Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 6
Seis - Cato




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E eu a beijei novamente. Mas não foi como da primeira vez. Dessa vez eu sabia o que estava fazendo, o que queria fazer. Não sabia muito bem por que tinha que ser ela, mas eu a queria. E até hoje eu nunca fiquei isento de algo que fosse do meu desejo, fossem privilégios ou garotas. De uma forma ou de outra sempre consigo o que quero. Mas a reação de Clove dessa vez não foi tão convidativa quanto da última vez. Ao invés de ceder a minha investida, ela me empurrou para longe e limpou a boca com a manga da jaqueta. Essa era a coisa mais ofensiva que ela poderia fazer naquele momento, me recusar assim, na frente de toda a Panem. E para piorar, ela cuspiu no chão e se agachou rápido, com os olhos verdes se estreitando para mim. “Eu não vou brincar disso com você. Se está tão a fim de fazer uma novela e aparecer como conquistador já pode ir tentar algo com a Miela, porque eu estou fora. Vai ter que se contentar com a loira nojenta Cato, porque eu não vou passar por submissa de maneira nenhuma.” ela me disse com a voz grave. Ela tinha de fato me visto com Glimmer, quero dizer, sendo atacado pela Glimmer. E agora estava pensando que eu era um canalha qualquer que tentava seduzir todas só para passar o tempo. Devo dizer que ter várias garotas aos meus pés sempre de deixou bem, mas juro que nunca brinquei com mais de uma por vez. Em casa me treinaram não apenas para ser o Tributo perfeito, mas para ser o homem perfeito. E esse título me impede de ser um cara qualquer com as meninas, e especialmente dessa vez eu não estava nem por um minuto pensando em me passar por Don Juan. Quer dizer, admito que achei Glimmer a mais bonita desde o início, mas ela não tem o necessário para ser dona da minha aprovação total. Falta nela a força, e a invulnerabilidade, que devo dizer, Clove tem de sobra. Assim como todas que já conheci, Glimmer faz de tudo para chamar minha atenção, o que é entediantemente previsível, enquanto a Ruthless age de maneira completamente não linear. Ela não se curva, e por vezes, me faz curvar. Dessa vez fiquei mais abatido do que insultado com sua atitude, por isso permiti que ela se levantasse e fosse para a tenda. Deitei na grama e observei o céu estrelado. O pensamento de Clove era provavelmente também o de toda a Capital agora. Então tenho que resolver isso logo, para não perder a companheira de distrito nem os patrocinadores. Fico de guarda pelo resto da noite e o dia clareia logo. Lover Boy e Filos são os primeiros a acordar, provavelmente receosos de que os deixemos para trás. Marvel se levanta pouco depois de Clove, e vai acordar Glimmer e Miela para que possamos planejar o decorrer período com sol. Resolvemos procurar por alguns tributos na floresta e perto do lago, mas a arena é grande e são apenas doze vivos agora. Dividimos-nos em pares enquanto Glimmer cuidava da tenda, e foi decidido que por volta do meio dia nos encontraríamos todos no lago. Fomos então eu e Lover boy, Miela e Filos e Marvel e Clove, cada um em uma direção. Resolvi aproveitar a situação para tentar descobrir porque ele tinha mentido sobre o buraco na floresta noite passada. Não precisei nem perguntar, assim que alcançamos uma distância razoável dos demais, ele puxou o assunto.

“Você e a baixinha ein?”

Instintivamente puxei a espada e mirei em seu pescoço. Ele levantou as mãos como quem se rende e disse “Calma cara, só quis manter uma conversa. Posso fingir que nunca disse nada se você quiser.” Abaixei a espada e olhei desconfiado.

“O que você estava fazendo lá naquela hora?”

“Foi puro azar, juro. Tive que voltar porque tinha deixado minha espada cair do cinto e notei uma movimentação mais adiante. Quando cheguei achei que você iria matá-la, mas...”

“Eu sei o que aconteceu.” Interrompi. Continuamos caminhando por um tempo sem dizer nada, mas suavizei a expressão e ele se sentiu seguro para falar.

