Highway To Glory escrita por ThequeenL


Capítulo 5
Cinco - Clove




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Droga. Porque ele fez aquilo? Aquela conversa de vingança não fez sentido algum. Eu pensei que ele iria me matar, estava esperando pela tentativa, e ao invés disso ele... Enfim, não vou mais pensar nisso, está tudo bem, está tudo como antes. Tirando pelo meu tornozelo machucado e o frio cortante que faz do lado de fora dessa tenda idiota. Mas tinha que ser eu a primeira a vigiar o acampamento, claro! Depois que Marvel me passou um dos medicamentos da Capital pelo menos a dor e o inchaço passaram, acho que pela manhã já estará tudo ótimo e serei capaz de andar normalmente outra vez. Olho em volta com os óculos de visão noturna e percebo tudo na mais entediante paz. Esperava pelo menos um barulho ou alguém para estripar, e ao invés disso só calmaria. Quanto tempo já se passou? Uma hora, talvez mais, eu acho. E nada de sono, não dei nem um bocejo durante todo o tempo. Minha mente vagava entre várias coisas, muitas irritantes como Cato ou Glimmer, ou a menina do D-12 que eu deixei escapar mais cedo. Resolvi pensar em coisas boas para acalmar os nervos. Lembrei do banho de sangue, da expressão da idiota da fogueira quando eu lhe enfiei a adaga, no meu conjunto novo de armas. Pensar em sangue pingando me deixou ativa e resolvi buscar meu estojo dentro da tenda para treinar uns lançamentos enquanto passo o tempo. Ao me virar deparo com uma cena imprevisível: Glimmer em cima de Cato, seus olhos fechados e lábios se tocando. Fiquei confusa sobre o que deveria fazer agora, então entrei fazendo um barulho baixo, mas suficiente para que eles percebessem minha presença, peguei minhas coisas e voltei para fora, bloqueando meus ouvidos para qualquer agente externo. Ainda não tinha absorvido a situação toda. “Puxa, ele é rápido”, pensei. Acho que nem o Lover Boy bate esse recorde. Mas que se dane, não é como se eu realmente ligasse. Não é como se a gente tivesse alguma coisa só porque ele deu um passo em falso na floresta algumas horas atrás. Vai chegar um momento em que um de nós vai morrer, e entre ele e eu, prefiro que seja ele. Vai ser até mais fácil se ele estiver com a nojenta do 1.

Essa coisa de “amantes desafortunados” é demais pra mim de qualquer jeito. Não sou desafortunada, sou uma vencedora. Não admito ser digna de pena sob condição nenhuma. Começo a acertar vorazmente flechas em um troco de árvore a uns vinte e cinco metros de distância mentalizando-o como se fosse certo rapaz de olhos azuis, já que não posso deixar o posto de vigia. Vou aos poucos liberando minha audição e arrisco olhar para trás novamente. Os dois parecem estar falando algo quando Cato olha para fora e percebe que está sendo observado. Desvio rápido o olhar, mas é tarde demais, ele se levantou e está vindo para cá. Guardo as lanças na mochila, jogo-a de lado para evitar um homicídio e reviro os olhos, pois ele já chegou perto o suficiente e me chama pelo nome. Ignoro o chamado e tento andar para longe, focando nos motivos que tenho para mantê-lo vivo, que ainda não sei bem quais são. Cato me alcança com facilidade para me virar pelos ombros. Olhei para sua mão com cara de nojo e ele rapidamente moveu-a para longe. Ficamos em silêncio por um breve período até que ele resolveu ser o primeiro a quebrá-lo.

“Clove, eu...” Ele começou, passando a mão pelos cabelos loiros enquanto tentava formular o resto da frase. Resolvi não dar chance ao azar. Sou muito nobre para ser comprada com meias desculpas.

“O que é, Cato?” Perguntei com pressa. O clima estava tão pesado que podia ser cortado com uma das minhas facas.

“Eu estava dormindo! Juro!”

“O que?" Ri, perplexa "E daí? Já sei, vocês são sonâmbulos não é? Me deixa em paz agora tá garoto, que eu tenho que fazer a vigia ainda.”

“Eu assumo daqui, você está machucada e se alguém aparecer...”

“Se alguém aparecer eu dou conta dele de longe e com uma mão nas costas, pode ficar tranqüilo, ninguém vai atrapalhar você e a sua namoradinha lá dentro.”

“Não foi por isso que eu disse, e ela não é minha namorada. Eu não devia ter deixado você pegar o primeiro turno. Você está sendo teimosa.”

