Por Um Segundo escrita por Phallas


Capítulo 16
Minha super-heroína


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu demorei dessa vez, não foi?
Desculpem :(
Mas aí está o capítulo, espero que gostem =D
Esse foi um dos capítulos que eu mais gostei de escrever até agora (e olhem que eu já escrevi até o capítulo 27). E com certeza é o mais divertido de toda a série, desde ES.
É isso aí.
Boa leitura ♥
E eu queria deixar um agradecimento especial a uma pessoa que eu amo muito, meu melhor amigo Raphael, mas eu e vocês podemos chamá-lo de Zizi, que me ajudou com os personagens de gibi, porque por mais que todos estivessem na minha infância, eu não me lembra a direito qual vilão era de quem. Triste, eu sei kkkk então Zizi, se você ler isso algum dia, muito obrigada por me ajudar com os heróis, com a Amy e por me inspirar a fazer o Jason (:
E claro, pelo "jovem Padawan". Eu não ia conseguir pensar nisso sozinha nem um milhão de anos. kkkkk obrigada =DD



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"Mostre-me um herói e eu escreverei uma tragédia."

Francis Scott




Se eu fosse esperta, eu sairia correndo. Pois é, mas eu não sou.

Ele funga de novo.

- Entre, princesa. - Convida.

Eu gemo baixinho. Pela fungada, pela voz embargada, e pelo "princesa".

- Acho que eu vou esperar o próximo instrutor. - Digo, sentando-me de novo.

Ele ri.

- Esse é o último de hoje.

Respiro fundo. Não quero dizer a Griffin que desisti do teste. Ou por que eu desisti do teste. Caminho devagar e entro no Volvo, ocupando o lugar do motorista. O garoto que conheci na única vez que andei de ônibus na minha vida limpa a mão de catarro em sua camisa do Lanterna Verde e entra dentro do carro.

- Qual é o seu nome, meu bem?

- Bellie. - Respondo, colocando o cinto de segurança, enquanto tento afastar-me dele.

- O meu é Shesnon. - Informa.

Shesnon?

- Ok.

Eu ligo o carro e começo a repetir mentalmente tudo o que Griffin me disse. Shesnon leva os dedos magros para o rádio e imadiamente a música-tema de "Guerra nas estrelas" toma conta do pequeno Volvo.

- Jura? Essa música agora? - Desdenho.

- Claro. Não tem horário para Guerra nas estrelas.

Não vou discutir. Por incrível que pareça, é esse louco branco demais, com camisa de super-herói, nome estranho, tênis sem meia e borrachinhas de aparelho bucal de cores diferentes que escolhe se eu vou poder dirigir ou não.

Então, no instante em que dou a partida, um outro carro chega atrás de mim. Esse não era o último, no final das contas. Estou aqui não tem nem cinco minutos e já tenho vontade de matar Shesnon.

Tento não me desconcentrar e olho a rua. Não há muito movimento, graças a Deus. Shesnon abre uma latinha de refrigente surgida não sei de onde, tira os sapatos e coloca os pés em cima do painel.

- Precisa mesmo disso? - Pergunto, quase morrendo com o cheiro dos pés dele.

Shesnon arrota.

- O instrutor aqui sou eu. - Responde, ríspido.

Certo. Não vou conseguir a carteira nunca, já estou quase completamente conformada com isso. Ele aumenta a música, até quase furar meus tímpanos. Não é possível que alguém normal goste dessa música.

Shesnon boceja e em seguida começa a arrotar no ritmo. Socorro.

- Para onde vamos? - Pergunto, com medo da resposta.

- Está acontecendo uma convenção naquele clube perto daqui.

- Convenção de quê? - Falo, meio tremendo.

- De Barbies. - Responde ele, sarcasticamente. - Do que você acha? Personagens em quadrinhos, lógico. Quero dar uma passada lá. Sabe, conheço todo mundo.

Acho que isso é um motivo de orgulho para ele.

Eu paro em um sinal vermelho. Tento não respirar porque o cheiro dos pés dele é tão forte que dá vontade de vomitar. Antes que eu consiga pensar, meus dedos vão até o botão do vidro elétrico e abrem todas as janelas do Volvo. O alívio é imediato e tão agradável que eu quase coloco minha cabeça para fora. Quando o sinal abre e eu dou a partida, o vento entra e varre o cheiro de perto. Quase suspiro com a sensação. Me sinto tão livre, tão confortável, tão bem...

- Feche os vidros, por favor? Estou meio resfriado. - Pede ele.

