Naquele instante, Quinn foi a primeira a entrar no banheiro. Teve que se dirigir até um que ficava no corredor, longe da quadra, onde a música tocava tão distante que parecia pertencer a outro lugar, pois a entrada do que havia lá estava coberta pela decoração que Artie providenciara. Estava a ponto de não aguentar mais de vontade de usar o banheiro quando finalmente abriu a porta com um empurrão e entrou.

Estava vazio, isso era uma certeza. Não havia luz nenhuma acesa ali dentro, mas havia claridade, uma que vinha das janelas minúsculas no alto das paredes do banheiro. Do lado de fora, ficava o estacionamento, permeado por postes de luz, por isso a claridade. Então Quinn não teve problema em identificar onde cada objeto – obstáculo – ficava em seu caminho, por mais bêbada que estivesse. Empurrou a porta de um box qualquer e se fechou nele até terminar o que tinha para fazer.

Foi nesse segundo que Rachel entrou. Ouviu uma porta bater lá dentro, mas, de tão alta que estava, não associou isso ao fato de que Quinn estava ali em algum lugar. Cambaleou até a pia e fitou seu reflexo no espelho. Achou que estava bonita, mesmo com o cabelo bagunçado e um pedaço de morango preso ao vestido. Sorriu como imaginava que sorriria no cartaz da primeira peça de sucesso da Broadway da qual faria parte um dia. Sentiu a bexiga apertar, e o sorriso desmoronou. Correu em direção a um box e nele entrou. Foi quando Quinn saiu.

- I feel pretty... - ela cantava enquanto se dirigia a pia. Girou o registro e deixou a água cair nas mãos, esfregando-as. Em nenhum momento desviou seu olhar da imagem no espelho, tão fascinada que era com sua aparência atual. Experimentou um sorriso. Sentiu-se deslumbrante. Fechou o registro na pia, sacudiu as mãos, respingando água no chão, e pegou um pouco de papel toalha para secá-las.

Rachel deixou o box e, ainda cambaleando, tomou a pia ao lado de Quinn.

- But unpretty... – emendou, afinada. Lavou as mãos e, assim que as secou, começou a arrumar os cabelos com elas. Quinn fazia o mesmo ao seu lado.

Não havia o que ser arrumado ali, mas esse era um costume que as duas tinham. Não tinham como fugir dele.

Rachel movimentou a franja para o lado e experimentou deixar aquela mexa de cabelo presa atrás da orelha. Quando se olhou no espelho, desviou, por uma fração de segundo, o olhar na direção de Quinn. Quinn percebeu o olhar e desviou sua atenção do próprio reflexo imediatamente, encontrando o olhar de Rachel quase que no mesmo segundo. Rachel o desviou, então. Quinn fez o mesmo.

Continuaram a arrumar os cabelos. Rachel percebeu o morango no vestido e, com um peteleco, jogou-o para longe. Como o ambiente estava quase silencioso, o som da fruta caindo na pia ao lado pôde ser escutado pelos ouvidos de todos os presentes naquele banheiro – no caso, Quinn e Rachel. Quinn, curiosa, voltou sua atenção para o morango, mas, como estava bêbada, àquela distância, não conseguiu enxergar tão bem quanto Rachel o que se tratava aquela mancha vermelha. Desistiu de tentar entender e voltou-se para o espelho.

Rachel a observava pelo reflexo novamente e dessa vez não desviou o olhar quando Quinn a encontrou. Ficaram se observando, como se conversassem sem falar. Depois de um tempo, em consenso, voltaram a prestar atenção na própria imagem. Os cabelos continuavam não precisando de arrumação alguma, mas ainda assim elas continuaram a ajeitá-los.

Quinn e Rachel estavam constrangidas. Foi Quinn quem tentou amenizar esse sentimento.

- O Finn...?

- Ele está bem – Rachel respondeu num súbito, como se já esperasse a pergunta. Estava bêbada e por isso mais eufórica.

- Legal...

- O Sam?

- Também.

- Ótimo.

Tornaram a encontrar olhares, mas durante uma fração mínima de segundo.

- Você não acha que...? – Rachel começou a perguntar.

- Não, definitivamente – Quinn interrompeu, mesmo sem saber qual era a pergunta. Havia sido impulsiva.

- É, eu também não.

Continuaram a arrumar os cabelos.

