Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 7
Sete - Clove


Notas iniciais do capítulo

Gente, viajarei nesta Quinta feira e volto só na segunda, então peço as pessoas lindas que acompanham a fic para ter um pouquinho de paciência comigo. Talvez eu consiga passar os capítulos para alguém postar para mim, mas se não POR FAVOR não me abandonem, snif :l



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Como é possível que haja tanta confusão assim logo no terceiro dia de Jogo? E eu não estou falando dos óbitos, essa foi a parte simples. A garota em cima da árvore acordou e está tentando me irritar, mas ela também não é o problema. O problema piorou quando Cato teve a brilhante idéia de nos dividir em duplas e me colocar com o Marvel.

Estava tudo bem até ele resolver comentar sobre Glimmer comigo. Ele queria saber o que eu pensava dela, mas tentei não me ater a detalhes porque o horário não me permitia usar as palavras adequadas para descrevê-la. Apenas balançava a cabeça pala tudo o que ele dizia, sem negar nem assentir com nada. Ele foi guiando a conversa até chegar em um ponto delicado.

“Ás vezes acho que ela olha demais para o cara do seu distrito, você já deve ter percebido. Acho que a gente deveria fazer algo sobre isso.”

“A gente? A gente quem?”

“Olha, eu não estou a fim de deixar Glimmer para o Cato sem nenhuma resistência. Se eu não fizer alguma coisa isso vai acontecer rápido. Pensei em fazer ciúmes em Glimmer fingindo estar interessado em você, o que você acha? Desse jeito talvez eu possa desviar a atenção um do outro um pouco.”

O que aquele garoto pensou quando falou algo tão absurdo daquele jeito, sem nenhuma cerimônia? O que Marvel fazia era mais por orgulho do que por real vontade. Ele realmente não estava disposto a perder em nada, mesmo ele tivesse que manipular uma série de pessoas para conseguir o que queria. Era uma estratégia legal, mas eu não seria um peão no jogo dele, então tentei buscar alternativas para sair fora dessa rede. “Talvez se você falasse com a Miela” tento.

“Não teria o mesmo efeito, elas se dão bem. Teria que ser você, porque bem, ela te detesta”

Nossa. “E o sentimento é recíproco” Pensei.

“Olha Marvel, eu acho muito divertida essa coisa toda de intriga e fazer raiva nas pessoas e tal, mas vou ter que recusar. Já tive muito desvios de percurso até agora e preciso me focar no jogo. Além do mais a Glimmer é a primeira dos carreiristas que pretendo matar, e não faço questão de esconder isso de você. Os sentimentos dela pouco interessam para mim, a menos que sejam eles de dor ou algo do tipo.”

Ele olhou para mim surpreso com minha honestidade, mas não diminuiu o passo e nem saiu do meu lado, pensou um pouco e sorriu descontraído.

“Tudo bem, parece que vou ter que fazer tudo sozinho então. É uma pena, seria muito mais convincente se você fingisse que gostava de mim. Acho que terei que fingir pelos dois agora.”

“O que?” Perguntei. Ele devia estar fazendo alguma piada.

“Bem esse plano é muito bom para ser descartado. As chances de dar errado são baixas. Se Glimmer não tiver alguma reação, ao menos Cato terá. E isso abrirá uma brecha da mesma maneira. Você já está avisada, então não tente enterrar um punhal em mim quando eu me aproximar de você na frente deles, você sabe que não é nada sério.”

“Mas eu não concordei com isso! Você não se atreva.”

“Ou você vai fazer o que? Acabar comigo agora, Clove? Você e eu sabemos que isso seria um desperdício não é mesmo? Ainda tem doze tributos na arena e apenas cinco são carreiristas, como eu mesmo disse antes, não podemos nos dar ao luxo de perder ninguém. Você viu o tamanho do garoto do D-11, Thresh, e a nota da garota do 12 na avaliação particular.”

Odeio quando os outros estão certos. Eu não podia matá-lo agora, com tantas pessoas mais indesejáveis que ele espalhadas pela arena. Bufei e alertei-o, apressando o passo “Toque em mim e você estará sem vida no chão antes que possa contar até três.”

