Verdade Ou Desafio? - 9a Temporada escrita por Eica


Capítulo 22
In&Out




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Eduardo

- É preciso fazer uma limpeza aqui e outra ali... Mas não há nada que umas cuspidelas não resolvam. - disse Rafael.

Era sábado. Marco, Bruno, Leonardo, Donatelo e Michelangelo estavam comigo conhecendo o clube que foi comprado pelos três corajosos. Lucas não estava conosco, pois trabalhava no momento.

O clube era espaçoso, mas não grandioso. Ao menos era três ou quatro vezes maior que o Pub. Da decoração do falecido clube, não restou nada. Assim que se entra pela porta principal, vê-se um bar no canto esquerdo. A frente, uma pista de dança de frente para um palco. O resto é só espaço vazio.

- Esse lugar tem potencial. - disse Michelangelo.

- Claro que tem. O que falta é uma boa administração. - disse Rafael. - Um bom marketing fará toda diferença também. Vamos chamar todos os gays da cidade. Vão amar esse lugar.

- E a boate já tem um nome? - indagou Leonardo.

- Nãão, não pensamos em nada, né, B.B? - sorriu Rafael.

Bruno confirmou. Olhei para ambos os empolgadinhos. Depois corri os olhos para o ambiente. Andei em direção ao início da pista de dança (que era limitada por uma mureta). Leonardo e Marco foram para a direção do bar. O resto se espalhou. Quando virei o rosto para minha direita, vi Donatelo parar de andar e olhar para mim. Tornei a olhar para a pista de dança. Naquele instante, ele saiu de meu campo de visão e, repentinamente, senti-o atrás de mim (seu perfume estava bastante forte).

- Quando vai falar comigo? Faz dias que não fala.

- Agora não quero conversar sobre isso. - respondi, sem me mover.

- Por que não? Vamos resolver.

- Podem ouvir.

- Então vamos lá pra fora.

- Conversamos quando voltarmos para casa.

Somente agora virei-me para encará-lo. Sua expressão me deu pena e eu acabei consentindo em ir para fora com ele. Saímos do interior do clube.

- Por que continua me ignorando? Não gosto disso.

Ele disse esta última frase com mais raiva.

- Sabe o quanto é cansativo te ouvir falar às vezes? Não sei mais o que fazer. Você fica insistindo na mesma história.

- Não penso mais nisso. Já parei de pensar.

- Mesmo? De verdade? - indaguei, ainda duvidoso.

- De verdade.

- Vou te avisar uma coisa... Se voltar a tocar no assunto, se me sugerir tudo o que sugeriu da última vez, eu termino. Um relacionamento não funciona se só um de nós se esforça para levar as coisas adiante.

Donatelo

Vi-o voltar para dentro. Naquele mesmo momento, Leonardo cruzou a porta da frente e veio em minha direção. Estava sorrindo.

- Ele ainda está bravo?

- Provavelmente. Muito provavelmente.

Ele riu. Olhei-o seriamente:

- Por que a risada?

- Não posso mentir. Eu fico feliz por isso.

- Por que?

- Porque você é idiota.

Continuei olhando-o com seriedade e um tanto aborrecido com o seu sorriso descarado. Num instante, porém, ele ficou sério e disse:

- Eduardo é bonito e nós dois sabemos que tem muitas virtudes. Continue dando uma de estúpido para cima dele e verá com que rapidez ele te troca por outro.

Apoiei-me ao corrimão da escada.

- Não tem medo disso?

- Tenho, claro que tenho.

- Mas não parece. Você age como se não se importasse com o que pode acontecer. Acredite em mim quando digo que se ele terminar a relação, não terei pena de você.

Em silêncio, observei-o descer o restante dos degraus e parar na calçada. Consultou seu celular e provavelmente discou alguma mensagem.

- Por que o Danilo não veio?

- Saiu. Com os amigos.

