Destino escrita por Eve


Capítulo 11
Capítulo Onze




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XI

 

 

Poseidon observou, inteiramente confuso e um tanto quanto incrédulo, seus pais deixarem o cômodo. Quando ouviu a porta da biblioteca se fechar, soltou a respiração que nem percebera estar segurando, e sentiu seu corpo fraquejar em resposta a toda aquela tensão que se construíra em seu interior durante os últimos minutos, suas pernas lhe faltando. Sentiu um braço enlaçar o seu e apoiá-lo com alguma dificuldade e percebeu pela primeira vez, de tão absorto que estivera, que Atena havia o seguido até ali. Ela estava com a expressão um tanto assustada, se não pela discussão que tinham acabado de ouvir então pelo efeito que aquelas palavras tiveram nele. Poseidon aproveitou sua ajuda inesperada para tentar se recuperar do choque que sofrera e ela, ao perceber que ele estava razoavelmente firme novamente, o soltou e deu um passo para trás, claramente cautelosa sobre toda aquela situação.

Poseidon achou que aquela era uma atitude completamente compreensível, ainda mais considerando como as coisas acabaram na última vez em que foram deixados sozinhos.

Atena continuou a andar para trás e apoiou-se pesadamente na parede contrária a que ele estava próximo, e foi só aí que Poseidon percebeu que ela ainda não estava totalmente recuperada do desmaio de mais cedo. Sua noiva tinha os olhos fechados e estava estranhamente empalidecida, as mãos delicadas se apoiando de cada lado do seu corpo na pedra escura que constituía a estrutura do castelo. Enquanto ela se recuperava, ele espelhou seu gesto, apoiando as costas na parede atrás de si, que diferentemente da oposta, era coberta por uma tapeçaria de veludo negro. Agora a distância entre eles era a de um cômodo inteiro, mas nenhum dos dois fez menção de sair dali, então ele supôs que alguma explicação da situação em que se meteram seria necessária.

— Assim que voltei ao baile, - Ele começou a contar, e imediatamente Atena abriu os olhos, o observando com atenção. - Hades veio me procurar com uma história muito curiosa. Ele foi uma das poucas pessoas que não subiu até aqui quando você passou mal, e enquanto o salão estava praticamente vazio, viu um mensageiro chegar e entregar uma carta a Hermes. Ele foi até nosso mensageiro e pediu para receber a correspondência, mas Hermes lhe disse que tinha ordens expressas de entregar a carta somente ao nosso pai. Então ele o seguiu sorrateiramente enquanto cumpria essas ordens, e viu que a reação de Lorde Cronos ao ler o que ali estava escrito foi terrível, para dizer o mínimo.

— E então você veio descobrir o que dizia a carta. - Ela deduziu. Ele anuiu, e ela ergueu uma sobrancelha inquisitiva. Poseidon rapidamente percebia que sua noiva era uma pessoa terrivelmente curiosa.

— A carta veio do feudo Atlântida, e anunciava a morte de seu senhor, Lorde Oceano Valence. Que também era meu tio.

Sua boca fez um pequeno “o” e sua sobrancelhas se ergueram em surpresa. Essa reação durou apenas um segundo, no entanto, e ela logo recuperou sua presença de espírito e disse:

— Eu sinto muito.

Poseidon apenas assentiu. Ela não tinha como saber disso, mas tio Oceano sempre fora seu parente preferido, e um verdadeiro mentor durante sua juventude. Sua falta seria profundamente sentida pelo sobrinho.

— Mas… - Ela começou, e então fez uma pausa como que para escolher as melhores palavras. - Por que então seus pais estavam discutindo sobre nosso casamento e seus futuros herdeiros?

Ele suspirou antes de tentar explicar. Ainda estava sendo difícil para ele encaixar todas as peças em sua mente e absorver a notícia recebida naquela noite, que mudaria toda a sua vida dali para frente.

— Tio Oceano não tinha herdeiros. Sua esposa morreu ainda muito jovem e sem gerar nenhum filho, e ele não se casou novamente. Aparentemente, ele de algum modo deixou seu título e seus domínios para mim, então.

