Going Back In Time Party escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 20
De Volta ao Tempo - Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/240546/chapter/20

Antes de qualquer coisa, estavam todos bêbados. Muito bêbados. Não é que estivessem querendo se desvencilhar da realidade ou se sentir mais alegres em meio aos outros. Na verdade, se beberam tanto, era justamente porque estavam alegres demais, então não viram problema em deixar a quantidade de álcool no sangue passar um pouco mais do que devia. De qualquer forma, como muitos deles já tinham frisado mais de uma vez em pensamento, aquele era um momento de comemoração, portanto, limites deveriam ser impostos apenas no dia seguinte, e não enquanto a Going Back In Time Party estivesse acontecendo.

Então, quando se sentaram para o Jogo da Garrafa, sabiam que muita coisa poderia surgir dali, desde os segredos mais sujos até aqueles que todos já sabiam, mesmo que agissem como se não soubessem. Por exemplo, Rachel começou dizendo que, uma vez, comeu um salgado estrangeiro – quibe, se não me engano –, e que tinham dito para ela que não tinha carne nele, que era feito apenas à base de trigo. Estavam enganados. Rachel, que era vegetariana, comeu carne naquele dia e se sentiu muito arrependida, mas, naquele momento, afirmou que o salgado estava bom, mesmo que ele tivesse sido feito de um “bicho morto”. Segundo ela, esse era o seu maior segredo, aquele que a atormentava todos os dias antes de ir dormir. Para os outros, aquilo não significou absolutamente nada.

Em seguida, Sam teve que falar. Disse que perdeu o “Big V” muito tarde, porque era um garoto muito tímido em tempos escolares, e que se envergonhava disso. Puck ensaiou uma gargalhada, mas ninguém ali achou que seria uma boa ideia rir. Sam tinha sido mais profundo do que Rachel ao dizer sua verdade, e ali havia algo que devia ser respeitado, não julgado. Depois disso, o homem girou a garrafa e ela parou justamente virada para Puck.

Sam perguntou se ele queria verdade ou desafio, e Puck, que não tinha vergonha de se gabar de seus feitos, aceitou contar uma verdade, mesmo que todos já a conhecesse. Quer dizer, Puck estava tão alto que já tinha perdido sua noção temporal, então quando abriu a boca para dizer que o filho de Quinn era dele e não de Finn, contrariando o que todos pensavam, não houve uma pessoa sequer que não tivesse rido naquela roda. Puck pensou que eles riam porque a revelação que fizera era ridícula e vergonhosa. Somente mais tarde perceberia que não era bem esse o caso.

Enquanto todos riam, Lisa partiu de fininho. Não tinha assuntos para tratar com aquela gente desconhecida. De qualquer forma, ninguém sentiu sua falta quando ela se foi, e ela já suspeitava que isso fosse acontecer mesmo. Aquela não era uma festa da qual pertencia.

Quando a garrafa parou em Santana, todos arregalaram os olhos cansados na direção da mulher, que se ergueu num pulo diante de todos. Santana gostava de chamar a atenção, ainda mais quando não estava com o controle de suas ações. Quando Puck perguntou se ela queria verdade ou desafio, todos torceram para que ela dissesse verdade, porque não havia uma pessoa dentro do Glee que discordasse que as histórias da mulher eram as melhores. Até Rachel queria ouvi-las, embora afirmasse com veemência que seus ouvidos eram puros demais para esse tipo de conversa. De qualquer forma, Santana, para a surpresa geral, pediu desafio, imaginando que isso fosse torná-la a mais forte do grupo. Pelo menos dez suspiros se fizeram ouvir ali.

Puck a desafiou a beijar Rory, que, até então, não tinha chamado muita atenção. O homem se espantou e arregalou os olhos azuis, que já não eram pequenos, de uma maneira bem cômica.

Santana se dirigiu até ele sacudindo os braços no ar, se gabando de como, apesar de ser lésbica, não sentia repulsa em beijar ou sequer tocar homens. Quase tropeçou no próprio salto alto antes de chegar a Rory. O homem, apesar de assustado, não via a hora de receber o beijo. Quando Santana se ajoelhou para beijá-lo – não sem antes quase rolar pelo chão –, seus lábios já estavam prontos. O beijo aconteceu, um selinho. Artie, por pura curiosidade, olhou para Brittany, querendo saber o que ela achava daquilo. Brittany batia palmas e sorria como se fosse a pessoa que mais se divertia com aquilo tudo.

