Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 6
Orquídea


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo está minúsculo, me perdoem por isso! Os próximos já estão prontos e estão maiores do que esse! Ah, e por favor, me digam sempre o que estão achando da fic, tá? Caso contrário desanimo... Então, leiam... Quem sabe eu poste um mais tarde.



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Marie Jean POV – Tarde de 16 de Março


Não havia caído a ficha ainda. Parecia tudo muito irreal e inacreditável, era muito difícil de assimilar, porém aparentemente era a única explicação plausível. Era tudo muito confuso... Eu? Uma bruxa? Aliás... Minha mãe, uma bruxa? Meu pai que morreu quando eu tinha dois anos?

– No que você está pensando? – Perguntou ele, com a voz suave e tranquilizante.

– Eu sequer sei no que pensar...

– Deixe eu te mostrar uma coisa... Me dê a sua mão.

Estendi a mão boa para ele, que a virou de palma para cima, apoiada na mão dele. O toque da mão dele me deu pequenos choques elétricos que percorreram todo o meu corpo e eu esperava que ele não tivesse notado, ou sentido também.

– Qual a sua flor preferida? – Perguntou.

– Orquídeas.

Ele sorriu.

– Feche os olhos. – Eu os fechei. – Limpe a sua mente e respire fundo. Agora repita comigo, devagar: nascitur orchis.

Repetimos a frase em latim devagar, e em uníssono.

– Você não está com a mente limpa. Posso sentir isso. Relaxe, Jean. Respire fundo, abra os olhos e repita novamente comigo.

Respirei fundo e tentei limpar minha mente; abri os olhos e olhei nos azuis de Ethan e então minha mente realmente ficou limpa. Eu não conseguia pensar em mais nada, perdida naquela imensidão azul que eram seus olhos – sabe-se lá como eu consegui pronunciar as palavras. Senti um formigamento leve em minhas mãos e estas ficando um pouco mais quentes... Olhei para a palma de minha mão, que pousava sobre a de Ethan, e vi surgir um botão de flor, que se abriu lentamente revelando uma linda orquídea cor de rosa. Ethan sorriu, pegando a flor e afastando uma mecha de cabelo para trás da orelha e colocando a orquídea ali. Sorri levemente corada e mal acreditando no que acabávamos de fazer, juntos.

– Agora você vai fazer sozinha. Fique calma, pois se você estiver com os ânimos alterados e a mente turbulenta, o feitiço vai sair de proporções. Esse eu sei que você vai gostar... Pense no seu trecho preferido de um livro.

“Todas essas palavras, como ‘maldade’ e ‘nocivos’, não significam nada para a natureza. A maldade é uma invenção humana.”.

– De que livro é esse? – Perguntou ele, curioso.

– Amanhã, Quando a Guerra Começou.

– Ótimo... Agora respire fundo, pense somente nesse trecho e repita: verba adventum de page, nunc fugere in spatium.

Olhei nos olhos dele, tentando ao máximo focar no trecho do livro. Repeti as palavras, e logo uma luz branca fraca surgiu entre mim e Ethan, e as palavras do texto começaram a flutuar na luz, escritas com uma letra linda e uma voz que reconheci ser a minha, lendo. Observei aquilo maravilhada. A luz sumiu e Ethan sorria.

– Uau. – Eu estava boquiaberta. – Mas eu vou ter sempre que dizer essas palavras complicadas para fazer alguma coisa?

– Não. Muitas vezes, você faz seus feitiços só com a sua vontade, só com a sua mente. Observe.

Ethan olhou nos meus olhos, sério. Por um segundo, nada aconteceu. Entretanto, no segundo seguinte, a flor que estava em minha orelha flutuou sozinha até a palma aberta da mão dele. Sorri, e juntamente comigo, ele sorriu, voltando a colocar a flor atrás de minha orelha.

– Todas as coisas que você fez acontecer até agora são frutos das suas emoções. O livro que caiu e voltou flutuando até a estante, foi fruto do susto. A explosão do gerador do poste de luz, e o apagão, foram fruto do seu transtorno. E o Becker que explodiu, eu tenho certeza que é resultado da sua raiva daquelas garotas.

– Nem me fale daquelas garotas. – Eu disse repentinamente irritada. – Elas são tão esdrúxulas, mesquinhas, tão, tão...

– Insuportáveis e venenosas? – Perguntou ele. – Eu ouvi como falaram de você.

– Eu não liguei para o que pensaram de mim. Eu me importei com o que disseram... – Então eu parei de falar, tomando ciência do que eu estava prestes a dizer.

– De mim?

Eu nada respondi, apenas corei furiosamente. Ethan sorriu de canto.

– Você ficou com ciúmes de mim? – Perguntou ele, cruzando os braços.

– Claro que não! Por que ficaria?

– Oras, porque eu sou lindo, charmoso, sedutor, e elas estão apaixonadas pelos meus olhos e meu sotaque irlandês.

– Você é tão modesto, que nossa! – Eu disse irônica.

