Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 7
Socorro


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde amores! Tudo bem com vocês? Gostando da fic? Espero que sim...



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Ethan Williams POV – Início da Tarde de 18 de Março


– Ethan, para onde estamos indo? – Perguntou Jean. – Não me diga que é para a floresta?

Eu parei e olhei para ela, assentindo, e recomeçando a andar.

– Ficou louco? É perigoso!

– Já estive lá e posso te garantir que não é nada perigoso. Confia em mim?

– Não sei, não, Ethan... Não gosto dessa ideia.

– Porém ela é perfeita! Ninguém vai lá, muito menos ao lugar que encontrei. Vamos lá, Marie...

Paramos na orla da floresta e ela olhou para o interior da mata e para mim, insegura. Apertei sua mão que estava enfaixada só para manter a impressão de que estava machucada, olhando diretamente em seus olhos.

– Confia em mim. Nada de mal irá te acontecer, pois eu vou estar com você.

Eu podia ver a insegurança em seus olhos, e seus lábios levemente entreabertos enquanto respirava. Senti vontade de beijá-la, porém eu não podia. Marie apertou a minha mão, respirando fundo.

– Fique perto de mim. – Pediu. Eu assenti sorrindo.

– Eu sempre estarei.

Abracei-a lateralmente e juntos começamos a andar para dentro da floresta, aos poucos deixando a civilização atrás de nós e adentrando naquela imensidão tranquila e calma. Podíamos ouvir passarinhos cantando nos galhos das árvores acima de nós, e a luz do sol adentava por entre as copas das árvores, iluminando a floresta com feixes de luz. As vezes, uma borboleta ou outra passava por nós ou algumas aves decolavam dos galhos – e quando isso acontecia, Marie Jean dava um pulo.

– Há algo de ameaçador nisso? – Perguntei com voz suave, mantendo minha mão em sua cintura, enquanto ela mantinha a dela na minha.

– Na verdade... Não.

– Viu? Eu disse! Vamos lá, estamos quase chegando.

– Ainda bem, meus pés estão começando a me matar.

Eu ri levemente e continuamos caminhando. Se eu tivesse que matá-la sozinho, eu escolheria este momento. Ninguém vem nessa floresta, estamos sozinhos e isolados. Porém eu não podia matá-la sozinho.

Chegamos à clareira e olhamos ao redor. Assim, em um dia ensolarado, ela estava magnífica. Tinha alguns arbustos floridos espalhados, grama baixa, o céu aberto acima de nós, alguns pássaros cantando... E a entrada escura da caverna. Comecei a andar em direção a ela, mas Marie estacou.

– O que foi? – Eu perguntei, virando para trás.

– Você quer mesmo entrar nessa caverna?

– Sim. É ela o nosso refúgio.

– Você só pode estar brincando...

– Não mesmo. Vem!

Puxei-a pela mão e ela veio um pouco relutante. Entramos na caverna e Marie Jean estava muito próxima de mim, insegura.

– Relaxe. – Eu sussurrei em seu ouvido. – É seguro. E eu estou com você.

Ela me olhou e sorriu, e continuamos andando. Ouvi um barulho atrás de mim, e só me deu tempo de virar e segurar Marie Jean em meus braços, com seu rosto a centímetros do meu. Suas mãos estavam fechadas diante de meu peito, seus lábios entreabertos e sua respiração acelerada batendo junto a minha face, e seus olhos grudados nos meus. Ficamos nos olhando e a vontade de beijá-la surgiu mais forte como nunca. Ela abriu as mãos e pousou-as no meu peito, empurrando-me gentilmente para trás, completamente vermelha e sem graça.

– Obrigada por me segurar. – Disse ela sorrindo de canto, distanciando-se. – Vamos continuar?

Eu apenas assenti, estendendo minha mão para que ela segurasse.


Marie Jean POV – Tarde de 18 de Março


Estava a centímetros dele, com meus olhos grudados nos dele e nossos lábios quase juntos. Bastava um dos dois inclinar-se e eles se tocariam; e essa ideia era realmente tentadora. Percebi que eu queria beijá-lo. Entretanto, eu não podia. Ethan era meu amigo e apenas isso. Somente isso.

