A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 18
Enciumada


Notas iniciais do capítulo

Três séculos depois... Mil perdões meus queridos leitores. Mais de um mês sem postar não é? Eu tive motivos sérios e pessoais. Mais aqui vai um capítulo fresquinho pra vocês, espero que gostem! Perdões mais uma vez!



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Nunca desejei tanto em minha vida que eu estivesse errada. Não era ciúme. A verdade é que ele devia gostar muito dela porque ele nunca chegaria nem perto da Fortaleza, ele odeia mavros, disse Maicon mais uma vez em minha mente. Eu não estava com ciúmes. Mas se minha irmã e Victor tinham sido namorados... Eu não podia estar com ciúmes, nós só nos conhecíamos a poucas semanas, e não tínhamos nada de concreto, eu não podia estar... Mas ela não era só a minha irmã, ela era minha cópia idêntica e fiel, se Victor estivesse apaixonado por ela...

Que eu esteja errada! Que eu esteja errada!

Laura e eu éramos iguais, Victor podia estar comigo exatamente por isso, por que eu era igual a ela. Eu era ela pra ele. Ele estando comigo estava com ela. Mas o que isso significava? Talvez nada. Talvez tudo. É isso, eu tinha que terminar com ele. Não ia ser nada fácil, mas não é como se eu fosse apaixonada por ele...  Droga pra quem eu estava mentindo? Mas será que eu tinha mesmo que terminar? O que Victor e eu tínhamos afinal? As coisas nunca ficaram claras entre nós. Droga é tudo tão confuso.

Entrei na casa de cura e estaquei quando vi a cena a minha frente. Dez, das dozes macas, inclusive a que eu ocupei quando cheguei a Aldeia, estavam cheias. Eram homens, mulheres e crianças, todos pareciam feridos ou debilitados de alguma maneira. Chang passava de uma a uma querendo cuidar de todos os pacientes ao mesmo tempo. Parecia uma cena de guerra. Mas que diabos aconteceu com essas pessoas?

- Chang! – eu chamei da porta.

- Oi, oi! Quem me chama?- perguntou sem saber de onde vinha minha voz que se misturava aos gemidos do quarto.

 - Sou eu, Luiza, Chang!

Assim que meu nome foi pronunciado, um silêncio absoluto pairou sobre o quarto e todos os rostos olharam em minha direção. Muito constrangedor – pensei.

- Ah senhorita Luiza, eu estou um pouco ocupado como você pode ver, mas se aproxime – respondeu Chang sempre carismático.

- Eu não quero atrapalhar, eu volto outra hora – eu disse sem graça com as bochechas aquecidas, enquanto todos ainda olhavam pra mim.

- Na verdade, você chegou em boa hora. Eu estava mesmo precisando de ajuda, entre, entre – pediu.

Então eu o fiz. A cada passo que eu dava, os feridos pareciam ficar cada vez mais curiosos. Seus olhares nunca me deixavam. Chang percebeu meu desconforto e interviu:

- Ah pessoal, vocês estão deixando a menina tímida, voltem para seus gemidos.

- Como se eles não soubessem quem você é... -  ele disse consigo mesmo, me deixando um pouco mais à vontade.

- Como eu posso ajudar?

- Você pode começar pegando uma gaze no armário ali perto da porta.

Fui em direção à porta, abri as portas do armário e logo encontrei o que precisava. Voltei trazendo o que ele pediu e mais uns rolos de esparadrapo, talvez fossemos precisar. Quando fui abrir a embalagem, uma coisa no rótulo me chamou atenção. Bem abaixo da logomarca estava escrito: Fabricado em Fortaleza. Isso vinha da minha casa? Como será que eles conseguiam essas coisas?

- Chang, onde vocês conseguem essas coisas para curativo? – perguntei curiosa.

- Oras na... – ele se interrompeu como se tivesse notado algo a mais - ah, nós não roubamos se é o que você está pensando, nós trocamos.

- Trocam por? – eu não conseguia imaginar o que a Iméria poderia oferecer para a Fortaleza, nós tínhamos tudo.

- O que eles precisarem – ele não poderia ser menos específico não é?

- Hmmm – respondi insatisfeita, mais achei melhor deixar pra lá. - O que aconteceu com essas pessoas Chang?

- Menos perguntas e mais trabalho. Ajude-me com esse aqui – pediu Chang, indo em direção a um menino negro de olhos verdes. Magníficos olhos verdes!

 - Os ferimentos desse estão leves só temos que ficar de olho se ele não tem febre. Você pode verificar isso pra mim Luiza? Você sabe fazer?

- Sei. Cadê o termômetro. – Chang tirou um bastão parecido com uma caneta do bolso de seu jaleco branco e colocou em minhas mãos. Olhei a temperatura e estava normal: 36,5ºC. O garoto ficaria bem. Aproveitei que ele estava acordado e perguntei o que Chang não quis me responder:

 - O que aconteceu com vocês?

