Going Back In Time Party escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 16
Sobre Partir




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Quinn jogou uma última peça de roupa na mesma mala que trouxera até Lima e teve de pedir ajuda a Sam para poder fechá-la. Não era que as coisas estivessem bagunçadas, até porque a mulher tivera tempo suficiente – e ainda teria – para arrumar tudo o que tinha trazido. Quinn agora levava coisas que antes não a pertenciam, como roupas e enfeites antigos. Queria aquelas coisas para poder recordar do passado e relembrar inclusive aqueles momentos que a levaram até Lima novamente. Não conseguiria partir se não estivesse com aqueles objetos.

Apertou a mala uma última vez sobre a cama e fitou Sam com expectativa. Havia um brilho qualquer nos olhos do rapaz, mas era o mesmo tipo de brilho que havia nos dela. Ela queria chorar, já com saudade de tudo e de todos, mas achou que não devia. Se Sam sentia vontade de chorar também, estava sabendo disfarçar muito bem, pois nunca pareceu tão seguro. Dando um passo à frente, ele puxou-a junto ao peito e a abraçou com carinho. Só então Quinn não conseguiu mais manter a compostura e deixou que uma primeira lágrima fosse escorrida.

– O que está acontecendo aqui?! – disse uma voz à porta.

Imediatamente, Sam e Quinn se afastaram.

– Puck? – ela disse, surpresa, assim que percebeu o homem. – O que você está fazendo aqui?

– Eu limpo a piscina da sua casa, Quinn, achei que fosse se lembrar. – Ele desviou o olhar e pousou-o sobre Sam, que revirou os olhos, sem saber o que fazer. – Agora eu entendo o que está acontecendo aqui, mas... – E então Puck percebeu as malas feitas na beira da cama. – O que você tem em mente, Q?!

– E-Eu...

Puck não esperou que ela terminasse de falar e se dirigiu à primeira mala que ela havia fechado. Com um puxão, conseguiu abrir o zíper. No segundo seguinte, roupas e peças íntimas de Quinn, mais um apanhado de objetos aleatórios, estavam espalhados sobre a cama. Quinn o esmurrou por um tempo, tentando impedi-lo de continuar com aquilo, mas, para um homem do porte de Puck, suas investidas causavam tanta dor quando uma pena causaria. Sam, por sua vez, não parecia interessado em fazer alguma coisa a respeito.

– Eu preciso partir! – Quinn gritava enquanto seus punhos acertavam as costas de Puck, que continuava a desfazer todas as malas. – Nosso voo está marcado para daqui à uma hora!

E então Puck parou.

Nosso voo? – ele repetiu. – O que quer dizer com...?

Sam fitou-o com um olhar confuso, que tentava ser imparcial, mas que na verdade mostrava mais do que se ele tivesse dito as palavras que escondia. Puck ficou entre os dois quando começou a dizer:

– Vocês estão pensando em partir? Os dois?

– Não é assunto pra você! – Quinn insistiu em dizer.

– Então vocês estão mesmo pensando em ir embora e ignorar que a Going Back In Time Party vai acontecer daqui a alguns dias...?

– Isso não é importante, Puckerman...

É claro que é importante! Minha nossa, e olha que isso que está vindo de mim! Como é que vocês podem sequer pensar na possibilidade de ir embora agora? – Sam e Quinn o fitaram sem dizer nada. – Céus! Vocês têm noção do quanto são importantes para todas as pessoas que vão estar lá? Há pessoas que querem vê-los mais uma vez e relembrar os tempos de Glee Club! Não é por isso que viemos aqui?

– Viemos para consertar as nossas vidas... – Quinn disse.

– E então quer dizer que, uma vez consertada, você já vai partir sem comemorar isso?

Sam permaneceu em silêncio. Quinn voltou a se pronunciar:

– Eu e Sam nos acertamos e pensamos em começar uma nova vida, Puck, mas longe daqui. Quanto mais cedo, melhor, porque já não somos mais tão jovens quanto antes...

– Vocês estariam cometendo o maior erro de suas vidas se fossem embora sem olhar por todos aqueles que estarão os aguardando na festa – Puck respondeu de prontidão e a seriedade com que dissera as palavras assustou inclusive ao Sam. – Parem pra pensar!

Puck se dirigiu até a porta e todos pensaram que ele partiria sem dizer nada, mas, antes de sumir, ele virou-se para trás.

– Espero que desconsiderem essa ideia ridícula de partir sem curtir a Going Back In Time Party. Se partirem, terão a felicidade que querem, mas farão com que outra dúzia de pessoas fique bem magoada. Apenas que pensem a respeito – e só então se foi.

Quinn e Sam se fitaram em silêncio, como se as palavras de Puck tivessem sido como pancadas dolorosas no estômago. Quinn fitava o amante porque imaginava que ele, a qualquer instante, fosse dar a solução para o dilema no qual se encontravam. A ideia de partir fora dele, portanto, ele que tinha que saber qual o próximo passo a ser dado. E Sam saberia, mas apenas em alguns instantes.

Pois, enquanto se mantinha em silêncio naquele quarto, ele era o único que realmente pensava sobre o que Puck acabara de falar.