Leonardo falou com suavidade. Certamente que sua raiva passou e, como já terminara de me dar bronca, agora podia conversar naturalmente.

- Me desculpe.

Leonardo levantou os olhos para mim.

- Não peça desculpas a mim. Peça desculpas a ele. E torça para ele te ouvir e não te ignorar mais.

Quando comecei a subir a escada, Leonardo ainda completou, dizendo:

- E não o esgote mais. Todos temos um limite. Não vá querer ver até onde vai o dele.

Eu estava péssimo por dentro. Péssimo por ser uma pessoa tão idiota. Como consegui, com tanta facilidade, estragar minha relação que outrora estava perfeita? É lógico que eu não gostaria que meu namoro acabasse. Lógico que não gostaria de ver Eduardo com outra pessoa. Idiota! Você é um idiota, Donatelo!! Burro! Burro! Burro! Burro! Burro! Burro! Burro! Burro!

Quando já estava dentro do clube, diminui meus passos e vi que todos estavam espalhados pelo seu interior. Aproximei-me de Marco que estava mais perto de mim. Michelangelo era puxado a um canto por Rafael, enquanto Eduardo e B.B cochichavam próximos do palco.

- Soube que você está tendo problemas com o Eduardo.

- Que isso! Todos estão sabendo? - espantei-me.

- Como não saber? Você veio sozinho e o Eduardo veio de carona comigo.

- Hm.

- Sem contar – disse, me olhando de esguelha. - que ele reclamou de você o caminho inteiro.

- O que?? O que ele disse exatamente?

- Não me recordo das palavras exatas, mas seria algo parecido com “irritante”, “estúpido” e usou também um palavrão para te descrever.

Quando eu ia reclamar, vi uma figura passar por nós e parar, mais ou menos próxima. Virei o rosto para ver quem era. Era Sandro. Mantive a expressão de surpresa absoluta até ele vir nos cumprimentar. Ele não mudou nada. Os cabelos castanhos continuavam muito longos, os olhos verdes claros tinham o mesmo brilho, sem contar que ainda se vestia com certa formalidade.

- Sandrito-san, meu camarada! - gritou Rafael, lá do outro lado do clube.

Veio até nós, junto com Mick.

- O que achou do clube?

- Muito bacana. Pretende fazer uma mudança radical?

- Se você achar que deve... O especialista é você... O Hiro não vinha com você?

- Está doente.

- O japa-japa está doente?

- Deve ser gripe. Está com febre e dor de corpo. Está descansando em casa. Disse para você fazer uma visita. Ele se diverte muito com você.

- Ah, claro! Claro que farei, com muito prazer.

Leonardo voltou lá de fora e se uniu a nós. Desta vez, Rafael puxou Sandro para que este conhecesse o resto do estabelecimento. Quando Rafael e Sandro se cruzaram com Eduardo e Bruno, Sandro cumprimentou os dois com um beijo no rosto e um abraço.

Ficamos no clube por mais ou menos uma hora e meia. Na hora da despedida, quando estávamos na calçada, Eduardo dirigiu-se ao carro de Marco. Cruzei meu olhar com o de Leonardo. Ele apenas deu de ombros. Fui para casa sozinho.

Rafael

Discuti meus planos com Bruno e Marco durante um mês inteiro. Sandro já havia iniciado a decoração do clube e quando terminou o serviço, chamou a nós três para ver como ficara. Marco e Bruno me levaram ao clube. Nos encontramos com Sandro. Assim que atravessamos a porta principal da boate, a primeira coisa que dissemos foi: “Nossa!”

- Ficou lindo! Perfeito! - disse B.B. - Ai, que demais! Não está lindo, Mi?

No centro da boate, ou seja, mais ou menos na região da pista de dança, Sandro colocara cinco globos espelhados. Também jogos de lasers. Colocou mesas quadradas com duas cadeiras cada uma encostadas nas paredes, alternou entre mesas com duas a até seis cadeiras ao redor da pista de dança e no restante dos espaços do interior da boate. Colocou cadeiras quadradas em frente ao balcão do bar, que também foi decorado com vasos de flores.