Empurrei-o gentilmente para trás e me distanciei dele, mal acreditando que por alguns segundos eu quase o beijara. Continuamos andando por aquela caverna que agora eu já não achava mais assustadora, pois a presença de Ethan me acalmava, me dava coragem. Logo, chegamos em um espaço parecido com um salão e meu queixo caiu, pois estava bem arrumado com mesas e prateleiras cheias de vidros vazios ou com algo dentro, e alguns livros, vasos de plantas...

– Uau. Como você fez isso?

– Os móveis já estavam aqui, bem velhos, e com um feitiço eu os fiz novos. – Explicou. – As outras coisas eu trouxe fazendo algumas viagens. Não podia simplesmente trazer tudo flutuando ao meu lado.

– As pessoas iriam ver. – Eu supus.

– Não. Eu só ia ficar sem forças mesmo. – Respondeu. – Como seria muito peso, o feitiço sairia muito pesado para que eu fizesse sozinho, então minhas forças seriam esgotadas.

– Você não me disse que isso podia acontecer.

– Ah! Pode sim. Se você fizer um feitiço muito pesado sozinho, ou fazer vários feitiços considerados “peso médio” repetidamente, suas forças se esvaem. Os feitiços que fizemos anteontem são peso leve. Entretanto, se, por exemplo, eu e você fizermos um feitiço pesado juntos, ele irá nos custar o mesmo que um feitiço de peso médio. E um de peso leve fica sem peso algum.

– Entendi... – Eu disse, andando pelo salão, olhando as coisas nas prateleiras e nas mesas. Alguns potes de vidro transparente tinham um conteúdo meio estranho, líquidos coloridos, coisas esquisitas. – O que é isso tudo?

– São coisas necessárias para alguns feitiços complexos.

– Ah... – Larguei-me na cama de madeira. – Isso é demais.

Ethan se sentou ao meu lado.

– Eu sei. Fui eu que fiz.

Dei um tapa em seu ombro, e ele riu divertido. Pousei a cabeça em seu ombro, e meu olhar se perdeu em algum ponto da parede de pedra no outro lado.

– Isso continua inacreditável. – Comentei. – É tanta coisa...

– Eu sei. Mas você vai acabar acostumando.

– Que bom que você está comigo para me ajudar. Eu nunca saberia disso sozinha, já que minha mãe... Partiu.

Minha respiração falhou. Ainda me era difícil falar sobre minha mãe.

– Não fique assim. Eu estou aqui com você, e nada de mal irá te acontecer.

– Obrigada, Ethan. – Eu levantei a cabeça e olhei em seus olhos. Como sempre me acontecia, perdi-me na imensidão azul de seus olhos e por um momento esqueci-me de tudo. Ethan se inclinou levemente, aproximando-se, e eu desviei o olhar.

– Então, o que você vai me ensinar hoje? – Perguntei animada. Arrisquei olhá-lo. Ele parecia levemente decepcionado, mas logo se animou.

– A levitar pequenas coisas.

– Como, por exemplo? – Perguntei animadíssima. Ethan se levantou e pegou um pequeno frasco vazio, e voltou a se sentar, de frente para mim. Ele colocou o fraco na minha mão e sorriu.

– Você pode fazer isso de duas maneiras, como você já sabe. Vamos tentar dos dois jeitos, começando pela palavra. Quando estiver pronta, diga: hoc lenticulam levitate.

Respirei fundo e repeti as palavras, e imediatamente o frasco começou a subir no ar, levitando, subindo cada vez mais.

– Como eu faço para parar?

– Diga: ire ad mea manu.

Repeti as palavras e o objeto pousou delicadamente em minhas mãos. Eu sorria, impressionada com o que eu conseguia fazer.

– Agora, tente só com a sua mente. Pense apenas no objeto, imagine-o levitando.

Fiz o que ele pediu, e o objeto voltou para o ar, flutuando acima de nossas cabeças. Também pensando, fiz com que ele voltasse para minha mão.

– Ótimo!

