Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 20
Traição.... Panquecas. E Chilli.


Notas iniciais do capítulo

Cara, faz quase um mês que não dou as caras! ('o')
Mas acho que superei esse lance de culpa mortal em relação ao leitores... me chamem de insensível, mas todo mundo que leio tá voltando a postar agora, então no stress!
Balanço da minha vida nesse meio tempo:
-comprei quase 20 livros no Black Friday e pela quantidade deles, mangás, artbooks e similares.... preciso de uma estante nova. E comprei essa esse ano.
-surtei com os trabalhos finais
-chorei com os trabalhos finais
-tive queda de pressão do tipo "vamos pro hospital que você já desmaiou duas vezes" por conta dos trabalhos finais
-cheguei a conclusão que odeio trabalhos finais de faculdade
-passei direto, sem precisar de exame, numa boa... EM TODAS AS MATÉRIAS. E fui uma das poucas.
-no meio desse turbilhão... virei 1.9 (cara, já vejo as rugas...)
-depois de muito tempo de vadiagem com meu dever civil, fiz meu título de eleitor e por um milagre supremo não paguei multa!
-tirei minha irmã de 9 anos no amigo secreto familiar e vou ter que sair por aí caçando jogos imbecis pra ela!
-aprendi a fazer o molho agridoce igual ao dos restaurantes!
-minha mãe meio que decidiu que gosta de waffle (aqueles redondos enormes do americanos) e agora compra direto. Eu não protesto.
-li A Marca de Atena e quis matar Rick Riordan (titio Tick pros íntimos) no final.
Aconteceu mais coisa, mas vou parar de falar da minha vida *momentos no qual os leitores dizem aleluia em coro*
Recapitulando: nossa querida - ou não, vai de cada um - Ray, finalmente de alta do hospital e convicta de que sua vida anda uma coisa do além, caminha pela rua e é abordada por um cara drogado com uma cara na mão. Eis que surge Gabe (??!) num de seus clássicos devaneios e quando ela volta a si o cara morre atacado... por algo.
Como toda boa pessoa sensata e sem muito amor ao próximo, ela dá no pé enquanto ele está estrebuchando.
Vocês vão querer me estripar no fim desse cap, mas é mero detalhe.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/235829/chapter/20

–Querida, aconteceu alguma coisa?

–Não mãe, pela milésima vez, só quero que me deixem sozinha. – murmurou ela, com a cabeça embaixo do travesseiro.

–Depois do estado em que voltou? Sem chances; agora se nos contasse o que te perturbou tanto... – insistiu Seamus.

–Pai...

–Estou falando sério. – seu tom de voz deixava isso claro.

–E que também quando falo que quero ficar sozinha. – retrucou a filha em resposta.

–Tudo bem – adiantou-se Julia, antes que aquilo virasse uma discussão – você fica sozinha e... nos adiantamos seu retorno no Dr. Roberts. Mas o importante é você desabafar sim?

Como uma injeção de adrenalina, Raven segurou o pulso da mãe rapidamente, apertando tanto que talvez ficasse marcado.

–O que foi?! – perguntou a mulher assustada.

–Minha terapia – sussurrou ela – eu... me sentiria mais a vontade se fosse uma mulher. Por favor...?

–Sem problemas. – garantiu o pai.

Quando eles saíram de seu quarto, ela respirou fundo; um problema a menos em sua caótica e assustadora vida atual. Aquele havia sido o sábado mais estranho que tivera, se considerar que ela passou boa parte do anterior desacordada numa cama de hospital.

Por mais cansada que estivesse, não conseguia pregar os olhos. A perspectiva de trombar com a menininha de azul durante o dia ou nos seus sonhos era uma tremenda chateação, mas com Gabe era diferente. Ela não suportaria e acabaria enlouquecendo se ele a visitasse em seus sonhos suspeitos. Se é que ela já não estava louca.