- Os lasers da pista de dança tem cores que vão do rosa ao azul. As luzes da área das mesas têm cor azul e da área do bar, lilás. Aquelas luzes dali de cima são amarelas. Tive que mudar o material do balcão. Também fazer mudanças nos banheiros. Querem dar uma olhada?

Era outro ambiente. Realmente era outro ambiente. Estava perfeito. As paredes foram pintadas de cores quase que imperceptíveis e o piso foi trocado. Impressionante como ele pensou em cada detalhe. Especialmente na iluminação. Desligamos todas as luzes e ligamos os lasers.

- Gostei do tom de azul. - disse, ao caminhar por entre as mesas. - Ficou bastante iluminado. Nada escuro demais ou claro demais.

- Aaaai, mal posso esperar para dançar! - disse Bruno, super animado.

- Tenho um amigo que trabalha com cartões de visita e flyers. - disse. - Vou pedir para ele fazer os cartazes para a boate. O cara herdou uma gráfica e editora de sucesso. Também tenho amigos DJs, drags... O negócio será bom!

Por fora, a decoração permanecia a mesma. Continuou-se o gramado cortado, os quatro coqueiros e as pedras brancas entre a escada de sete degraus e a rampa que davam acesso à porta principal. Foi tirado o letreiro antigo do clube para que o nosso fosse colocado. Voltei para casa quando nós três anotamos o que precisava ser comprado e resolvido com urgência. Lucas chegou de noite no horário de sempre. Contei-lhe sobre a boate.

- Vai demorar muito para inaugurar?

- Acho que não. Falta um detalhe aqui, uma coisinha ali...

Sentamos no nosso sofá (sofá que Donatelo nos deu) depois da janta. Ao checar meu celular, vi que havia recebido vinte mensagens! Olhei uma por uma para responder, se fosse preciso.

- Hm... O Pedro querendo saber o mesmo que você... A Renatinha me convidando para sair... A Lu falando besteira... O Abel querendo saber as novidades... HÁHÁ! Olha a mensagem do Gilberto: “Vou cobrar o dobro. Para amigos é mais caro”. HÁ! Filho da puta.

- Quem é Gilberto? - indagou, aproximando-se.

- É dono da gráfica e editora Cidade. Pedi para ele fazer os cartazes e flyers, mas antes o Do vai terminar a arte e o site da boate.

- Impressionante como ninguém te nega nada.

Sorri:

- Eu sei. Meus amigos me amam.

Donatelo

Fui à gráfica Cidade na manhã de quarta-feira. Levei meu notebook caso fosse necessário. Consegui uma vaga no estacionamento da empresa que ficava na avenida Barão de Tatuí. Antes de sair do automóvel, ouvi meu celular. Peguei-o e li a mensagem: “Vou sair com Danilo. Nos vemos em casa”. Era uma negativa de Eduardo ao meu pedido para almoçarmos juntos. Ele ainda me atormentava com sua atitude e isto me deixava com um péssimo pressentimento...

Saí do carro e puxei a porta de vidro da pequena recepção. Havia, ali dentro, apenas duas escrivaninhas, cada uma num canto, e três cadeiras encostadas na parede à minha esquerda para os clientes. Também um garrafão de água ao lado da porta. Fui em direção à única escrivaninha ocupada por uma atendente.

- Bom dia. Sou Donato. Tenho hora marcada com Gilberto agora às nove.

- Vou avisar que já está aqui. Só aguardar um minutinho.

- Obrigado.

Enquanto a moça discava no telefone, parei em frente da porta de vidro e observei a rua. Depois corri os olhos para a recepção e resolvi tomar um copo de água bem geladinho. Em seguida, a moça me conduziu para a sala ao lado, onde o tal Gilberto me esperava. Parei em frente da sua mesa e o cumprimentei quando este levantou-se da cadeira e estendeu a mão para mim.

