Faltavam dois dias para a Going Back In Time e, apesar de já estar com quase tudo nos eixos, Artie ainda precisava verificar alguns detalhes. Tudo precisava ser perfeito, do contrário, aquele que prometia ser um evento incrível seria um fiasco, e talvez os ex-membros de Glee Club jamais quisessem voltar a se ver depois dele.

Artie, que estava na biblioteca, fazendo seu trabalho, esperou que o diretor Figgins se afastasse para poder fazer uma ligação. O diretor andara meio sem o que fazer ultimamente, então adotara o costume de caminhar pela escola, sob o pretexto de que “precisava manter a ordem entre os alunos e garantir que seus funcionários estivessem sempre trabalhando e prontos para ajudar quem tivesse algum problema”. A medida funcionava. Quando Artie via Figgins passar pelo corredor fora da biblioteca – e principalmente quando ele estava dentro da biblioteca -, ele se mostrava bastante pró-ativo e cheio de trabalho a fazer.

- Há muito o que organizar, diretor Figgins, podemos conversar depois? – Artie dizia enquanto mexia em uma grande quantidade de papeis que nada tinham a ver com o seu trabalho. A encenação funcionava, e o diretor sempre se mostrava satisfeito quando via que sua escola parecia estar funcionando do jeito que devia.

Então, com Figgins longe, e apesar de a biblioteca estar consideravelmente cheia, Artie pegou o telefone, que só devia ser usado para fins de comunicação interna, mas que, com o código certo digitado, permitia que ligações externas fossem feitas, e discou o número da padaria que se responsabilizaria por tudo o que seria servido em questão de alimentos na Going Back In Time Party. O que ele pensava em servir eram os salgados triviais, que não podiam faltar em festas comuns – embora aquela não fosse ser uma festa comum – e alguns doces mais chiques, que, além de deixar a mesa mais bonita, apeteceria os convidados. A preocupação com a alimentação era importante, porque muito provavelmente a maioria dos seus amigos beberia muito durante a noite, e a comida talvez aliviasse os efeitos de uma ressaca que eles poderiam sentir quando acordassem na manhã seguinte.

Ao pensar nisso, lembrou-se de que precisava confirmar também a entrega das bebidas. Assim que confirmou a entrega dos alimentos, discou o número da adega que forneceria não só o vinho, como todas as demais bebidas que os ex-membros de Glee Club faziam questão de tomar. Santana exigira que houvesse conhaque, então Artie trabalhou para que ele estivesse lá também. Confirmou a entrega de tudo, incluindo o pedido da mulher, e desligou satisfeito.

A decoração seria feita pelos alunos que ele contatara no dia anterior e que o adoravam de maneira impossivelmente carinhosa. Praticamente se ofereceram para fazer o trabalho. Como frequentavam a biblioteca com frequência, organizando sempre grupos de estudos, não conseguiram evitar ouvir quando o bibliotecário disse para alguém que estava pensando em fazer a festa. Como estavam indo muito bem com as notas, não viram problemas em ajudar o funcionário mais querido que eles tinham em todo o McKinley High. Artie nem mesmo pensou em recusar a oferta.

Mas ainda precisava de um tema para ela. E foi pensando nisso que resolveu ligar para Brittany, sabendo que ela tinha muito boas ideias quanto a esse assunto. Ainda conseguia se lembrar de como fora o baile de formatura de 2012, com todo aquele tema pré-histórico e dinossauros envolvidos. A festa tinha sido marcante, e ele sabia que todo o trabalho tinha sido feito exclusivamente por ela.

Olhou uma última vez em volta, verificando novamente se nenhum supervisor estava por perto, e aguardou pacientemente na linha enquanto Brittany não atendia.

- Artie? – Brittany disse do outro lado da linha.

- Oi, Brittany, sou eu.

- Ah, que bom que acertei dessa vez! As imagens que aparecem no meu celular costumam me enganar...

- Brittany, a Going Back In Time Party é daqui a alguns dias e eu queria fazer uma proposta a você.

- Você quer me levar ao baile?

- N- Não...

- Eu fiquei muito feia depois de todo esse tempo? Parece que ninguém quer me levar ao baile. Acho que é porque meus seios diminuíram. Ou será que os boatos que dizem que o nariz de uma loira costuma crescer muito de ano em ano são verdadeiros?

- Brittany, você está linda, não tem que se preocupar com nada. Na verdade, eu ia perguntar se você quer ficar responsável pela decoração da festa. Quer dizer, você não vai ter que pôr a mão na massa, porque já tenho pessoas envolvidas nisso, mas preciso de alguém que dê uma ideia legal de tema para essa festa. Alguém que esteja disposto a inclusive ensinar essas pessoas a fazerem o que é certo no que diz respeito a um baile.

- Eu adoraria.

- Que ótimo! E que tema você acha que ficaria legal para essa festa que promete nos levar “de volta no tempo”?

- Podemos relembrar dos nossos tempos passados e fazê-los presentes mais uma vez. Ia ser legal e nostálgico. – Brittany fez uma pausa. – É essa a palavra, né?

- É essa mesma – Artie confirmou e teve que se conter para não gargalhar. – E como pretende fazer isso?

- Trazendo de volta os anos 40!