Ele riu baixo e fez uma reverência teatral. “Sua vontade é lei”, ele diz. Depois dessa conversa maluca voltamos para a concentração no mesmo momento que Cato e Lover Boy. Eles chamaram Marvel para fazer algo no lago e me deixaram sozinha com Glimmer na tenda. Estão pedindo por um homicídio. Vou arrumar meu saco de dormir sem emitir uma palavra sequer, quando sinto um dedo me cutucando nas costas. Contorço um pouco, mas me viro, e Glimmer está com os olhos cerrados para mim pela primeira vez. Geralmente na frente dos outros ela me evita e me trata com uma simpatia visivelmente forçada. É bom ver a cara dela de antipatia quando não tem mais ninguém por perto.

“Escuta aqui garotinha das facas, com muita atenção porque eu vou dizer só uma vez.” Ela começa “Eu e Cato estamos a um passo de ter alguma coisa e a única pessoa que pode estragar tudo é você. Então eu sugiro que você arranje algo para ocupar essa sua existência patética e deixe o Cato em paz. Estamos entendidas, sim?”

Olhei para ela e tive que segurar o riso. Achei que esse tipo de coisa só acontecia no colegial. Parece que ela realmente tem o cérebro de uma garotinha de dez anos. Ninguém aqui entendeu muito bem que meu esporte preferido é sangrar coisas até a morte não é? Lembrei de Marvel e fiquei irritada, o teatro todo dele de nada adiantaria agora. Coloquei a mão em um shuriken atado á minha cintura e pensei em usar lâmina para dar a Glimmer um novo corte de cabelo, mas Cato nos gritou urgente e tive que deixar para brincar de Sweeney Todd* mais tarde.

E depois teve todo aquele episódio na árvore, e agora tem eu sentada em baixo dessa árvore, acordada esperando uma explicação dos céus sobre porque todos resolveram agir como insanos. A Garota do 12 desistiu de me importunar e parece ter caído no sono. Não vejo perigo e me permito tirar um breve cochilo. Desperto pouco tempo depois com um barulho quase imperceptível de algo sendo serrado. Olho para cima e percebo o que o que a garota está tentando fazer: romper um galho no qual está preso um enorme ninho de Teleguiadas. Foi o mais perto de pavor que já cheguei a sentir na vida. Não pela morte ou pela dor que as picadas podem causar, mas pelas alucinações. O fim da vida não me assustava, meu maior medo era de sentir medo. Ela não tinha percebido que eu estava acordada, então fiquei parada e tentei pensar sobre o melhor a fazer. O corte no galho já estava muito avançado, e poderia cair a qualquer minuto. Olhei em volta movendo apenas meu globo ocular e tentei calcular aproximadamente aonde o ninho cairia quando acertasse o chão. Se minhas contas estivessem corretas, e estavam, ele cairia entre Glimmer e Miela. O zumbido das teleguiadas ficava mais forte a cada segundo e decidi esperar que a D-12 cortasse o galho. Não que eu tivesse algo contra Miela, claro. Para mim ela era tão fraca quanto os não-carreiristas, e ela acabaria morrendo uma hora mesmo. Essa disposição era realmente favorável para mim, devo admitir. Glimmer estaria fora da minha lista de preocupações de uma maneira quase que acidental. Tive que me segurar para não agradecer à namoradinha do Lover Boy por se livrar dela para mim assim tão brevemente. Mas não estava tudo pronto, eu precisaria de um timer perfeito para alcançar o resultado desejado. Deveria acordar os outros no exato instante em que o ninho estivesse centímetros acima da cabeça delas, um segundo de atraso e todo o resto de nós morreremos também. Escutei o barulho da madeira rachando, e preparei meu corpo para a corrida. Meu coração batia forte. E então o enorme cacho cinza veio descendo em alta velocidade e entendi que era hora de gritar.

Foi tudo muito rápido, e confuso. Gritei pouco antes da caixa de Teleguiadas espatifar no chão, liberando uma nuvem de vespas mutantes em cima de nós. Os outros tiveram um reflexo rápido e seguiram minha ordem para correr em direção ao lago, menos Miela e Glimmer, que foram completamente cobertas pelas teleguiadas. Corri e pulei no lago. Foi quando percebi que meu pescoço latejava, bem como minhas mãos. Tentei contar quantos haviam me acompanhado. Primeiro Marvel, depois Filos, e só. Onde está Cato? Será possível que ele tenha tentado salvar Glimmer? E Lover Boy? Onde eles se meteram agora?