~//~

Rachel e Finn se observavam em silêncio, maravilhados com a beleza um do outro. Não que fossem tão belos assim ou sequer porque a idade os havia embelezado ainda mais, mas porque se amavam tanto que qualquer defeito naquele rosto que o observava era encarado como algo importante e belo. Finn sentia que poderia observar aqueles olhos grandes e negros de Rachel pela noite inteira que jamais se enjoaria de estar mergulhados neles. Rachel, por sua vez, quase que não se aguentava de vontade de se encurvar sobre a enorme mesa do Breadstix e beijar aqueles lábios finos que, até então, não haviam se movido tanto, tamanho o silêncio que havia entre os dois.

Quer dizer, havia silêncio, mas nada que bons olhares, que falavam mais do que palavras, não pudessem resolver.

Tão mergulhados que estavam em seus próprios universos que não perceberam que Puck e Santana, que um dia haviam sido um casal, estavam numa outra mesa naquele mesmo restaurante.

– Rachel, por que a gente pensou em se separar um dia? – Finn finalmente disse. – Quer dizer, agora, de frente pra você e revivendo esses sentimentos antigos, eu sinto que o maior erro que pudemos ter cometido em nossas vidas foi nos separar e imaginar que tudo ficaria bem.

– Na verdade, Finn, foi você quem decidiu que essa seria uma boa ideia... – Rachel disse e se afastou. Finn imaginou que ela estivesse tentando fazer com que ele se sentisse culpado sobre o episódio no carro, que marcou a separação dos dois há muitos anos atrás, mas então ele percebeu que ela sorria. O que ele não sabia era que Rachel, dramática como era, pensava naquele instante como uma memória inspiradora. Era uma experiência de vida da qual ela jamais se esqueceria.

– Eu me arrependo muito disso.

Eu não, Rachel pensou em dizer e sorriu discretamente. O que ela imaginava era que jamais teria sido dramática o suficiente em suas audições pelos teatros de Nova Iorque se não tivesse chorado tanto antes de chegar até a cidade. De fato, aquele havia sido um momento marcante.

– Você sabe como é se sentir como se houvesse uma parte de você faltando em seu corpo? – Finn levou uma mão ao peito, apalpando a região do coração. – Como se estivesse faltando algo aqui?

Rachel estendeu uma mão e agarrou a do rapaz, pousando-as entrelaçadas sobre a mesa.

– Eu sei como é... – ela falou e sorriu com tristeza. – É horrível. Agora que estamos aqui, eu não sei se conseguiria conviver com ela novamente...

A pele de Finn em contato com a sua estava quente. Ela sentiu um arrepio percorrer todo o seu braço ao observar que finalmente, depois de tanto tempo, voltava a tocar aquele que havia sido o seu primeiro e grande amor de toda a vida. Aquele que a fizera feliz por tempo suficiente para se tornar inesquecível. Aquele que ela desejara ter ao lado durante todo o tempo em que ficara em Nova Iorque, para consolá-la durante seus momentos de decepção, para comemorar junto quando ela tivesse seu momento de felicidade, para fazer amor quando o desejo fosse bem maior do que eles podiam segurar. E ali estava ele mais uma vez, tão diferente e tão igual...

Rachel encarou os olhos de Finn com tanta profundidade que foi possível se lembrar da primeira vez em que eles tiveram um encontro. Como se revivesse aquele momento, e a memória veio com tanta força que, de repente, era como se todo o cenário tivesse sido substituído pelo palco do anfiteatro do McKinley High e eles estivessem sentados no chão, num piquenique improvisado, e não num restaurante cuja especialidade era servir pães, Rachel deparou-se dizendo:

– Você sabe que me pode me beijar se quiser.

– E eu quero.

Encurvaram-se vagarosamente sobre a mesa e os lábios quentes se tocaram. O mundo se silenciou por um instante, como se para prestar atenção naquele momento que, para os corações de Rachel e Finn, era épico. Ele levou uma mão em seu pescoço e sentiu a pele da garota se arrepiar. Ela levantou uma mão para tocá-lo também, sedenta por esse toque, mas então arregalou os olhos, assustada.

Seu celular havia vibrado com intensidade no bolso do vestido que ela vestia, e um toque de celular, para quem trabalha na Broadway, é algo que não se pode simplesmente ignorar.

– Um instante, Finn! – ela disse e se jogou no estofado, deixando um Finn com um bico apaixonado no ar. O rapaz quase caiu para frente quando ela o abandonou de repente.

Rachel apanhou o celular. Era uma mensagem de texto do Blaine. É o meu contato sobre a Broadway!, ela pensou. Abriu a mensagem e leu-a:

TEXTO: Rach, segui seu conselho e procurei Kurt. Foi a melhor coisa que eu podia ter feito desde que cheguei em Lima! Muito obrigado pelo empurrão!

Rachel sorriu, feliz pelo amigo também estar conseguindo se endireitar na vida amorosa. Alegre, decidiu enviar a seguinte mensagem, antes de guardar o aparelho no bolso.

TEXTO: Que bom, Blaine! Fico muito feliz por vocês dois! Mudando de assunto, e aquele contato da Broadway, ainda está de pé? Fico no aguardo de uma resposta! Xoxo!

– Sobre o que estávamos falando, mesmo? – Rachel prosseguiu, apoiando ambos os braços sobre a mesa enquanto encarava um Finn bastante perplexo.


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Notas finais do capítulo

E finalmente temos Glee de volta! o/ O que acharam do início da quarta temporada?