- Coleta – o que isso significava? Percebendo que eu não tinha entendido ele continuou.

- Teve uma coleta em Venezian, nós não queríamos que levássemos mais de nós. Eles nunca voltam você entende? Nós nos rebelamos, eles revidaram. Fim da história.

 - Mas, isso é horrível.

- É isso o que acontece quando não seguimos o acordo.

- Acordo?

- Luiza me ajude com esse aqui! – gritou Chang já do outro lado do quarto impedindo que o garoto continuasse – pegue umas toalhas ali dentro, nós vamos precisar remover a bala.

Bala? Ele disse Bala, de revolver? Paralisei. Armas eram perigosas, eram mortais e proibidas. Como ele fora baleado, eu nem queria saber.

- Rápido, Luiza, ele pode estar com hemorragia, por que ninguém me disse que esse era sério? Eu teria verificado ele antes! – gritou parecendo irritado consigo próprio.

Fui correndo ao armário e voltei com as toalhas.

- Pressione aqui – pediu Chang.

Peguei a toalha e fiz o que ele pediu. Chang saiu e voltou com uns objetos metálicos na mão.

- Se você tem medo não olhe, eu preciso fazer uma cirurgia, retirar a bala. Mas antes temos que leva-lo pra sala ao lado.

Nesse momento Victor entrou na sala sem nem sequer notar minha presença. Ele procurava, indo de leito a leito, por alguém e tudo o que dizia era: Cadê ele? Cadê ele? Eu vi uma fúria em seus olhos que eu nunca vira antes: uma fúria cega e desesperada. Como se a vida dele dependesse disso. Ele só se acalmou quando Chang interviu:

 - Ele está bem, Victor. Se acalme!

Victor suspirou aliviado.

- Nós precisamos de você Victor, ajude a mim e a senhorita Luiza a colocar o garoto loiro aqui na sala ao lado.

Foi só então que ele notou minha presença, olhou em meus olhos, sua expressão, a mesma: fria. Meus medos povoaram a boca do meu estômago. Eu tive medo do que ele estivesse pensando e de que eu estivesse certa. Eu precisava sair correndo dali o quanto antes, mas ao olhar o sofrimento no rosto daquele menino baleado, eu entendi que eu não devia. Existiam coisas mais importantes que meu relacionamento mal resolvido. Embora eu nunca tivesse visto aquele garoto antes, eu sabia que tinha a obrigação de ajudar.

Nós colocamos o garoto na sala de cirurgia e esperamos do lado de fora que Chang terminasse. Eu me mantive ocupada propositalmente para que Victor não tentasse conversar comigo. Ou ele percebeu que eu não queria conversa, ou ele estava preocupado demais para puxar assunto. O fato é que ele permaneceu em silêncio enquanto eu passava nos leitos fazendo o que eu podia: curativos, tirando a temperatura, etc.

Finalmente a cirurgia acabou e Chang saiu da sala. Nós corremos até ele para saber como foi. Ele não esperou que perguntássemos:

- Eu retirei a bala, mas é grave. Ele está estável, vamos esperar que ele melhore nas próximas 72 horas.

- Não há nada que possamos fazer? – perguntei.

- Só esperar...

Procurei algo pra responder, mas nada me pareceu adequado. Esperar. Como sentar e esperar sabendo que a vida de uma pessoa está correndo risco? Eu queria é entrar naquele quarto e o fazer ficar bom de uma vez. Notei uma troca de olhares suspeita entre Victor e Chang.

-Luiza, você pode fazer algo por mim?

- Claro Chang, é só pedir.

- Vá até a CETI e procure por Marco. Diga que eu preciso falar com ele urgente.

- Eu vou com você! – intrometeu-se Victor no que Chang lhe deu um olhar de desaprovação e impaciência.

- Não vai não! - eu respondi ríspida demais. Apesar de tudo, eu ainda não tinha esquecido que ele passara a noite com Laura. Minha raiva estava estampada em meu rosto. Ele me olhou como quem não entendeu nada e tentou se defender:

 - Você não sabe onde é a CETI.

Eu ia responder, mas Chang interviu:

- Eu preciso de você pra outra coisa Victor. Luiza, a CETI fica próxima à casa principal. Vá até lá e entre a direita, uma rua antes de chegar lá. Tem uma placa de madeira indicando o lugar. É fácil, vou vai achar rápido.

Eu saí da sala com a pulga atrás da orelha. Pareciam existir muitos segredos que eu ainda precisava descobrir. Porque todos pareciam estar escondendo algo de mim? O olhar que Chang e Victor trocaram tinha vindo com uma carga enorme de informação. Informação que eu desconhecia, mas que pra eles eram bem claras. Foi notável que o curandeiro só me mandou até a CETI porque precisava conversar a sós com Victor, ele queria é me tirar da casa de cura. Mas o que era de tão secreto que eu não podia ouvir?

E ainda tinha Victor. Cedo ou tarde eu teria que conversar com ele. 


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