— Eu não vou aceitar o auxilio de vocês dois tão facilmente. – Mariko cruzou os braços e encarou os dois rapazes, esperando alguma resposta que pudesse satisfazê-la. Yumi deixou escapar um sorriso de animação.

— O que vocês planejam? – Midorima interrompeu Kise erguendo a mão para o alto, aproximando-se da rede de proteção. – Não possuo tempo para brincar com duas garotas desocupadas.

Kise socou o ombro do mais alto, alarmando-se com o tom frio e ofensivo de Midorima. – Ei, seja um pouco mais receptivo, não foi para isso que lhe trouxe aqui, Midorimacchi. – o loiro coçou a cabeça, nervoso com o clima que se estabelecia entre eles, Yumi e Mariko. Ryouta podia sentiar as alfinetadas dos olhares nervosos e impacientes das duas garotas.

Mariko não havia gostado das palavras do rapaz de cabelos verdes, sentindo-se altamente provocada. Afinal, quem aquele cara engomadinho era para dizer alguma coisa dela e de Yumi?

— Que tal um jogo 1x1? Se vocês nos ganharem, aceitamos a gentileza do loirinho ali. – ela deu de ombros e olhou para Yumi, que assentiu positivamente com a cabeça. Kise olhou de soslaio para Midorima, que estava ajeitando os óculos sobre o nariz, calculando quais as possibilidades de ganharem o amistoso.

Obviamente, Midorima achou que seria um jogo extremamente fácil, e que não precisariam usar 1/3 das habilidades que possuíam. Por outro lado, Kise estava curioso para ver as habilidades das duas garotas, pouco se importando com o resultado da partida.

Ayuzawa afastou-se do grupo e foi até o treinador. Yumi pediu para que ela e Mariko saíssem mais cedo. Jared não havia gostado do pedido da ruiva, mas por fim deixou que as duas meninas saíssem mais cedo do treino.

Yumi e Mariko foram até o vestiário para se lavarem e se organizarem para irem embora. E Midorima e Kise permaneceram no ginásio, sentados nas arquibancadas.

— O que você acha que elas estão fazendo lá dentro? – o loiro perguntou inocentemente, mexendo no brinco de argola que usava na orelha. – Midorimacchi, foi muito cruel.

— Meu horóscopo dizia para ter cuidado com coisas desconhecidas, e esse é um bom motivo para espantá-las do meu raio de visão. – Midorima ajeitou-se na arquibancada e trocou o ursinho de mãos, cansado de esperar as duas garotas. – Você é um retardado, e acabou me envolvendo no seu problema.

— Meu? Eu não fiz nada! – Kise quase pulou do banco, controlando-se para não dar um soco no rosto vazio e sem expressão do mais alto. – Só estou ajudando pessoas que praticam o mesmo esporte que nós.

— Fica molestando mulheres, e depois chama os “amigos” para encobrir suas burradas. – Shintaro olhou de canto para o loiro, quase cuspindo aquelas palavras, arrancando um urro irritado de Kise. Os dois permaneceram quietos até o regresso das duas garotas, que agora vestiam os uniformes da escola Hyotei.

Yumi e Mariko passaram pela rede e saíram da quadra, cada uma carregando nas mãos uma garrafa de tônico para repor os sais minerais que haviam perdido durante o treino.

— Vamos tratar disso em um lugar mais cômodo, se é que me entenderam. – Ayuzawa olhou sugestivamente para os dois rapazes, adiantando-se até a saída do local. Yumi parou no batente da porta, espantando as garotas da escola que estavam observando os dois novos homens do pedaço.

Ela olhou sobre o ombro e fez uma careta de repulsa para Mariko, que havia entendido o recado. Aqueles dois homens, um engomadinho e outro metido príncipe encantando, nunca atrairiam as atenções delas. Yumi e Mariko possuíam um gosto semelhante para homens, as duas apreciavam rapazes intensos e de atitudes, e não aquele aborrecimento.