- Trouxe as artes que me pediu.

- Pode sentar.

Sentei numa cadeira – muito confortável por sinal – em frente da sua mesa e tirei meu pendrive de dentro de minha bolsa. Ele apanhou o pen e o plugou ao pc que estava oculto atrás de sua escrivaninha. Deu alguns cliques com o mouse e observou as artes que eu fiz na tela a sua frente.

- Impressionante... Está ótimo... Se eu fosse o cliente, estaria satisfeito... O Rafael já viu o que você fez?

- Já. Mostrei por e-mail. Ele aprovou tudo, só falta imprimir os flyers e os cartazes.

- Hm... Você trabalha na área há muito tempo?

- Mais de cinco anos.

- Com certeza fez faculdade?

- Fiz, claro.

- Está trabalhando?

- Para uma empresa de São Paulo.

- Oh... Perguntei porque o rapaz que está conosco, o designer que está conosco, passou num concurso e vai deixar a empresa. Vamos precisar de alguém com experiência para ocupar o cargo.

Olhou outra vez para a tela. Devolveu o pendrive após passar os arquivos para seu computador. Como não consegui segurar minha curiosidade:

- Onde conheceu o Rafael?

- No Pub.

- Ah, ele está sempre indo para lá.

- É. Sou amigo de um amigo dele.

Não achei que Rafael conhecesse empresários...

- Quando estou com a cabeça quente, conversamos pelo Facebook.

Caramba!!!

- É muito fácil e divertido falar com ele.

Pelo jeito o Rafael não trabalha nada.

- O flyer terá este tamanho mesmo? 15X21? Será impresso em papel couchê com brilho 120 gramas, 4X4?

- Isso. Os cartazes também serão do mesmo material especificado no e-mail que o Rafael te enviou.

- Perfeito.

Rafael

Faltava quatro dias para a grande inauguração – incrível como o tempo passou depressa -, mas apesar da empolgação de todos nós, só havia um assunto para comentar no dia de hoje.

Estava com Leonardo, Lucas, Mick e Donatelo no McDonald's do bairro Campolim comentando sobre o fim da relação E casamento de Donatelo e Eduardo. Apostas à parte (eu venci a aposta feita por todos nós de que a relação dos dois não ultrapassaria três meses após a última crise), o término nos pegou de surpresa.

- Cai na real. - disse para Donatelo, sentado ao meu lado na mesa. - O Du se cansou de você. Você é outro paranoico que recebe dele um pé na bunda.

- Ele não me deu um pé na bunda. - corrigiu Leonardo.

- Isso te enche de orgulho, né? Não, você não recebeu um pé na bunda, mas é paranoico também. Como o Sandro era um pouco ou ainda é, não sei.

- E quanto ao Marco? - lembrou-se Mick. - O Du também namorou o Marco.

- Ele é exceção.

- Não fique assim. - disse Leonardo, pondo o braço sobre o ombro do deprimido. - Um dia você supera.

Rimos da cara do Donatelo.

- Qual será o próximo namorado do Du? Quero ganhar outra aposta. - confessei.

- Que coisa feia, cara. - disse Michelangelo.

- Você também apostou.

Donatelo dirigiu um olhar grave para Michelangelo. Este logo tentou se defender:

- Não me olhe desse jeito. Todos apostaram. Não fui o único.

- Apostaram pelo nosso fracasso?

- Pelo seu. - dissemos todos juntos.

Ainda rimos mais um pouco da cara do coitado. Pobrezinho! Via-se claramente que não estava suportando a situação.

- Precisavam ter visto a cara do Do quando o Duzinho saiu da casa dele. Foi engraçado de uma forma trágica. - ri.

De súbito, Donatelo levantou da cadeira e se afastou de nossa mesa. Entrou no banheiro.