Agora Atena estava verdadeiramente perplexa. Ele calou-se e deixou que ela absorvesse a notícia. Uma vez que eles iriam se casar, isso significava que ela também tinha acabado de receber uma suserania completamente inesperada. Uma responsabilidade imensa tinha caído no colo dos dois, quando eles mal estavam preparados para oficializar aquela união.

— Faz completo sentido, na verdade. - Ela finalmente quebrou o silêncio, o surpreendendo. - Se ele não tivesse nomeado um herdeiro, o rei poderia confiscar o feudo e entregá-lo a outra família. O que não se encaixa é o porquê de ele ter deixado as posses dele para você, que por lei já é o herdeiro de Ótris, e não para Hades.

Poseidon surpreendeu-se com sua linha de raciocínio.

— Sim, de fato. Mas eu sempre fui mais próximo a ele, e coincidência ou destino, sua decisão foi acertada. Se ele tivesse nomeado Hades seu herdeiro, meu pai ainda teria que buscar um casamento vantajoso para ele antes que pudesse assumir a posição de senhor, e nesse meio tempo a Igreja ou outro nobre poderia reclamar o território. Atlântida é um feudo enorme, muito maior que Ótris ou o Olimpo, e não poderia ficar muito tempo sem comando.

Ela ponderou suas palavras.

— Isso significa que provavelmente nosso casamento será antecipado, não?

— Provavelmente. - Ele concordou.

Atena simplesmente deixou pender sua cabeça para trás e fechou os olhos novamente, claramente se esforçando para conter uma reação negativa. Poseidon sabia que ela ainda não tinha aceitado completamente a ideia de se casar, e que isso acontecesse antes mesmo do que inicialmente planejado era provavelmente um golpe que ela não estava esperando. Atena ainda não sabia, mas essa súbita mudança de planos servia a seus interesses mais do que qualquer outra coisa.

— Isso será melhor para nós dois, apesar de tudo. - Ele arriscou dizer, e ela reagiu à sua fala com um meio sorriso irônico. 

— Eu realmente não vejo como. - Foi o que respondeu.

Poseidon hesitou antes de fazer a proposta que tinha em mente. Não era o melhor plano que já tinha criado para conquistar a afeição de alguém, mas considerando a aversão que Atena parecia ter à todo aquele arranjo em que estavam envolvidos, talvez fosse a atitude mais sensata a se tomar, pelo menos por enquanto.

— Bem… - Ele resolveu arriscar. - Se formos mesmo designados para governar Atlântida, isso significa que lá será o nosso novo lar, e não aqui com meus pais e toda a minha família nos vigiando constantemente. Sendo assim, não precisaremos fingir que isso é algo além de um casamento de fachada.

Atena reagiu àquela sugestão como ele esperava: um olhar incrédulo e uma sobrancelha erguida, sua postura se rearranjando num claro sinal de que toda a sua atenção estava agora direcionada a ele. Antes que pudesse explanar melhor sua proposta, no entanto, Poseidon foi interrompido por sua irmã entrando de rompante na biblioteca, a respiração acelerada e o rosto corado ao dizer rapidamente:

— Estive procurando vocês no castelo inteiro… Papai deseja vê-los em seu gabinete, agora.

A surpresa dos dois durou apenas um segundo, e logo reagiram à convocação trazida pela criança. Deixaram o cômodo lado a lado e seguiram a pequena ruiva pelos corredores do castelo, até o lugar onde os esperavam. Ainda havia muito a ser esclarecido entre eles, mas por hora deviam apenas ouvir o que seu pai tinha a dizer e fingir surpresa frente às notícias. Os dados do destino haviam sido lançados, e com eles qualquer controle que poderiam ter sobre seus futuros.




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Notas finais do capítulo

[Editar esses capítulos mais antigos tem se mostrado um verdadeiro suplício, mas não me arrependo de ter tomado essa decisão. Essa história sempre foi o meu xodó, mas agora estou transformando-a em algo que verdadeiramente me orgulha, e isso me inspira a continuar tentando entregar um trabalho cada vez melhor para vocês. Devagarzinho a gente chega lá!]