Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 8
Insônia


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde amores! Tudo bem com vocês? Trouxe esse capítulo hoje porque amanhã não vou atualizar e provavelmente nem segunda... Mas, esquecendo isso, vamos ao capítulo! Espero que gostem.



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Ethan Williams POV – 25 de Março


Eu estou me perdendo. Não quero admitir, mas estou me perdendo. Perdendo-me na minha vontade de beijar Marie Jean, de tê-la só para mim. Não, isso não é paixão. É apenas um desejo maluco e desenfreado. Eu não posso ter sentimentos. Fui criado para não ter sentimento algum.

Estávamos juntos na caverna, mais uma vez. Ela ouvia atentamente tudo o que eu tinha a dizê-la sobre magia e tudo o mais, e decidira tentar algo... Diferente.

Um feitiço da verdade.

– Vamos tentar algo diferente.

– O quê? – Perguntou ela, enquanto eu pegava duas velas e uma flor arroxeada dentro de um frasco.

– Um feitiço da verdade.

– C-Como assim?

– Um feitiço onde tudo o que eu perguntar, você vai se ver obrigada a responder.

– Por quanto tempo? – Eu notei em sua voz que ela estava nervosa.

– Alguns minutos. Não se preocupe, não irá ficar sequelas e você vai ter sua consciência sã enquanto isso, só não vai ter controle sobre suas palavras.

– Só? – Perguntou irônica enquanto eu me sentava no chão, apontando o espaço a minha frente para ela.

– Só.

Coloquei as duas velas no espaço que havia entre nós.

– Com medo das minhas perguntas, Marie Jean? – Perguntei sorrindo de canto.

– Não.

Sorri olhando-a desconfiado. Acendi as velas que estavam dispostas entre nós e olhei-a.

– Eu vou queimar essa flor, e você vai inalar a fumaça, enquanto eu vou dizer as palavras. Não desvie dos meus olhos. Pronta?

Jean assentiu. Levei a pequena flor à uma das velas e deixei perto do nariz dela.

Dic mihi quae maxime ex imo corde mendacium ex ore vestro non erit. – Eu disse, olhando-a nos olhos. As íris castanhas de Marie Jean brilharam roseadas por um segundo, e eu soube que ela já estava sofrendo os efeitos do feitiço. Eu sorri.

– Qual seu nome completo? – Resolvi começar com pergunta simples, para não assustá-la.

– Marie Jean Lookwood.

– Você está com medo das minhas perguntas?

– Não das perguntas. – Respondeu. – E sim das minhas respostas.

– Alguma pergunta poderia lhe ser comprometedora?

– Poderia.

– E qual seria?

– Qualquer uma relacionada a nós dois.

Eu ergui as sobrancelhas, vendo que aquilo estava indo na direção que eu desejava.

– Você sente ciúmes de mim?

– Muito.

Marie Jean arregalou os olhos e ficou vermelha, e eu sabia que por dentro, ela estava lutando contra si mesma para quebrar o feitiço; o que era possível, se ela soubesse como fazê-lo.

– Você já nos imaginou sendo mais do que amigos?

– Já.

– E a sua imaginação lhe agradou?

– Mais do que eu achei que devesse.

Eu sorri. Estava tudo de acordo com o planejado. Minha caça estava em minhas mãos.

– O que você realmente sente por mim?

– Ultimamente venho achando que eu estou apaixonada por você.

Realmente. Eu a tinha na palma da minha mão, tão vulnerável, frágil, pronta para que eu pudesse fazer o que eu pretendesse com ela. Pronta para entregar seu coração em minhas mãos e eu pudesse destruí-lo.

A ideia de destruí-lo, entretanto, não me parecia tão tentadora como antes.

Sacudi a cabeça tentando sacudir os pensamentos para longe. Foco, Williams. Você não tem sentimentos. Você não se importa com a garota. Você só a deseja. Puramente carnal.

– E você acha que o sentimento é recíproco?

– Não.

– Se eu te pedisse um beijo, você negaria?

– Não.

– Mesmo duvidando da reciprocidade sentimental?

– Exatamente.