- Falou demais agora. - disse Lucas.

- Tsc. Eu disse que não sentiria pena. - informou Leonardo. - Ele procurou isso.

- A culpa é toda sua. - falei, apontando para Leonardo.

- O que? O que tenho a ver com isso?

- Se não bancasse o ex-namorado ciumento e chorão o Donatelo não teria surtado. E, pelo amor de Deus! O que vocês viram no Eduardo? Eu não consigo entender. Ele é bonito? Sim, e daí? Ele é camarada? Sim, e daí? Tirem as quarenta qualidades dele, o que sobra?

- Você. - disseram Mick e Lucas.

Riram de mim.

- Isso prova que qualquer relação pode acabar. - disse Lucas, após um minuto.

Olhei para a cara dele.

- Como é?

- Qualquer relação pode acabar. Até a nossa.

Ele gargalhou quando fiz cara de espanto.

- É zoeira.

- Assim espero.

- Será que ele está legal? - perguntou Mick, olhando para a direção do banheiro.

- Deve estar ligando pro Du para implorar. - brinquei.

Naquele instante, Donatelo regressou. Tornou a sentar. Notei que todos olharam para ele. Também olhei para ver se havia chorado. Parecia normal dos olhos.

- Bem, no dia da inauguração da boate, apareça lá, cara, para se alegrar um pouco.

Leonardo

No sábado, um pouco antes das sete horas da noite, fui até a casa de Danilo para buscá-lo. Assim que entrou no carro, dirigi para o bairro Campolim. Quando estávamos próximos da boate de Rafael, procurei um lugar para deixar o carro.

- Será que esse pessoal todo está indo para a boate?

- Não me admiraria. - respondi.

Parei o carro na mesma rua da boate, mas um tantinho longe dela. Não me foi possível parar mais perto. Saímos do carro e caminhamos pela calçada oposta. Havia uma grande multidão indo na mesma direção que nós.

- Caramba! Isso até parece dia de show.

Danilo riu e concordou. Pegou na minha mão. Continuamos caminhando. Paramos em frente da boate onde eu podia ler o letreiro feito em inox na parede: “In&Out”. A multidão estava aglomerada em frente da porta principal. Quando deu sete horas, vimos a porta se abrir. Decidimos esperar que a maioria do povo entrasse para entrarmos depois porque não daria certo do jeito que estava.

Rafael nos cumprimentou logo na entrada. Elogiei a decoração do local, mas ele disse que eu deveria elogiar ao Sandro, que fez tudo sozinho.

- Tem muita gente aqui. - comentei, ao seu ouvido, porque já rolava música alta no ambiente.

- É, e acho que vem mais. O Bruno e o Marco estão numa mesa ao lado da pista de dança. Vai lá.

- Certo. Nos vemos depois.

Ainda de mãos dadas a Danilo, levei-o, no meio daquela gentarada, olhando para todos os cantos, esperando encontrar nossos amigos. Vi primeiro Marco. Depois reconheci Bruno sentado numa cadeira ao lado dele. Cumprimentamos os dois e sentamos com eles.

- Esse lugar é ótimo. Dá para ver todos dançando. - disse.

A mesa ficava encostada à mureta que delimitava a área da pista.

- É, foi o Rafael quem nos reservou essa mesa. Nós o trouxemos. - comentou Bruno.

- Alguém mais veio?

- O Du foi pegar bebida pra gente.

Admirei as luzes, admirei o palco, admirei o povo alegre ir e vir... Realmente estava empolgado. Em pouco tempo, Eduardo apareceu, trazendo dois copos. Estava usando jeans e camisa social branca. Olhei-o bem. Era a primeira vez que nos encontrávamos depois que sua relação com Donatelo havia acabado. Inclinei-me na direção de Marco e perguntei, ao seu ouvido, se Donatelo viria.

