Algum instinto ou talvez apenas o agitar de uma brisa que adentrava pela janela semi-aberta despertou Cass, que se sentou na cama, precisando de uma fração de segundo para colocar seus pensamentos no lugar depois de um sonho perturbador. Estranhou ao notar que Matt não estava mais deitado ao seu lado.

A jovem levantou-se e caminhou com passos lentos na direção do banheiro, avistou seu semblante pálido e cansado através do imenso espelho oval, jogou um pouco de água para despertar, mas um barulho agudo a fez sobressaltar, rapidamente caminhou na direção da cozinha, onde presumira que tinha acontecido o barulho.

Não havia ninguém, mas a porta estava aberta e as leves brisas frescas do campo montanhoso adentravam frio naquela noite de início de junho, mas não gélidos como os de inverno. Cass ajeitou sua fina blusa de frio e rapidamente fora certificar-se de que estava sozinha, mas quando passou pelo balcão avistou um pedaço de papel preso debaixo do vaso de flores artificiais.

"Cassandra fui até o vilarejo e talvez retornarei apenas no final da tarde, beijos Matt."

A Principio ela estranhou, sem delongas pegara a garrafa de café, despejou o liquido negro dentro da xícara de porcelana, levantou-se e pegou o telefone, discou para Alder, precisava conversar ou acabaria pirando por causa de um pesadelo surreal.

–Vamos, atende Alder. - resmungou.

A voz enjoada da secretaria eletrônica ecoou através da linha, insistiu duas vezes sem muito sucesso. Algo comprimiu garganta, um pensamento passageiro fez seu estomago gelar.

Discou para a residência dos Levenach, por fim a voz cansada da tia-avó de Alder atendeu.

– Bom dia, Margo! Poderia falar com a Alder? - saudou-a e logo em seguida perguntou.

A ligação era péssima.

– Bom dia querida, a Alder não retornou ainda, ela saiu com um grupo de amigos e um rapaz chamado, creio eu que Alexander. - disse.

Ao ouvir o nome Cassandra se arrepiou por completo.

–A-Alexander? - repetiu incrédula.

Sentiu os olhos arderem e foi forçada a engolir o nó dolorido que crescia em sua garganta.

–Sim querida conhece-o? - quis saber

Cass suspirou e se ergueu da cadeira.

–Não, é que precisava muito conversar com ela, sabe onde ela possa ter ido?

Um breve silencio a dominou, mas a resposta veio em seguida, não da forma que Cass desejava, a jovem agradeceu pela atenção e logo desligou.

Alexander! O misterioso rapaz que povoou seu sonho continha o mesmo nome, estranho ou apenas coincidência?

Cass caminhou na direção de sua pequena Horta, precisava colocar seus pensamentos em ordem antes de cometer alguma burrice. Ao abrir a porta dos fundos pode notar que o dia estava lindo, com um céu azul maravilhoso, mas os ventos gelados balançavam as folhas das altas copas das arvores. Caminhou na direção alta onde ficava sua horta, pegou o pequeno rastelo, mas ao abrir o portão avistou uma sombra ao longe, temeu, era um lobo cinzento.

– Parece tão sozinha.– aquela voz rude ecoava em sua mente.

Mas tomou coragem e sem delongas pegou uma pedra e arremessou na direção do animal que fugiu por entre as frondosas arvores.

– Era o que me faltava, Lobos! Deus só posso estar pirando, primeiro esse maldito pesadelo, Matt me deixou sozinha, Alder sumiu e pra piorar saiu com um cara com o mesmo nome do que estava no meu pesadelo e agora lobos xeretando minhas terras. - vociferou.

A jovem colocou seu velho chapéu de palha e começou a remexer nas terras negras da montanha, não se dera conta que as horas foram passando. Sentiu seu celular tocar, assim que atendeu a voz de Gordon parecia desesperado, mas como sempre a ligação estava péssima.

–Gordon?

O chiado aumentava e diminuía cortando a voz de Gordon, Cass rapidamente largou seus objetos e correu na direção da cozinha. Pegou o telefone fixo e discou para agencia de turismo onde Alder trabalhava.

– Gordon, é a Cass, está tudo bem? - perguntou.

Por sorte podia ouvi-lo agora.

– Cass acaso você sabe onde aquela maluca da Alder se meteu? Não veio para o serviço ainda e a dona Margo desconhece o paradeiro dela, apenas que saiu na companhia de tal de Alexander.

Cass encostou se no balcão e com a mão direita limpou o suor de sua testa.

– Também estou atrás dela, mas como sabemos que ela é um pouco avoada deve ter desligado o celular. Mas ela deve ter ido à festa de mascaras do Nichol. - disse.

Nessa Cassandra tinha razão, Alder detestava ser interrompida quando estava na companhia de um homem.

– Nem apareceu, ele me informou que foram poucas pessoas. Mas vou me certificar quem é o rapaz que ela saiu. - disse.

Cass sentou-se na cadeira.

–Assim que tiver noticias que quem ele é me avise. - pediu.

Gordon concordou e logo desligou o telefone, Cass precisava saber se esse rapaz era o mesmo de seu pesadelo.

Cass suspirou, ela franziu a testa, confusa. Mas logo voltou para sua horta, pois suas hortaliças não iriam se plantar sozinhas, ao sair avistou outra sombra no alto de uma pedra, aquilo prendeu sua atenção, balançou a cabeça tentando sair de um transe.

Algo estava errado! Disso Cass tinha certeza.

Ela sentiu um leve arrepio na espinha. Dois anos atrás, o vilarejo tinha sido alvo de fatos estranhos, inclusive registraram o desaparecimento de duas turistas francesas no lado leste da imensa montanha, mas Cass meneou a cabeça e riu, tinham se passado dois anos, era improvável que fosse acontecer a mesma coisa pois a policial local tinha prendido o suspeito que confessara espontaneamente. Seu celular vibrou, ao retirar o aparelho do bolso viu que era uma mensagem de Gordon.

"Cass! Achei muito estranho, mas segundo informações da dona da pousada o rapaz fechou a conta hoje pela manhã. Ele não informou de onde era, mas não parecia ser estrangeiro, era moreno de olhos claros. Fora as únicas informações que obtive."

Cass sentiu seu estomago gelar, mas respirou fundo aliviando atenção que estava, o tal sujeito não era o mesmo de seu pesadelo.