As íris de seus olhos brilharam novamente, e então Marie Jean não estava mais sobre o efeito de meu feitiço. Ela já tinha controle sobre suas palavras. Todavia eu já tinha conseguido tudo o que eu precisava saber, por hora. Absoluta era a minha certeza de que eu a tinha, e que, se eu fizesse algo, ela seria minha para sempre. Se bem que o para sempre dela não duraria muito.

Olhamo-nos em silêncio. Eu quase conseguia ver as engrenagens de seu cérebro trabalhando para entender o motivo daquelas perguntas. Decidi responder antes que perguntasse.

Eu a beijei.

De início ela não correspondeu, surpresa demais para ter alguma atitude. Mesmo estando com meus olhos fechados, eu sabia que ela estava com os dela abertos, antes de fechá-los e amolecer em meus braços. Puxei-a para mim, derrubando as velas, que apagaram. Pedi permissão para aprofundar o beijo e ela cedeu. Nossas línguas dançavam juntamente, travando uma guerra vagarosa. Uma de minhas mãos repousava em sua face, enquanto ela já havia enlaçado meu pescoço com seus braços finos e com suas mãos bagunçava meus cabelos. Eu estava começando a satisfazer meus desejos.

O ar se fez necessário e nós nos distanciamos. Abri os olhos e ela ainda não havia aberto os dela. Quando abriu, ela me olhou com os olhos arregalados, e se levantou, transtornada, antes de sair correndo caverna afora. Garotas... Complicando o que é tão simples.

Levantei-me e saí atrás dela, temendo que ela se perdesse na floresta. Eu não podia perdê-la de vista um segundo, sendo que em qualquer hora poderá surgir outro caçador procurando-a. Nenhum outro poderia tê-la.

Marie Jean era minha presa, já enrolada nas minhas redes, presa na minha jaula.


Marie Jean POV – Entardecer de 25 de Março


Não posso acreditar no que estava acontecendo. Ethan havia me beijado, depois de ter-me feito responder perguntas que eu recusara a responder a mim mesma. Perguntas sobre nós dois. Angustiante fora ouvir aquelas palavras saindo de minha boca e eu sequer poder controlá-las, sendo que deveriam ser um segredo, algo particular meu. Era confuso, nem eu sabia que eu estava apaixonada por ele. E como não ficar? Aqueles olhos azuis, aqueles cabelos loiros bagunçados, aquele sorriso estonteante, aquela voz, aquela pessoa extraordinária que ele é por dentro... Havia alguma coisa nele que me atraía até ele, puxava-me. Como polos contrários que se atraem, como uma força gravitacional. Eu não podia controlar.

E então, eu fugi.

Corri desabalada para fora da caverna, adentrando na floresta em direção a civilização. Eu somente precisava correr em linha reta, e chegaria lá. Queria eu que ele não estivesse me seguindo, mas ele estava.

– JEAN! ESPERE! – Gritou ele atrás de mim.

Por que eu estou fugindo mesmo? É mais uma de várias perguntas que não sei responder. Fugir era um verbo que se tornara comum na minha rotina: fugir da realidade comum; fugir da sanidade; fugir dos meus sentimentos. E agora, fugir de Ethan, mas, todavia, uma parte de mim queria dar meia volta e retornar aos seus braços. Assustador era o fato de que essa parte era imensa. Mais do que eu tivera consciência. Eu tinha medo de admitir isso, de entregar-me, deixar com que essa parte tomasse conta.

Ou talvez, ela já tivesse tomado conta.

– JEAN! POR FAVOR, ESPERE! – Gritou ele novamente. Meus pulmões gritaram de cansaço, minha garganta ardia seca e meu coração estava descompassado. Minhas pernas já fracas de tanto correr – e eu ainda estava dentro da floresta, sem nenhum sinal de civilização. Parei, olhando as árvores à minha frente, sem virar-me para trás. Ouvi Ethan se aproximando, quebrando folhas e galhos secos sob seus pés e respirando pesadamente, cada vez mais próximo, até sua mão tocar meu braço.

– Por favor... – Arfou. – Olha para mim.

Sua mão apertou meu braço gentilmente, fazendo-me virar para ele mesmo que um pouco relutantemente de minha parte. Totalmente de frente para ele, não olhei para seus olhos – minha perdição – e encarei o chão.

