Esposo De Mentirinha escrita por JoyceSantana


Capítulo 4
"My children into this?!"


Notas iniciais do capítulo

OMFG EU NÃO ACREDITO GENTE



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Derek já estava aliviado por aquilo finalmente ter acabado, mas ao ouvir a fala de Jessica, só quis simplesmente matar o namorado da amiga. Assim a situação acabaria logo.

– Minhas filhas?! Você quer meter minhas filhas nisso? - perguntou indignado.

– Hey, a culpa é toda e completamente sua por ter atendido o celular bem na hora! Devia ter disfarçado quando soube que era a Jazmyn. - disse ela escorada no balcão, enquanto Derek atendia uma senhora.

– Não era a Jazmyn, besta. Era a Nana falando que a Jazmyn tinha pulado a janela para ir numa festa.

– Sério? - perguntou ela interessada - E aí, você achou a casa da menina?

– Ah, achei, a Jazzy tava chorando na esquina, parece que as "amiguinhas" falaram mal dela. Eu apenas disse que ficaria tudo bem e fomos embora. Não consegui brigar com ela. Mas ela vai ter um castigo.

Jessica acabou rindo involuntariamente. Ela admirava como Derek era um bom pai. Mesmo com duas filhas, ele fazia parecer que cuidar de crianças era tão fácil... Não imaginava como Shay teve coragem de se separar dele, e ficou feliz por ter ganho a guarda das meninas, era impossível Shay dar uma qualidade de vida melhor para as meninas do que Derek. Mesmo sendo a mãe.

– Tudo bem, então elas podem ser as minhas panquequinhas por um dia? - perguntou piscando os olhos rapidamente.

Derek sabia que deveria dizer não, envolver as filhas numa mentira desta dimensão era errado. Mas Jessica parecia mesmo gostar daquele moleque. Ele não a via se esforçar assim desde quando ela conheceu o ex-marido, então por que não ajudar? Jessica estava precisando de um amor permanente.

– Tá, eu deixo. - Jessica vibrou de alegria - Mas eu vou falar com elas. Vou impor umas condições para Jazmyn como parte do castigo. Tal qual eu não faço ideia de como vai ser.

– Relaxa, Derek. Foi só uma festinha com os amiguinhos. Ela tem o quê, 13 anos? Eles devem ter jogado cartas... Ou "Verdade ou Desafio".

Jessica não segurou a risada ao ver a expressão do amigo. Ela lembrava de como as festinhas de seu tempo eram. Foi numa dessas que ela e Derek desfrutaram do primeiro beijo de cada um, numa brincadeira inocente de "Verdade ou Desafio". Depois do ocorrido, eles até engataram um romance rápido, de crianças, mas viram que a amizade prevalecia mais do que o resto e resolveram ser apenas amigos. O tempo foi passando, Derek conheceu Shay e Jessica conheceu Mark, e a amizade dos dois apenas cresceu mais e mais.

– É por isso que eu não sou tão liberal, Jessica. Mas tudo bem, provavelmente não será nada grande. Eu não consigo ficar bravo com aquelas coisinhas. - disse ele num tom derrotado proposital.

Jessica riu e se despediu, torcendo para que Jazmyn e Julie aceitassem a proposta de serem suas filhas. Tudo tinha que dar certo, e então ela finalmente poderia ser feliz com Connor. Aquilo já estava dando uma canseira do caramba. Tinha que valer a pena.

Derek continuou seu expediente e depois foi para casa, formando argumentos no caminho para convencer as filhas da loucura de Jessica. Jazzy e Julie gostavam da amiga de Derek, afinal ela sempre esteve com eles, mas algo daquela dimensão era desconhecido para elas, Derek não sabia se elas aceitariam.

***

– O quê?! - Jazmyn perguntou confusa, com uma Julie de expressão idêntica no colo - Tá falando sério, pai?

– Tô. Olha, eu sei que é uma loucura, mas a tia Jess precisa de ajuda! - falou Justin num tom consolador, que obviamente não deu certo.

– Mas eu já tenho uma mamãe. - Julie disse docemente, com uma voz baixa.

Derek não conseguiu não prestar atenção naquilo. Sabia que as filhas eram pequenas demais para tal situação, provavelmente as confundiriam rapidamente. Mas não podia desistir. Afinal, era apenas um dia, certo? Quanto mais rápido a vontade de Jessica fosse feita, mais rápido acabaria.

– Vocês só precisam fingir por um dia, gente. Só para o namorado da tia Jess conhecer vocês. Podem fazer isso?

Jazmyn e Julie se encararam demoradamente, como se estivessem conversando por meio de telepatia. Derek apenas esperou-as com uma expressão tediosa no rosto, aquilo era muito irritante.

