O loiro estava em seu dormitório, nas masmorras, deitado em sua cama enquanto lia um livro para se distrair daquela tediosa tarde de sábado. Mesmo estando em tempo tão frio que poderia quase congelar o lago negro, o céu estava limpo, e nele, o sol estava brilhante e amarelado, como se fosse um dia de verão.

O sonserino se concentrava no que lia – não havia visto nenhum de seus amigos naquele dia e não tinha nenhum dever de casa para fazer – era a única coisa que restava para passar o tempo.

Estava preso à história de um modo irritantemente fascinante quando ouviu a porta abrir.

– Ah, você está aqui... – Disse Alvo, em uma mistura de tristeza e decepção, ao ver quem estava no quarto.

– É... Eu estou aqui! – Scorpius respondeu feliz por finalmente ver algum amigo. Pelo menos, sempre o considerou um bom amigo, mas, por aquela semana, o moreno tentou ao máximo evitar o loiro – Então... Como vai a Anne?

– O quê? – Perguntou franzindo o cenho e sentando-se em sua cama, logo em seguida.

– Como vai a Anne?! – Scorpius repetiu, dessa vez mais alto.

– Eu entendi! Mas... Por que você quer saber como está minha namorada?

– Não! Você não entendeu... Eu quis dizer, “Como vai você e a Anne?”! – Corrigiu.

– Ah... Ela anda meio evasiva comigo... – Respondeu passando a mãos por seus cabelos negros. “Como você está fazendo comigo?” Scorpius pensou em dizer, mas, mudou de opinião.

– E... Você sabe por quê?

– Acho que você sabe por que – Respondeu, ríspido.

– Como assim? – O loiro estava completamente confuso com tudo aquilo.

– Olha, Scorpius. Eu não quero me afastar de você, mas, também não quero que você fique tão... – Fizera uma pausa enquanto gesticulava com as mãos – próximo de mim. Não quero perder sua amizade e não quero perder a Anne, então é melhor pra nós dois que você pare com isso. – O moreno levantou da cama e caminhou até a porta – Ah... Feliz aniversário. – Concluíra momentos antes de fechar a porta.

– Obrigado. – O loiro disse, mesmo sabendo que o garoto não o ouviria, com uma interrogação em sua cabeça por causa da conversa que teve com ele.

Alvo resolveu dar uma volta – também não tinha nada pra fazer, pelo menos, ainda não. Andava distraído pelos corredores quando trombou em alguém.

– Ah... Desculpe – Ele disse para uma garota ruiva que estava caída no chão. Estendeu a mão para ajuda-la.

– Ahm... Não foi nada, Alvo. – Rose respondeu, pegando na mão do garoto e se levantando – Estava indo à algum lugar? – Perguntou, começando a andar ao lado do primo.

– Não... Só estava vagando mesmo...

– Uhm... Você vai fazer alguma coisa hoje?

– Bem... Na verdade, daqui a pouco tenho que ajudar os garotos em uma coisa...

– Que coisa? – A corvina perguntou com uma clara expressão de curiosidade.

– Nós vamos fazer uma festa pro Scorpius. Hoje é aniversário dele.

– É mesmo!? Deseje parabéns por mim.

– Sério? – O moreno arregalara os olhos.

– Sim. Eu não odeio ele tanto quanto você pensa. – Mentiu.

– Sei...

– Ah... Você vai ficar bem lá? Quer dizer... Você ficou bem com o que ele fez duas vezes na semana passada?

– Ah... Eu não sabia o que fazer e... Espera. Você viu o que aconteceu? Você estava no jogo e no corredor naquela hora? – Rose engoliu em seco.

– E-eu estava bem escondida. Sou quase uma ninja! Praticamente invisível... – Respondeu, nervosa.

– Tudo bem... Eu tenho evitado ele essa semana, sabe, pra não acontecer de novo. E... Agora a pouco, eu falei pra ele não fazer mais esse tipo de coisa porque, além de eu ter me incomodado, Anne também se incomodou e começou a me ignorar.

– Mas, por que ela te ignoraria? Ela deveria ficar brava com o Malfoy!

– Ela não ficou brava com o Scorpius por que ela diz que “Não é culpa dele se sentir assim”. E... Ela ficou brava comigo pela maneira que eu agi. Sabe... Eu fiquei paralisado. Acho que ela pensou que eu fiquei daquele jeito por gostar daquilo, ou algo assim...

– Você já disse que não foi isso?

– Já... Mas ela continuou meio distante. – Ele falava olhando para o chão com um olhar indecifrável - Tenho certeza que ela acredita em mim, mas não quer admitir. Ela vai voltar a falar comigo, mas, ainda vai demorar algum tempo.

– Espero que dê tudo certo - Rose disse olhando profundamente para o garoto.