- Não sei o que resolveu. - sussurrou ele. - Pode vir quanto pode não vir.

- Vamos dançar? - perguntou B.B.

Eduardo consentiu. Danilo quis me levar com ele, mas falei que dançaria mais tarde. Sendo assim, ficamos somente Marco e eu na mesa. Lucas e Michelangelo vieram juntos meia hora depois. Sentaram conosco.

- Esse lugar ficou espetacular. Adorei as cores. - disse Mick. - Me impressionei com o Rafael. Ele cumprimentou meio mundo lá na porta. Parece que conhece todo mundo.

- Ele convidou todos os amigos do Facebook. - disse Lucas. - Até os pais e os irmãos. Só o Fabinho vai aparecer. Segundo ele, está de namorado novo.

- Reconheci um pessoal da página dele. Até aquele cara que estava a fim dele está aqui, vocês lembram? Está perto do bar. Parece que veio sozinho. - informou Mick.

Consegui encontrar Rafael entre o povo. Estava passeando com uma drag e parou para conversar com um cara. Em seguida, quando já me sentia disposto, encontrei Danilo na pista e me uni a ele. Adorei o fato de o DJ estar tocando só músicas antigas (talvez dos anos 90 e 80, não saberia dizer com precisão). Estava me divertindo bastante e Danilo também. Não tirou o sorriso do rosto.

Lucas

Permaneci na mesa com Mick e Marco. Quase não vi Rafael. Devia estar andando por aí com seus amigos.

- Aqui! - acenou Mick, de repente.

Olhei para trás e vi Donatelo se aproximar.

- Vixi!

- Senta aí. - convidou Mick.

Donatelo sentou na cadeira ao meu lado.

- E o pessoal? - perguntou, enquanto dava uma ajeitada em sua jaqueta de couro.

- O Rafael está sabe-se lá onde... - respondeu Mick. - Leonardo, Danilo, Bruno e Eduardo estão dançando.

Donatelo olhou brevemente para a pista. Naquele instante, Leonardo e Danilo voltaram.

- Espero que meus pés não doam depois de hoje. - brincou Leonardo. - Se quiser, pode continuar dançando, Dan. Preciso dar uma parada.

- Não, tudo bem.

B.B e Eduardo também vieram. Este último parou ao lado da cadeira de Mick, bem longe da de Donatelo. Bruno parou atrás da cadeira de Marco e pegou no seu rosto.

- Que divertido, Mi. Não quer dançar comigo?

Ele se negou.

Durante um momento de silêncio constrangedor, olhei para Marco. Este retribuiu o olhar. Depois olhei para Mick. Ele retribuiu da mesma forma. Olhei para Leonardo e ele também me olhou.

- Alguém quer bebida? - perguntou Leonardo.

- Vai ao bar? - disse Dodô.

- Vou.

- Vou com você.

Leonardo

- Muita coragem sua vir. - disse, assim que nos afastamos da mesa.

- Vim mais por causa da inauguração. Eles me convidaram. Não podia faltar.

- Ah, sim.

- Mas isso também não quer dizer que desisti dele e do nosso casamento. Ainda estamos casados.

- Claro, claro. Boa sorte para você.

- Mesmo? Não vai apostar de novo pelo meu fracasso?

Dei uma risada sem graça:

- Não leve para esse lado.

Chegamos em frente ao balcão do bar e quem estava ali? Rafael.

- Por que não me surpreendo te vendo aqui?

- Oooooooi, Doooooo! Que bom que veio, carinha! Estava me perguntando se te encontraria em algum momento da noite.

Rafael nos apresentou aos seus três amigos e suas duas amigas que conversavam com ele. Não conhecia nenhum deles. Donatelo, porém, conhecia o tal Gilberto que quis conversar um pouco com a gente. Achei-o bacana e bastante inteligente, diferente de alguns colegas do Rafael que parecem desmiolados. Os demais se afastaram, Donatelo e eu pegamos bebidas e voltamos para a mesa na companhia de Rafael e Gilberto. Quando o pessoal soube que Gilberto era dono de uma gráfica, todos ficaram impressionados.