***

Apesar do clima intenso de inverno, os quatro caminharam até uma quadra de rua que havia nos arredores da Hyotei. A neve que havia caído durante a noite já havia se dissipado, deixando a quadra livre para a prática de esportes. Algumas crianças corriam pela praça, e outras faziam arremessos livres de basquete, dissimulando o frio que se aglomerava em seus corpos suados.

— É aqui que iremos jogar? – Kise ergueu uma das sobrancelhas, descontente com a escolha do local. – Não acha que está muito frio, garotas? ­– o loiro baixou o olhar para as pernas das meninas que vestiam as saias do uniforme, impressionado com a resistência das duas.

— Aqui está ótimo. – Yumi deu de ombros, e olhou para Midorima. – Então, se é 1x1 quem irá jogar? No vestiário decidimos que a Riiko iria jogar, porque ela deu a idéia. E quem irá contra ela?

Kise estalou os dedos e balançou os ombros, pronto para aceitar o desafio. – Eu irei.

Midorima olhou cético para Kise, girou nos calcanhares e se sentou no banco de madeira que havia ali perto, em torno da quadra. – Faça como quiser.

— Midorimacchi quebrando o clima de qualquer pessoa. – o loiro fez um beicinho, colocando a pasta no canto da quadra, e arregaçando as mangas do casaco. Yumi pegou as coisas de Mariko e se sentou ao lado do homem de cabelos verdes e seu panda.

Impacientemente, Mariko foi até o outro lado da quadra e entrou na fila das crianças que arremessavam a bola na direção do aro. A loira pegou no ar a bola que havia batido no ferro, e olhou intensamente para o grupinho de crianças, aparentemente, desconfiadas com a atitude da loira.

— Vocês podem me emprestar essa bola? – Riko sorriu educadamente, girando a bola entre as mãos. – Vocês podem me assistir jogando, se quiserem.

Uma garotinha sorriu animadamente para a loira, ela ergueu as mãos para o alto e sacolejou os cabelos castanhos, pulando como um coelho. – A bola é minha e eu empresto sim, moça bonita.

— Espero que vocês torçam por mim. – Mariko fez uma pequena caricia na cabeça da menina, e correu na direção de Kise, seguida por algumas crianças que se acomodavam em torno da quadra. O loiro sorriu animado para Riiko, os olhos brilhando de ansiedade.

—Você não tem jeito que se da bem com crianças. – ele falou baixinho, posicionando-se no meio da quadra. Mariko sorriu maldosa, puxando o casaco para baixo, salientando os seios.

— É os meus peitos que intimidam elas.

Kise que estava concentrado, quase cuspiu as próprias palavras, pego de surpresa pela resposta de Mariko. Yumi e Midorima que assistiam o jogo de certa distância, estavam impacientes.

— A sua amiga é sempre assim? – Midorima acomodou-se no banco sem desviar os olhos de Riiko, que picava a bola no chão, pronta para iniciar o confronto contra Kise.

Yumi olhou de soslaio para o de cabelos verdes, impressionada com os gestos do rapaz. Ele estava paralisado, assimilando todos os movimentos que aconteciam na quadra. Na verdade, Midorima estava mais engajado na proposta de Mariko do que Kise. Ayuzawa sentiu uma leve pontada de ciúmes, também gostaria de estar jogando.

— Riiko é genuína em quadra. Ela é ótima armando as jogadas e até mesmo marcando pontos. – Shintaro desviou o olhar dos dois jogadores e encarou Yumi, que sorria triunfante, como se a vitória fosse certa. – Mariko dá um show com a bola, quando quer.

— Então, porque ela não é a capitã do time de vocês? – Midorima estreitou os olhos verdes, analisando as reações e os comportamentos da ruiva. Ela permaneceu com as mãos sobre o colo, apreensiva com a pergunta do artilheiro da Shutoku. Através de seus olhos, e a pele que se enrugava levemente entre as sobrancelhas, era possível perceber uma grande onda de desconforto e inquietação florescendo em Ayuzawa.