Foi surpreendida por cutucões que a despertaram. Olhando para os lados confusa, se deu conta de que largos raios Sol entravam preguiçosamente pela sua janela – já era de dia e ela conseguiu passar uma noite inteira num sono pesado e sem sonhos. Suspirou de alívio e tornou a se jogar de volta no travesseiro, fechando os olhos e mais do que disposta a esticar aquilo numa sonequinha matinal.

–Nem pense nisso, fiquei te chacoalhando e cutucando feito louco até acordar! – ralhou uma voz familiar.

–Jay? – ela abriu os olhos surpresa e encontrou o ruivo ao seu lado.

–Não, não sou eu o Keane. – respondeu ele irritado.

–Calma – respondeu ela, se sentando e o repreendendo mentalmente por zoar usando o nome de Keane – porque não me chamou? – ele a encarou incrédulo e depois estufou o peito, colocou as mãos na cintura e olhou pra ela com um sorrisinho feliz. Ela reconheceu aquela pose.

–Jared querido, pode tentar acordar mas acho que essa aí não levanta tão cedo (risadinha animada) Seamus ficou gritando o nome uns cinco minutos sem parar, até o cachorro babão da vizinha acordou... quando desistir, larga ela aí e desça, estou fazendo panquecas!

–Minha mãe queria que você me largasse e descesse pra comer?! – reclamou ela indignada.

–Eu tava quase fazendo isso. – murmurou ele.

–Pera ai, cinco minutinhos. – pediu ela, jogando as cobertas de lado.

–Te dou dois. – ela o olhou feio e correu pro banheiro.

Uma vez dentro dele, ela se encarou enquanto escovava os dentes, satisfeita com o que via: as olheiras arroxeadas e inchadas que acumulou desde o acidente e só foram se intensificando com o estresse haviam sumido, dando lugar a suas costumeiras covinhas afundadas de texugo; seu cabelo não estava mais tão sem brilho e arrepiado e sua palidez do tipo “olha todas as veias verdes na minha cara!” tinha sumido.

Depois de limpar o rosto, escovar os cabelos e se aliviar, ela se deu conta de outro bônus enquanto lavava as mãos: quase podia olhar a pia sem lembrar da coruja morta e pingando sangue dentro dela. Quase.

–Olha só, você está 42 segundos atrasada! 45, 46, 47...

–Tô aqui! Para de contar seus dois minutos idiotas!

–Eu te dei cinco. – respondeu ele e ela o avaliou também: ele voltara a ser o ruivo alto e bonitão, sem aquela careta de desgosto, as sobrancelhas franzidas pela preocupação, o tom amarelado e pouco saudável nas feições encovadas. O abraçou.

–Que foi? – perguntou ele, retribuindo o abraço e a erguendo do chão.

–Estou feliz que as coisas tão caminhando pra normalidade.

–Eu também. – e rumou para a porta, ainda a carregando.

–Pode me largar no chão agora! – disse meio em pânico.

–Porquê? Faz anos que não faço isso... – ele estava claramente zombando dela.

–Mentira sua! – rebateu, mas como já estava nos degraus, achou perigoso ficar se opondo e correr o risco de cair bonito.

Se amaldiçoou mentalmente por não ter continuado a protestar, pois assim que ambos chegaram na cozinha, a cena se tornou ironicamente hilária:

A mãe, com os olhinhos brilhando de modo travesso, o resto do rosto enterrado na caneca de café enquanto o corpo tremia na tentativa de conter o riso; o pai, segurando o jornal na frente do corpo e os olhos correndo de um canto a outro no cômodo, com cara de quem perdeu alguma coisa; Jared, finalmente estampando um pouco de culpa no semblante, carregando nos braços uma Raven cujo queixo tinha caído um pouquinho, ambos encarando o outro lado da cozinha onde um Keane de cenho franzido se encontrava segurando um prato com panquecas parcialmente comidas.

A menina começou a se perguntar onde estava a normalidade da coisa, mais então lembrou-se de que sua vida normalmente era uma sucessão de peças maldosas (similares a atual) pregadas pelo destino e se resignou. Dando o sorriso mais amistoso que conseguia no momento, falou:

–Bom dia!

–Dia. – respondeu seu pai.

–Querida. – disse sua mãe com a voz abafada pela e caneca E o riso contido.