Eu abaixo a cabeça. Isso é inacreditável. Coloco minha cabeça para fora realmente, puxando todo o ar que consigo. Fecho os vidros sofrendo e tento me contentar em chegar rápido à tal convenção.

Faço algumas curvas com habilidade, e freio perfeitamente todas as vezes que o sinal fecha ou algum carro para de repente, mas não acho que Shesnon esteja prestando alguma atenção. Parece estar mais preocupado em arrotar, cantarolar erroneamente a música do Mario Bros e analisar uma mancha estranha e escura que tem na região do umbigo. Ele ameaçou nunca mais me deixar dirigir na vida quando sugeri que ele procurasse uma dermatologista.

- Pare aqui um segundo. - Ordena Shesnon.

Apesar da vaga para a qual ele aponta ser no meio da rua, com os carros passando, consigo, depois de muito suor, colocar o Volvo nela.

Arfo quando vejo que todo o esforço foi para parar na frente de uma...

- LOJA DE GIBIS? Você está brincando comigo?

Shesnon me olha com a expressão completamente normal. Ou tão normal quanto a expressão dele pode ser.

- É a melhor loja de gibis da cidade, gatinha. Desce comigo. - Convida ele, já abrindo a porta do Volvo.

- De jeito nenhum! - Grito, mas ele já está fora do carro. Coloco minha cabeça para fora para me fazer ser ouvida.

- Qual é, meu bem. - Fala Shesnon, parando na frente da minha janela aberta. - Desce. Vou te mostrar alguns amiguinhos meus.

- Isso aqui é um teste de direção. - Digo, morrendo de raiva.

- Sim. - Concorda ele, sem se abalar. - E uma das virtudes de um bom motorista é ter paciência. Se você continuar soltando fumaça eu vou achar que você é perigosa atrás de um volante e não vou te deixar dirigir, bebê. Sossegue a periquita.

O quê?

Eu reviro os olhos com força e abro a porta. Saio do carro e piso na calçada, encarando Shesnon em seguida. Ele sorri.

- Que bom que está aprendendo, Bellizinha.

Vou vomitar.

- Vamos logo com isso. - Ordeno.

Shesnon ri e abre a porta pesada da loja de gibis para mim. Eu entro bufando mas o ar condicionado de dentro da loja amacia o meu humor. Meu instrutor olha ao redor e cumprimenta todos os nerds aqui dentro. Eles me olham assustados. Parece que nenhuma garota entra aqui. Você sabe, além da mãe deles quando esquecem o lanchinho energético e com dose extra de vitaminas em forma de animaizinhos do zoológico.

Vejo, no canto esquerdo da loja, um grupo que me parece bem familiar. O povo do jornal, claro. Tento olhar para outro lado e fingir que eles não existem, mas quando os olho de novo, Jonathan Bravo está me encarando. Mando a ele um sorriso discreto que recebe uma resposta imediata. Shesnon está à minha direita olhando alguns gibis de super heróis ridículos enquanto eu tento entender por quê eu não fugi quando tive a oportunidade.

- Bellie. - Ele me chama. - Coloque isso para mim.

Eu pego o que ele me estende.

- Está louco? Não vou colocar isso. - Afirmo.

Shesnon me encara sério.

- Às vezes no trânsito temos que fazer coisas que não queremos. Se você não colocar eu vou achar que você não é capaz de dirigir.

Eu respiro fundo. Sei que consigo dirigir bem o bastante para matá-lo.

- Estou indo. - Digo, mandando a ele um sorriso amarelo.

Me dirijo para os provadores, a estúpida fantasia de super-heróina na mão. A cortina tem a estampa no Darth-Vader. E adesivos da Liga da Justiça nos espelhos. Eu entro e tento trocar de roupa o mais rápido que consigo.

- Uau. - Exclama Shesnon, quando me vê. - Isso sim é uma Mulher-Maravilha.

Os nerds riem. Graças a Deus, a equipe do jornal foi embora e por isso não podem testemunhar a minha humilhação. Absolutamente todos os olhos da loja estão sobre mim, até os vendedores, com seus óculos grandes e cabelos tingidos de verde fluorescente pararam o que estavam fazendo para me ver nessa fantasia ridícula.

- Posso tirar agora? - Pergunto a Shesnon.

- Pode. - Ele responde.

Eu suspiro de alívio.

- Agora coloque essa. - Fala ele, me dando um pacote com a fantasia da Mulher-Gato.



