A Gehenna é uma dimensão sombria e tenebrosa. Antes da Grande Expulsão era lá que Lúcifer punia as almas pecadoras. Atualmente serve de purgatório. Toda a dimensão é um grande e mal cheiroso pântano, onde se localizam diversas prisões que guardam desde anjos desobedientes a deuses pagãos. Lugar de atuação dos hashmalins. Toda a iluminação da Gehenna é produzida pelos gases verdes e tóxicos que saem dos pântanos.

   Há no purgatório, uma prisão descomunal. O Cárcere Tenebroso. É onde estão os mais perigosos prisioneiros. A maioria são demônios capturados. Os senhores desta prisão são os chamados Cavaleiros do Apocalipse. Nos tempos anteriores a queda de Lúcifer, eles eram seus aliados favoritos. Durante a guerra, porém, continuaram ao lado das tropas de Miguel e se destacaram na expulsão da horda revoltosa. Por sua lealdade, o Príncipe dos Arcanjos os consagrou como figuras de total confiança e os entregou as chaves do Cárcere Tenebroso.

   O Anjo da Morte é o mais poderoso dentre os quatro. A pele muito pálida, longo cabelo grisalho. Corpo magro sempre coberto por um manto negro, onde esconde o coração negro, que pulsa pendurado no meio de um buraco no tórax do anjo. Suas asas possuem penas negras. Domina os ceifeiros, almas humanas eternamente em penitência, fantasmas resgatados do primeiro céu e aprisionados em seu coração murcho, que se alimentam de sentimentos depressivos. Controla a escuridão.

   Guerra, Fome e Peste são os outros cavaleiros, menos poderosos que o Anjo da Morte. Todos também com asas negras. Cada qual com seus poderes, geralmente atacam em trio. Guerra é capaz de controlar as emoções alheias. Em tamanho é ameaçador. Músculos bastante desenvolvidos, dentes pontudos e olhar assustador. Fome é frio e medonho. Seus poderes são variados, desde a dominação do gelo à morte instantânea. E Peste é o mais bizarro fisicamente. A pele esverdeada é cheia de tumores, de onde saem gosmas nojentas e vermes inquietos. Tem o poder de espalhar doenças.

   Valente Gray, ao mandar Halael matar Becca, não tinha a intenção de se vingar por causa do escândalo, mas queria impedi-la de ter o filho. Além do fato de se ele tivesse um filho perderia a imortalidade, o bebê que Becca estava esperando era a Criança Sagrada.

   Algumas semanas atrás...

   Valente acabara de escapar de um bando de paparazzi fofoqueiros. Becca acabara de por na mídia que estava grávida dele e desde então ele não teve mais paz.

   Estava em seu apartamento. Ligou a TV. O relógio marcava 00h32min, e a única luz vinha da TV. Foi na geladeira e pegou uma garrafa de cerveja. Abriu e bebeu um grande gole no gargalo. De repente a televisão explodiu sem motivo e a casa foi mergulhada no escuro. A garrafa congelou, e sua mão ardeu com o frio, o que o fez derrubá-la.

   Assustado e prevenido, Valente usou o domínio do vento e criou ao seu redor um pequeno furacão com ventos tão rápidos que o deixava impermeável. O nefilim viu uma luz espectral, azulada, no meio da sala. A luz tomou forma humana. Logo, o cavaleiro da Fome se materializa. A pele muito pálida, olhar frio.

   - Há quanto tempo, não? – cumprimentou Fome.

   - Não muito! – respondeu Valente, sem se desfazer do escudo de vento.

   Fome estendeu a mão, e assim ficou por algum tempo, esperando a saudação do nefilim.

   - Não vai apertar minha mão? – Fome perguntou. E sem esperar resposta lançou uma lufada de vento congelante, ainda mais rápida e forte que o furacão de Valente. O escudo de vento protegeu o empresário de ser petrificado e pulverizado pelo ataque. Mas o vento gélido afastou com violência todos os objetos da sala, que agora estavam danificados e cobertos por uma película de gelo. Enfim, Valente apertou a mão fria de Fome. Imediatamente uma vontade horrível de comer o invade.

