Victor que estou esperando ele com urgência em casa hoje à noite.

– Sem essa, você sabe muito bem que...

– É minha mãe que quer falar com ele – cortou Laura antes que Sofia terminasse a frase – Ops! Nossa mãe! Não é maninha? – debochou.

– Laura? – desaprovou Sofy – Vai demorar muito, ou eu mesmo vou ter que te tirar da minha casa?

– É uma pena que eu não possa ficar pra continuar nossa conversa – desafiou Laura fingindo desapontamento - Até mais irmãzinha! Foi um prazer, só espero que você fale da próxima vez!

Sofia catou uma batata que estava sobre a pia e atirou nela. Laura foi mais rápida e desviou, deu um sorriso falso e se despediu.

– Até mais meus amores! E obrigado por me molhar Sofy – zombou ela saindo da casa logo em seguida.

– Ah! Diga a Victor que estou esperando ele para o jantar – disse Laura aparecendo na janela da cozinha. Momentos depois, ouvimos o riso divertido dela se afastando.

– Desculpe pela batata Lu, ela me tira do sério, eu sei que ela é sua irmã, mas eu não a suporto – revelou Sofia aliviando sua tensão.

Eu permaneci em silêncio, ainda sem forças pra me expressar após a passagem tempestuosa da minha irmã.

– Ai meu Deus! – Caiu em si Sofia – Só agora eu me toquei. Vocês não se conheciam ainda, não é? Como você está se sentindo com essa surpresa desagradável?

– Eu não sei – respondi verdadeiramente encontrando minha voz.

– Imagino, você vai ficar bem, nós estamos aqui, Maicon e eu, pro que você precisar.

– Eu não sei como agradecer vocês sabia? Vocês são tão legais comigo, acho que nunca tive amigos assim.

– É isso que os amigos fazem. Você não tem amigos na Fortaleza?

– Sim eu tinha, eu acho, mas nenhum como vocês. Eu fico à vontade estando com você e com Maicon, eu posso ser eu mesmo. As coisas sobre eu e Caio são diferentes. Não sei explicar...

– Entendo, mas você só tem esse Caio?

– Acho que se pode dizer que eu não sou muito “popular” por lá.

– Engraçado, eu sempre imaginei que fosse, por que não é?

– Eu não sei, o Caio é meu primo, então ele meio que é obrigado a conviver comigo, os outros não. Bem e você sabe, eu sou filha do Capitão mor, todos fogem de mim.

– Isso é estranho, mas diga-me o que achou dela?

– De Laura? – esperei Sofia confirmar com a cabeça e continuei – Bem, acho que eu também não a suporto – revelei sem pensar nas palavras e me assustei com o que elas diziam. Sofia percebeu meu espanto:

– Não se preocupe. Bem vinda ao clube Nós-odiamos-a-Laura!

– Tem um clube? – perguntei com um sorriso, já me sentindo um pouco melhor. Era Efeito Sofia me acalmando.

– Você se surpreenderia.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, até o próximo capítulo!



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