Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 19
Matar um leão por dia é fácil. Quero ver desviar das antas


Notas iniciais do capítulo

Gente, obrigado pela paciência que vocês têm comigo, sério! Tá tudo resolvido aqui e posso voltar a compartilhar essa fic com vcs :3



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Eu estava acabada, trucidada e definitivamente morta depois daquela prova. Eu saí de dentro da sala onde a bendita havia sido aplicada me rastejando, como se eu fosse um zumbi. Na verdade, toda a universidade estava repleta de zumbis, outrora pré-vestibulandos que esmagaram seus próprios cérebros até sair a última gota de conhecimento.

Caminhei pelos corredores, finalmente saindo do bloco e procurando Rubem, que deveria estar ali me esperando para me levar de volta. No entanto, em vez de encontrar Rubem, vi três garotas da minha turma do terceiro ano conversando. E o que eu sempre achei impossível aconteceu: elas perceberam que eu estava ali.

— Ei, garota! — uma delas me chamou. Eu esqueci do nome dela, mas sabia que ela era uma das queridinhas de todos da escola.

— Eu? — perguntei, me aproximando. Minha cabeça parecia que iria explodir.

— Como foi de prova? — a outra garota, loira, de nariz empinado indagou. Percebi que a terceira garota estava ocupada demais tirando uma selfie.

— Acho que fui bem. Fiz para arquitetura.

— Nós três fizemos para direito. Mas isso não importa. É que... — a que começou a puxar assunto, que mais parecia líder delas, travava um pouco a voz antes de continuar a falar — É que nós vimos quando você chegou, naquele carrão sabe?

Elas estavam falando do carro de Rubem.

— E também percebemos quando você chegava na escola acompanhada daquela mulher elegante. Ela é sua mãe? — continuou a líder. Ela perguntava sobre Marjorie.

— Ela é esposa do meu pai. Estou morando com ele agora. — respondi, indiferente. Rodeava com os olhos toda a extensão do campus a procura do meu irmão. Curiosa eu estava, claro. Por que diabos aquelas garotas estavam falando comigo?

— Isso sem contar na mudança de visual. Você mudou do all star surrado para o salto alto, Rosa Maria. — comentou aquela que estava tirando selfies.

— Meu nome é Rosemary. — corrigi-a. Eu odiava que errassem meu nome e no caso dela, parecia que ela havia errado de propósito. Percebi depois que havia usado um tom de voz um pouco mais elevado para corrigir a garota, o que fez as três patricinhas ficarem espantadas.

— Caramba, não sabia que você era tão... ogra. — falou a segunda garota — Não é à toa que ninguém falava com você na escola. Aposto que nunca nem namorou. E vai aparecer sozinha amanhã no baile de formatura.

As três começaram a rir. Ogra.

Então eu me lembrei do baile de formatura. Eu odiava bailes. Nunca apareci em nenhum deles: nem os de final de ano, nem os do dia de namorados, tampouco os do dia das bruxas, que era uma imitação barata daqueles bailes de filmes americanos. Contudo, por algum motivo, eu fiquei com vontade de ir para aquele, o de formatura. Era o último, marcaria a última vez em que eu pisaria naquela escola, caso corresse tudo bem no vestibular.

— Pois fiquem sabendo que eu tenho namorado sim. — respondi, furiosa — E ogras são vocês, que dependem dessas máquinas para tudo — apontei para o celular da garota da selfie — Vejo vocês três amanhã, no baile.

Dei de costas e saí. Uma delas gritou:

— Cuidado para não pisar num chiclete e beijar o chão. Só assim pra você perder o BV! Ogra!

Eu ouvia as risadinhas delas ao longe. Elas que me aguardassem.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Rubem Maldonado)

Mamãe estava surtando de ódio lá em casa. Eu temia o fato passar os sábados em casa porque ela sempre encontrava algum motivo para reclamar, já que ela achava que eu era um ótimo ouvido. Dona Solange quase surtou quando eu disse a ela que, naquele momento, Rosemary, sua queridinha, estava fazendo a prova do vestibular:

— O quê?! — exclamou ela — Eu fiquei por todo esse tempo calada, mas não vou deixar que minha princesinha se perca no mundo dos porcos universitários.