Artie arregalou os olhos, espantando. Será que ela acredita mesmo que fizemos parte do Glee nos anos 40?, pensou e mordeu o lábio, confuso. Ficou em silêncio por um instante, considerando a ideia de dizer que ela estava enganada e que, por mais que a ideia fosse legal, o objetivo que ela procurava jamais seria alcançado, mas preferiu seguir por outro caminho:

- Excelente ideia, Brittany. Tenho certeza de que a festa vai ficar sensacional!

- Vai sim. Eu sou muito boa com isso.

- Ótimo... – Artie olhou de relance para a porta e viu Figgins passar. – Agora preciso desligar. Logo mais eu te ligo pra gente combinar como vai ser feito o encontro de você com os meus alunos. Até mais, Brittany, e muito obrigado!

- De nada – ela respondeu e desligou.

Esticou-se no lugar, contemplando a janela do quarto, por onde uma luz alegre de meio dia entrava, e sorriu, contente. A ideia de ser responsável pela decoração da Going Back In Time Party não podia ter vindo em melhor hora. Era algo que ela sabia que gostaria de fazer e que preencheria todo esse tempo em que ela se sentia ociosa, entediada.

Já estava se dirigindo para o computador, onde planejava fazer algumas pesquisas sobre os anos 40, quando seu celular voltou a tocar. Brittany usava como toque de celular um miado único que Lord Tubbington emitira anos atrás para aquela gravação. Ela ainda conseguia se lembrar da ocasião em que ele fora gravado.

- Alô? – disse ao atender, sem verificar a foto que era mostrada no celular. Não conseguia mais confiar nela.

- Oi, Brittany, sou eu.

Brittany reconheceu a voz, mas não conseguiu associá-la a ninguém.

- Quem? – perguntou. – Eu não vi a foto de quem estava ligando, meu celular é horrível com essas coisas...

- Sou eu, a Santana.

Brittany arregalou os olhos, espantada.

- Você deve ter discado o número errado – falou de prontidão.

- Como é que é?

- Não sou quem você pensa que eu sou, Santana. O número que você discou deve estar errado, então vou desligar pra que...

- Brittany?

-... você possa ligar pra pessoa certa. Além do mais, tenho muito o que fazer, agora que o Artie me chamou pra cuidar da decoração da Going Back In...

- Brittany?!

-... Time Party. Não tenho tempo a perder, e nem você tem. A festa é daqui a alguns dias e...

- Brittany, eu te amo!

Somente nesse instante foi que Brittany estancou no lugar e, paralisada e silenciosa, percebeu o coração disparar no peito.

Apertou o celular com força contra o ouvido e sentiu a mão suar. Estava nervosa, porque a frase que acabara de ouvir, para ela, tinha um significado muito importante. Principalmente vinda daquela pessoa. Sentiu que, se Santana estivesse à sua frente agora e tivesse proferido o que ela acabara de ouvir, ela não hesitaria em dobrar-se para frente e beijá-la nos lábios com ternura. Ou talvez hesitasse, porque, até então, tinha certeza de que Santana estava enganada e que não falava com quem pensava que falava.

- Pare com isso, Santana! Por favor! – Brittany gritou ao telefone e, nesse instante, seus olhos se encheram de lágrimas. Estava triste. – Eu sei que eu pareço a sua namorada, não é preciso ser muito inteligente pra perceber que eu e ela temos a mesma cara e o mesmo corpo, mas, por favor, não faça isso comigo! Se quem você ama é ela, ligue para ela e diga tudo o que disse pra mim! Ela vai ficar muito feliz, tanto quanto eu fiquei agora, imaginando você dizendo essas coisas pra mim... – Já não havia mais como segurar as lágrimas depois disso. Brittany chorava copiosamente. – Mas não brinque com os meus sentimentos. Não hoje, não agora, depois de tanto tempo. É tão difícil pra mim estar longe de você que, bem... – Brittany fez uma pausa, mas Santana continuou em silêncio. Só então a mulher percebeu que talvez estivesse falando sozinha. – Santana? Santana?!

- Há uma entrega pra você, na sua porta.

Brittany era avoada o suficiente para não se perguntar como é que Santana podia saber disso, supondo que ela estivesse longe demais da sua casa para poder afirmar algo assim com tanta certeza. Largou o celular de qualquer jeito em cima da cama e correu aos galopes para a porta de entrada da casa, imaginando que fosse alguma entrega da Amazon, geralmente um presente dos seus pais para ela.

Abriu a porta com um sorriso, o mais belo de todos, aquele que Santana, que era quem estava à sua porta no momento, com um celular próximo ao ouvido, podia ter visto ao reencontrar sua amada. Mas Brittany, ao perceber a mulher à porta, fez com que ele sumisse, substituindo-o por uma expressão séria, quase que preocupada. Fitou Santana por um instante e essa pensou que fosse receber um tabefe por ter desrespeitado a lei social que diz que, ao visitar alguém, deve-se avisar antes.

Muito pelo contrário, Brittany rompeu pela porta, puxou Santana para si e as duas se beijaram, os lábios sedentos um do outro se tocando com amor.

Santana viu cores e fechou os olhos quando uma lágrima escorreu por sua face.

Brittany, que ditou o ritmo do beijo, de repente se sentiu a mais feliz de todas as pessoas no mundo.

Não é uma entrega da Amazon, mas de fato é um presente, Brittany pensou e levou Santana para dentro, fechando a porta com uma batida.