Mercedes via as cenas acontecerem diante de seus olhos como se assistisse tudo através de um caleidoscópio, com luzes e pessoas circulando ao redor como num show de efeitos visuais. Estava totalmente fora de si, tanto que, quando viu Santana girar a garrafa e abrir a boca para gritar o seu “Verdade ou Desafio?”, seguido de algum insulto dirigido a Finn, ela não viu problema em interromper aquilo.

- Eu queria poder guardar esse momento pra vida! – entoou como se já começasse a cantar.

Se jogou no chão e se deitou diante de vários pares de olhos que aguardavam com expectativa o desfecho daquele discurso. Como ele não veio, foi Santana quem prosseguiu.

- ‘Cuz in this moment I just feel so alive... Alive...♪

- Alive... ♪ – Quinn finalizou, harmonizando sua voz com a da latina.

É claro que todos conheciam aquela música. Nicki Minaj,Moment 4 Life”, sucesso de alguns anos atrás. Aliás, muitos anos atrás. Como é que Mercedes podia ainda se lembrar dela?

Mercedes chorava deitada, fitando o teto com aquelas luzes dançantes. No momento, pensava em jamais querer deixar aquela quadra ou aquela festa, porque era ali que ela se sentia completa. Estava com seus amigos, aqueles que a ajudaram a se tornar o que era hoje. A ideia de ter que deixá-los mais uma vez para voltar a Los Angeles era inconcebível e inaceitável. Ela precisava tê-los pra sempre, pra que aquele momento durasse pra sempre.

Mas não foi ela quem expressou esse pensamento.

- Eu não quero ir embora hoje – disse Tina a um canto. Fitava o chão como se tivesse vergonha de encarar os outros. Todos a observaram no instante em que ela levou uma mão aos olhos para limpar as lágrimas. – Droga, vocês são importantes pra mim! Como podem pensar em abandonar isso mais uma vez?

Kurt, então, deitou-se no ombro de Blaine. Não conseguiu conter as próprias lágrimas.

Quinn abaixou a cabeça a fim de evitar que todos vissem como ela se sentia. Sam a abraçou.

Rachel gostava de um drama, mas aquele era mais real do que ela podia aguentar. Afagou-se em Finn, que a embalou, e percebeu-se chorando mais do que devia.

O álcool havia ajudado com aquelas emoções à flor da pele, disso não se tinha dúvida. O problema era que, na verdade, a situação estava mesmo sendo tão emocionante quanto parecia ser. Deixar os amigos para trás tinha sido bem difícil da primeira vez, mas agora que estavam adultos percebiam que essas amizades tinham ainda mais importância do que eles jamais imaginaram. Partir novamente, então, significava uma despedida ainda mais dolorosa do que a primeira.

- E pensar que muitos de nós nunca consideramos a ideia de entrar para o Glee Club – disse Finn,quebrando o silêncio.

- Está falando de mim? – Puck perguntou, armando um punho no ar.

- Não só de você. Estou falando de mim e de todos os outros que um dia acharam que esse clube de perdedores era ruim, e que uma reputação de ator e cantor dentro da escola era pior do que a pior das coisas.

- Isso só comprova que, muitas vezes, a gente deixa que preconceitos nos privem de fazer parte de coisas que podem ser mágicas – disse Quinn, ainda sem levantar o rosto. – E eu teria cometido o maior erro da minha vida se tivesse dito não a essa oportunidade.

- Tudo bem que você só entrou para o Glee porque a Sue pediu que você acabasse com a gente por dentro, não é? – Rachel lembrou e todos riram.

- Ainda assim...

- A Sue pode ser uma tremenda filha da p... filha da mãe... mas tem um coração bom. Só não gosta de mostrá-lo por aí – disse Santana.

- Eu nunca soube o que era esse tipo de sentimento – disse Blaine, de repente. – Nem na outra escola. O que temos aqui é único. É algo do qual os Warblers se invejam todo dia, tenho certeza.

- A gente devia inspirar pessoas com que o fazemos – disse Mercedes. – Com o que fizemos, na verdade.