Ela havia feito aquilo. Mesmo ele não querendo mostrar, estava infeliz. Ela conhecia o primo que tinha. Ele não gostava de mostrar as emoções, desde as tristes e amarguradas, até as felizes e amorosas. Mas, isso não queria dizer que era alguém insensível. Alvo era uma pessoa extremamente doce e amável. Ele ria, chorava, fazia caretas e até mesmo expressões zangadas, mas, não era com todos que conseguia ter essa liberdade. As únicas pessoas com que ele conseguia se expressar eram, a própria ruiva e Anne. Nem mesmo com seus familiares ele fazia essas coisas. E... Era isso o que deixava Rose mais triste. Por causa de sua vingança, Alvo estava triste e, não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar.

– Ela vai estar na festa?

– Não... Vai ser no salão comunal da Sonserina. – Explicou.

– Oh... E, como vai ser lá? Vai ser legal? – Perguntou tentando animar o sonserino.

– Bem... Eu não sei direito ainda, mas, sei que vai ter vários tipos de comidas e bebidas e... Provavelmente todo mundo vai ficar bêbado, fazer besteira e falar o que não deve até o final da noite. – Isso soou como anjos cantando aos ouvidos de Rose.

– Ah, sério? Todas as festas da Sonserina são desse jeito?

– Eu só fui à duas e, elas foram praticamente iguais... Do jeitinho que eu acho que vai ser a de hoje. Mas... Quem sabe, né? É o aniversário de “Scorpius Malfoy”, não uma festa de comemoração pela taça de Quadribol. Aliás... Pode ser bem pior do que eu espero...

– Alvo! – Ouviram alguém gritar do final do corredor. Era um colega de quarto do moreno – Vamos!

– Eu tenho que ir. – O moreno disse logo antes de dar um beijo estalado na bochecha da prima e sair correndo na direção do garoto.

Rose estava com um grande sorriso no rosto. Não por causa do beijo que Alvo dera em seu rosto, mas por causa da ideia que teve de dar continuidade à sua vingança.

Scorpius ouviu alguém bater na porta. Estava com muita preguiça de se levantar, mas o fizera. Foi até a porta, abriu-a e se deparou com uma garota morena e sorridente.

– Feliz aniversário! – Ela gritou momentos antes de passar seus braços pelo pescoço do loiro em um abraço entusiasmado – O que você fez hoje?

– Fiquei deitado, lendo um livro qualquer...

– Nossa... Que animador. – Disse sarcástica – Que tal nós irmos para o lago? McGonagall mandou aquecê-lo, por causa do frio. Então, você vem? É melhor do que ficar trancado no quarto lendo algo que eu tenho certeza que você não está interessado em ler.

– É... Você tem razão... Vamos lá. – Dizendo isso, o loiro fechou a porta atrás de si e foi com a amiga para o lago negro.

A ruiva procurava por ele. Tinha que encontrar o garoto loiro que fazia aniversário naquele dia. Passou pelos jardins e avistou, caminhando lentamente na parte rasa do lago, Malfoy e Fryland.

Escondeu-se atrás de algumas árvores e arbustos, já sem folhas por conta do outono. Transformou-se em um pequeno inseto voador, e se aproximou dos dois, querendo ouvir a conversa.

– Não acho que o fato de eu estar fazendo 17 anos seja uma coisa boa. – O loiro disse enquanto olhava seu reflexo na água tremida e caminhava lentamente por ela. Rose acompanhava cada passo deles, voando perto da cabeça de Fryland.

– Por quê não?

– Por que você faz 17 anos daqui a três meses.

– Ah... Nossa! Só faltam três meses! Uhm... Não sei se nós vamos conseguir...

– Acho que não vamos... Mas, mesmo se não conseguirmos, depois nós resolvemos isso. – Concluiu sorrindo.

– É melhor não pensarmos nessas coisas! Hoje é seu aniversário! Você tem que ficar feliz! Tente se distrair... Tem uma garota sonserina chamada Sofie, do quinto ano, que faria qualquer coisa pra ficar com você. Ah! Do que eu estou falando? Todas as garotas de Hogwarts fariam de tudo pra, pelo menos, ficar perto de você. - Ela o empurrou levemente, com um grande sorriso no rosto.

– Ah... Que nada... Nem todas! – Scorpius afirmou, um pouco sem graça, mas, ainda assim, sarcástico. E Rose, ao ouvir isso, repetiu “Nem todas” em sua mente, fazendo uma imitação extremamente infantil do garoto.

– Pois é... Tem algumas que são idiotas. – Rose revirou os olhos com o comentário da morena. Como ela conseguia superestimar tanto ele? O garoto sonserino que, além de ter um ego inflado, amava passar por cima dos outros... Como ela conseguia? – Eu devo ter muita sorte. – Ela sorriu para o garoto ao seu lado, que retribuiu o sorriso e passou seu braço ao redor dos ombros da morena. - É melhor nós voltarmos para o castelo...