– Pedi que olhasse para mim. – Disse ele, com voz suave, segurando meu queixo e levantando meu rosto para cima – para os olhos dele. – Eu não vou machucar você.

– Eu sei que não. – Peguei-me respondendo. Ele sorriu.

– Então por que está fugindo?

Não tive palavras para responder. Retomei a pergunta que estava fazendo a mim mesma: por que estou fugindo? Para quê?

Olhei em seus olhos e tentei manter minha consciência que no momento não estava muito sã, para não perder-me de vez. Meu coração batia desesperadamente forte dentro do meu peito, e talvez Ethan estivesse conseguindo ouvi-lo.

– E-Eu não sei, Ethan. Isso não parece certo.

– Fugir não parece certo? Concordo.

– N-Não! N-Nós dois... – Senti ódio de mim mesma por nem ao menos conseguir falar sem gaguejar e demonstrar mais ainda meu nervosismo. – Juntos.

– E por que não?

– P-Porque... Você é meu melhor amigo, nós somos amigos... Pode estragar a nossa amizade...

– Fugindo desta forma, você a estragaria. Eu quero você, Marie Jean. Quero-te mais do que devo. Quero-te para mim, e somente para mim. Quero que você seja minha.

Sua voz me arrepiou, enquanto uma voz dentro de mim respondia que também queria ser dele. Era como se já esperasse por isso, como se já soubesse disso, menos eu mesma. E isso não faz muito sentido.

Puxei-o para mim e o beijei, desesperadamente. Eu estava inconsciente dos meus atos, entretanto, eu estava me sentindo melhor que nunca. Seus braços envolveram minha cintura, colando meu corpo no dele; minhas mãos foram brincar com seus cabelos e sua nuca. Nossos lábios encaixavam-se no melhor beijo que eu já havia beijado; parecia que nossos lábios foram feitos para encaixarem-se um no outro. Nossa sincronia era perfeita, em um beijo que começara desesperado e tornara-se lento, sem pressa.

O ar se fez necessário e nós nos distanciamos brevemente – Ethan não deixou com que eu me afastasse demais.

– Vou levar isso como um “eu quero ser sua”.

E sorriu malandro, antes de me beijar novamente, prensando-me contra uma árvore.


Ethan Williams POV – Madrugada de 26 de Março


Maldita insônia.

Não consigo dormir e ela ainda fica vagueando na minha cabeça. Pensei que quando eu a tivesse em minhas mãos, eu me sentiria de outra forma. Na verdade, eu sequer sei o que estou sentindo. Eu fui criado para que eu não tivesse sentimentos. Eu não posso ter sentimentos.

Então, o que é isso que me corrói?

Quando eu a beijei me senti aquela sensação psicótica, aquela alegria demoníaca pela minha caça ter caído na minha armadilha e estar completamente rendida a mim. Por eu tê-la. Logo em seguida pensei que o coração que senti que ela deixava em minhas mãos seria despedaçado, rasgado, quebrado em vários pedaços logo, deixou-me... Triste? Com remorso?

Eu nunca senti tristeza ou remorso antes. Nunca soube o que é. E por qual motivo estaria triste ou com remorso? Marie Jean é só mais uma garota que vou ajudar a matar. Mais uma garota cujo sangue estará em minhas mãos. A única diferença dos outros casos é que agora, as peças principais do jogo sou eu e ela. Sou eu quem vai determinar seu xeque-mate.

Levantei da cama bufando, irritado comigo mesmo. Saí do quarto e andei pela casa escura até chegar à cozinha. Fui até o armário e o abri com certa violência, encontrando a garrafa de Johnnie Walker que eu procurava. Peguei um copo qualquer (não que eu tivesse muitos naquela casa) e me sentei no balcão, colocando uma dose da bebida no copo e tomando-o de uma só vez, puro. O líquido desceu ardendo pela minha garganta, e eu sacudi levemente a cabeça, apreciando o sabor e a sensação. Mais uma dose. Provavelmente eu teria uma forte ressaca no dia seguinte. Outra dose.

Mas nem o meu amigo Johnnie Walker fora capaz de tirar aquela confusão da minha mente. Nem do meu coração, se é que eu tenho algum.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Me digam tudo, hein?