Acordo desnorteada, com um pouco de tontura, e vou até o banheiro. Lavo meu rosto e escovo os dentes, como tomei banho ontem à noite, agora não seria necessário.
Hoje o dia estava quente, pego uma blusa pólo vermelha, uma bermuda, coloco meus velhos all star, e os óculos escuros, e já desço com a mochila.
- Bom dia Kurt! – digo sem ânimo.
- Bom dia Amy – ele diz sério.
- O que houve?
- Nada, só fiquei pensando na noite anterior – ele diz tomando um gole de café na xícara branca.
- Ah, esquece aquilo... – olho para o louro a minha frente, com uma expressão preocupada.
- Amy, como eu esqueceria aquilo? Isso ficou memorizado, como eu nunca notei? – ele fala impaciente.
- Kurt, não precisa se preocupar...
- Como não se preocupar? Sou seu padrinho Amy! Você não sabe como é doloroso ver sua própria afilhada machucando a si mesma. Isso me maguou muito Amy! – ele me olha com um olhar triste.
- Não deveria se preocupar! Eu já tenho 17 anos. Sei muito bem o que faço! E você não sabe o que é aguentar todos os dias a angústia de ter perdido seus pais, estragar a vida de outras pessoas. E ainda sim ter que ir pra uma escola infernal com pessoas egoístas e hipócritas! – falo com uma expressão de raiva.
Kurt e eu nunca brigamos assim, não pelo menos até hoje.
- Tudo bem, mas a senhorita não é maior de idade! Estou com sua tutela, e eu me preocupo sim... Como fosse seu pai! – ele diz, dando um sermão.
- Mas não é Kurt, não é! – digo irritada.
Saio da mesa, sem ao menos tocar no café da manhã, pego minha mochila, e vou até a porta.
- Amy volte aqui! – ele diz com a voz cansada, e quando viro para trás, vejo que seu olhar está magoado.
Bato a porta, e vou para meu carro. Não quero olhar para trás. Já dentro do carro, sigo chegando à escola. Fico parada ali, as lágrimas marejavam meus olhos, eu magoei meu próprio padrinho... O cara que cuidou de mim, quando meus pais morreram, o que me apóia, me faz rir, me sentir bem... Um pai! Como eu posso ser tão idiota?
Seco as lágrimas em meu rosto, com a costa da mão. Coloco os  óculos escuros, e jogo a mochila nas costas.
Entrando na escola, Ashley e James já vem com insultos, mas estou com o ego tão inflamado, que nem ligo. Eu magoei outra pessoa, melhor, a pessoa que me ama.
Fui até a sala e joguei minha mochila no chão, e sentei na última carteira. Não havia ninguém na sala, então aproveitei para desabafar.
Começo a chorar, querendo matar essa dor que tanto me perturba, que me atormenta por anos, e a cada ano que passa é pior, aumentando ainda mais.
- Olha quem está chorando Jay? – fala Ashley.
- Que dózinha né Ashley? Quer que eu te console Amy? – ele sorri maliciosamente – Ah não, esqueci que você é bizarra demais pra isso.
Eles começam a gargalhar, aproveitando que eu estou me sentindo mal.
- Deixe ela em paz! – fala o moreno.
- Ah Logan, fala sério cara! Vai defender a esquisitona? – diz James.
- Cala a boca James, você não é melhor que ela.. Deixa a garota em paz! – ele se irrita.
- Logan!! Não estou acreditando? Você está defendendo ela?? Eu que sou sua namorada. – ela diz chocada, com uma voz aguda e irritante.
- E daí Ashley? Eu não gosto o jeito que você trata ela. Nem sabe o que acontece com a vida dela – ele fala firme.
- Ah sei sim! Ela perdeu os pais delas, e agora vive com o padrinho tolo dela... Não tenho amigos, é uma excluída – ela diz ainda mais aumentando minha ferida.
Eu não queria mais escutar aquilo, então saio correndo, com as lágrimas caindo.
- Vocês são idiotas! – ele reclama.
Na correria, esbarro em várias pessoas, que como de hábito sempre me xingando... “Sua esquisita não olha por onde anda?”, “tinha de ser a esquisitona mesmo viu!”
Fico sentada perto dos armários, com a cabeça apoiada aos joelhos.
- Amy? – diz uma voz grave.
Levanto a cabeça e dou de cara com o par de olhos azuis esverdiados. Não respondo nada.
- Olha não ligue para aqueles idiotas, eles só querem zoar com a sua cara! – ele diz irritado.
- Por que você está se importando comigo?
