Santana olhava para Lisa, sua namorada, com um olhar cético. Não que quisesse demonstrar tanto desinteresse, mas, com sangue quente latino que corria nas veias, era impossível esconder como se sentia realmente. Lisa rodopiava na sua frente num vestido vermelho elegante, com barra cheia de rosas de sedas, algo que ficaria lindo no corpo de uma princesa. Mas ela planejava usar aquela roupa na Going Back In Time Party, e Santana não achava isso uma boa ideia. Chamaria muita atenção. Ela própria pensava em ir com algo mais simples, talvez com uma saia de couro e uma jaqueta igual, mas Lisa achava que a ocasião, o reencontro dos ex-membros de Glee Club, exigia um visual mais clássico justamente por se tratar de um encontro clássico. Santana discordava totalmente.

Mas seu mau humor não era bem por causa disso. Dois dias antes, Brittany a havia chamado para fazer justamente aquilo que Lisa fazia agora, uma prova de vestidos, e Santana dissera não. Inventara uma desculpa, mas a verdade era que não saberia lidar com Brittany novamente – pelo menos não se estivesse sóbria. Bêbada, deixava escapar o que pensava e não se arrependia por isso, diferentemente de sóbria, que falava e não pensava nas consequências, que geralmente eram imediatas.

Além do mais, a festa na casa dos Hummel ainda fazia da sua memória, mesmo que uma fração dela tivesse sido momentaneamente apagada assim que as bebidas começaram a ser entornadas, e ela ainda se lembrava de ter encontrado Brittany na rua. Lembrava-se de ter ido a casa dela e desejado que ela se aproximasse para um beijo. Lembrava-se, também, de ter confundido a mulher com Lisa, sua namorada.

Não sem motivo, já que as duas eram tão parecidas.

Somando tantos fatos vergonhosos, como ela podia sequer pensar em voltar a ver Brittany? Era uma hipótese que não podia ser considerada, algo que jamais ia voltar a acontecer. Tudo bem que a Going Back In Time Party estava próxima, mas até lá ela teria que tomar o cuidado de ignorar Brittany; do contrário, sabia que só passaria por mais vergonhas.

E Lisa não sabia de Brittany. E jamais saberia, se dependesse de Santana.

- Estou bonita? – Lisa perguntou depois de mais um rodopio.

- Linda – Santana disse, a cabeça apoiada na mão, sentada desconfortavelmente num sofá vermelho de veludo que havia naquela loja tão chique.

- Eu fico sexy nele?

Santana hesitou, embora tivesse a resposta na ponta da língua. Era claro que Lisa estava sexy, mas porque ela, mais do que nunca, estava se parecendo com Brittany. De um momento para o outro, era como se Lisa tivesse pegado os trejeitos de Brittany, seus pensamentos, suas ideias e estivesse tentando imitá-la. Mas por quê?, ela se perguntava enquanto observava Lisa. Ela não sabe sobre Brittany, então por que de repente se parece tanto com ela?

- Estou sexy, Santana?

- Sim, muito.

Nesse instante, seu celular tocou. Movendo-se com dificuldade na poltrona, conseguiu sacar o aparelho do bolso traseiro do seu jeans e surpreendeu-se ao ver o nome Lima Loser no display. Era Puck.

- Alô? – ela disse assim que levou o aparelho ao ouvido. Lisa lançou um olhar confuso na sua direção.

- Santana, é o Puckerman. Ainda se lembra de mim?

- Nos vimos alguns dias atrás na casa dos Hummel... É, acho que ainda me lembro de você. – Santana fez uma pausa e encarou Lisa por um instante. A moça parecia absorta em seu próprio mundo, apesar de ter os olhos voltados para Santana e seu celular. – Como é que você conseguiu o meu número?

- Casa dos Hummel, depois da uma da manhã, você e seus olhos se voltaram para o meu peitoral e disseram que eu era gostoso. Ofereceu seu número logo em seguida, para o caso de eu não ter o que fazer no fim de semana.

Santana sentiu as narinas queimarem com vexame.

- Aliás, é por isso que estou ligando.

- Não vou fazer parte de uma noitada com você, Puck, se é o que está pensando. Já passei dessa época há muito tempo. – Como ele não disse nada, Santana supôs que ele estivesse rindo e que tivesse afastado o celular do ouvido. Esperou algum sinal de vida do outro lado da linha para continuar. – Eu estava bêbada quando disse o que disse, e você bem sabe disso.

- Que pena, achei que pudesse funcionar.

- E é só pra isso que você me ligou, Protótipo de Playmobil?

- Não, ainda quero poder te ver. Será que a gente pode ser encontrar pra conversar?

- Se há alguma intenção escondida por trás disso...

- Não há. Breadstix às oito?

- Fechado.

Lisa continuava a observar Santana, sem entender muito bem o que acontecia.

~//~

Rachel sentiu o queixo tremular ao ouvir a voz de Finn. Seus olhos se encheram de água subitamente e ela teve que apertá-los bem para evitar que se debulhasse em lágrimas. Quando tentou falar, a voz soou embargada. Finn provavelmente deve ter percebido que a mulher do outro lado da linha estava profundamente emocionada, do contrário Rachel não teria ouvido soluços partidos do rapaz.

- Eu também sinto... muito... a sua falta... – ela falou e então chorava tanto quanto andara evitando chorar.

