"Toda coincidência é inteligente."

O casamento

Austin Danforth. Eu conheço esse nome. Juro que já ouvi em algum lugar.

Eu quase gargalho quando lembro. Austin Danforth. Um dos astros do time de vôlei campeão de liga estadual em 2010. E também melhor amigo de Griffin, da época em que estudavam no West High. Tenho que segurar ainda mais a risada quando lembro do que meu namorado havia me contado sobre ele. Eu já vi Austin, rapidamente, na inauguração de uma boate chique ano passado, onde eu, Steve Puttyn e outro garoto passamos pela situação mais embaraçosa pela qual uma pessoa pode passar. Não vou contar a história, apenas saiba que até hoje eu tenho horror a estátuas de gelo. Ou cisnes.

Ou estátuas de gelo em forma de cisnes.

Lembro-me também de Griffin ter me dito que Austin estaria interessado em Tensy, o que, na época, não podíamos ter certeza, mas agora, considerando o modo como ele olha para ela, sei ele ainda pensa em Tensy, embora não tenha falado com ela na festa.

Austin sorri para mim. O que será que Griffin contou a ele sobre mim, meu Deus? Mesmo morrendo de vergonha por dentro, eu o abraço.

- Oi, Viper. - Cumprimenta ele.

Viper abre um sorriso e o abraça animada. Austin se vira para Tensy e o abraça também. Tens sorri bobamente quando os braços fortes de Austin envolvem a cintura dela.

Já conseguiu a transferência? - Pergunta Griffin para Austin, assim que os cumprimentos acabam.

Tensy engasga levemente.

- E-ele vai estudar aqui? - Pergunta ela a Griffin, que assente, tentando não rir.

Viper e eu tentamos não rir também, enquanto Austin não entende nada. Pela primeira vez nos meus dezesseis anos, vejo Tensy desconcertada em frente a algum garoto.

- Tenho que falar com a diretora agora - Responde Austin, sorrindo um pouco com o ataque de Tensy. - Mas acho que se der tudo certo, posso começar hoje.

Griffin estende a mão e os dois se cumprimentam. Parece que Austin acha melhor não abraçar Tensy de novo, então nos joga um tchauzinho e vai embora. Todas as meninas da escola, que o estiveram observando atentamente desde que ele chegou, observam cada passo que ele dá quando vai embora.

- Griffin - Fala Tensy, tentando respirar - por que você não me disse que existia outro de você no mundo?

Ele ri. Eu e Viper rimos também.

- Por que Austin resolveu vir para cá? - Pergunto.

- Mesma razão que eu - Responde Griffin, colocando um dos braços nos meus ombros - ele se cansou do West High.

- Obrigada, West High, pelo novo objeto de decoração do colégio. - Diz Tensy, baixinho.

Nós rimos de novo.

- Então você já o conhecia, Viper? - Pergunto.

Ela olha para o chão.

- É... bem... você sabe...

- Viper e Austin já namoraram, Bellie. - Me esclarece Griffin, com voz de "você-já-deveria-saber-disso".

Tensy arregala os olhos. Tenho medo de ela ficar com raiva de Viper por isso, mas ela se levanta, com os olhos brilhando, a mão dramaticamente a cima do peito, e abraça Viper com um só braço.

- E eu achando que o seu bom gosto era só para escolher amigas. - Fala, com uma voz emocionada.

Viper gargalha e é acompanhada por mim e Griffin.

- Eu posso ajudá-lo a se entrosar no colégio. - Diz Tensy, com uma voz pensativa.

- Não precisa disso tudo, Tens. - Falo, rindo.

- Como não? - Ela se vira para mim. - Ele precisa de alguém para lhe mostrar onde ficam os banheiros, as salas, os armários, a edição do jornal e a banda de música.

- Por que ele precisaria saber onde ficam a edição do jornal e a banda de música? - Pergunto.

- Para ele nunca passar perto. - Responde Tensy.

Eu rio mas não acho verdadeiramente engraçado. Não quando eu sou a conselheira do jornal.

De qualquer maneira, é tchauzinho, Derek Hall.

○ ○ ○

- Está decidido, vou fazer meu teste de motorista amanhã, assim que sair da escola. - Digo.

- Que bom, amor. - Diz Griffin. - Quer que eu vá com você?

- Não precisa. Você não tem que largar tudo para ir comigo, Griffin.

- Mas eu quero, Bellie. - Insiste ele.

- Não precisa mesmo. Eu pego um táxi.

- BELLIE! - Grita minha mãe. - Há quanto tempo você está no telefone?

- Alguns minutos! - Tiro o telefone da orelha, tampo o bucal e berro de volta, apesar de estar falando com Griffin no telefone há mais de duas horas.

- Eu preciso dele agora! - Responde minha mãe. - Vocês dois se falam todo dia!

- Griffin, tenho que ir. - Falo, suspirando.

- Tudo bem. Até amanhã.

- Até amanhã. - Respondo.

Respiro fundo. Estou um pouco nervosa com o teste de amanhã, mas dirigir é uma coisa que eu sempre quis fazer e desde que completei dezesseis anos, eu me odiava quando lembrava que, se eu não fosse tão medrosa, podia facilmente ter tirado uma carteira de motorista e não ia precisar ficar andando de táxi o tempo todo.

 Quando contei a ideia para meus pais, eles apoiaram muito, então fico um pouco mais tranquila.

É só não bater e não matar o instrutor que eu ficarei bem.

○ ○ ○

Eu cheguei cinco minutos antes do meu teste começar. Sra. Nichols fez a gentileza de segurar a turma até onde podia, de modo que quando ela finalmente nos liberou da tortura, eu tive que correr muito para chegar até aqui. É por esse tipo de coisa que eu tenho que começar a dirigir logo. Entreguei os papeis que me mandaram para uma mulher mal encarada que me mandou esperar a minha vez. Ainda estou esperando, sentada em uma cadeira desconfortável balançando minha pernas freneticamente.

Enquanto espero, tento me lembrar das intruções que Griffin me deu. A embreagem é a primeira. Mexemos o volante para a direção que queremos que o carro vá. E pisamos no freio devagar. Dirigir não é tão difícil.

"É fácil. Até os homens fazem." Eu rio quando me lembro da voz de Tensy dizendo isso.

Meu carro é o próximo que chegar. Mando uma mensagem para Griffin dizendo que minha vez está próxima o que é muito difícil de fazer com dedos que tremem e mãos que suam tanto. Meu celular apita quando eu recebo uma mensagem. O susto é tanto que eu quase o jogo para o alto, mas consigo me segurar.

"Boa sorte. Você vai conseguir. - Griffin"

Leio a mensagem mil vezes para me convencer disso, e também para passar o tempo.

Meu coração dispara quando o vejo. Meu carro, um Volvo mais ou menos novo, está parando bem na minha frente. Meu coração dispara ainda mais quando eu vejo quem é o instrutor dentro dele.

Não. Isso não está acontecendo. Por favor não.

- Então nos encontramos de novo. - Diz ele, fungando.

Ah, não.

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