Quinn engoliu em seco.

Rachel também.

Mas Quinn tinha mais iniciativa do que Rachel, e foi por isso que foi ela a primeira a perguntar:

- Você já beijou alguma mulher antes, Rachel?

Rachel arregalou os olhos e a boca numa expressão profundamente dramática. Contemplou o reflexo de Quinn no espelho, mas a mulher não olhava para ela. Estava focada em sua arrumação.

- Nunca! – respondeu e suspirou.

Quinn assustou-se com a resposta. De alguma forma, já esperava uma negação, mas não uma tão enfática.

- Você...? – Rachel começou a perguntar.

- Não! – Quinn respondeu prontamente. – Nunca.

Rachel assentiu. O mundo girava com um leve movimentar de cabeça.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Pensaram que esse silêncio durou horas, mas, na verdade, não ficaram quietas por mais do que meio minuto.

- Mas você beijaria? – Rachel e Quinn disseram em uníssono.

Rachel tornou a fazer aquela expressão assustada.

Quinn, descrente, parou as duas mãos no ar.

Fitaram-se através do espelho com suas faces chocadas. Teriam achado engraçadas aquelas expressões se estivessem sóbrias. Cansadas de continuar a conversa daquele jeito, olharam-se lado a lado e ficaram sérias. Quinn continuava com as mãos no ar. Rachel segurava a pia como se sua sobrevivência dependesse daquilo.

- Um beijo de um segundo – disse Rachel.

- Tudo bem, não mais do que isso – Quinn concordou.

Ficaram frente a frente, tão próximas quanto podiam. Mentalmente, contaram até três, o coração saltando tão alto que passava pela garganta e quase podia tocar a língua. Quando terminaram a contagem, curvaram-se para frente.

Os lábios se tocaram por um segundo. Depois por dois. Por três. Por quatro.

Cinco segundos depois, Rachel levou uma mão ao queixo de Quinn e segurou-o. Quinn fez o mesmo com Rachel, mas com as duas mãos. Houve pouca língua, porque o beijo não durou tanto. Quando perceberam que estavam gostando daquilo mais do que deviam, se afastaram. Fitaram o rosto uma da outra com olhares divertidos. Se alguém decidisse entrar no banheiro naquele momento, certamente perceberia que as duas haviam aprontado algo.

- É bom – Rachel comentou, levantando um pouco o ombro ao dizer isso.

- É mesmo.

- Melhor do que eu achei que seria.

- É mais macio do que beijar um homem.

- E parece que é mais quente também.

Ficaram em silêncio enquanto suas bochechas coravam. Estavam mais engraçadas do que podiam imaginar enquanto aquele momento acontecia.

- Mas eu amo o Finn – disse Rachel.

- Eu também... – disse Quinn.

- O quê?!

- Digo, eu amo o Sam, não o Finn.

- Ah...

Mais uma longa pausa.

- Acho melhor a gente voltar – Quinn sugeriu.

- É, eu também. Eles devem estar nos esperando.

Passaram pela porta juntas, o que significa que não conseguiram sair. Rachel deu um passo atrás e ofereceu a saída para Quinn, que a aceitou sem hesitar. Logo em seguida, ela própria saiu.

Chegaram à quadra no exato instante em que Puck tomava o palco para fazer um anúncio:

– Venham todos, pessoal! Agora é a hora do Jogo da Garrafa! Tenho certeza de que muitos de vocês têm coisas bem interessantes para contar hoje, não?! – Ele falava alto, tanto que Rachel sentiu os ouvidos incomodados.

Rachel e Quinn tomaram cada uma o seu homem e o abraçaram. Dirigiram-se todos os quatro juntos ao palco onde o jogo aconteceria e se sentaram, as duas bem animadas.

Estavam tão bêbadas que, de um segundo para o outro, se esqueceram completamente do beijo no banheiro feminino. Se alguém perguntasse a elas o que elas tinham feito durante o tempo em que estiveram fora, Rachel e Quinn responderiam que tinham apenas usado o banheiro e saído de lá, como qualquer pessoa comum. E realmente acreditariam que essa era a verdade.

Foi por isso que nunca ninguém soube que Rachel e Quinn haviam feito aquilo. O que todos costumavam chamar de Faberry, afinal, continuou apenas sendo um boato.

Como sempre foi.