Começo a ficar angustiada e levanto a cabeça até a superfície para puxar mais ar. Ainda há uma grande quantidade de vespas próximas, então não arrisco sair da água. Ouço algo mergulhando, Cato acabou de chegar, e foi como se um nó tivesse sido desfeito em minha garganta. Submergi aliviada e fiquei esperando pela hora de retornar à terra firme. Filos foi o primeiro a sair da água, depois eu, seguida por Cato e Marvel. Cato já tinha começado á alucinar e se jogou no chão com força, enrijecendo os músculos e se contraindo angustiado. Filos por sorte tinha levado apenas uma picada, e estava só sentindo muita dor e uma tontura leve. Marvel teve um ataque convulsivo e eu não soube dizer até que ponto ia minha lucidez.

E de repente o cenário foi ficando maior, e menor, e maior, e menor, até se transformar no topo de um prédio enorme, de onde podia se ver toda a Panem. Era a altura do edifício era descomunal, eu estava sozinha na cobertura, e me joguei de lá de cima. Era como voar. Com a velocidade de uma bala, rumei ao solo e explodi em mim pedaços, tal qual um espelho. Cada pedaço se desprendia e planava no céu, virando fuligem que aos poucos se desfazia no ar. Deve ter sido nessa hora que meu cérebro se desligou do mundo.

Acordei com o sol quente em meu rosto. Senti um pano molhado em minha testa, e percebi que Filos estava de pé diante de mim. Sentei-me na grama e balancei a cabeça, ainda aturdida.

“Você levantou rápido, os outros ainda estão em transe” Disse filos.

“E como você pode estar acordado? Quanto tempo passou?”

“Pouco mais de um dia. Os patrocinadores de vocês mandaram um antídoto potente. Eu só levei uma picada e retirei rápido o ferrão, por isso só fiquei desmaiado por algumas horas.”

Olhei em volta, e percebi que estava em baixo da tenda. Cato e Marvel estavam emparelhados ao meu lado com o rosto fechado.

“Você nos trouxe até aqui sem ajuda? Quando acha que eles irão acordar?”

“Dentro de algumas horas, retirei os ferrões das feridas deles também, e as suas. Não foi tão difícil assim, e eu tive bastante tempo.” Disse ele constrangido. Percebi então que nunca tinha conversado com Filos antes. E agora estava em dívida com ele. Opinei por tentar tratá-lo bem como forma de agradecimento, já que não tinha mais nada que pudesse ser feito. Dei continuidade a conversa enquanto o ajudava a trocar as bandagens dos meninos.

“Você teve notícias sobre as baixas?”

“Durante esse tempo foram apenas Glimmer e Miela”

“E o Lover Boy, onde está?”

“Ele tentou salvar Katniss, a companheira de distrito dele, e Cato cortou ele na perna com a espada antes de vir para o lago”

Bem, uma hora ele iria trair a gente mesmo, com a namoradinha dele por aí. Tentei recapitular quantos éramos ainda competindo. Eu, Filos, Cato, Marvel, Lover Boy, Katniss, o casal do 11, composto por uma menininha de doze anos que escala árvores e um garoto enorme chamado Thresh. Somos oito, se eu não estiver enganada.

“Agora somos só nós e os tributos do 11 e do 12?” Pergunto para Filos.

“Não, ainda tem a garota do 5, a ruiva.”

Então somos nove. Quinze já foram. E agora estamos em maior desvantagem que antes. Tento pensar em uma maneira de nos proteger por mais tempo, mas é Filos quem dá a idéia brilhante. “Talvez se fizéssemos uma armadilha, poderíamos conseguir eliminar um número bom de tributos.” Uma armadilha, claro! Meu rosto se ilumina com a possibilidade de aniquilar várias pessoas de uma só vez, e me levanto depressa para colocar tudo em ordem. “Você é bem esperto, garoto” Digo para Filos sem pensar, e ele vira o rosto para os pés, como geralmente fazia toda vez que alguém se dirigia a ele. Passei o resto da manhã espalhando pequenas armadilhas em volta do acampamento e um pouco adentro da floresta. Pela tarde eu e Filos fizemos uma pilha com todos os mantimentos da cornucópia para atrair os outros tributos, deixando apenas o essencial em quatro mochilas idênticas. Filos me explicou que era capaz de reativar os explosivos que ficavam debaixo dos pódios no início dos Jogos, e passamos o começo da noite desenterrando pequenos discos dos 24 lugares opostos á cornucópia. Ele tentou me explicar o mecanismo das bombas e até consegui ativar uma sozinha. Ele me lembrava um pouco o meu irmão mais novo, sempre avoado, olhando para o nada como se ainda não tivesse notado que estava ali. Tinha a expressão de uma criança indefesa, como se estivesse sempre precisando ser salvo. Talvez fosse por isso que ele procurou se unir a nós carreiristas. Ele vez ou outra cutucava a volta do nariz entre os olhos com os dedos, o que dava a entender que ele usava óculos e ainda não tinha se acostumado com a ausência desses. Muito centrado, continuou seu ofício noite adentro, enquanto eu intercalava entre fazer a vigia e cuidar dos meninos, que ainda estavam desacordados. Não demorou muito e Marvel recobrou a consciência, comeu alguma coisa e me substituiu na guarda. Fiquei encarregada de cuidar exclusivamente de Cato até que ele acordasse. Filos já tinha me dito que ele seria o último a levantar, pois recebeu um maior número de picadas de teleguiadas. Se não fosse pelo remédio dos patrocinadores e pelos cuidados de Filos, ele teria sido o primeiro a cair, com certeza. Senti minha dívida com Filos aumentar depois de tal constatação.