–Hum. – murmurou Keane.

–Er... e aí Keane? – disse o ruivo timidamente.

–Jared. – rebateu ele secamente.

–Numa boa? – insistiu, ainda com ela nos braços.

–Hum. – sua postura era um péssimo sinal.

–Keane veio aqui trazer o resto do seu dever... ele acha que vai precisar te ajudar com algumas coisas. – disse Julia, tentando aliviar um pouco o clima.

–Mas então me contaram que você veio exatamente com a mesma ideia. – disse ele, com os orbes azuis cravados no outro de um jeitão sinistro.

–Bom, ambos podem.. – interveio a mulher.

–Não sem problemas; vinha trazer as coisas de qualquer jeito, então não foi uma viagem perdida. Se precisarem de algo, podem me ligar. – ele retomou seus modos para falar com Julia.

–Quê? Não cara, pode ficar com a gente! – insistiu Jared.

–Diferente de você, eu moro perto... e mais pessoas vão acabar distraindo a Raven, ao invés de ajuda-la. – seu tom estava mais amistoso, mas mesmo assim a menina detectou o desagrado no seu olhar.

–Muito obrigada. – disse ela, o amigo aproveitou essa deixa pra finalmente coloca-la no chão.

–Não foi nada. – garantiu, soando realmente agradável pela primeira vez desde que ela entrou na cozinha.

Os três foram para a mesa e ela se sentou defronte a Keane, ao lado de Jared; o resto do café da manhã se passou na maior normalidade possível, com comentários positivos sobre a comida, ruídos de mastigação, uma ou outra piadinha... e claro, ela disfarçadamente olhando o tempo todo para o que o garoto a sua frente fazia.

Ele gostava de manteiga de amendoim, mais até do que do xarope das panquecas; recusou suco ou café educadamente, bebendo o leite puro e com um nada de açúcar; nas torradinhas ele colocava mel e comia as frutas cortando os pedaços com uma faca, ao invés de simplesmente morde-las. Se contentava em comer em silêncio observando ele, suas mãos ágeis, modos polidos, lábios travessos e olhar distante – isso até uma pequena exclamação desperta-la de suas divagações de menininha apaixonada.

Seu pai tinha largado a faca de cortar pão e observava com a frieza de um médico o sangue sair do corte no polegar ferido que ele pressionava. Ao ver aquele líquido vermelho, a cena da noite anterior veio a tona com força total na sua mente – o sangue, os rasgos, a expressão do homem quando ela virou as costas e correu... sem se segurar, ela vomitou.

–Raven! – gritaram todos ao mesmo tempo.

Depois disso foi uma verdadeira confusão.

Sua mãe achou que era algo de cunho emocional, seu pai achou que era algum ferimento interno que passou despercebido nos exames (o que o fez entrar em pânico mais que os outros), Jared estava meio sem reação, fitando o vômito e com uma expressão retraída. Já Keane estava com os olhos fixos nela e agia com uma calma fora do comum, como se já soubesse o motivo de seu mal-estar.

Raven possuía vários sentimentos, não necessariamente conflitantes, dentro de si: fraca com sua reação, mal pelo fato de que os outros estavam comendo também, culpada por não ter nem tentado ajudar o homem na noite anterior, constrangida pelo modo como Keane a olhava... aquele domingo estava começando do modo certo para fechar aquela semana com chave de ouro.

O que obviamente, era justamente o que ela não queria.

Praticamente arrastada ao banheiro pela sua mãe, não ajudou em nada que Jay, ainda com aquele cara de nojo altamente controlada, disse que limparia a bagunça. Embaixo da água quente e tentando tirar os pedacinhos nauseantes de seu cabelo, ela não conseguia deixar de pensar a respeito da noite anterior.

Mesmo no conforto de sua casa, se sentiu insegura como nunca antes em sua vida. Keane e o cemitério, o atropelamento, a morte de Gabe e a do estranho homem... coisas sem explicação estavam acontecendo, uma atrás da outra – jamais foi do tipo que acredita em coincidências e aquela semana era uma prova decisiva.