   - Pare com isso! – pede Valente, atacado por uma fome arrasadora.

   - Antes, prometa que vai mandar matar Becca e seu filho.

   - É claro! – falou o nefilim, já caindo de joelhos, tonto pela fome, que só aumentava – Eu já ia fazer isso. Não posso ter filhos, ou perderei a imortalidade e o dom de controlar o vento.

   - Que bom! – disse o anjo – Só lhe ordeno que não se lembre desta conversa. O arcanjo Miguel não pode nem desconfiar que eu estive aqui. Só esteja avisado que ele vai enviar anjos da guarda para proteger a garota e o bebê.

   Os olhos de Valente se fecharam.

   Quando acordou, estava deitado confortavelmente em sua cama. Já havia amanhecido, e não se lembrava de nada que ocorrera na noite passada.

   Como Halael falhou em matar Becca, Valente decidiu agir por ele mesmo. Não o fizera anteriormente para não atrair a fúria de Miguel sobre ele, mas agora não lhe restam alternativas.

   Luciannah explicara a Becca que ela está carregando no ventre a criança sagrada, o herdeiro de Miguel na Terra. Estavam em um hotelzinho pé de estrada no interior de Minas Gerais.

   Becca nunca fora religiosa, então para ela era difícil acreditar na existência de anjos da guarda, arcanjos, nefilins poderosos e todo o mais. Porém, diante de tudo o que presenciara era forçada a aceitar.

   As duas foram comer algo na lanchonete do hotel. Ali, além de duas ou três garçonetes, só havia cinco clientes. O cardápio não era nada luxuoso ou variado, mas os pratos que ofertavam eram o suficiente para saciá-las.

   De repente, um vento mais forte abre portas e janelas do estabelecimento. Luciannah sabia que aquele vento não era natural.

   - É Valente Gray! Ele nos achou.

   O nefilim estava a trinta metros da lanchonete. Com um movimento de braço levanta uma tempestade de areia. Vê ao longe Luciannah. A ofanim pedira para Becca ficar ali, e saiu para confrontar o dominador do ar.

   Com os magníficos poderes da mente Luciannah aplaca a fúria da tempestade de areia. Valente responde lançando enormes pedras, arrastadas pela força do vento na direção de Luciannah. A anja fecha os olhos. Uma luz forte parte dela. As rochas são reduzidas a minúsculos fragmentos de areia. Valente corre na direção de Luciannah. A anja fala em voz baixa.

   - Da luz vem o calor... Do calor vem o fogo...

   E estira os braços, lançando uma bola ardente de chamas em Valente. Surpreendido, o nefilim quase não tem tempo de se defender, mas ainda consegue proteger-se por trás de uma cortina de vento. Responde ao ataque lançando uma rajada de vento em Luciannah.

   A ofanim cai, mas logo se coloca de pé e revida, fazendo com que Valente fique cego momentaneamente devido a uma forte luz em seus olhos. Usando de telecinese e aproveitando-se da cegueira do oponente, Luciannah o sepulta sob toneladas de areia.

   Confiante de que encerrara Valente Gray, Luciannah dá as costas, mas escuta algo. Vira-se para as rochas. De repente um soco de vento com a força de algumas toneladas a atinge no rosto. Luciannah cai. Abre os olhos com dificuldade e vê Valente se aproximando.

   - Cansei de brincar! – ele diz, pondo o pé em cima da cabeça de Luciannah e pisando com toda a força.

   Valente Gray vê um vulto muito rápido saindo da lanchonete. Identifica Halael, com Becca nos braços. Irritado, sem ter a menor chance de alcança-los, cria um furacão furioso que destrói o hotel a lanchonete, matando todos os que estavam lá dentro.