As pessoas precisavam parar de acertar coisas em minha cabeça!

Quero dizer, primeiro Draco na Copa Mundial de Quadribol e agora isso?! Merlim, o que eu fiz para merecer tudo o que está acontecendo?

Recuperei a consciência alguns minutos depois. Estava amarrada em uma cadeira com a mesma corda em que meu perseguidor havia tropeçado, com um lenço preso na minha boca e uma enorme dor na cabeça. Parecia estar meio dormente e eu não conseguia mexe-la. Tudo estava meio embaçado e sentia o mundo rodando ao meu redor, sentia que podia desmaiar novamente a qualquer momento.

Podia ouvi-lo mexendo nas prateleiras de Snape atrás de mim, mas não conseguia virar-me para ver. De repente não podia ouvir mais nada.

Após alguns minutos a dor melhorou e minha visão começou a voltar ao normal. Consegui focalizar meu perseguidor parado em minha frente, sem o capuz que cobria seu rosto. Porem não consegui descobrir quem era, a sala inteira estava na penumbra e minha visão ainda não havia voltado completamente ao normal.

Ele se aproximou mais de mim e, lentamente, retirou o lenço da minha boca com uma mão, na outra continuava segurando o caldeirão pelo qual me acertara, e enquanto fazia isso disse:

 – Se você gritar garota te acerto de novo – disse meu perseguidor com uma voz engraçada e untuosa.

Assim que disse isso uma pontada de dor invadiu minha cabeça novamente e senti vontade de gritar, mas de dor.  Era como se algo dentro de mim me mandava um recado: Cala a boca Hermione, ou essa dor vai ficar mil vezes pior!

Obedecendo as duas vozes, me concentrei apenas da no perseguidor. Era familiar, já havia ouvido em algum lugar, porém não conseguia me lembrar da onde.

Olhei bem para a figura na minha frente, tentando reconhecê-la... Bom, era um homem (isso estava obvio), alto, usava roupas grandes e grossas, então não dava para perceber se era magro.

O que me fez descobrir quem era não fora a altura, nem o tipo de roupa que vestia, e sim os sapatos: eram botas comuns, exceto que havia uma pequena tira de pelos brancos na ‘boca’ da bota, como se fosse necessário esquentar o corpo inteiro daquela pessoa, inclusive o tornozelo.

Assim que vi essas botas algo acendeu em minha mente e as coisas foram se ligando: as roupas grossas, as botas, a voz engraçada e untuosa... A única coisa que não fazia sentido era o motivo pelo qual ele estava fazendo tudo isso.

– Pra que tudo isso Karkaroff? – perguntei após alguns minutos de silêncio.

– Não achei que conseguiria me reconhecer, Senhorita Granger – acho que havia um tom de malicia em sua voz – Mas acho que o motivo disso está muito claro – definitivamente havia malicia em seu tom de voz.

– Sinto muito, mas para mim não tem nada claro aqui...

Karkaroff se movimentou para um dos poucos lugares da sala em que havia luz e me encarou, com um misto de raiva e duvida em seu olhar, ele começou a falar enquanto dava voltas em mim.

– Faltam apenas duas semanas para a Terceira tarefa e meu campeão, Victor Krum, que por sinal você deve conhecer bem demais – pude perceber que havia um fraco sorriso em seu rosto – está em terceiro lugar, perdendo para seu namoradinho, Diggory, e seu outro namoradinho, o Potter – abri minha boca para protestar, mas ele levantou a mão para mim, claramente falando para não me dar ao trabalho de responder – eu sei garota, eu leio o Profeta como qualquer bruxo... mas então, voltando para a explicação, Krum está em terceiro lugar e precisávamos de um jeito para ele ganhar. – Igor fez uma pausa e ficou na minha frente, olhando diretamente meus olhos – Foi então que tive essa esplêndida e maravilhosa ideia: Krum não conseguiria ganhar de seus namorados, pois eles terão uma pequena vantagem, então precisávamos de um jeito de fazê-los desistir, deixando o caminho livre para ele... e que jeito melhor de fazer isso do que sequestrando a namorada e fazendo ameaças? Acho que nesse momento Victor já deve estar falando com eles... – Ele riu. Então tudo isso era por causa desse estúpido Torneio? Ganhar ele era mesmo tão importante assim? – Você deve estar se perguntando: mas e a campeã de Beauxbatons?  Ela não será um problema, nada que a Maldição Imperius não faça, afinal, ninguém notará a diferença mesmo...

Isso estava mesmo acontecendo? Um antigo bruxo das trevas anunciando em alto e bom tom que usaria uma das Maldições Imperdoáveis para ganhar UM MALDITO TORNEIO ESCOLAR?

Eu estava formulando uma resposta quando a porta escancarou-se e um Moody, com varinha em mãos, mirada exatamente para o coração de Karkaroff entrou na sala praticamente gritando.

– Você não pode, e não irá, fazer isso Igor! Já está tudo planejado e não deixaremos você, nem ninguém, atrapalhar tudo – Moody rosnou e antes que Karkaroff pudesse responder, o professor de Defesa contra as Artes das Trevas já havia o estuporado.

Assim que Igor caiu no chão, inconsciente, Moody correu até mim e me soltou, enquanto me contava como descobriu que eu precisava de ajuda.

– Igor estava discutindo com Snape no corredor do sétimo andar, mas assim que me aproximei eles pararam automaticamente de falar e o Professor Sanpe virou e saiu batendo os pés fortemente no chão... Karkaroff disse que ele queria ver a Senhorita, ai depois que te avisei fui para o Salão Principal e lá encontrei Snape, conversando com Dumbledore... Vi Cedrico, Draco, Harry e Ron no Salão e então percebi que você corria perigo. – Ele fez uma pausa enquanto agachava-se em um canto e recolhia minha varinha, enquanto me devolvia voltou a falar – Conhecendo Igor como eu conheço, logo adivinhei que o motivo para isso seria, é claro, o Torneio Tribruxo e o medo por seu campeão perder.

Moody caminhava distraidamente pela sala enquanto eu pensava em tudo que havia acontecido.

Quando o novo professor entrou na sala para me salvar, ele mencionou algo como “tudo já está planejado”, o que diabos aquilo significava?

Virei-me para perguntar, mas o que vi me chocou de certa forma. Instantes antes de começar a ter outro de seus ataques, Moody estava colocando um potinho de vidro, algum tipo de ingrediente de Snape, no bolso.

Ele estava roubando!

Não precisei ajuda-lo dessa vez, ele conseguiu retirar o pequeno frasco com cheiro de podridão e tomar uns goles.

O olho de vidro de Moody estava fixamente em mim. Será que havia me visto olhando-o enquanto colocava o pote no bolso?

– Acho melhor a Senhorita se retirar, seu namorado já deve estar preocupado com você... E fique tranquila, ahn.. eu mesmo irei falar com Dumbledore sobre o ocorrido – disse ele friamente, enquanto seu olho falso continuava fixo em mim.

– É.. ahn.. obrigada, professor – resmunguei sem jeito enquanto corria para fora das masmorras, desesperada para sair de perto dele.

Antes da porta se fechar atrás de mim, o ouvi sussurrando algo como “Maldita Sangue-Ruim!”.

Mas acho que fora apenas minha imaginação.