Destino escrita por Eve


Capítulo 2
Capítulo Dois




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II

 

 

Atena estava na biblioteca quando Hebe apareceu à porta e a chamou:

— Atena? Papai deseja falar com você.

— Certo. – Atena respondeu. – Já estou indo.

Ela se levantou da poltrona em que estivera confortavelmente sentada, ajeitou o vestido com as mãos e saiu da biblioteca, rumando para o escritório de seu pai. Seu sapato fazia um barulho irritante no chão de mármore enquanto ela caminhava. Mas o pensamento de Atena estava longe, muito longe, para reparar nessas trivialidades. Ela se perguntava qual seria o motivo daquela convocação. Zeus nunca interrompia seu trabalho, a menos que fosse para algo realmente importante. Chegando ao final do comprido corredor, Atena bateu na porta do escritório. Ouviu a voz de seu pai, abafada pela madeira, dizendo “Entre”, então girou a maçaneta e adentrou o aposento. Seu pai estava sentado em uma cadeira de madeira forrada em couro, atrás da comprida mesa de mogno.

— Feche a porta. – Zeus pediu, e ela obedeceu.

— Algum problema, papai? – Atena perguntou.

— De maneira alguma. Chamei-a aqui porque quero lhe dar uma notícia. Sente-se.

— Uma notícia? – Repetiu Atena cautelosamente, se sentando.

— Sim. Você irá se casar. – Ele disse sem rodeios.

Ao ouvir aquelas palavras, Atena ficou quase tão pálida quanto o vestido que usava.

— Me casar?

— Sim. E pare de repetir tudo o que digo. Eu recebi uma proposta hoje pela manhã, e a aceitei.

— Você não pode me prometer a casamento, assim, sem me consultar. – Ela replicou, indignada.

— Claro que posso. Não se iluda, Atena. O fato de eu ter permitido que você estudasse na capital não significa que seja alguém livre. Eu sou seu pai. Eu escolho quando e com quem você irá se casar. Mas não se preocupe. O seu prometido é talvez, o melhor partido da região. Ele é o filho mais velho do Lorde Cronos Valence, de Ótris.

Atena lembrava-se vagamente do castelo de Ótris. Um lugar sombrio com anfitriões frios e um tanto quanto assustadores. 

— Não lembro de ter visto nenhum jovem Valence da última vez que estivemos lá. Ou será que pretende me casar com algum daqueles velhos asquerosos que têm idade para ser meu pai?

A expressão de Zeus fechou-se como um céu nublado.

— Espero que você entenda a importância de tratar respeitosamente a família do seu futuro marido. E respondendo sua pergunta, não. Não tive a oportunidade de apresentá-la a ele, mas o herdeiro de Cronos tem apenas 23 anos. 

Aquela ainda consistia numa considerável diferença de seis anos de idade entre ela e seu noivo arranjado, mas pelo menos não a casariam com um ancião.

— E por que o filho do poderoso Lorde Cronos iria querer uma bastarda como eu?

— Eu sinceramente não sei, Atena. Mas é justamente por esse motivo que você deve aceitar a proposta. Sendo bastarda, não terá direito a nada que hoje é meu quando eu morrer. E não pretendo deixá-la desamparada dessa forma. Portanto, a melhor solução é um casamento vantajoso. Você entende por que eu fiz isso, filha?

Atena assentiu minimamente, e então falou:

— Posso me retirar?

— Pode. Mas antes quero lhe dizer só mais uma coisa. O baile de noivado de vocês será depois de amanhã.

Atena teve vontade de perguntar o porquê da pressa, mas se controlou. Levantou-se, fez uma leve reverência e então saiu dali. Precisava organizar seus pensamentos e absorver aquela ideia. Andou sem rumo, até que foi parar em um dos jardins. Ártemis estava lá, com algumas de suas amigas, e Atena foi de encontro a elas. Sentou-se ao lado da irmã e apoiou pesadamente a cabeça no seu ombro. Ártemis imediatamente perguntou:

— Más notícias?

— Vou me casar. – Ela respondeu simplesmente, e sabia que sua irmã entenderia. As duas compartilhavam da mesma opinião desfavorável em relação a esses contratos de conveniência disfarçados de enlaces amorosos.

— Oh, mas isso é maravilhoso! – Uma das amigas de Ártemis guinchou.

— Quem é ele? – Uma outra perguntou, mais contida.

— O filho mais velho do Lorde Cronos Valence. – Atena respondeu, num tom infeliz.

— Oh, eu não acredito! Você vai se casar com Poseidon Valence?

Atena deu de ombros. Só agora havia percebido que em toda sua conversa com seu pai, o nome do seu noivo não fora mencionado uma vez sequer.

— Ora, mas deveria estar feliz, bobinha! - Uma das amigas de Ártemis falou, notando o seu desânimo. - Ele será infinitamente rico e poderoso quando herdar os domínios do pai. Todas as jovens da região morreriam pela chance de ser a futura Lady Valence.

Aquela frase foi a gota d'água no esgotamento da sua paciência já previamente exaurida.

— Eu não quero saber se ele é rico, importante, desejado ou o inferno que seja! Nada disso muda o fato de que eu não desejo esse casamento! – Atena afirmou com um tom de voz cortante, e se retirou, seus olhos já queimando com as lágrimas de ódio que tentavam escorrer. Ela correu até o seu quarto, trancou a porta atrás de si e se jogou na cama, chorando como não fazia há anos. “Você tem que se acalmar, Atena. Sabia que isso teria que acontecer mais cedo ou mais tarde.”, era o que dizia a si mesma.

Ela estremeceu ao notar que dali a provavelmente algumas semanas, não seria mais Atena Norwood. Seria a Sra. Valence. E essa perspectiva a assustava ainda mais do que a enraivecia. 


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Notas finais do capítulo

[Caso encontrem algum erro (gramatical, histórico ou o que seja) ou inconsistência na leitura dos capítulos, não hesitem em me informar, por favor!]