E sua insegurança vinha justamente desse desconhecido: ela estava metida em algo perigoso e fora da realidade... mas o quê?

Sua cabeça martelava, como se esquecesse alguma parte crucial desse quadro macabro; respirando fundo, ela desligou o chuveiro, se enrolou na toalha e saiu. Ao lado de suas roupas, sentada no chão, estava a menininha.

Ainda com a aparência dócil e o vestido de bolinhas, ela abraçava os joelhos com uma mão e descascava uma mancha aleatória no chão; tardiamente, Raven percebeu que se tratava de um vestígio sobrevivente da coruja e desabou no chão ao lado dela.

É claro que sua cabeça estava zunindo, ela tinha esquecido as PIORES partes daquilo tudo: a menina, os sonhos e as corujas stalkers.

Pensou em mil coisas pra dizer ou perguntar, mas resolveu deixar pra lá. Por mais que tenha se contorcido em muitos momentos por respostas, agora o que ela mais queria era uma pausa naquilo tudo - sem acontecimentos, sem surpresas desagradáveis, sangue a torto e direito ou charadas que a deixam com dor de cabeça. Iria sair daquele banheiro e, como uma menina normal, faria o dever de casa atrasado e com sorte encontraria tempo pra entrar na internet mais tarde. Nada além disso.

Vestida novamente, ela saiu sem olhar para a menininha atrás de si e encontrou seu ruivinho preferido jogado na cama dela, mais pálido que nunca e usando uma camiseta de John.

–Melhor? – era engraçado ele perguntar algo assim naquele estado.

–Sim...?

–Isso foi uma pergunta Ray? – ele se sentou.

–É que.... você não tá bem né? – ela sentou ao lado dele e cruzou as pernas como um índio.

–Nem pergunte – gemeu ele – vamos logo nos afundar na tarefa de seu colégio de riquinhos.

–Meu colégio público de riquinhos? – ele sorriu.

–Seu colégio público de classe média alta num bairro de riquinhos. – sem força de vontade pra rebater, ela deu de ombros e fitou os cadernos, lembrando de seu dono.

–Keane foi embora?

–Foi – confirmou ele, e ela não conseguiu segurar um suspiro pesaroso – ele disse que você não iria focar na lição com muita gente e que era mais fácil ele voltar um quarteirão andando que eu vários bairros de carro. Bacana da parte dele.

–Quando você supera a aura intimidante dele, percebe que é sim um cara legal.

–E foi disso que você gostou nele?

–Não sei se gosto dele.

–Sabe sim, há quantos anos te conheço? – ela cutucou a unha do dedão do pé, sem querer responder – O fato é, se continuar com uma cara de retardada cada vez que ele está por perto, a Primavera vai chegar e não terá um par para o Baile.

–Minha cara de quem liga pra um...

–Foi uma metáfora. – cortou ele – O que quero dizer é que o ano vai acabar e você vai estar tão perto de sair com ele como quando começou a seguir o cara. Aliás, ele sabe disso?

–Não ouse contar pra ele! – ameaçou Raven – E o que quer que eu faça? Chame-o pra sair?

–Lógico.

–Mas um cara que deve fazer o pedido! – ele balançou a cabeça, fingindo decepção.

–Ele está claramente cercando você, mas com sua costumeira atitude defensiva em relação a tudo que é mais complicado....

–Jay. – censurou, sabendo que o amigo estava certo.

–Você tem que dar uma demonstração de que também está afim dele, algo concreto do tipo...

–Chama-lo pra sair. – resmungou ela.

–Isso.

–Vamos apenas nos ater a lição por hoje tá? Não estou no clima pra pensar em nada complicado demais.

–Você quem sabe.

Eles voltaram a atenção a matéria e ela agradeceu silenciosamente por ser Jared quem estava ao seu lado; nenhum outro amigo seu seria maduro o suficiente pra simplesmente deixar o assunto “Keane” de lado, não antes de ela estar completamente vermelha de vergonha e espumando de raiva.