— Para, mãe! Por favor, releva, né? A Rosemary não é mais nenhuma criança. Ela está apaixonada, sabia? — sentei-me esparramado no sofá e cruzei as pernas. A única coisa que tinha para assistir aos sábados era aquele programa cujo apresentador tinha o nariz que mal cabia na tela da TV.

Minha mãe começou a simular um ataque de nervos, colocando a mão no peito à medida que fingia estar tonta, jogando o corpo contra a parede da sala. Quando ela viu que eu nada faria para ajudá-la, ela desfez o seu papel de mãe surtada e sentou ao meu lado no sofá.

— Os filhos crescem mesmo... — suspirou Dona Solange — Vocês vão embora e eu vou continuar aqui, sozinha, envelhecendo. Enquanto o tempo passa, meus peitos caem, as rugas aparecem, meus cabelos ficam brancos... a Rosemary entra na faculdade, começa a namorar, você consegue um emprego dos sonhos, o pai de vocês vira um coroa que mais parece o José Mayer e enrica cada vez mais... É, Rubem...eu só estou fazendo cera, ocupando espaço no mundo.

Abracei mamãe e acabei deitando minha cabeça nas pernas dela. Desliguei a TV.

— Mãe, por favor, né? A senhora é nova, é uma gata! Só precisa de um incentivo para mostrar sua beleza. Se a senhora saísse mais, tenho certeza que poderia encontrar de novo o sentido da vida. Rosemary, papai e eu estamos apenas seguindo com os nossos objetivos... a senhora deveria viver um pouco mais para si mesma e deixar a gente um pouquinho de lado.

Ela me fitou, processando minhas palavras.

— Cê acha, Rubem? — questionou.

— Claro, mamãe. — levantei-me e dei um beijo no rosto de Dona Solange — Agora eu preciso ir. Tenho que pegar a Rosemary no local de prova. O motorista do nosso pai está de folga hoje, então sou chofer da sua princesinha por um dia. Tchau, volto logo.

Antes que eu alcançasse meu carro, no lado de fora da minha casa, meu celular tocou. Olhei no visor do meu Samsung Galaxy: Tereza Bittelbrun a dona da Folk Basfond. A ricaça vinha de Paris pelo menos uma vez por mês para que prestássemos conta dos lucros e prejuízos da loja. Tereza confiava em mim de olhos fechados.

Rubem? — disse ela, do outro lado da linha. Sua voz exalava euros — Aqui é Tereza. Só liguei para avisar que segunda-feira estarei na loja para acertarmos algumas pendências.

— Tudo bem, chefa linda. — minha voz, no entanto, exalava nervosismo.

As prestações de conta nunca foram tão temidas por mim desde o episódio com Martin. Já fazia tantos meses, será que ela ainda poderia descobrir o desfalque?

Resolvi não pensar naquilo, entrar no carro e seguir em frente. Pelo menos até segunda-feira.

👯♡ 👯♡ 👯

Se eu quisesse provar algo para aquelas garotas da minha escola, o dia do baile seria perfeito. O telefone estava em minhas mãos: ligar ou não ligar para Sebastian? Ele aceitaria me acompanhar?

— Alô? — a voz dele do outro lado da linha causava arrepios na minha nuca. Sintoma de paixonite.

— Sebastian, aqui é a Rosemary.

— Oi, Rose! — ele exclamou, parecia mais alegre ao saber que era eu, o que me fez ficar mais tranquila.

— Então, Sebastian... eu queria fazer um convite pra você. Aceita me acompanhar no meu baile de formatura, amanhã?

Percebi que ele ficou em silêncio, pude apenas ouvir sua respiração, que ficava ofegante com o passar dos segundos. O que estava havendo?

— Sebastian, cê tá bem? — indaguei.

— C-claro! É que... é que...

— Olha, se você tiver algo para fazer amanhã, não se preocupa.

— Não! Espera, Rose... Eu vou. — confirmou ele.

— Então... amanhã, às sete. Traje passeio completo. Você tem?

— Não, não é problema. Então... até amanhã?

— Até amanhã, Sebastian.

E desligamos.


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Notas finais do capítulo

E esse baile, como vai ser hein? Apostas?