O estalo rápido surpreendeu Midorima, que baixou rapidamente o rosto, surpreso com a reação da garota. Kise e Mariko não haviam visto o tapa que Yumi havia desferido contra o rosto imponente e questionador de Shintaro.

— Nunca mais fale de mim ou de Mariko, como se nos conhecesse. – a ruiva encolheu a mão que estava gelada sobre o colo novamente, curvando-se para ver o jogo da amiga e o loiro.

***

Mariko corria pelo espaço de meia-quadra com a bola de basquete, picando-a com agilidade. Kise estava logo atrás, analisando a movimentação da loira com a bola, afinal, ele não conhecia o estilo de jogo de Nakayama. Não seria muito difícil de impedi-la de prosseguir até o aro, ele era muito maior e ágil, criaria o bloqueio na próxima movimentação.

Através das lentes, Mariko espiou Kise aproximar-se e cercá-la com os enormes braços flexionados, prontos para a retirada de bola.

— Não irei facilitar o jogo. – ele sorriu confiante, alimentando a persistência de Riiko.

— E você acha que eu só sei correr com a bola, loirinho? – Nakayama girou o corpo, dando as costas para Kise, que saltou do lugar para um novo ataque. Ela continuou protegendo a bola, enquanto fugia das investidas repetitivas de Ryouta. Mariko aproveitou que era menor do que Kise, e esquivou-se pela lateral do corpo do rapaz, pulando em seguida e marcando o primeiro ponto do confronto individual.

— Ah... Não acredito que deixei você fazer o primeiro ponto,... Ah, qual seu nome mesmo? – ele olhou constrangido para Riiko, passando as mãos pelos cabelos.

— Nakayama Mariko, este é o nome da garota que está lhe derrotando, idiota. – ela deu as costas para Kise, indo buscar a bola que havia rolado para fora da quadra. As crianças que estavam em volta, olhavam impressionadas para a dupla. Para eles, era algo irreal.

Ryouta girou nos calcanhares, levemente tenso por causa do primeiro ponto do jogo, e encarou Midorima, que ainda estava cabisbaixo, segurando o panda com força nas mãos. Yumi estava sentada com o corpo virado para o lado oposto do de cabelos verdes, encolhida no canto do banco.

Kise estranhou aquele clima pesado entre os dois. E também, porque Midorima não havia dito nada em relação do ponto que sofrera.

— Ei, loirinho! – Mariko arremessou a bola para Kise, que pegou desnorteado, procurando pela loira no meio da quadra. – Você que começa agora, já que perdeu.

— Sim.

Ryouta caminhou até o meio da quadra, e jogou a gravata do uniforme sobre o ombro, flexionando os joelhos, posicionando a bola na não direita, batendo-a consecutivamente no chão. Ele avançou sobre Mariko, exatamente como ela havia feito anteriormente, afastando-se do ataque da loira. No primeiro ato, Nakayama havia ficado sem reação, recuperando o fôlego e correndo atrás de Kise com toda a velocidade que possuía, grudando no corpo dele, marcando-o pesadamente.

— Não imaginava que fosse tão ofensiva em quadra. – o loiro falou, se protegendo da marcação de Mariko. Ela estava tão próxima que ele escutava ela arfando baixinho, extasiada com a mudança repentina de velocidade.

— Uff... – Riiko intensificou os ataques, mas estava difícil de roubar a bola de Kise. Ele era enorme, as costas dele pareciam uma muralha impenetrável.

Kise olhou sobre o ombro e analisou Mariko rapidamente, buscando alguma forma de neutralizar a marcação da loira, mas sozinho era difícil. Ele olhou para todos os pontos da quadra, buscando algum lugar que pudesse retardar a velocidade Mariko, podendo assim, marcar o seu primeiro ponto. Porém, enquanto se concentrava em montar uma estratégia de jogo, surpreendeu-se ao cruzar os olhares com Yumi, que parecia incrivelmente emburrecida.