“Vocês estão juntos agora?”. Não respondi, e ele completou. “Ela não parece muito feliz. Mais cedo me lembro de tê-la visto amolando uma daquelas adagas com tanta voracidade que achei que ela fosse cortar algum de nós só por passatempo.”

“Ela disse alguma coisa?” Perguntei curioso.

“Acha que ela teria dito algo para mim?”

“Tem razão. Não sei nem porque eu estou conversando com você mesmo.”

“Porque você precisa conversar com alguém e eu sou o único que sabe de alguma coisa. Você devia tentar. Sabe que consegue me matar se quiser depois do diálogo mesmo.”

Resolvi acatar a sugestão e escorei em uma árvore de braços cruzados. Ele parece entender bem dessas coisas de lidar com garotas esquisitas, já que a menina do D-12 parecia ser tão complicada de lidar quanto Clove.

“E o que você acha?”

“Primeiro tenho que saber o que você fez”

“Eu não fiz nada!”

“Claro, e ela ficou brava daquele jeito à toa?”

“Não foi culpa minha! Glimmer me beijou, e ela viu.” Confessei

“A loira do 1? Cara, ela é problema. O cara do distrito dela, Marvel está interessado nela. Dá pra ver pela cara que ele faz toda vez que ela balança o cabelo.isso foi quando?”

“À noite, quando todos dormiam e Clove estava de vigia. Tentei explicar, mas ela não me ouviu e me irritou, então a gente acabou lutando e ela me fez isso no rosto e no braço. Marvel acordou e separou a gente.”

“Uau, isso explica muita coisa. Bem que achei estranho quando você disse que tinha se cortado subindo numa árvore. Cara, ela deve estar querendo matar você agora”

“Ótimo conselho, Lover Boy. Sua namorada também não deve estar muito contente com você agora, não acha?” Ele faz uma cara de surpreso e vira o rosto. Opa, toquei em alguma ferida dele agora, parece que era bem sério, a coisa com a parceira dele. Resolvi continuar falando para que ele não ficasse todo sentimental e inapto á me ajudar. “Mas enfim, como eu disse, não foi culpa minha, e eu não sei como resolver isso agora. Não é bom para uma equipe ter os participantes tensionados, não quero que isso enfraqueça a aliança.”

“Você não quer é perder a garota” Ele disse meio a um riso. Olhei para ele com censura e ele completou rápido. “Tudo bem, não precisa admitir. O que você tem que fazer é falar com a loira antes que isso se complique mais. Vamos andar logo com isso e voltar para a base antes dos outros, e você conversa com ela. Eu invento alguma desculpa para sair de perto.”

“Porque você está agindo assim mesmo?” Perguntei ainda sem crer que toda essa simpatia fosse genuína

“Questão de sobrevivência. Se todos os não-carreiristas que sobraram tiverem que ser mortos agora só espero não ser o primeiro da sua lista”

Esperto, tenho que admitir. Pena que vai morrer do mesmo jeito. Depois de nossa conversa vasculhamos o perímetro que nos cabia e voltamos para a tenda. Glimmer estava sentada mexendo nos cabelos, e ao me ver deu um enorme sorriso. Iria ser mais difícil do que eu pensava fazer com que ela saísse do meu pé. Ontem quando ela me beijou eu e disse que aquilo não fazia o menor sentido e ela não estava autorizada a chegar tão perto, mas pela sua cara posso ver que a conversa foi em vão. Entrei a tenda e sentei-me a seu lado, mas em uma distância segura. Ela pensou em se aproximar, mas eu fiz que não com a cabeça e ela entendeu o recado.

“Glimmer, preciso falar com você” Comecei.

“Você mudou de idéia sobre o que disse ontem?” Questionou cheia de esperança.

“Não, mas é exatamente sobre isso. Bem, acontece que a Clove viu você me beijando ontem, e acho que ela interpretou mal. Será que você poderia explicar para ela a situação? Não quero criar problemas, e sei que Marvel está interessado em você. Ele é um cara legal e realmente útil, e se ficar sabendo disso pode querer romper a aliança.” O sorriso no rosto de Glimmer se desfez e ela olhou para mim indignada. Mas engoliu rápido o orgulho e sorriu novamente, com uma expressão maquiada.

