Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 4
Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde amores! Estão gostando da história? Sei que ainda não está lá aquelas coisas mas prometo tentar melhorá-la! Afinal, ela é muito diferente do que eu estava acostumada a escrever, é um desafio para mim... Então! Espero que gostem.



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Marie Jean POV – Algum dia entre 29 de Fevereiro e 15 de Março


Pesadelos vinham me perseguindo a cada noite, e eu os guardava para mim. Eu tinha receios em adormecer e voltar a sonhar com minha mãe sendo queimada dentro de casa, gritando pelo meu nome, chamando-me e eu não podendo ajudá-la. De sonhar que estou em uma floresta escura e sombria, fugindo de algo que me persegue enquanto perco-me cada vez mais naquela escuridão. Havia noites em que eu passava mais tempo acordada após os pesadelos, do que dormindo.

Acordei sobressaltada durante a madrugada, sentindo meu coração palpitando forte dentro de meu peito e a minha respiração descompassada. Senti-me sendo vigiada, e isso me perturbou. Sentei na cama e olhei o quarto ao meu redor, escuro, porém visível pelo fato de meus olhos terem se acostumado com a penumbra. Passei o olhar pelo guarda roupa, pela escrivaninha, pela porta e pelo espelho... Algo me fez voltar a atenção para o espelho, e eu quase tive um ataque cardíaco.

Minha mãe, no meu espelho.

Ela se debatia freneticamente, amordaçada, com lágrimas a caírem dos seus olhos e seus cabelos bagunçadíssimos, o desespero presente em seu olhar. Virei-me e acendi o abajur ao lado da cama e voltei a olhar para o espelho. Nada. Não havia completamente nada. Apenas a imagem de uma adolescente de dezesseis anos sentada em uma cama e completamente transtornada. Sacudi a cabeça, desliguei a luz e deitei, tentando voltar a dormir.

Na manhã seguinte, fui normalmente para a escola. Ignorei a tudo e a todos, com apenas três exceções: Lisa, Peter e Ethan. Eles eram os únicos que não haviam me excluído ou algo semelhante. Ethan e eu estávamos bem próximos, e como ele é bonito (ninguém é capaz de dizer o contrário), as garotas da minha turma caíam aos pés dele. Ofereciam-se. Ah, e me odiavam também. Não ligo para isso, desde que eu tenha os meus amigos por perto. Fim da história.

Eu estava na biblioteca, sozinha. Ethan tinha ido a algum lugar e já retornava para fazer-me companhia no nosso refúgio solitário e silencioso. Eu procurava um livro, e acidentalmente, esbarrei em uma prateleira e um livro caiu atrás de mim. O ruído ecoou por todo o andar vazio da biblioteca, irritando-me. Imediatamente quis que o barulho cessasse e que o livro não tivesse caído e me dado um susto. Quando olho para o chão, a procura do livro, ele não está mais lá. Está na prateleira, no seu lugar. Ok, isto é estranho. Eu não posso estar delirando, posso? O livro realmente caiu, não foi?

Respirei fundo e voltei a procurar o livro que eu queria, para que eu pudesse fazer o dever de biologia. Logo, Ethan estava de volta e eu me esqueci do meu delírio sobre o livro. Ou era real?


Ethan Williams POV – Anoitecer de 15 de Março.


Entrei no meu quarto naquela casa vazia. Eu estava sozinho. Eu era alguém sozinho. Eu estava acostumado a isso. Eu crescera sozinho, e provavelmente seria alguém sozinho para o resto da minha vida. O que eu sou não me possibilita ser alguém diferente, ter um futuro diferente. Do que eu estou reclamando? Tudo isso que eu estou dizendo está soando muito gay.

A janela estava aberta e eu podia vê-la andando de um lado para o outro, completamente transtornada. Fiquei-a olhando, somente, enquanto pensava a respeito de tudo. Para ela, éramos amigos. Para mim, ela era a caça, eu o caçador. Para mim, ela era só mais uma bruxa que eu iria ajudar a matar. Quem sabe eu possa ter mais do que diversão enganando-a... Eu posso me aproveitar dela. Dessa aparente ingenuidade. É, realmente. É uma ideia realmente tentadora – e nesse caso eu posso ceder a tentações. Afinal, quem não se sentiria tentado olhando-a?