A noite não poderia ser mais longa, e Cato dava a entender que estava em um pesadelo contínuo, que piorava com o passar das horas. Ele suava frio e resmungava ás vezes, até gemia de dor. Era quase de manhã quando consegui ouvi-lo formulando uma frase completa em meio à alucinação. “Eu não vou matá-la” Ele dizia. Repetiu-a umas duas vezes, e se debateu ainda mais forte. Temi que ele se machucasse com tanto movimento e tentei mantê-lo estático, mas ele era mais forte que eu até mesmo inconsciente. Filos dormia em sono pesado e Marvel estava longe demais para perceber algo.Então lá estava eu sozinha com Cato novamente, e sem saber o que fazer. Desesperada e buscando por alguma solução imediata, não pensei em nada e me inclinei para beijá-lo. Seu corpo se acalmou e ele abriu os braços, me envolvendo num apertado abraço. Pensei que ele tivesse acordado, mas ele ainda suava frio e mantinha os olhos fechados. Tentei retomar minha distância inicial, mas Cato me prendeu junto a seu corpo. Descolei meus lábios dos dele e ele deu um suspiro. “Eu não vou deixar que ela morra” Ele falou, agora sem muita euforia.

Só queria saber de quem ele está falando. Será que é de Glimmer? Enojei-me só de pensar na possibilidade e estava prestes á tentar me levantar quando ele sussurrou “Clove” bem próximo ao meu ouvido. Levei um susto e pensei novamente que ele estivesse desperto, mas estava enganada mais uma vez. Era sobre mim o pesadelo, e ele estava tentando me proteger. Acho que agora consigo entender o que ele deve ter sentido quando falei o nome dele em meio ao sono. Era uma confissão secreta que não dependia da vontade para ser feita, ela criava vida própria e saia por si só. Sorri pela primeira vez sem nenhum motivo mórbido. Sorri por mim, sorri por ele. Sorri pela sorte que estava a meu favor. Estava sentindo algo realmente novo, como pular de um prédio alto sem rede de segurança e virar mil de uma vez só. Deve ser assim que as pessoas se sentem quando gostam de alguém. É estranho. Pensei que seria como se o mundo tivesse mudado, continua tudo o mesmo. É mais como se eu tivesse ganhado algo genuinamente meu. Algo além da minha habilidade ou da minha natureza maléfica, algo para balancear as coisas e evitar que eu fosse apenas uma máquina de matar e me tornasse mais... Humana. Fiquei aliviada quando constatei que minhas vontades não tinham se alterado. Sempre tive pavor da possibilidade de gostar de alguém e acabar virando uma idiota fresca que gosta de sapatilhas rosa e babados nos vestidos. A única vontade nova que me surgiu foi a de permanecer perto de Cato, agora talvez a qualquer custo. Escorei a cabeça em seu tronco e adormeci assim, no único lugar onde parecia ser certo estar.

* Sweeney Todd é um personagem que trabalha como barbeiro e mata seus clientes, usando a carne destes para fazer tortas e vender na loja abaixo da barbearia. ( recomendo o filme, é um musical muito bom com o lindo do Jhonny Depp)


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Notas finais do capítulo

Tenho que parar com essa mania de descrever demais os personagens menos importantes, tô começando a ficar com dó de ter que matar todo mundo (O Filos, então, nem se fala.) :(
Ah, e claro, agradecimentos extras á Letícia Medina, que sugeriu o envolvimento maior do Marvel na história :)