– Por quê? Aqui ‘tá bom...

– O sol já está se pondo... Você quer levar outra detenção?

– Ah... Já faz muito tempo que eu não pego uma detenção... Dois meses! Meu novo recorde! Mas, depois daquela detenção com o Weasley, não quero me arriscar tão cedo.

– Ai... Eu não suporto aquela garota! Ela se acha mais inteligente que os professores, ama puxar o saco deles, mas xinga eles pelas costas. Diz que é santa, mas fica se agarrando com um garoto comprometido. Quer tanto chamar atenção das pessoas que espalha as próprias roupas por aí, mas nunca usa uma saia que não fosse abaixo do joelho. Aquela garota é uma fingida! Me da náusea... – Faltou muito pouco para a corvina se transformar em um elefante e cair em cima da morena. Era o que ela queria, mas não poderia fazer isso.

– Ah... Não precisa exagerar! Eu também odeio dela... Mas, não chega a me dar náusea... Bem, vamos parar de falar sobre a cabeça de fogo e entrar logo no castelo. – Malfoy saiu da água, acompanhado de Fryland. Eles pegaram seus sapatos e saíram correndo. Rose vinha logo atrás, ainda em forma de inseto.

Eles chegaram aos corredores e já estavam subindo as escadas que davam no salão principal.

“Eles não podem entrar lá, arruinaria tudo!” A corvina pensou.

– Malfoy! – O loiro ouviu e se virou. O zelador, John Lougeu, estava ao pé da escada – Venha até aqui.

O garoto bufou com raiva e olhou para Katie

– Vou te esperar lá dentro – Dizendo isso, ela entrou no salão.

O sonserino, contra a sua vontade, desceu a escada e foi de encontro ao homem, que olhava para os lados, ansioso. Assim que o loiro chegou perto o suficiente dele, Lougeu ergueu uma varinha lançou um feitiço silencioso, que fez Malfoy desmaiar instantaneamente à sua frente.

Rose arrastou o garoto, ainda transformada no zelador, pelos ombros e o colocou em uma sala de aula vazia. Fez todo o procedimento da semana anterior - desde a poção até a transformação – e saiu correndo até o salão principal.

O jantar foi realmente tranquilo. A grande maioria dos alunos da Sonserina não estava lá. Rose sabia que eles, provavelmente, estariam organizando as coisas do aniversário de Malfoy, mas não achava que precisaria de 90% deles para isso. Ela não comeu muito, não que não estivesse com fome, mas, Fryland mal deixou-a tocar na comida.

Depois de algum tempo andando pelo castelo após a refeição e torcendo para que Lougeu as pegasse, elas foram para as masmorras.

Do lado de fora estava completamente silencioso. Rose chegou a estranhar tanto silêncio. Achava que teria música extremamente alta tocando e barulho de pessoas conversando.

– Felix Felicis. - Frylnd dissera a senha e uma passagem se abriu para que pudessem entrar no salão e, assim que entraram, conseguiram ouvir a barulheira.

Todos lá dentro já estavam se divertindo muito – comendo, bebendo, conversando e dançando – mas, Rose não prestou atenção nisso. Ela olhava, fascinada, para todos os lados da sala, analisando cada canto. Nunca soubera como era lá e queria guardar tudo na memória.

– Olha! Nosso aniversariante chegou! – Disse um garoto alto, com cabelos castanhos e levemente avermelhados que chegavam até abaixo da linha dos ombros, chamado Richard Gilbert – E aí? Gostou da surpresinha, Scorps?

– Ah! Gostei! Ficou incrível! – A corvinal exclamou, só agora dando atenção à festa.

– Que bom que gostou. Agora, me dê licença que algumas garotas estão esperando por mim. –Dizendo isso, ele se virou e foi em direção à um sofá com várias garotas ao redor. Rose revirou os olhos e pensou “O que essas meninas têm na cabeça? Aquele garoto mais parece uma garota! Elas que são idiotas.”.

– Eu vou tomar alguma coisa. Não me espere! – Katie disse, saindo em direção à mesa de bebidas.

Rose olhava para a festa procurando algo para fazer. Realmente, ela estava muito bem feita. Tocava uma música muito animada que a corvina não sabia de onde vinha. Havia várias mesas com muitos lanches e muitas bebidas de diferentes tipos. A corvina agradeceu mentalmente por não ver nenhum aluno que fosse do quarto ano para baixo lá – provavelmente, os mais velhos tinham mandado eles pra cama – Pois, além de bebidas altamente alcoólicas, havia muitas pessoas se insinuando demais naquele ambiente.

Rose se sentou em uma cadeira perto de uma das mesas de comida. As pessoas dançavam, comiam e bebiam como se não houvesse amanhã. Algumas até paravam para desejar os parabéns à ela, mas logo voltavam a fazer baderna. Seria uma longa noite. Uma louca e longa noite.