- A gente inspira – Kurt afirmou, certo de si. – Pode não ser a maioria, mas tenho certeza de que muita gente se inspira no que a gente fez, e essas pessoas, eu tenho certeza, sempre se tornam grandes pessoas.

- Tão grandes quanto a gente? – Brittany perguntou, rindo.

- Até maiores – Kurt respondeu, dirigindo uma expressão divertida em direção a mulher.

- Por que é que a gente não trabalha para que mais Glee Clubs como o nosso existam por aí? – Tina sugeriu. – Quero dizer, por mais que não seja algo muito valorizado, a gente sabe que esse tipo de arte, esse tipo de grupo, é importante pra muita gente. Há pessoas lá fora esperando esse tipo de iniciativa só para poder se unir com os seus iguais, com gente que acha que música a teatro é a melhor maneira de se expressar.

- Eu sei como é isso...

- E passam-se os anos e isso nunca muda... – Finn observou.

- Essas pessoas precisam de alguém que lhes dê um empurrão – disse Artie. – Precisam de alguém que saiba como isso funciona e que passe segurança, para que inclusive elas próprias possam ter suas iniciativas sobre o assunto.

Houve um instante de silêncio.

- Elas precisam de um Will Schuester – disse Brittany.

Todos assentiram. Rachel chorou copiosamente.

- Ou de uma Mercedes Jones – disse Mercedes.

- Ou de uma Rachel Berry – disse Rachel.

- De um Mike Chang – disse Mike.

- O que vocês querem dizer com isso? – Santana quis saber.

- Will Schuester nos ensinou muitas coisas – disse Finn. – Ele pode não ser um exemplo ideal de decisões certas a serem tomadas, mas o conhecimento que tem das coisas é maior do que o de qualquer professor no McKinley. Observem quantas vezes ele já nos ajudou.

- E não só aqui na escola – disse Sam. – Lembro de ter sido ajudado por ele, mesmo longe daqui.

- E há pessoas lá fora que precisam desse tipo de ajuda – disse Tina. – E durante todo esse tempo elas têm sido ignoradas.

- Eu estudo – disse Quinn de repente. – Estou me formando em Yale, não acho que seria viável para mim largar tudo agora e criar um Glee Club.

A maioria concordou com a cabeça.

- Mas a gente não precisa criar um Glee Club – disse Rachel, agora sorridente. – Só precisamos aplicar tudo o que aprendemos no Glee em nossas atitudes cotidianas. Preconceitos com cor, religião, sexualidade, limitações, entre outros, foi algo que aprendemos a não ter durante o nosso tempo de Glee Club, ainda mais do que aprendemos a cantar.

- Aprendemos a ser tolerantes e justos – lembrou Mercedes.

- Aprendemos que sacrifícios precisam ser feitos quando um amigo precisa de ajuda – disse Artie.

- Mais do que isso, aprendemos a importância que tem uma amizade – disse Joe.

- E como é bom estar rodeado pelas pessoas das quais você gosta – disse Quinn, a visão desfocada, como se a frase tivesse surgido depois de um longo tempo de reflexão.

Ao ouvirem aquilo, todos se entreolharam sorridentes. Podia parecer que estavam simplesmente alegres, mas, na verdade, estavam felizes. Muito mais que felizes.

- Por que é que tem gente chorando aqui? – Puck perguntou em tom de repreensão, embora todos soubessem que ele estava apenas brincando. – Isso aqui devia ser uma festa alegre, e não esse momento de depressão em que se transformou a Going Back In Time Party.

- A gente devia cantar! – sugeriu Rachel e, num segundo, já estava de pé.

- Digam que música que eu puxo aqui no meu violão.

- Você trouxe um violão? – Mercedes perguntou, confusa.

- Ele é a continuação do meu corpo, Mercedes – Puck respondeu, fazendo com que todos rissem. – Digam aí!

- Cheers to the freakin’ weekend, I drink to that, yeah, yeah ♪ – começou Rachel.

Todos a encararam com expressões confusas. Ninguém esperava que ela fosse escolher uma música tão popular quanto “Cheers [Drink To That]”, da Rihanna, para a ocasião. No mínimo, esperavam algum clássico da Broadway.

- Oh, let the Jamerson sink in, I drink to that, yeah, yeah ♪

- Don’t let the bastards get ya down, turn it around with another round ♪ - continuou Quinn.

