Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 15
Promessa


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde amores! Tudo bem com vocês? Espero que sim... Então, cá está o capítulo tão aguardado por vocês. Espero que gostem!



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Marie Jean POV – Noite de 10 de Abril.


Fui jogada no chão e senti um peso sobre mim. Quando minha visão se focou, vi uma garota de cabelos ruivos cor de sangue com uma faca em mãos, tentando me apunhalar. Eu segurava seus pulsos e tentava fazer com que ficassem bem longe de mim. Chutei sua barriga e ela rolou de cima de mim, caindo no chão. Levantei e comecei a correr, mas algo me impediu antes que eu chegasse à porta da frente, fazendo-me cair novamente: era meu tapete, enrolado no meu tornozelo. A garota veio correndo atrás de mim, jogando-se acima de mim e tentando me acertar com a faca novamente. Desesperada, quis que ela saísse de cima de mim.

A garota saiu voando e bateu com força na parede, caindo por cima de uma mesinha que quebrou com seu peso, e nem assim largou a faca; eu pude ver seu rosto.

– Virgínia?! – Exclamei. Era minha colega de classe. Vendo-me sem saída, comecei a subir as escadas, e a garota segurou meu pé direito. Desabei na escada, batendo com a testa em um dos degraus. Gritei mais uma vez durante a queda. Debati-me, enquanto ela me puxava para baixo. Quis que ela me soltasse, mas desta vez nada aconteceu. Virgínia provavelmente era uma bruxa, também, e controlava-se para não ser afetada por mim. Virei-me de barriga para cima, ainda me debatendo, e chutei a barriga dela. Ela caiu, batendo com a cabeça na parede e rasgando o papel de parede com a faca; aproveitei o ensejo da fraqueza dela para pular por cima do corrimão da escada e tentar fugir pela porta dos fundos. Entretanto, Virgínia não parecia deixar-se afetar pelas minhas tentativas violentas.

Eu ainda estava no corredor quando ela me alcançou e me fez cair novamente, e eu comecei a gritar desesperada por socorro, na esperança de que alguém me ouvisse. Não parei de me debater um segundo, tentando tirá-la de cima de mim, tentando fugir da morte. Senti uma pancada na cabeça que me deixou zonza e com a vista embaçada, e, ainda me debatendo – porém com menos força – me virei de barriga para cima.

– Você poderia parar um pouco e me deixar matá-la, não é? – Sussurrou Virgínia, agressivamente. – Assim fica mais fácil roubar seus poderes.

Um estrondo se fez presente e em seguida barulho de passos. Virgínia deu um golpe em meu peito, rasgando minha pele de lado a lado, antes de sair de cima de mim. O ferimento ardia e comecei a gritar de dor com o que me sobrava de forças, e braços me seguraram firme e delicadamente, e soube que estava em boas mãos. Uma voz grossa gritou “vão atrás dela!” e eu consegui distinguir um borrão loiro acima de mim.

– Ethan? – Tentei dizer, mas minha voz saiu um gemido fraco.


Ethan Williams POV – Noite de 10 de Abril.


– VÃO ATRÁS DELA! – Gritei para Fred e Andrew que estavam atrás de mim. Ouvimos os gritos de Marie Jean e viemos correndo, para encontrar a casa em um caos completo e a ruiva de nossa turma tentando matá-la. Os dois saíram correndo atrás da ruiva que saía pela porta dos fundos da casa, e eu corri até Marie. Seus cabelos castanhos estavam grudados na cabeça, molhados por sangue que escorria de dois cortes: um em sua testa, e outro no topo da cabeça. Seus olhos estavam desfocados e ela respirava com dificuldade. Um corte atravessava seu peito, jorrando sangue. Minhas mãos imediatamente ficaram encharcadas pelo líquido quente e vermelho. Desesperado, eu não conseguia pensar direito.

– Ethan? – Perguntou em um gemido fraco. – É você?

– Sim, meu amor, sou eu. – Encontrei voz para responder, e sequer me dei conta que era a primeira vez que eu a chamava de meu amor. – Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.

– Não me deixe morrer, Ethan, não quero morrer, não me deixe... – Gemia ela, com lágrimas saindo de seus olhos. Meu coração se apertou dolorosamente, e meus olhos se encheram de lágrimas também.

– Você não vai morrer, meu amor, você não vai.