“Claro! Falarei com a atiradora de facas pequenininha assim que tiver uma oportunidade. Mas você deve saber que não tenho intenção nenhuma de me comprometer com o Marvel, ele não é bom o suficiente para mim, sabe?” Falou ela enquanto me media com os olhos. Estava claro que ela não havia aberto mão de mim, mas eu já tinha feito tudo o que estava ao meu alcance. Se eu tentasse persuadi-la com a espada como fiz com o Lover Boy isso poderia ser malvisto pelos telespectadores da capital e pelos patrocinadores, então era melhor não arriscar. Levantei-me e fui chamar o Lover Boy, por sorte Clove e Marvel chegaram enquanto voltávamos, então pareceu que também estávamos chegando.

“Desacelere o passo” Falou Lover Boy

“Porque?”

“Para dar tempo de a loira falar com a outra. Chame o Marvel para fazer alguma coisa”

Chamei Marvel para ajudar a encher os cantis de água, e fomos os três rapazes para o lago enquanto Clove e Glimmer ficaram sozinhas na cabana. Só posso torcer para que Clove esteja de bom humor, ou Glimmer estará em maus lençóis.

Enquanto enchíamos os cantis, falávamos sobre coisas avulsas, até Marvel chegar a um tópico de meu interesse.

“Aquela Clove é realmente muito útil, não acham? Ela conseguiu acertar dois coelhos com flechas a uma distância impressionante” Ele disse sem levantar a cabeça.

“Ela não é tão boa assim, só dá sorte na maioria das vezes”

“Pode até ser, mas ainda assim, tem algo diferente nela. Ela é até bonitinha, tem belos olhos verdes, não acham? Deve ficar linda de cabelo solto.”

Tive vontade de afogá-lo no lago, mas não podia dar a entender que eu estava interessado nela. Resolvi tentar girar o assunto.

“Achei que você gostasse da Glimmer” Disse entre os dentes.

“Ela é mais bonita, de fato. Mas não é como se eu realmente gostasse dela. Quer dizer, isso aqui é uma batalha, e eu não pretendo morrer por ninguém.”

“Claro, claro. Mas espera, o que é aquilo?” E no outro lado do lago estava a garota do distrito 12, tinha mergulhado na água de uma vez e agora que percebeu nossa presença corria para dentro da mata. Gritei por Clove e Glimmer e segui a menina floresta adentro. Miela e Filos ouviram meus gritos e também apareceram. Estávamos todos reunidos quando ouvimos de cima de uma árvore uma voz feminina dizer “Como vocês estão?”

Olho para cima e vejo a garota empoleirada num galho alto da árvore. Ela está encurralada, então não vejo porque não brincar um pouco antes de matá-la.

“Bem o bastante” Respondo. “Você?”

“Está um pouco quente pro meu gosto. O ar é melhor aqui em cima, porque você não sobe?”

“Acho que irei mesmo” Retruco. Tento subir pelos galhos, mas meu peso faz com que eles se quebrem rapidamente. Caio no chão enfurecido enquanto Glimmer se oferece para ir buscá-la lá em cima. Ela também é pesada demais e acaba caindo. Lover Boy quem diz severamente

“Deixem ela para lá, ela não vai sair dali mesmo, uma hora ela terá que descer”.

Dava para ver que ele não queria que ela morresse de verdade. Não era apenas uma estratégia para ganhar o público, pelo menos não da parte dele. Decidi adiar a morte dela por um tempo em função da conversa que tive com ele mais cedo. Agora estávamos quites e eu não me sentiria devendo nada quando fosse matá-lo.

