III

Zeus não queria magoar Atena, mas era seu dever fazer o que fosse melhor para a filha. Ora, o filho de Cronos, o senhor de um dos maiores feudos da região, querendo desposar sua filha bastarda, e o que ele poderia fazer? Não recusar, certamente. Atena iria entender que Zeus não estava fazendo aquilo por interesse. Afinal, ele mesmo também era um dos maiores senhores feudais da região. Ele apenas estava pensando no seu futuro. Atena, sendo bastarda, não teria direito à herança quando ele morresse, e alguém tão brilhante quanto ela não merecia virar uma simples camponesa. Não, o melhor a fazer era isso. Casá-la com o herdeiro de Ótris. Assim, quando Cronos morresse, ela seria a senhora feudal, e seus filhos seus herdeiros. Atena era uma pessoa muito inteligente, e com certeza entenderia tudo isso. Se não fosse sua aversão a casamentos, talvez ela estivesse comemorando, pois seu futuro estava salvo.

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Cronos não gostava muito desse tal de Zeus Norwood, mas não podia negar que essa união seria mais do que proveitosa. Ora, após o casamento, os feudos Ótris e Olimpo estariam unidos, e então nem mesmo as tropas reais poderiam ameaçá-los. Sem falar que o dote seria bastante generoso. Se garantir o futuro dos seus domínios e da sua riqueza significava casar seu filho com uma bastarda, ele o faria sem pestanejar.

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No pátio de armas do castelo, alheios aos pensamentos do pai, estavam os jovens Poseidon e Hades Valence. Hermes, o mensageiro, havia entregado a carta com a resposta de Lorde Zeus há pouco tempo, e agora os dois conversavam sobre o casamento.

— Será que ela aceitou isso bem? – Poseidon perguntou.

— E por que não aceitaria? Você é o melhor partido da região!

— Eu não sei. A maioria das mulheres quer se casar o quanto antes, mas essa Atena... Ela parecia diferente. Veja só: Ela passou o baile inteiro lendo nos jardins, ao invés de dançar e fofocar como as outras garotas estavam fazendo.

— E como você sabe disso?

— Eu, bem... Eu a espionei. – Poseidon confessou, envergonhado.

— Você perdeu o juízo?!

— Não foi minha culpa. Eu ainda nem sabia quem ela era. Eu estava nos jardins, quando de repente ela apareceu e se sentou e começou a ler.

— E vocês conversaram?

— Não, não. Ela sequer me viu.

— Então quer dizer que ela ainda nem sabe quem você é?

— Deve saber. Ela provavelmente já me viu em outros bailes, embora eu nunca a tenha visto.

— Poseidon, às vezes eu acho que você tem algas no lugar do cérebro. Claro que ela nunca te viu antes. Papai só começou a fazer bailes abertos à visitantes de outros feudos há dois anos, e é exatamente esse o tempo que ela passou na capital!

— Bem, então isso significa que ela só vai me conhecer depois de amanhã, no baile de noivado.

— Pobre garota. Ninguém merece um susto desses. Tente não matá-la.

— Ha, muito engraçadinho. - Poseidon rebateu - Só se for estonteada pela minha beleza.

Hades limitou-se a revirar olhos, e questionou:

— Não conheço a fama das garotas Norwood. Será que ela é boa de cama?

Poseidon não estava acreditando nos seus próprios ouvidos. Indignado, exclamou:

— Hades! Mais respeito! Ela é minha futura noiva.

— Não tente bancar o puritano agora, metade das garotas do vilarejo poderiam desmascará-lo. Vai dizer que também não pensou nisso?

— Bem, sim, mas... Não é algo que eu vou ficar discutindo em público com meu irmãozinho mais novo que aparentemente está precisando escapar para a cidade urgentemente já que não consegue controlar os pensamentos impróprios em relação à sua futura cunhada.

Hades riu, e então falou:

— Eu tive uma ideia.

— O que é?

— Vamos visitá-la. Hoje, após o almoço.

— Você perdeu o juízo? Ela mora no Olimpo, não é exatamente perto daqui. Se nós sairmos após o almoço, provavelmente teremos de passar a noite lá.

— E qual é o problema? Você é o futuro noivo dela. Nós mandamos Hermes agora com uma mensagem avisando da nossa chegada e partimos ao meio-dia. Vamos lá. Você não quer conhecê-la de verdade?

Poseidon considerou aquela proposta por um momento. Não era de fato impossível, e fazia sentido que ele pudesse conhecer sua noiva antes do tão esperado baile.

— Tudo bem. Mas temos que avisar a mamãe e o papai primeiro.

Eles encontraram os pais e a irmã em uma das salas-de-estar. O casal conversava sobre alguma coisa enquanto a irmã se entretia em cutucar as chamas da lareira com uma haste. Hades tomou a frente e falou:

— Pai, mãe... – E fez uma reverência. – Nós gostaríamos de avisar que faremos uma visita e iremos passar a noite no feudo Olimpo.

— Tudo bem. – Reia disse, e Cronos concordou. – Quando partem?

— Ao meio-dia.

— Eu posso ir também? – A pequena Héstia perguntou.

Poseidon olhou para a irmã. Héstia tinha apenas nove anos, mas era extremamente madura para a idade. Poseidon já ia dizer que sim, mas então a mãe falou:

— É melhor não, Héstia. Os meninos vão a cavalo e você é muito pequena para...

— Não tem problema. – Poseidon interrompeu, quando viu a cara de choro que a irmã fazia. – Eu a levo comigo.

— Tudo bem, então. – Reia falou, se levantando. – Acho que vou mandar servir o almoço mais cedo.

Héstia sorriu para Poseidon, e se retirou para arrumar suas coisas. Hades e Poseidon fizeram uma reverência para o pai, e também saíram. Já no corredor, Poseidon disse:

— Vá falar com Hermes enquanto eu preparo os cavalos. – Hades assentiu e deu meia-volta, se afastando. Enquanto isso, Poseidon foi para os estábulos.

Chegando lá, Poseidon separou seu cavalo e o de Hades e entregou ao rapaz responsável por eles para que fossem lavados e preparados para a viagem. Seguiu então para o seu quarto, tentando não pensar muito no fato de que dali a algumas horas ele conheceria – de verdade – a mulher com quem passaria o resto de sua vida.