Nakayama aproveitou a distração de Kise roubando novamente a bola, e marcando o segundo ponto da partida.

— O que foi desta vez? – Mariko não foi pegar a bola, dando um tapinha no ombro de Kise. Ele girou nos calcanhares e olhou para a loira, incomodando com a própria distração.

— É que me deu câimbra na panturrilha. Vou pedir para o Midorimacchi me substituir. – ele sorriu chateado, fingindo caminhar como se algo repuxasse o músculo. Mariko deu de ombros, mas antes que pudesse dizer algo, uma criança chamava a loira, entregando a bola para a mesma.

Kise parou na frente de Midorima, chamando a atenção do mesmo que ergueu o olhar, surpreso com a vermelhidão do rosto do amigo. – Midorimacchi, você pode me substituir? Estou com câimbra nas panturrilhas.

O de cabelos verdes olhou cético para o loiro, ajeitando os óculos sobre o rosto. Midorima ergueu-se e entregou o urso para Kise, ajeitando as faixas que usava na mão, para proteger as unhas. – Segure o meu amuleto, e não ouse sujá-lo.

— Certo. – Kise segurou o urso e sentou perto de Yumi, analisando o bicho de pelúcia do amigo. – Até que é bonitinho essa pelúcia, não acha, camisa 5? – o loiro sentou o bichinho sobre o colo de da ruiva, movimentando os bracinhos do mesmo. – Qual sua opinião, camisa 5?

— Pare de me chamar assim. – Ayuzawa afastou a pelúcia de Midorima das pernas, e olhou de canto para Kise, sem animo para brincadeiras. – Meu nome é...

— Ayuzawa Yumi, a camisa 5 da Hyotei. – o loiro colocou o ursinho sentado entre ele e Yumi, encarando as pontas dos dedos Ayuzawa que estavam vermelhos. Ele já havia imaginado o que havia acontecido ali, mas mesmo não sabendo da causa, preferiu deixar em pauta o desentendimento de Yumi e Midorima.

— Como você sabe o meu nome? Eu não me lembro de ter me apresentado para um idiota como você. – Yumi desviou o olhar de Kise e acompanhou Mariko e Midorima se ajeitarem no meio da quadra.

— Ah, que cruel, Yumi-chan. É muito fácil conseguir informações nas escolas, quando se é um modelo famoso. – ele deslizou o quadril pelo banco frio e colou o panda em Yumi, aproximando-se dela, empurrando-a gentilmente com o ombro. – Ou vai dizer que não me conhecesse das revistas e outros lugares?

— Não, eu nunca vi! – ela mentiu, girando na direção dele, empurrando o ombro de Kise com as mãos para que ele se afastasse. – E não se aproxime assim de mim, tenho nojo de pessoas como você e aquele seu amigo engomadinho.

— Ei! – Ryouta segurou uma das mãos de Yumi e a puxou para o lado, olhando para a palma e a ponta dos dedos que estavam avermelhados e gelados do frio. – Sua mão está muito vermelha. – ele comprimiu levemente a mão dela contra a dele, o que surpreendeu Yumi. – Um jogador de basquete deve cuidar de suas mãos como se fossem tesouros, ainda mais quando são mulheres. Mulheres bonitas e delicadas como você, Yumi-chan.

— O quê você está dizendo? – Ayuzawa afastou com brutalidade a mão de Kise, irritando-se com o dialogo pomposo do loiro. – Eu não sou delicada, e nem quero ser, seu retardado. Eu jogo é basquete e não ping-pong.

Incomodado, Kise afastou-se de Yumi e pegou o panda de Midorima, antes que a pelúcia caísse no chão. – Pelo visto, esta pelúcia é realmente o objeto de sorte de hoje do Midorimacchi. – Ryouta falou baixinho, enquanto assistia Midorima fazer o primeiro ponto.

Yumi deu de ombros, não desgrudando os olhos de Mariko, que corria frustrada pela quadra, atrás de Shintaro que jogava sem piedade. – As coisas não ficarão assim. Acredite.