Nós dois sorríamos, e ficamos ali por um bom tempo, tentando feitiços. Quando o crepúsculo chegou, retornamos para a civilização, e aquela floresta que antes parecia tão inofensiva, agora com o escuro e com as sombras, passou a me parecer hostil, perigosa. Aproximei-me mais de Ethan, inconscientemente. Ele riu.

– Com medo?

– Um pouco.

– Vou repetir: eu estou aqui para te proteger. Nada vai te acontecer. Prometo.

Eu sorri e me senti melhor, de repente. Continuamos andando até que saímos da floresta e adentramos na civilização. Caminhamos pelas ruas até que finalmente chegamos à nossa. As luzes da minha casa estavam apagadas, então presumi que não havia ninguém. Despedi-me de Ethan e caminhei calmamente até em casa, pegando no bolso o molho de chaves. Abri a porta e entrei, acendendo a luz da sala. Ouvi um ruído como algo caindo e parei instantaneamente.

Outro barulho – parecia ser alguém esbarrando em alguma coisa. Alguém estava dentro de casa. Permaneci em silêncio, olhando ao redor. Devagar, levei minha mão al bolso e tirei o estilete que eu sempre carregava comigo (medidas de segurança) e o abri, deixando a lâmina pronta para perfurar alguém. Tentando andar o mais silenciosamente possível, dei alguns passos vagarosamente, entrando na sala conjugada com a sala de jantar. Mais um barulho, parecendo algo caindo.

Adentrei na sala de estar, e nada havia ali. Estava tudo intacto. Senti um olhar sobre mim e me virei para a esquerda, em direção à sala de estar. O que eu vi deixou-me estática, incrédula e assustada. Minhas mãos amoleceram e o estilete foi ao chão.

A sala estava um caos. Parecia que um vendaval havia passado por ali e tirado tudo do lugar. Louças estavam quebradas no chão, a toalha de mesa pendurada nesta, com uma das pontas no chão; o vaso de flor estava quebrado, com a água espalhando-se pelo chão e as flores despetaladas. Na parede diante de mim, em letras trêmulas e escritas em algo em vermelho que escorria que julguei ser sangue, haviam duas palavras: “Jean, socorro!”.

Todavia, o mais assustador era de fato, minha mãe. Parada no meio daquele caos. Seus cabelos castanhos estavam desgrenhados, como se ela tivesse lutado violentamente; havia um corte em sua sobrancelha esquerda de onde escorria um fino filete de sangue; havia uma mordaça caída pendurada em seu pescoço, suas roupas sujas e amaçadas; e suas mãos, sujas do mesmo líquido vermelho que havia na parede.

– Jean... Jean... – Sussurrou ela, dando um passo em minha direção. Eu recuei um passo para trás. – Tome cuidado... Ajude-me... Traição... Socorro... Caçadores...

Ouvi o barulho de uma chave na porta e esta abrindo, alguém entrando e esta fechando. Olhei para o lado, assustada, amedrontada, e vi tia Denise colocado a bolsa em cima do sofá.

– Jean! O que houve? Por que essa cara?

Olhei para frente, mas a sala de jantar estava em perfeito estado. Organizada. Não havia nada escrito na parede e muito menos minha mãe parada ali. Nada.

– N-Nada. – Gaguejei em resposta. – Só pensei ter visto um rato enorme.

– Ah. Vou dedetizar a casa, então. Vou começar a preparar o jantar, tudo bem? Vá tomar um banho e quando estiver pronto, eu te chamo.

Assenti em concordância, peguei o estilete no chão e praticamente corri escadaria acima, atormentada. Estava eu virando esquizofrênica, ainda, ou estava sendo atormentada por fantasmas?

Entrei no meu quarto e me joguei na cama, olhando para o teto. As palavras que ela dissera não saíam de minha cabeça: “tome cuidado”, “socorro”, “traição”, “caçadores”... O que tudo isso queria dizer? Com o que eu devia ter cuidado? Com caçadores? Com uma traição? Ou melhor, onde traição, caçadores e socorro se encaixavam? Nada fazia sentido.

Assim como a grande maioria da minha vida.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?