- Não acho legal ninguém ser humilhado.
Ele olha fixamente em meus olhos, querendo arrancar  respostas, mas não encontra.
- Eu sei que nós mal nos conhecemos, mas meu pai é psicólogo. Ele pode te ajudar...
- Porque todos acham que eu preciso de psicólogo? – interrompo ele – Que droga!
- Desculpa não queria te irritar – ele diz com um olhar culpado.
- Esquece okay? Por favor me deixa em paz! Sua namorada já me atormenta demais, e ela vai querer arranjar mais confusões porque você está me defendendo. – digo, e corro até o banheiro.
Isso era tão estranho Logan Miller me defendendo? Não quero que ninguém se aproxime de mim, muito menos ele... Ele nunca me notou, e nunca disse nada quando sua namoradinha idiota me humilhava... Por que ele fez isso agora?
Só sei que esse Logan só me trará problemas, melhor eu me afastar dele.

Nas aulas seguintes, eu não prestava atenção, ficava pensando o porquê dele defender-me da própria namorada e seu melhor amigo.
O sinal bateu, e fomos dispensados. Fui até meu carro, mas quando abri minha porta, algo me puxou para trás.
- Desculpe, eu não queria ter te chateado! - o moreno diz pacificamente.
- Já disse pra me deixar em paz! Por favor evite de falar comigo, não quero que me procure ... Logan? – falo sem ter certeza se é o nome dele, mas claro que fingi, sei até de cor e saltiado que ele é o tal Logan Miller.
- Sim, Logan Miller, ao dispor – ele brinca – Você não gosta de mim né?
- Não, não é isso!
- Então gosta de mim? – ele olha com um certo brilho nos olhos.
- Não, não, não... – digo já confusa.
- Decide gosta ou não de mim? – ele pergunta.
- Com licença tenho que ir para casa! Tchau – digo já toda embaraçada com essa história.
Entro no carro, e dou uma boa acelerada, derrapando no asfalto.
Chego em casa, e vejo que Kurt não chegou do trabalho. Vou para meu quarto, com grandes dúvidas, perguntas que não quer calar.
Por que logo Logan Miller, Logan Miller! Está se importando comigo? Ele nunca disse uma palavra desde que cheguei naquela escola, e seus amiguinhos sempre implicaram comigo, e ele nunca disse se quer um “A”. E que história foi aquela dele perguntar se gosto ou não dele? Por que quando ele olha pra mim, vejo um certo brilho em seu olhar?
Tantas perguntas, e nenhuma resposta. Vou até minha estante, e pego Crepúsculo... Eu podia ler 1 milhão de vez a saga Crepúsculo, mas nunca iria enjooar.
Começo a ler, e me imagino dentro da história. Sonho até acordada, mas depois de fechar o livro, vejo que minha vida continua a mesma... E que vai continua assim pra sempre.
Escuto o carro de Kurt estacionando na garagem, saio correndo e desço as escadas. Abro a porta e já começou a tagarelar.
- Oh Kurt, me desculpa! Você é o melhor padrinho do mundo – abraço ele – Eu vou ser mais obediente, prometo!
- Amy....
Olho para trás e vejo um homem moreno, de olhos azuis... Dando uma risada silenciosa.
Fico vermelha que nem um pimentão, desgrudo do meu padrinho. Nunca me senti tão envergonhada, meu rosto estava queimando.
- Amy – tossiu Kurt, para disfarçar aquilo – Esse é meu chefe Steve... Steven essa é minha afilhada Amy! – apresentou-nos.
- Muito prazer Amy! – disse o homem simpático.
Apenas assenti com a cabeça e subo as escadas.
- Bela casa Kurt! – disse o homem.
- Obrigado Steve! – disse Kurt.
Depois de chegar em meu quarto, percebo que aquele homem tem uns olhos que já vi em algum lugar.
Esqueço isso e voltou a ler meu livro, fico ali toda empolgada, vivenciando a história.
- Amy? – pergunta-me Kurt
- Oi – digo seca
- Desculpa não ter avisado que meu chefe viria aqui... Também fui pego de surpresa – ele deu um sorriso meio torto.
- Ah tudo bem.
- Desculpe por hoje de manhã, fui muito rude com você.
- Eu que devo desculpar-me, eu fui muito rebelde, prometo ser mais obediente.
Então nos abraçamos por um longo tempo, como se aquele abraço, tirasse nossas dores.
- O que acha de jantarmos fora?
- Boa idéia, padrinho esperto!
Ficamos em silêncio, e depois soltamos a gargalhada.