– Estou sendo verdadeiro! Se eu não fosse, porque Jasmin iria querer ver como eu sou por baixo dos lençóis?

– Me poupe Ethan! Vamos voltar ao assunto mais importante, por favor?

– Só porque você pediu com tanta educação, e porque sei que está com ciúme de mim.

Eu revirei os olhos, e ele apenas riu divertido.


Ethan Williams POV – Crepúsculo de 16 de Março


Agora que ela já tinha consciência de que era uma bruxa – só não tinha consciência de que era poderosa – eu precisava arrumar algum lugar escondido para que nós nos encontrássemos e eu pudesse ensiná-la algumas coisas. Havia uma floresta ali por perto que eu soube que ninguém ia por dizerem ser perigosa demais, tendo umas lendas a respeito de um assassino que se escondia no ventre da floresta; e para mim, parecia ser perfeita para que nós nos escondêssemos.

Parado diante das primeiras árvores na orla da floresta, ela sequer me parecia ameaçadora. Dei de ombros e caminhei floresta adentro certo de que encontraria uma clareira ou algo do tipo para que eu e ela pudéssemos nos refugiar lá. Odiava este fato de termos que nos esconder, porém, assim que exterminássemos todas as criaturas dessa espécie, viveríamos em paz. Eu sequer me dava conta de que em algum momento, eu também morreria. Afinal, eu sou um bruxo. Contraditório eu ser um bruxo caçador de bruxas, mas eu não havia outra escolha. Nunca houve e nunca haverá.

Tudo estava em completo silêncio, que apenas era cortado pelo piar de alguma coruja ao longe. Eu caminhava por entre as árvores, cuidando para não tropeçar nas raízes que sobressaíam a terra, desviando de galhos. A luz do sol que sumia a oeste entrava por entre a copa das árvores iluminando a mata ao meu redor fracamente, e eu sabia que logo começaria a escurecer definitivamente; entretanto, eu não sentia medo do escuro.

Caminhei initerruptamente perdendo a noção do tempo; a noite chegou e a penumbra engoliu a floresta, e me vi obrigado a acender uma luz. Murmurei “lux” e uma esfera luminosa surgiu na palma de minha mão, iluminando metros à minha frente e ao meu lado, possibilitando-me enxergar perfeitamente. Continuei caminhando, até que me deparei com uma clareira, na frente de um gigantesco paredão de rochas, cortado apenas por uma caverna. Intrigado e curioso atravessei a clareira e adentrei na caverna, sentindo um vento frio bater de encontro a meu corpo.

A caverna aparentemente não possuía fim. Nos cantos, haviam estalactites e estalagmites pontudas, algumas com teias de aranha. Caminhei e acabei encontrando uma área circular semelhante a um salão, e não havia saída alguma. Eu chegara ao fim da caverna. Ali, não haviam quase nenhuma estalactite ou estalagmite pontuda, mas que eu decidira retirá-las com um simples feitiço para que não me surgissem problemas mais tarde. O que mais me impressionou é o fato de ali haver duas mesas de madeira com aparência velha e podre, bancos, e umas prateleiras junto na parede. Pareciam tão antigas, cobertas de poeira, que pensei que se eu colocasse qualquer coisa ali em cimas, elas desabariam em pedaços. Aparentemente, a história do assassino era real. Com outro simples feitiço, as fiz ficarem novinhas em folha. Agora, eu e Marie Jean possuíamos um pequeno refúgio.

Depois de com outro feitiço – vou acabar sem forças dessa maneira – para fazer com que ninguém encontrasse aquele lugar, saí e voltei para a civilização, encontrando o caminho de volta com facilidade. Caminhei pelas ruas vazias aquele horário (deveria ser realmente tarde) e logo cheguei em casa. Fui até meu quarto, e antes de ir tomar um banho para dormir, olhei para a janela de Marie Jean: fechada, com as luzes acesas.

Pensar em Marie Jean fez lembrar-me de hoje mais cedo, quando o Becker explodiu. Havia uma razão e ela jurara não ser por causa das palavras ofensivas que disseram dela, e sim pelo o que disseram de mim. Estaria ela com ciúmes de mim?

Não haveria razão para tal, de fato. Eu estava livre e desimpedido, podendo ter qualquer garota que eu quisesse – ou não todas que eu quisesse – mas até agora, eu não havia olhado com outros olhos para nenhuma além de Marie Jean. Aquela garota era... Intrigante. Fazia-me querer tê-la a qualquer custo. Eu conseguia imaginar-me perfeitamente possuindo-a. E o mais interessante, é que eu podia tentar ter algo com ela. Não haveria mal algum – para mim – em fazer isso, certo? Afinal, Marie Jean morreria.

Eu seria sua perdição, enquanto ela imaginaria que eu seria sua salvação.

Eu seria seu demônio, enquanto ela imaginaria que eu seria seu anjo.

Eu seria o responsável por sua morte.



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Notas finais do capítulo

O que me dizem?