Resolver as questões e começar os trabalhos não era difícil; o tenebroso era absorver de modo decente cada matéria nova que seus colegas tiveram na semana em que ficou ausente – claro que todos os professores tinham que começar um conteúdo novo, ninguém podia fazer uma revisão ou algo parecido, seria demais ela pedir isso com a cota limitada de sorte que tinha – e então as horas se arrastaram, almoço e lanche da tarde, com os dois curvados ali, ele explicando e ela anotando. Mas no fim das contas, terminaram a ponto de jantar com calma.

–Nossa menina acabou com o seu domingo não é? – disse Julia, servindo uma generosa porção de chilli para Jared.

–Na verdade, era ensinar pra ela ou pro Vlad, então eu tenho que agradecê-la por ocupar o meu domingo.

–E quem vai ensinar as coisas pra ele?! – perguntou a menina, um pouquinho culpada, apesar de ter consciência de que o platinado era bem mais inteligente.

–A Becky. – respondeu ele, mordendo uma fatia de bacon tão gordurosa que até mesmo brilhava.

–Hum... não faz muito sentido alguém da sua escola ensinar a uma pessoa de outra enquanto um colega dela vem aqui ensinar você não é? – comentou seu pai.

–Tanto faz na verdade – respondeu – duvido que eles tenham perdido todo esse tempo fazendo exercícios.

Então sua ficha caiu e ela teve de segurar pra não derrubar a colher com seu chilli; Becky lá e Jared, o único que realmente é sensato entre eles veio para cá. Becky foi a acompanhante de Vlad quando seus pais estavam no trabalho, as enfermeiras olhavam de modo venenoso pra Raven, mas eram mais contidas com a amiga, como se ressentissem algo. As cutucadas entre eles nitidamente tinham diminuído, mas ela achou que isso se devia ao fato de eles estarem mais ocupados zoando Keane ou algo do gênero, mas agora ela via.

Eles estavam...

Raven mordeu a língua com força; aquilo estava fora de cogitação. Não podia imaginar nenhum dos dois... juntos. Como um casal. Saindo, trocando mensagens e se pegando no quarto dele – era demais pra sua cabeça.

Passou o resto do jantar fingindo que estava faminta demais para sustentar uma conversa, enfiando comida na boca furiosamente ao mesmo tempo em que analisava friamente cada atitude dos dois. Elas tinham vindo do quarto dele naquele dia – na hora, tinha certeza de que a única preocupação delas era que Gabe fosse atormenta-la, mas e se... ela não quisesse que os outros contassem a verdade?

Susan é amiga de infância de Rebecca, é claro que vai ajuda-la, mas duvidava que os outros fossem manter silêncio assim – ela estupidamente enfiou calmante nas veias pra manter o casinho dos dois em segredo?

Sua raiva aumentava e a agressividade com a qual ela se “servia” idem; lembrou que apenas alguns dias atrás Keane fez almoço para ambos e a cena que Vlad fez por causa daquilo... nunca sentiu tanto rancor de seus amigos assim na vida, isso levando em conta que eles adoravam pregar peças e zoar uns aos outros.

Posso te dizer que pelo menos quatro deles você conhece muito bem.”

As palavras de Gabe vieram a superfície da sua mente como uma bomba; ela se recordou da palavra que ficou ressoando em seus pensamentos assim que ouviu dize-lo isso na noite anterior: TRAIÇÃO. Foi desse jeito que se sentiu e era assim que estava agora – sem hesitar, já assumiu que Vlad e Becky eram dois desses quatro, Susan provavelmente era a terceira e o quarto... ela discretamente olhou para o lado enquanto mastigava, supostamente mirando uns pãezinhos e cogitando o cara alto e ruivo ao seu lado. Se ele fosse a quarta pessoa, descobriria ainda hoje.

Assim que limpou o conteúdo em seu prato (a terceira tigela cheia seguida), ela pousou a colher bruscamente e anunciou:

–Estou satisfeita, não quero sobremesa.