– Por favor, Ethan, não me deixe... Morrer... – Sua voz ficava cada vez mais fraca, e ela respirava com dificuldade. Respirei fundo, tentando encontrar a calma que há tanto eu já havia perdido, e pousei minha mão sobre o talho em seu peito.

Curare. Curare. Curare. – Eu repetia freneticamente, focalizando meu pensamento em curá-la, salvá-la. – Curare. Curare.

O talho fundo em seu peito começou a se fechar, parando aos poucos de sangrar enquanto eu repetia cada vez mais a palavra em latim. Aquilo iria acabar com as minhas forças, mas eu não podia perder Marie Jean. Eu poderia ficar fraco, desde que ela ficasse forte. Eu mal conseguia pronunciar as palavras devido as minhas lágrimas, os meus soluços, de tanto desespero. Mesmo mal pronunciadas, elas estavam fazendo efeito. Logo, restava apenas uma feia cicatriz.

Olhei o rosto de Marie Jean, manchado de sangue, pálido. Seu olhar ainda estava desfocado, mas ela já estava um pouco mais corada. Levei minha mão ao seu rosto, acariciando-o, enquanto eu não conseguia parar de chorar. Afaguei-o sem me importar se minhas mãos estavam sujas de seu sangue. Naquele momento, com meu coração apertado dolorosamente de desespero, de dor, eu soube. Eu soube o que era aquilo que eu sentia e tentava evitar, tentava esconder. Eu soube a minha maior verdade.

Eu amava Marie Jean.

Eu a amava. Amor. Palavra tão impossível para mim, e fui encontrá-lo logo com ela, logo com a garota que eu menos poderia amar. A garota que agora desfalecia em meus braços, e eu tentava desesperadamente salvá-la quando na verdade, eu deveria matá-la. Agora eu sabia que eu não poderia matá-la. Eu não conseguiria. Se eu a matasse, me mataria junto. Ela levaria consigo grande parte de mim.

– Eu amo você, Marie. – Peguei-me dizendo, enquanto puxava-a para mais perto de mim e a apertava junto de meu corpo, sentindo minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. – Por favor, não morra, não morra, fique comigo. Por favor, Marie.

Senti uma mão tocar meu rosto, e percebi que era a dela.

– Ethan... Eu... Amo você. – Disse ela, arfando com dificuldade.

Afastei-me um pouco e olhei-a nos olhos. Ela já estava mais corada, mas os cortes em sua cabeça ainda sangravam. Pousei minha mão sobre eles e voltei a repetir o feitiço de cura, mesmo já sem muitas forças. Entretanto, os feitiços funcionaram, curando aquelas feridas. Senti-me fraco, trêmulo, sem força alguma. Encostei-me na parede sem tirá-la de meu colo. Eu necessitava tê-la perto de mim. Olhei-a mais uma vez, com as minhas lágrimas cessando. Lentamente, sua pele voltava a ter cor, mas Marie estava inconsciente.

– Ethan! – Exclamou alguém. Olhei para cima, para os fundos da casa, aonde vinha Andrew. – Vocês estão bem?

– Ela vai ficar bem, ela precisa ficar bem. – Eu disse, dementemente. – Marie tem que ficar bem.

– Ela vai, Ethan, ela vai. – Disse ele com voz tranquilizante. – Deixe-me levá-la até a cama dela.

– Não! Eu levo.

– Você não está em condições, Ethan. Deixe-me levá-la e você vem atrás de mim.

Andrew pegou Marie nos braços, levantando-a facilmente. Levantei-me e fui atrás dele, trêmulo e cambaleando. Subimos as escadas e fomos até o quarto dela, onde Andrew depositou-a delicadamente na cama e eu sentei ao lado dela, olhando-a.

– Onde está Fred? – Perguntei.

– Cuidando de Virgínia. – Disse ele, friamente, com um brilho psicótico no olhar. – Ela não vai mais aparecer no colégio a partir de hoje. E nem em lugar algum.

– Ótimo. – Respondi. – Precisamos cuidar de Marie Jean.

– Quem está precisando de mais cuidados aqui é você, cara. A Jean vai ficar bem graças a você. Mas você precisa se cuidar. Deita aí que eu vou achar um kit de primeiros socorros para cuidar dela, e você fica aí recuperando suas forças.

Deitei-me ao lado de Marie enquanto Andrew saía do quarto. Fiquei olhando-a. A cicatriz em seu peito era horrenda e enorme, suas roupas estavam completamente manchadas de sangue. Seu peito subia e descia lentamente enquanto respirava com aparente dificuldade. Seus cabelos estavam besuntados do líquido vermelho e pegajoso. Mas seu semblante... Estava tranquilo.