Já estava escuro quando resolvemos dormir no chão mesmo. Comemos carne de coelho e tiramos na sorte para decidir quem seriam os primeiros vigias. A ordem acabou ficando invertida e, portanto, eu seria o penúltimo a ficar acordado. Dormi mal no chão frio, pois estive sempre acostumado com o luxo de uma cama quente e confortável. Miela me acordou para que eu tomasse meu posto e dormiu instantaneamente. Encostei minhas costas na árvore vigiada e fiquei observando os demais carreiristas encolhidos no chão com o frio. Clove estava bem a minha direita e tremia muito e suava frio. Olhei para seu rosto e ela estava com os olhos bem apertados e a feição dura, devia ser um pesadelo. Tirei o casaco e coloquei em volta de seu corpo como um cobertor, e sua expressão mudou quase instantaneamente, como se tivesse sido salva numa reviravolta de última estância. Ela suspirou e sorriu, e chamou baixo pelo nome “Cato”. Tive vontade de beijá-la de novo, mas tive receio de que a reação dela pudesse ser ainda pior do que a da última vez, então apenas contive o desejo e obriguei meu corpo a voltar para a vigília. “Ela disse o meu nome” Repeti mentalmente para mim mesmo, e não pude impedir o sorriso de tomar conta da minha face. Clove acordou sozinha pouco tempo depois, já com a cara amarrada. Olhou para cima se si e analisou meu casaco com as mãos, ou perceber que eu estava acordado, acenou para mim com o casaco e perguntou “O que isso está fazendo em cima de mim?”

“Você estava tremendo.”

“Eu durmo assim mesmo.”

“Sempre?”

“Sempre.”

“Não estou tão certo disso, você parecia estar sonhando com alguma coisa... não?”

“Eu não quero mais falar sobre isso, pode dormir, já está no meu turno”

Ela se levantou de uma vez e tropeçou na manga do meu casaco, que fez com que ela caísse deitada em cima de mim. Eu a amparei com as mãos na sua cintura e ela segurou em meus braços com força, parando com o rosto a centímetros do meu peito. Esperei-a levantar a cabeça, mas ela permaneceu com os olhos fixos na minha camisa. Então resolvi mudar a minha abordagem, e afastei Clove de mim com o máximo de cuidado possível. Ela olhou para mim meio aturdida, depois fitou o chão e comentou. “Achei que você iria...”

“Tentar te beijar de novo? Bem acho que você foi clara o suficiente quando cuspiu e me mandou ficar longe, não vou tentar nada de novo. Não será necessário”

“Não será necessário?”

“Não. Porque você virá até mim da próxima vez. Por vontade própria.”

“HÁ, claro. De onde você arranja toda essa confiança em Cato?”

“Tenho um ego elevano por natureza. Mas ele aumenta significativamente quando alguém fala de mim enquanto dorme. Você costuma falar dormindo sempre ou foi só hoje?”

A expressão dela murchou. Ela ficou lívida e engoliu seco antes de responder com outra pergunta.

“O que eu disse?”

“Você disse o meu nome”

“Duvido” Disse ela passando de alva para vermelha em segundos

“Você sabe que é verdade” Eu disse tentando não soar desafiador ou feliz demais.

“Você não pode provar nada. Eu devo ter dito outra coisa, e você ouviu errado”

“Acho que escutei perfeitamente meu nome, com todas as letras.”

“Eu estava tendo um pesadelo!”

“Eu sei. Mas quando você disse meu nome, você sorriu”

“Então eu devia estar te matando no sonho” Disse ela maliciosamente

“Não esse tipo de sorriso seu.”

“Esse é o meu único tipo de sorriso”

“Não é. Você só quer que seja. Mas de toda forma pode ficar tranqüila, não vou começar mais nada.” Ela continuava vermelha, mexendo nas folhas secas do chão. Percebi que ela queria muito sumir daqui, no entanto ela só fez um gesto com a cabeça me mandando ir dormir. Obedeci a rápido e pouco antes de pegar no sono ouvi aquela voz de cima da árvore dizer “Ei você, garota das facas, aposto que consegue subir aqui e me pegar, não?” Pensei em me levantar, mas fui vencido pelo cansaço. Qualquer que fosse a intenção da D-12 sabia que Clove daria conta do recado.



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Notas finais do capítulo

O final deveria ter ficado melhor, mas estava ansiosa demais para fazer a parte da Clove que vem a seguir, rs.