“E você está sendo um idiota, só para variar. Eu não preciso de privilégios Cato, eu dou conta de tudo sozinha, não preciso de ninguém pra terminar o meu serviço.”

Ele bufou e olhou para mim com tanto ódio. Ele sabia do que eu estava falando, e já tinha me avisado sobre os comentários irônicos. Porque é isso que nós, pessoas orgulhosas, mais odiamos: quando alguém aponta nosso erro. E ele falava sério quando disse que o tornozelo seria a coisa com a qual eu menos me preocuparia , pois assim que terminei a frase ele rapidamente avançou em mim, dessa vez com o intuito de me dilacerar. Por sorte eu ainda tinha uma faca guardada na jaqueta e consegui atingi-lo no braço, mas ele me jogou contra o chão com tanta força que minhas costas estralaram alto. Ainda assim não expressei dor, ou medo. Na verdade, estava me divertindo.

Na minha escala de entretenimento, instigar as pessoas a ponto de fazê-las querer me matar vem logo abaixo de matá-las, então para mim não poderia ser melhor. Cato imobilizou minhas pernas e eu o acertei outra vez, agora no rosto. Ele passou a mão no corte e olhou da palma ensangüentada para mim, que estava sorrindo maliciosamente. Ele me levantou pelo pescoço e tive tempo de soltar um leve grito antes de perder o ar. Cato apertou os olhos e murmurou “Vai continuar sorrindo agora?”. Continuei olhando para ele com a mesma expressão, mesmo ciente de que meu rosto já deveria estar completamente vermelho. Ele não iria me matar agora, eu tinha certeza. Não por nenhum motivo em especial, eu apenas sabia. Não era a hora dele, não era a minha vez. Com as pernas agora livres no ar, dei um chute de cheio em seu estômago, e ele afrouxou a mão que me enforcava. Avancei para cortá-lo pela terceira vez, mas ele deu um tapa em minha mão e mandou minha arma para longe. Eu já tinha lutado com caras com o dobro da minha altura, mas Cato era mais corpulento que eles, então era difícil manter um combate corpo-a-corpo sem a ajuda de facas. “Droga” Pensei “ele agora está em vantagem, seu corpo é próprio para a luta”. Estávamos agora os dois levantados andando em círculos, como dois leões numa arena. Tentei alcançar minha faca, mas Cato se inclinou para mim outra vez e dessa vez ele quem caiu por baixo. Levantei a mão no ar para esbofeteá-lo, mas ele conseguiu pará-la e entortou meu braço, me fazendo sentir uma dor que de fato incomodava. Assumi uma expressão séria e suspirei como se tivesse entediada, porque sabia que isso o irritava profundamente. Tenho certeza de que ele quebraria meu antebraço se Marvel não tivesse chegado e me tirado de cima dele como se eu fosse uma boneca de pano, com a maior facilidade.

“O que vocês pensam que estão fazendo? Vão acabar se matando desse jeito!” ele dizia enquanto eu tentava me desvencilhar de suas mãos em minha cintura e acertar Cato com outro chute no rosto. Cato apoiou os cotovelos na grama e ficou olhando, ainda muito vermelho. Marvel me sentou no chão e conferiu meu machucando no tornozelo e o braço que Cato estava prestes a quebrar. Ele parecia realmente preocupado comigo, coisa que ninguém expressou antes em toda minha existência.

“Estou bem!” falei incomodada. Não gosto de ser tratada como frágil. Desde pequena aprendi a controlar a dor e nunca demonstrar fraqueza. Isso deixa as pessoas mais intimidadas e te faz mais forte.

“Você podia ter matado ela com uma pancada!” Gritou Marvel com Cato como se ele fosse um menino de cinco anos que tinha acabado de fazer uma travessura.

“Ah, claro, e ela tão indefesa não me fez nada não é mesmo?” Retrucou Cato levantando o braço cortado e mostrando o rosto.

“Não interessa, você é o dobro do tamanho dela, teria esmagado-a sem esforço”

“Ela está viva, não está? Uma hora vai acabar sobrando só um mesmo” Ele disse. Estava visivelmente arrependido por ter me batido, mas não iria por nada abaixar a guarda.

“Então deixe para matá-la quando os não-carreiristas já estiverem todos mortos, se você faz tanta questão. Perder agora a única aliada que pode matar pessoas a mais de dez metros de distância não é uma atitude inteligente, Cato. Você é o líder aqui, então se comporte como tal. Não deixem os outro percebam que vocês brigaram ou os caras do 3 e do 12 podem pensar que tem alguma chance contra nós. Vocês deram sorte que ninguém mais acordou”

“Ele tem razão” Fui obrigada a admitir. Talvez Marvel não fosse tão idiota quanto pensei.