- There’s a party at the bar, everybody put ya glasses up, and I drink to that! ♪ - cantaram Santana e Mercedes juntas.

Quem ficou responsável pelo “Yeah, yeah!” ao fundo foi Finn.

Como todos conheciam a canção, já que aquele não era um clássico da Broadway que só Rachel conhecia, todos cantaram. Não demorou muito e havia vários jovens no palco cantando e dançando com alegria enquanto copos voavam no ar. Bêbados, mas com sentimentos verdadeiros.

Ali estava o Glee original unido mais uma vez.

E era assim que eles ficariam pra sempre.

~

Life’s too short to be sitting around miserable

People gon’ talk wheter you doing bad or good, yeah

Got a drink on my mind, and my mind on my money, yeah

I’m looking so fine, gonna find me a honey

Got my Ray Bans on and I’m feeling hella cool tonight, yeah

Everybody’s vibin’, so don’t nobody start a fight, yeah...

~

Cheers for the freakin’ weekend, I drink to that, yeah, yeah

Oh, let the Jamerson sink in, I drink to that, yeah, yeah

Don’t let the bastards get ya down, turn it around with another round

There’s a party at the bar, everybody put ya glasses up

And I drink to that

Yeah, Yeah... ♫

~//~

Partiram no dia seguinte, cada um seguindo seu rumo. Prometeram que resolveriam suas vidas para depois voltarem a se encontrar, principalmente aqueles que haviam formado algum casal. A Going Back In Time Party tinha sido melhor do que eles imaginaram que seria e as sensações e emoções tidas durante aquelas horas foram boas demais. Excelentes, alguns diriam. Foram coisas que, na sua falta, tornariam qualquer vida algo medíocre, sem importância. Afinal, de que vale alguma coisa ou conquista se as pessoas que você ama não estão por perto?

É como disse Zora Neale Hurston uma vez: “Viver sem amigos é como tentar tirar leite de ursa para o café da manhã. Dá muito trabalho e não vale a pena”.

E foi pensando nisso que, alguns meses depois, os ex-membros de Glee Club voltaram a se encontrar.

Era inevitável. Aquele pessoal se amava demais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é basicamente isso o que Glee significa pra mim. Essa história e as situações que foram encenadas me ensinaram tanto que eu posso dizer com certeza que, desde quando comecei a assistir a essa série, eu mudei muito. Quando eu escrevi que eles inspiram muita gente, eu não estava mentindo. Eles me inspiraram e inspiram, por mais que muitas vezes eu não goste de algumas coisas... Pode soar estranho para algumas pessoas, mas Glee é como a minha "religião", aquela série que passa a realidade como ela é [devia ser?] e que nos ensina melhor do que qualquer outra coisa a ser justos.
Parece babação de ovo? Talvez seja rs Mas é o que eu penso.
Agora vamos aos...
~AGRADECIMENTOS~
Tenho uma pancaaaaada de gente pra agradecer nessa fic [ainda bem!], mas vou agradecê-las mesmo assim! Espero que não esqueça de ninguém!
Um obrigadaço a cada um de vocês: Hey Monks, Gislayne Gomes, Duda Overstreet Monteith, fernanda, Sareena, Leona Rocks, k2Phonenix [♥], thaijudd, Noom, Charlie Sarfati Monteith, SGleekandDirectioner, AlexandraPierceLopez, Alfonso Erich, Carolina-Herdy [principalmente a você, mocinha!], ViniSantilou, Judy903, OverGron4ever [obrigado inclusive pela recomendação, fiquei bem feliz :D], ThaysCRVLH e Stephanie. Por que agradecer vocês? Simplesmente porque vocês comentaram a história. Não sei se vocês sabem, mas isso foi bem importante pra mim, já que me motivou a ir em busca de capítulos melhores e de surpreendê-los cada vez mais!
Obrigado também ao pessoal que favoritou essa história, que eu não tenho como saber direito quem é rs Mas muito obrigado.
Obrigado também a quem leu e que não se manifestou em nenhum momento. Vocês também são importantes o/
E é isso aí. E não se esqueçam do maior ensinamento que essa série tem a nos passar:
Don't Stop Believing!
Bjão e até mais o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Going Back In Time Party" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.