Andrew voltou a aparecer e desta vez Fred estava com ele. O moreno trazia nas mãos uma caixa branca e o outro possuía um olhar maníaco, cheio de ódio, e suas mãos estavam com poucos resquícios de sangue e terra. O olhar de Fred mudou para pura preocupação quando viu a mim e Marie ali. Andrew abriu a caixa e pegou algodão e água, começando a limpar delicadamente o sangue na cabeça e rosto de Marie, enquanto Fred sentava do meu lado da cama, observando. Minhas pálpebras pesaram, minhas vistas ficaram escuras e eu desmaiei vencido pela fraqueza.


Marie Jean POV – Início da Tarde de 11 de Abril.


Abri meus olhos lentamente. Tentei me levantar e senti o mundo girar ao meu redor, enquanto algo ardia em meu peito, de lado a lado. Larguei-me na cama novamente, transtornada e me sentindo perdida. E de repente, eu lembrei. Lembrei-me de ser atacada por Virgínia, de tentar fugir, cair na escada e ser esfaqueada. Meu peito. Era isso que doía. Flashes passavam pela minha mente, aterrorizando-me novamente.

Ethan.

Ele estava lá. Ele me salvara. Curara-me. Pedira-me para não abandoná-lo, para não morrer. E disse em alto e bom som: “Eu te amo”. Foi a primeira vez que ele me disse aquilo. Sorri ao lembrar-me daquilo, mas parecia que até sorrir era dolorido. Arfei.

– Marie? – Perguntou uma voz doce em algum lugar. Era a voz dele. – Você está acordada?

– Sim. – Respondi não me surpreendendo por minha voz sair fraca. Ouvi passos e logo o rosto de Ethan surgiu no meu campo de visão, com um semblante terno e preocupado. Ele segurou a minha mão.

– Você está bem?

– Eu bem que queria estar. – E com isso, os flashes voltaram a minha mente. Comecei a chorar. – E-Eu estou com tanto medo, E-Etha-an.

– Não precisa ter mais medo, meu anjo. Eu estou aqui para te proteger. Eu sempre estarei.

– E se isso se repetir? E se um dia você não estiver aqui? Não quero isso, Ethan. Não quero passar por coisas dessas por causa de uma coisa que eu sequer escolhi ter.

– Vai ficar tudo bem, meu anjo. – Disse ele, afagando meu rosto, secando minhas lágrimas com seu polegar. – Já passou. Isso não vai mais acontecer.

– Você não pode ter certeza. Você não consegue prever o futuro.

– Tem razão. Mas eu sei que estarei aqui para protegê-la.

– Por favor, não me abandone. – Eu pedi. – Não me deixe sozinha.

Ethan sorriu carinhosamente.

– Nunca. – Ele beijou a minha testa. – Você está com fome?

– Não.

– Mas você precisa comer alguma coisa. Volto já.

– Não, Ethan... Eu não quero comer nada.

Era verdade. Eu estava com o estômago embrulhado e sem nenhuma vontade de comer nada. Se eu tentava me levantar, meu estômago embrulhava mais ainda e eu sentia gosto de sangue, e meu corpo todo ficava trêmulo.

– Você está fraca, precisa se recuperar. Você vai comer alguma coisa e não adianta discutir comigo.

– Tá bom, papai.

– Realmente você está um pouco melhor. Está até ironizando. – Disse ele, rindo levemente. – Não saia daí.

– Como se eu tivesse escolha. – Resmunguei. Tentei me sentar e senti novamente o mundo girar, mas me larguei nos travesseiros ficando um pouco mais inclinada, e logo o mundo se estabeleceu ao meu redor. Alguns minutos mais tarde, Ethan voltou com um prato de sopa, que cheirava bem. Ele se sentou na beirada da cama.

– Acho melhor você não ir para a escola pelo resto dessa semana, e ficar aqui descansando. – Disse ele, pegando uma colherada. – Eu ficarei com você.

– Você tem que ir, não pode perder aulas. – Contrariei, enquanto ele me dava uma colherada de sopa como se tivesse alimentando um bebê de dois anos de idade.

– Eu disse que não te deixaria sozinha. E vou cumprir minha promessa. Agora fecha a boca e come.

– Você está sendo contraditório.

– Você entendeu o que eu quis dizer. – Ele revirou os olhos.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?