Quando ele tirou o livro de seu colo e o pôs ao seu lado, na grama, fazendo um movimento de que ia se levantar e ir em minha direção, não conseguia pensar se eu deveria sair de lá e continuar procurando minha sala, fingir que eu procurava alguém que estivesse perto dele ou simplesmente esperar que ele viesse ou não para mais perto de mim.Além do mais, minhas pernas pareciam não querer me obedecer mais, estavam meio bambas, minhas bochechas iam mudando de um tom levemente rosado para um tom mais rubro, meu coração se acelerava, ou seja, tudo me denunciava. "Por que ele conseguia fazer com que tudo isso acontecesse? Eu só havia visto uma foto dele, não é mesmo?”. "Mas então, por que ele me parece tão familiar?"-Eu me perguntava e respondia minhas próprias perguntas com outras. E enquanto um turbilhão de perguntas passava em minha mente em uma pequena fração de segundo, ele se aproximava de mim, ou talvez de outra pessoa que estivesse perto, foi quando o sinal tocou e ele interrompeu sua caminhada, sem pensar muito para não deixar que ele se fosse e assim, talvez nunca descobrir quem ele realmente era, perguntei meio sem jeito, apontando para a folha que eu recebera no dia da matrícula:

–O - oi. Você sabe onde essa sala fica?

–Novata por aqui?-perguntou ele com sua voz encantadora e surpreendentemente igual a que ouvi em meu sonho e abrindo um sorriso que poderia iluminar aquela cidade inteira.

–Pois é... Prazer, meu nome é Taylor - disse estendendo minha mão.

–Prazer, Harry-disse segurando minha mão e beijando-a e logo abriu mais uma vez um sorriso.

No momento em que ele fez aquilo, foi como se flashbacks passassem pelos meus olhos, trazendo as cenas de meu sonho.

–Eu te mostro onde fica a sala - disse ele indicando com suas mãos a direção- As damas primeiro.

–Obrigada-falei abaixando um pouco minha cabeça para que ele não visse meu rosto corando de novo.

Subimos as escadas até o primeiro andar e chegamos à porta de uma sala grande e bem iluminada, a maioria dos alunos ainda estava no corredor, conversando, mas decidi que era melhor entrar logo na sala, afinal, não queria arrumar problemas com o professor, que duvido que goste de ver praticamente a classe inteira fora da sala.

–Obrigada, de novo.

–Não foi nada, afinal, essa também é minha sala - disse ele entrando na classe junto comigo.

–Que bom!Então eu vou estudar com a única pessoa que eu conheço nessa cidade!

–Sei como é isso... Se mudar de escola não é nada fácil. De cidade então... -disse ele baixando os olhos para o chão e mesmo que ele não quisesse, consegui perceber a tristeza em seus olhos depois que ele levantou seu rosto, escondida atrás de um sorriso tímido.

Me sentei na penúltima cadeira da fileira da parede e Harry se sentou logo atrás de mim, acho que para que eu não me sentisse muito sozinha, já que parecia que ele tinha muitos amigos, que vinham cumprimentá-lo, e ele me apresentou a cada um deles.

Apesar de parecer que entrei em um mundo completamente novo, no qual eu era a “estranha”, da saudade que insistia em retornar, apesar de tudo, as horas pareciam passar rápidas e logo o sinal do fim das aulas tocou. Me levantei lentamente e quando comecei a arrumar meus materiais, Harry me interrompeu estendendo sua mão com uma folha.

–É sua?Encontrei no chão perto da sua carteira.

Tirei lentamente a folha de sua mão e a virei, então percebi que era a foto dele.

–Sim. N-na verdade não. Ela deve ter ficado entre os livros.

–Onde você a encontrou?-perguntou arqueando uma sobrancelha.

–Na minha nova casa, no chão do meu quarto - respondi intrigada com seu tom de voz mais sério, mas entendia que era realmente estranho que uma completa desconhecida tivesse uma foto dele-Mas quem a deixou lá, então?

–É uma longa história... -disse ele respirando fundo.

–Tenho tempo – rebati rapidamente.