XII

Atena sempre soube que o destino de uma mulher, no mundo em que viviam, estava diretamente ligado a decisões que na maioria das vezes eram tomadas por outros e quase sempre não coincidiam com seus interesses pessoais. Quando seu pai decidira que ela iria se casar com Poseidon Valence, Atena havia imaginado que essa seria mudança mais radical que sua pacata vida como bastarda do Olimpo sofreria. Aparentemente, ela tinha errado feio em suas suposições.

O pensamento de que dali a muitos anos, quando Lorde Valence morresse, iria junto de Poseidon herdar seu título e governar Ótris já era suficientemente esmagador. Os acontecimentos recentes, então, que determinavam que Poseidon assumisse a suserania de Atlântida - um domínio muito mais amplo - e por conseguinte nomeava Atena sua futura senhora feudal, estavam se provando verdadeiramente aterrorizantes.

Ela estava ouvindo apenas superficialmente Cronos explicar a situação à todos presentes naquela sala. Escolhera o lugar mais escondido para ouvir o pronunciamento do seu futuro sogro, longe dos olhares inquisitivos dos Valence e dos Norwood, que ainda não pareciam acreditar nas palavras que ouviam. Involuntariamente, ela começou a imaginar o que sua madrasta estaria achando disso tudo: saber que sua enteada mais odiada, além de ter conseguido um casamento vantajoso, iria se tornar uma senhora ainda mais poderosa do que ela devia ter um gosto amargo para Lady Hera.

Não conseguiu controlar o pequeno riso que deixou deus lábios ao pensar nisso. Poseidon, que estava cuidadosamente posicionado ao seu lado, foi o único que ouviu seu deslize, e a olhou com uma expressão que claramente questionava sua sanidade.

Rapidamente ela se recompôs. Eles estavam recebendo a notícia da morte de um proeminente membro da família Valence, e seria mais do que inadequado se alguém a flagrasse rindo naquele momento. Tentou voltar a prestar atenção no que estava sendo discutido e aparentemente os Lordes Valence e Norwood já estavam negociando as burocracias referentes à antecipação do casamento. Sua previsão neste caso fora acurada e de fato as senhoras presentes já estavam sendo consultadas sobre a possibilidade de organizar a cerimônia o mais rápido possível.

— A situação no feudo parece não ser das mais favoráveis. - Cronos dizia. - Não desejo deixar Atlântida sem comando por mais tempo que o necessário, por isso realizaremos todas as celebrações lá, e confio que todos farão os arranjos pertinentes para que viajemos o quanto antes.

Zeus anuiu.

— Se estamos de acordo, isso é tudo. Devemos voltar agora ao baile e anunciar o noivado oficialmente.

O cômodo foi lentamente se esvaziando, e Atena eventualmente deixou seu lugar para segui-los de volta à festa. Apolo se aproximou dela, diminuindo o passo para que os dois ficassem longe do alcance da audição dos que estavam mais próximos.

— Senhora de Atlântida, hum? - Ele disse, em tom de cumplicidade. - Finalmente um título digno de minha irmãzinha brilhante.

Atena o respondeu com um soco no braço, e ele riu.

— Está se sentindo melhor? - Perguntou, dessa vez sério, e Atena sabia que ele se referia ao desmaio.

— Sim.

— Atlântida não é tão perto do Olimpo quanto Ótris, então provavelmente não poderei visitá-la sempre. Mas deixarei um estoque dos seus remédios enquanto estivermos lá para o casamento.

Seu irmão era provavelmente a alma mais gentil daquela família, sempre preocupado com o bem-estar de todos - e com o dela principalmente - mas seu cuidado nunca falhava em emocioná-la.

— Não se preocupe, eu ficarei bem. O pior já passou, lembra? - Ela tentou tranquilizá-lo. - De qualquer forma, acho que a indisposição de hoje teve mais a ver com esse traje sufocante do que com qualquer outra coisa.

Apolo sorriu, e passou carinhosamente uma mão pelos seus cabelos. Atena sentiria falta do irmão quando estivesse em sua nova vida. Para sua surpresa - ou nem tanto - essa seria uma das poucas coisas de que sentiria falta, contudo.