- Como o Rafael pode conhecer gente tão inteligente? - brincou Mick.

- Nossa! Assim você me diminui. Saia da boate!

Rimos.

- Verdade, não? - concordei. - O Rafael conhece psicólogo, advogado, designer, professor... Isso deve deixá-lo muito feliz, né, Rafa?

- Você não é o único que tem diploma, sabichão. - zoou ele.

- Que maldade. O Rafael é super inteligente. - disse Eduardo. - Mais inteligente que todos nós.

- Não sou apenas inteligente. Sou lindo também. Tenho excelente aparência e um cérebro super desenvolvido.

- Está no ramo certo. - comentou Gilberto. - Sabe lidar com pessoas.

Concordamos para deixar Rafael feliz. Zoamos um pouco mais também, claro. Papo vai, papo vem, o que eu percebo? Que Donatelo terá concorrência. Em vários momentos vi Gilberto dar uma espiadela em Eduardo ('secada' é o termo mais adequado). Tive vontade de rir e acabei rindo na frente de todos.

- Que foi? - indagou Lucas.

- Não vale mentir dizendo que se lembrou de uma piada. - disse Rafael. - É a desculpa mais fajuta que existe.

- Eduardo, pode vir comigo um minuto?

- Eu?

Nos afastamos da mesa.

- Que houve?

- Nada. Só precisava sair de perto deles e só pensei nisso. Se eu continuasse lá, o interrogatório continuaria.

- Ah... E por que riu?

- Não quero responder. - disse, em tom descontraído.

No instante em que ele virou o rosto para ver as pessoas mais próximas, observei seu cabelo jogado de lado, seus olhos super azuis e seus lábios bem feitos. Ficava bem de branco.

- Você está lindo.

- Obrigado. - sorriu.

- Ainda de aliança no dedo?

- Ah... Não sabia o que fazer com ela.

- Quer mesmo tirá-la?

Ele me encarou.

Rafael

- Ih! Olha a Abelinha! Abelinhaaa! Abelinhaaaaaaaa!

Abel veio até nós quando me viu.

- Pessoal, esse é o Abel. Abel, essa é a galera... Estava pensando em dar uma mexida nas cadeiras. Alguém quer ir comigo?

Bruno e Mick disseram que sim. Abel também quis. Sendo assim, fomos para a pista.

- Vamos lá, Abelinha. Libera a bicha dentro de você. É isso aí. Vamos lá.

Abel

Dançar com ele foi um sonho. Rafael era muito criativo nos passos de dança. Estava me divertindo muito. Fiquei encantado com seus olhos azuis, seu cheirinho de menta... Uma delícia. Seus lábios carnudinhos toda hora sorriam pra mim. Tentei acompanhar suas danças e fiquei feliz por ele criar passos que me incluíam todo o tempo na dele.

Em dado momento de uma dança, ele encostou o rosto no meu e disse, ao meu ouvido:

- O cara aí atrás está ligadão em você.

Olhei para trás. O tal cara olhava para mim. Voltei a olhar para Rafael. A pista de dança estava cheia de caras bonitos, mas não tinha interesse em nenhum deles, só no Rafael. Continuei admirando seu jeito cômico de dançar. Ri bastante.

Num instante em que ele inclinou a cabeça para o lado, seu rosto ficou tão bonito que senti como se meu coração tivesse sido acertado por alguma coisa dura e pesada. Ele ainda sacudiu a cabeça para um lado e para o outro, bagunçando o cabelo, me deixando ainda mais apaixonado. De vez em quando ele cantava o refrão: “All the things she said, All the things she said, Running through my head, Running through my head”. As luzes piscando, os lasers nos colorindo, o ambiente... Meu coração está explodindo!


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