“É claro que eu tenho. Agora você garota das facas, dê um jeito nessa bagunça que você fez. Vou trazer a caixa de primeiros socorros”

“Eu? Porque eu que tenho que ajudá-lo, se foi ele quem tentou me matar primeiro? Pede para a namoradinha dele, tenho certeza que ela cuidará dele com todo o prazer.” Disse indignada.

“Quem?” Perguntou Marvel. Eu havia me esquecido de que todos estavam dormindo quando vi Glimmer e Cato se beijando. E ele gostava de sua companheira de distrito, eu podia dizer com certeza. Imagina só a cara de decepção que ele iria fazer quando descobrisse? Seria impagável. Abri a boca para tentar semear a discórdia, mas Cato tomou frente apressado.

“Ninguém, ninguém. Essa garota é desequilibrada, você já deveria saber cara. Você tem razão, foi infantilidade nossa, não vamos nos desviar dos objetivos principais daqui em diante, eu prometo. Você pode buscar a caixa de medicamentos antes que todo o meu sangue saia pelo meu braço? Valeu.”

Marvel Lançou olhares repreensivos para nós dois e correu para a cabana. Voltou rápido, largou a caixa no meu colo e esbravejou “Resolva isso logo” para mim. Pensei em amarrá-lo pelos pulsos em uma árvore bem alta, mas ele não deu abertura para minhas reclamações e foi dormir novamente. Agora era Cato quem sorria com o braço estendido, esperando pelos meus cuidados.

“Você pode fazer isso sozinho” Disse para ele com frieza.

“Não tenho tanta certeza. Sabe como é, eu não termino nada direito” Ele disse com uma sobrancelha levantada e um sorriso torto.

Droga, se ele estava fazendo piada disso é porque já havia superado. Talvez a sessão de agressões tivesse um efeito terapêutico e ele agora estava preparado para lidar com a falha que cometeu com a garota da fogueira. Isso para mim é péssimo, pois perdi meu maior trunfo para irritá-lo, enquanto ele ia descobrindo aos poucos as coisas que me tiravam do sério. Fui até onde ele estava e me sentei ao seu lado, abri a caixa de medicamentos que continha algodão, algumas pílulas para dor e potinhos com medicamentos para diversas situações. Peguei aquele destinado aos cortes e molhei o algodão em seu conteúdo. Ficamos em silêncio enquanto eu passava o algodão pela ferida do braço com cautela. Atirar facas exige movimentos com precisão e firmeza na mão, portanto não era nenhuma dificuldade manter um controle, mas ainda assim eu pressionava propositalmente a pele na carne viva para proporcionar um pouco mais de dor ao meu paciente, que contraía os músculos, mas não emitia som algum. Depois de enfaixar o braço foi hora de cuidar da ferida do rosto. Eu tinha cortado diagonalmente um pouco abaixo do olho até o final da bochecha de Cato, descendo para o pescoço. Segurei em seu queixo para firmar a cabeça e passei o algodão seco primeiro para retirar o sangue ainda não coagulado. Ele mantinha os olhos fixos nos meus, o que me deixava desconcertada. Desviei a atenção para o machucado, mas ainda conseguia ver seus olhos em mim pela minha visão periférica. Até então nunca tinha parado para reparar em seu rosto com tanta clareza. Mesmo iluminado apenas pelo brilho lunar e com uma fenda no lado esquerdo da face, ele era incontestavelmente bonito. Ao perceber onde minha mente estava vagando balancei a cabeça e senti meu rosto corando. Precisava voltar a pensar apenas nos Jogos.

“Eu me desculpo se você se desculpar” Disse ele de repente.

“Não vou me desculpar, e não preciso de suas desculpas.”

“Sei que te machuquei, seu pescoço está roxo.”

“Olha o seu tamanho Cato. Você poderia ter me machucado muito mais, me machucado e verdade, se você realmente quisesse. De qualquer jeito eu já estava avisada sobre não fazer ironias, você não me deve nada.”

“Eu devia ter mantido o controle”

“Eu quis que você não mantivesse.” Retruquei.

“Você é esquisita, Clove Ruthless. Eu nunca tenho certeza do que você vai fazer. Você por acaso gosta de apanhar, é?”

“Bem, não sou eu que estou precisando de cuidados agora, não é? Gosto de ver o limite das pessoas. E fica parado ou vai demorar ainda mais pra limpar isso no seu rosto”

“Não me importo com o tempo.” Ele diz enquanto desvia o rosto do meu toque. Tento trazê-lo de volta com a mão, mas ele a segura e me beija pela segunda vez.



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