Todos estavam enrolando para comer e não deixa-la sozinha na mesa atacando tudo; talvez estivessem mais preocupados com ela do que transpareciam, mas no momento ela estava ocupada demais remoendo acusações contra seus amigos. O ruivo terminou em instantes e a seguiu em direção ao seu quarto, se reparou na postura tensa ou nos punhos cerrados dela, não demonstrou.

Assim que fechou a porta do quarto, ela o encarou de modo severo.

–Bom – começou ele – eu disse que cedo ou tarde você perceberia....

–Perceberia o quê? – respondeu com um sorriso maldoso.

–Não tente se fazer de besta, está indignada demais pra soar convincente – disse ele impaciente – estou falando, como você já deve ter deduzido, de Vlad e Rebecca.

–Do Warmoth e da Gaunth? – ele a encarou com quem quer dizer “sério que vai agir assim Ray?” e continuou:

–Deles mesmo.

–Há quanto tempo? – disparou, sabendo que não adiantaria nada ficar dando voltas.

–Pouco mais de um mês. – admitiu ele, depois de uns instantes de hesitação.

–Pouco... que cara...

–É eu sei – cortou ele – falamos mil vezes pra eles pararem de esconder de você, que seria mancada e tudo o mais.

–Aparentemente, não funcionou.

–Bem, eles tinham medo da sua reação...

–Medo? – ela nem se deu ao trabalho de esconder sua descrença venenosa.

–Sim senhorita, medo; quantas vezes você não demonstrou, com palavras e gestos, que lhe desagradava totalmente a ideia de algum de nós estarmos amarrados a outra pessoa? Você sempre foi imprevisível com nossos romances.

–Nunca peguei no seu pé. – apontou ela.

–Porque você sabe que não levo meus namoros a sério. – rebateu ele.

–Mas parece de boa com a Maddison.

–Traí ela várias vezes e você sabe disso. – seu tom não demonstrava o mínimo de vergonha ou arrependimento.

–Falando em trair... ela está com um cara da nossa escola! – lembrou chocada.

–Com um jogador de futebol americano imbecil, sei disso. – disse ele cansado – Da mesma forma que Vlad tem seus casos. Eles estão saindo e não namorando.

–Se nem é algo sério, porque não me contaram?

–Porque se te contassem você não iria deixar rolar nada.

–Vou fazer o quê? Proibir?

–Pode não reparar e agir sem ter a intenção, mas suas atitudes são nessa linha mesmo. Você é controladora Raven.

Ela suspirou, não conseguia se ver assim, mas por outro lado, todos os seus amigos não teriam contribuído com a omissão se ela não desse sérios motivos pra isso. Se sentiu além de traída, uma idiota mimada. Ficou encolhida ao lado de Jared, refletindo em silêncio; ela podia ter vários defeitos, mas não era contornando-os que seus amigos a ajudavam a se tornar uma pessoa melhor. Será que ela era assim tão intratável? Achava que não e, mais uma vez, o rancor tingiu seu humor.

Queria fazer alguma coisa; mas não iria lhes dar o prazer de vê-la agir exatamente como esperam. Ela queria uma vingancinha, mas algo que ficasse só com ela – a satisfação viria justamente do fato de eles nem suspeitarem de nada.

Então voltou seus olhos para o amigo, que a fitava curiosamente. Viu que ele lia a expressão dela e que sabia o que ela estava pensando; viu que ele percebia exatamente o que ela queria o encarando daquele jeito – viu a confusão, a dúvida e finalmente, a pontinha de malícia que ela queria.

E antes que a dúvida voltasse, ela o puxou pela gola da camiseta e o beijou.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixando claro: Javen NÃO É UM CASAL!!!
Adoro o Jay, mas.... não.
Acho que avisei pra um povo que ela pegaria um(ns) outro(s) cara(s) antes de qualquer cena Keaven ou Vlaven. Como tô ligada que minhas leitoras fofas devoram minhas respostas no reviews alheios em busca de respostas, então vocês já sabiam!
Sem mais, já tô acabando o próximo, tentarei postar antes do Natal.
Beijos lindezas, a imbecil aqui tá de volta!
(*---*)//



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Undertaker [Hiato]" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.