Marie Jean era simplesmente uma garota incrivelmente tentadora. Exalava sensualidade sem querer, sem imaginar. Posso imaginá-la abaixo de mim gemendo meu nome. Posso imaginar-me tornando-a mulher. Consigo imaginar perfeitamente sua expressão diante de tudo o que eu posso lhe causar. Será que por trás dessa pele de cordeiro existe uma leoa indomável?

Cara, que pensamentos escrotos!” pensei, sacudindo a cabeça negativamente enquanto um sorrisinho de canto surgia no meu rosto. No entanto, a minha imaginação extremamente fértil continuava com esses pensamentos indignos.


Marie Jean POV – Anoitecer de 15 de Março.


Eu estou explodindo. Preciso colocar para fora tudo isso. Não aguento mais manter tudo dentro de mim e fingir que está tudo bem. Nada está bem. Nada.

Já não me bastasse todas as desventuras que começaram a acontecer em minha vida, pesadelos me perseguem todas as noites e não me deixam em paz; e agora, talvez eu esteja enlouquecendo. Virando esquizofrênica. Coisas estranhas acontecem comigo e não parecem ser reais, mas ao mesmo tempo em que irreais não são. E o pior de tudo, parece ser minha culpa, parece que fui eu quem provocou tudo aquilo.

E para quem eu vou contar tudo isto? Ninguém acreditaria em mim. Ninguém em sã consciência, pelo menos. Folhas de papel já não me bastam mais. E como eu disse, eu estou explodindo.

Parei minha marcha ininterrupta pelo quarto quando senti lágrimas arderem em meus olhos. Sentia-me violada. Minha paz interior fora violada. Minha vida ilusoriamente perfeita e feliz fora violada, corrompida, destruída e não me restara mais nada. Minha sanidade parecia estar indo pelos ares juntamente com o que me restava de paz e tranquilidade. Sem que eu notasse, minhas lágrimas salgadas e ácidas escorriam pela minha face, enquanto minha alma cheia de sofrimento começava a transbordar e aliviar-se nem que seja por pouco tempo. O que eu estou certa de que será.

Meus soluços ecoam por esse quarto vazio, cada vez mais alto. Meu coração acelerou bruscamente e doía. Gritei.

A luz começou a piscar. Uma vez, duas vezes. Meus soluços estavam mais altos. Gritei novamente. A luz voltou a piscar e mais rápido. Acompanhando seu ritmo, minhas lágrimas fluíam para fora dos meus olhos. Ouço uma explosão, e a luz definitivamente se vai, comigo permanecendo na penumbra daquele quarto que eu sequer podia chamar de meu.

Senti-me leve repentinamente. Calma. Sequei as lágrimas nas costas das mãos e me levantei do chão, onde sequer havia notado que tinha ido parar.

– Marie Jean? – Chamou minha tia de algum lugar da casa. – Está tudo bem?

– Está sim! Só me assustei com o apagão!

– Acho que o gerador deu curto circuito. – Respondeu sua voz agora mais perto. – Vamos ter que ficar na luz de vela por algum tempo, creio eu.

– Não tem problema. Não tenho medo do escuro. – Eu respondi, indo até a porta do quarto e apalpando as cegas em busca da maçaneta. Encontrei-a e abri a porta, achando minha tia vindo pelo corredor com uma lanterna em mãos.

– Acho que vou lá fora, tomar um ar. – Eu disse. Minha tia assentiu e ficou iluminando a escada para que eu não caísse. Passei pela sala, abri a porta e o vento levemente fresco bateu de encontro ao meu corpo. Sentei no primeiro dos degraus da varanda e ali fiquei, sentindo o vento fresco e olhando para o céu que começava a ficar estrelado. A escuridão da rua possibilitava-me vê-lo com clareza, e isso era ótimo.