○ ○ ○



- Você fez muito sucesso.

- Cale a boca, Shesnon. - Falo, colocando com força o cinto de segurança.

Ele levanta as mãos.

- Só estou falando.

Eu bufo mas não respondo. Shesnon me fez experimentar cinquenta fantasias diferentes. Ele comprou todas.

- Por que me fez fazer aquilo, mesmo? - Pergunto, ainda com raiva.

Shesnon dá de ombros.

- Queria ver como ficava.

Eu respiro fundo.

- Para quê?

- Estamos indo para uma convenção, meu bem.

- E o que tem?

Shesnon ri.

- Você não sabe o que mais tem numa convenção?

- Deixe-me ver. - Falo, com uma pose pensativa. - Nerds sem namorada e sem vida?

- Mais. - Corrige ele. - Nerds sem namorada e sem vida fantasiados.

- Espera aí. Você não está achando que eu vou realmente vestir alguma daquelas coisas em público, não é?

Shesnon me olha.

- Claro que vai, gracinha. Às vezes no trânsito temos que nos expor. Se você não se vestir eu vou achar que você não é capaz...

- Tá!- Interrompo. - Vou vestir.

- Muito bom. - Ele sorri. - É assim que eu gosto de te ver, princesinha...

Não acho que Shesnon passaria pela janela do passageiro. Mas com a raiva que eu estou, acho que conseguiria fazê-lo passar por qualquer coisa. Mas eu não vesti uma fantasia de Elektra à toa.

Eu dirijo pelo caminho que ele me aponta. Acho que estou fazendo um bom trabalho até agora, mas, como sempre Shesnon não está prestando atenção em nada que eu faço.

- Pode parar aqui. - Fala ele, sinalizando displicentemente para um estacionamento pequeno à minha direita, onde estão imitações de carros famosos de desenhos animados. Consigo ver a van do Scooby-Doo, o Bat-Móvel e um placa pequena em uma vaga onde se lê "Reservado para o avião invisível da Mulher-Maravilha."

Que coisa ridícula.

- Tome. Sua fantasia. Tem um vestiário ali no canto.

Eu pego o pacote sem olhar e vou para o vestiário que Shesnon me mostra. Eu entro e está lotado de meninas de óculos grandes, cabelos roxos e roupas estranhas.

Eu faço uma careta quando vejo a fantasia de Tempestade que Shesnon me deu, mas se tratando dele, podia ser pior. Me visto rápido e saio. O estacionamento encheu desde que eu fui trocar de roupa de modo que agora todos os nerds fantasiados me olham. Shesnon está me esperando encostado no Volvo vestido de Wolverine. A fantasia fica extremamente patética no corpo magro dele, ainda mais considerando que ele está usando uma barriga com músculos falsos e enchimento para os braços.

- Vamos? - Ele convida, me oferecendo o braço.

Eu passo o meu braço pelo dele com cara de nojo. Nós entramos no salão e imediatamente todos os presentes nos encaram. Acho que esses garotos nunca viram uma menina que não fosse nerd aqui, no mundo deles.

- Shesnon! - Grita um menino, que vem em nossa direção com mais dois garotos, fantasiados dos personagens do Monstros S.A.

Eles se cumprimentam e o garoto que gritou olha para mim.

- Quem é essa?

Shesnon ri.

- Minha namorada.


Mas é claro.



○ ○ ○



- Eu quero ir embora.

- Por quê? - Pergunta Shesnon. - Acabamos de chegar.

- Então. Não precisamos sofrer mais. Eu quero ir para casa. - Insisto.

- Você está reclamando demais, minha jovem Padawan. A noite ainda é uma criança.

Eu o encaro.

- São quatro horas da tarde.

Ele dá de ombros.

- Não vamos embora agora. Essa Convenção é maravilhosamente extraordinária.

Eu bufo.

- Mas nem aqui nem na Kriptolândia.

- Kripton. - Ele corrige, com os dentes cerrados. - O planeta do Super-Homem é Kripton. Já ensaiamos isso.

Eu reviro os olhos.

- E agora o resultado do nosso décimo terceiro Concurso de Fantasias! - Fala um homem vestido de Elvis Presley ao microfone, no palco grande e improvisado à minha direita.

- Shesnon... - Chamo.

- Shh! - Ele grunhe.

- E o vencedor é... - Diz o Elvis, tentando fazer suspense. - uau! Um casal! Com vocês, nossos vencedores, o casal X-Men, com Wolverine e Tempestade!