- R-Rachel, eu...

- Finn...

- Eu não sei como consegui viver todo esse tempo sem v-você...

Rachel chorou alto. Esse momento estava sendo mais intenso do que ela pensara que fosse ser.

- Como eu pude viver todo esse tempo sem te ver? Sem ouvir a s-sua... – Finn fez uma pausa e engoliu um soluço. – Sem ouvir a sua voz...

- Finn, eu penso em você todos os dias, não há uma ocasião em que eu não me lembre de tudo o que a gente um dia fez! Se houve algum erro que cometi durante esse minha vida do qual me arrependo profundamente, com certeza foi...

- Você não cometeu erro nenhum, Rachel...

-... ter te abandonado. – Rachel respirou fundo antes de continuar. – Mas às vezes a gente precisa crescer pra aprender que as decisões que antes julgávamos como certas muitas vezes são mais erradas do que as que consideramos erradas...

- Rachel, eu preciso te ver novamente, apenas mais uma vez! Nem que seja pra matar esse sentimento que está apertando o meu peito! Deixe que eu te veja, como antes...

- Eu não consigo pensar num mundo do qual você não faça parte. – Rachel fez uma pausa e limpou as lágrimas durante esse tempo. – Preciso te ver, Finn.

Ficaram os dois em silêncio por um tempo, ouvindo a respiração um do outro no outro lado da linha. Estavam afundados em pensamentos, em emoções que não conseguiam lidar. Quando conseguiram aliviar todo o sofrimento de ter que falar com a pessoa que amava, mas sem poder tocá-la, finalmente marcaram o encontro.

- Breadstix, às oito?

- Breadstix, às oito – Rachel confirmou. Respirou fundo mais uma vez e tomou coragem para dizer: - Eu te amo.

- Eu te amo ainda mais – e desligaram.

~//~

- A Rachel está ali – disse Puck ao se sentar-se à mesa em que Santana já o esperava há algum tempo. – E ela está com o Finn... A gente não devia cumprimentá-los?

- Não – disse Santana, apoiando as duas mãos nos ombros de Puck e obrigando-o a se sentar de uma vez. – Eles devem estar brincando de casalzinho, e eu não estou a fim fazer parte disso.

- Achei que fôssemos brincar de casalzinho também.

- Nunca – disse Santana e estralou os dedos no ar, chamando a garçonete. Fez seu pedido, que nada mais era do que um copo de Sex On The Beach para acompanhar os pães com creamcheese, e pediu que ela se afastasse, também com um gesto de mão.

- Aliás, e sua namorada? Onde ela está?

- Está falando de quem?

- Da Lisa. Há outra pessoa na parada?

Santana hesitou.

- Eu te chamei pra gente falar sobre isso – Puck continuou, ignorando a pausa da mulher.

- Pra falar sobre o quê?

- Preciso de um par para a Going Back In Time Party.

- Você só pode estar brincando! – Santana retrucou e afastou-se no banco. – E você espera que eu vá preferir você a qualquer outra mulher?

- Você namora, Santana.

Santana hesitou mais uma vez, boquiaberta. Fitou o nada por um instante e, quando chegou a uma conclusão, dobrou-se sobre a mesa, aproximando seu rosto do de Puck, que também se debruçou na mesma medida.

- Estou para ouvir um segredo? – ele perguntou, um olhar malicioso no rosto.

- Aqui vai o trato, Puckerman: eu tenho um par para você para a Going Back In Time Party, mas...

- Alguma amiga lésbica e gostosa como você?

- Melhor do que isso.

- Quem?

- Lisa.

Puck abriu um sorriso que logo se transformou na maior boca já aberta em toda Lima.

- Você está oferecendo o seu brinquedinho para o Puckerman brincar?

- Entenda como quiser.

- A troco de quê?

- Você acha que eu não seria bondosa a esse ponto?

- Diga o que quer, Santana!

- Eu quero ir à festa com a Brittany.

- Só está ficando melhor! – Puck disse e se afastou. – Não tem medo de a Lisa ficar chateada?

- Eu já estou chateada, Puck, e não estou a fim de continuar assim! Encontrei Brittany esses dias e descobri mais uma vez que ela é o amor da minha vida, e não a Lisa!

- A Lisa é a cara da Brittany.

- Mas não é ela! – Santana sussurrou e bebericou a bebida em seu copo.

- Você sabe que essa sua escolha tem consequências, não sabe?

- Eu vim para Lima por um único motivo: consertar a minha vida e colocá-la no caminho que ela devia ter seguido desde o princípio! – Puck esperou alguma continuação. – Eu tenho que ficar com a Brittany!

- Ouvir esse tipo de coisa me excita.

- Guarde os pensamentos do seu pênis pra você.

- Você quer a minha ajuda com isso?

- Não, não precisa. Eu sei o que fazer. Só me ajude a tirar Lisa da minha vida, de forma que ela não fique chateada. Já seria o bastante.

- Você é mais fria do que pensei que fosse.

- Temos que ser egoístas se quisermos ser felizes.

Puck ouviu aquilo e sorriu de lado. Nesse instante, desviou o olhar para a mesa de Finn e Rachel e foi quando viu o casal se beijar apaixonadamente, num ritmo lento. Seu sorriso desabrochou e transformou-se numa expressão mais séria.

Pela primeira vez na vida, Puck teve vontade de se apaixonar também.