– Ei. Está tudo bem? – Uma voz grossa e conhecida perguntou a minha direita. Virei-me e encontrei Ethan parado do outro lado da cerca de madeira.

– Está. – Eu respondi. Ele se apoiou na cerca e em um salto, pulou-a, e andou até mim, sentando-se ao meu lado na escada.

– Pois não parece. – Retrucou. Olhei nos olhos dele, tão azuis. Mesmo naquela penumbra, eu conseguia enxergá-los perfeitamente como se fossem dois pontos de luz, um farol naquele início de noite.

– Só estou cansada.

– De quê?

– De tudo.

Ficamos em silêncio nos olhando, e ele parecia tentar me decifrar com o olhar. Tarefa impossível, se nem eu me decifrava direito. Por fim, ele quebrou o silêncio.

– Tem alguma coisa que você queira me contar? – Perguntou. – Você sabe que pode confiar em mim.

– Não, Ethan, não tem nada não. Não precisa se preocupar.

Mentira. Mentira que eu repetia todos os dias e rezava para que todos acreditassem – todavia Ethan nunca parecia acreditar. Sempre parecia estar desconfiando de alguma coisa, sabendo de alguma coisa. Assim como sempre parecia esconder algo dentro de seu olhar, mas assim como a maioria das coisas atualmente, eu pensava que era paranoia minha.

Repentinamente, ele me abraçou. Abraçou forte e eu cedi ao seu abraço, sentindo o perfume tranquilizante dele adentrar em minhas narinas e aos poucos acalmando meu organismo agitado. A minha alma não estava reagindo da mesma maneira – toda a tranquilidade que ele conseguia proporcionar com seus abraços e seu perfume, seus sorrisos e seus olhares, estava indo embora. As lágrimas voltaram aos meus olhos e quando dei por mim já estava molhando sua camisa, e ele sequer dizia nada.

– Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa. Não adianta esconder de mim. Não te conheço há muito tempo, mas te conheço melhor do que muitos. Agora diga-me o que foi.

– Não posso. – Eu disse, tentando soar firme, com a voz abafada no peito dele.

– Tente.

– Você me acharia uma louca.

– Entenda: eu já te acho uma louca e esquisita. Mas eu gosto de você assim.

– Não, Ethan. É diferente. – Eu disse, me distanciando dele, e secando as lágrimas com as mãos.

– Pois tente me contar.

– Vamos lá para o meu quarto. Aqui na rua qualquer um pode ouvir.

Puxei-o pela mão e o levei até o meu quarto. A luz já havia voltado, e isso era bom. Assim que entramos, fechei a porta e a trancafiei com a chave. Fiz sinal para que ele se sentasse na cama, e ele o fez. Sentei-me diante dele, em silêncio, pensando em como começar. Ethan apenas me olhava com curiosidade brilhando em seus olhos. Respirei fundo, e comecei a falar. Ele apenas me ouviu quieto enquanto eu contava tudo e todos os detalhes. Quando terminei, ele voltou a me abraçar.

– Você não está louca. – Ele disse. – Não está.

– Como você pode ter certeza?

– Eu...

Alguém bateu na porta. Me distanciei dele rapidamente e fui até lá, abrindo-a e encontrando tia Denise parada diante da porta. Assim que viu Ethan, ela ficou completamente sem jeito, mas disfarçou.

– Estou indo ao mercado, e ia te chamar para vir junto. Mas pelo visto, você não vai querer.

– É...

– Vou indo. Juízo, meninos.

Ela saiu e eu voltei a fechar a porta. Arregalei os olhos por um segundo, e soltei o ar. Ethan sorriu em um misto de diversão e malícia – ele certamente sabia o que havia se passado pela cabeça de minha tia. Voltei a sentar na cama e logo começamos a conversar sobre tudo, e ao mesmo tempo, sobre nada.


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Notas finais do capítulo

O que me dizem?