Levo trinta segundos para lembrar de que Tempestade sou eu.

Shesnon me pega pela mão e me obriga a subir no palco. Ele pega o buquê de flores que provavelmente era para mim e faz um discurso ridículo agradecendo a seus peixinhos dourados por nunca abandoná-lo.

- E quero agradecer também - Continua ele - à melhor namorada do mundo.

Com isso, ele chega os lábios molhados e nojento perto de mim. Isso não vale carteira de motorista nenhuma. Consigo me afastar quando Shesnon está a somente milímetros de distância de minha boca.

- Não! - Grito.

O salão todo olha para mim. Me sinto corar de vergonha, mas como diria Tensy, se todo mundo está olhando para mim, eu sou obrigada a fazer uma cena. Tiro a peruca horrorosa de Tempestade e a atiro no chão.

- Não sou sua namorada! - Berro, abusando de toda a minha sinceridade. - Não sou namorada dele, entenderam? E essa fantasia esquenta o corpo inteiro! Não finjam que estão confortáveis com essas coisas, porque não estão!


Jura, Bellie? De todos os abusos que você sofreu hoje, você vai falar da temperatura interna da fantasia?


- Querem saber de uma coisa? - Falo, para o salão lotado. - Eu vou embora. E acho que vocês deviam fazer o mesmo. Sabem, criar uma vida, conhecer gente nova e parar de tomar esse suco gosmento que servem aqui. - Termino, apontando para a mesa onde há uma grande jarra de suco com as cores do símbolo da Marvel.

Os nerds olham desorientados para os copos com os emblemas de "Guerra nas estrelas" que seguram. Todos eles estão bebendo o líquido.

- Estou indo mesmo! E você - Aponto para Shesnon, mas lembro que não tenho xingamento para ele. - Você usa enchimento! - Acuso, na falta de coisa melhor.

Termino minha cena andando a passos pesados e largos para fora do salão. Quando chego na porta desnecessariamente grande, me viro para o grupo enorme de nerds que ainda me olha e grito:

- E eu prefiro o Duende Verde do que o Batman!

Eles arfam ao mesmo tempo, chocados.

- Coringa! - Berra um garoto vestido de The Flash. - O inimigo do Batman é o Coringa! O Duende Verde é do Homem-Aranha!

Eu solto uma risadinha.

- E é por isso - Eu indico o The Flash com a cabeça. - que vocês não têm namorada. Vida longa e próspera para vocês. - Ironizo.

Eles arfam de novo.

- Que insulto aos deuses de "Jornada nas estrelas". - Comentam alguns.

Eu reviro os olhos pela centésima vez no dia e saio do salão. Então me lembro. Não tenho carteira de motorista. Vou ter que voltar andando. Ou ligar para Griffin e implorar que ele pare o que está fazendo para pegar a namorada vestida de mutante na porta de um...

- Ei! - Grita uma voz conhecida. É Shesnon. Ele veio correndo atrás de mim. - Não vai querer a autorização para pegar a carteira de motorista?

- E-eu passei? - Pergunto, completamente surpresa.

- Passou, ué. - Ele responde, como se fosse óbvio. - Você é boa.

Vou até ele e pego a autorização.

- Obrigada. - Falo, e após alguns segundos tomando coragem, dou-lhe um beijinho no rosto. Ele fica roxo de vergonha e claramente se esforça para não desmaiar.

- Uau. - Shesnon fala, para não perder a pose estúpida. - Que a força esteja com você.

Eu rio baixinho. Em seguida me viro para ir embora, pulando de felicidade.

- Aonde você vai? - Pergunta Shesnon.

Eu rio e falo com todas as letras:

- Para a Kriptolândia.








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Notas finais do capítulo

Pois bem, então hoje, dia 21 de agosto de 2012, eu declaro aberta a coluna "Coração da Ana".
É que eu me senti tão bem postando aquele texto pra vocês que eu decidi que eu vou fazer isso mais vezes.
"Coração da Ana" é uma coluna que vai aparecer em capítulos pares, quando eu achar que ele não está tão bom assim, então dou um texto pra vocês, mas por favor, não esqueçam a história kkk
Pra quem não percebeu, a coluna chama "Coração da Ana" por causa da coluna da Amy. Sabem, coluna é uma parte do corpo, coração também, aí...
Esquece. Não é tão legal quanto eu pensei que ia ser.
Mas é isso mesmo. O nome da coluna é esse sim até eu conseguir outro melhor hahahaha.
Obrigada, beijos (:



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