– Tudo bem, nós aceitamos. - ele respirou aliviado - Mas nós iremos escolher o lugar para o encontro.

– Jazmyn, não inventa... - Derek começou num tom cansado, mas Julie o cortou.

– É isso, ou nada feito.

Derek arregalou os olhos para a pequena, não acreditando no tom ousado que ela acabara de usar.

– Vou começar a te dar aulas em casa. - Julie revirou os olhos e seguiu Jazmyn para as escadas - Hey, onde vão? Vocês não me deram uma resposta!

Algo que Derek nunca imaginou: Dependente de duas garotinhas que, se juntassem as idades, não daria nem a quantidade dos dedos dos pés e mãos juntos.

Jazmyn sorriu maliciosamente para Julie (algo que o pai deixou passar) e virou-se para Derek, o nariz tão empinado que, se fosse um pouco mais para trás, perderia o equilíbrio e bateria a cabeça no degrau da escada.

– Chuck E. Cheese, na hora do almoço, amanhã. - disse somente e puxou Julie, que ria angelicalmente enquanto subia os degraus.

Derek respirou aliviado, já tinha parte do plano completa. Agora só precisava ligar para Jessica para avisá-la. Temia que ela mudasse o horário, já que a garota não acordava antes do meio-dia (ainda mais se tivesse coisas mais interessantes para fazer na madrugada). De um jeito ou de outro, resolveu ligar e acabar logo com aquilo. Estava cansado e queria apenas apagar em seu sono.

– Jess? - perguntou ele ao ouvir um estrondo ao invés da voz da amiga - Tudo bem aí?

– Tudo, tudo sim. – disse ela numa voz esforçada - Eu estou arrumando o guarda roupa e descobri que ele é mais velho do que me disseram.

– Tá falando daquele guarda roupa do quarto de hóspedes, que nós compramos naquele lugar horrível e fedorento e o vendedor disse que tem uns sessenta anos?! - Derek disse divertido enquanto jogava-se no sofá, o sono já não era tão importante assim.

– Bom, eu acho que ele tem mais, a gaveta está na minha mão agora.– disse ela despreocupada.

Derek não conseguiu segurar o riso e aquilo ofendeu Jessica um pouco.

– Pare de rir!– pediu ela miando.

– Então esse foi o estrondo? - Derek perguntou vacilando nas risadas referindo-se ao barulho no começo da conversa.

– Não.

– Então o que foi?

 A porta. Abri ela com muita força e ela quebrou! Acredita nisso?

Jessica quis desligar o telefone na cara do amigo ao ouvir as gargalhadas descontroladas vindas do telefone. Derek não conseguia rir mais baixo, e sabia que, se não se controlasse, teria que esquentar muito leite e contar muitas histórias de fadas para Julie dormir novamente.

– Você acaba comigo, Jess. - disse ele respirando fundo. Logo lembrou o porque de ter ligado - Ah, sim. Acabei de falar com Julie e Jazmyn.

Derek pôde sentir o sorriso de Jessica iluminando seu rosto, ainda que não estivesse vendo nada. Acabou sorrindo também.

– O que elas disseram?!

– Elas aceitaram. - um grito agudo de Jess fez Justin afastar o telefone - Amanhã, na hora do almoço.

Silêncio. Derek sabia o que ele significava, Jessica não tinha gostado do horário.

– Onde? – perguntou com menos animação.

– Chuck E. Cheese?

Ele já não confirmava mais nada, apenas esperava a reação da amiga. Sabia que ela odiava restaurantes infantis, mas convenhamos, levar Julie e Jazmyn até um Olive Garden seria o mesmo que assinar o atestado de pobreza imediata devido ao pagamento dos estragos, sabia como as filhas não adquiriam a capacidade de manterem-se no lugar por muito tempo. Era muito mais fácil ir até lá e quebrar tudo por conta própria, e isso era um coisa que Derek não tinha em mente. Parcialmente.

Logo cansou. A amiga teria que aceitar de qualquer jeito, aquilo já era muito abuso!

– Olha Jess, não estou querendo ser rude, mas se eu fosse você, aceitava isso logo. Isso já está virando uma palhaçada e só continuo nisso porque Connor parece ser uma boa pessoa. Ainda que tenha 15 anos. - riu da própria piada, ouvindo a risada contrastar com o sentimento de raiva da amiga - Então aceite logo e me deixe dormir, as meninas terão escola daqui a pouco. E elas não acordam sozinhas. - concluiu olhando para o relógio.

Jess aceitou (um pouco assustada com o fato do amigo praticamente se transformar em outra pessoa quando estava cansado e com sono) depois de muitos minutos de pausa e prometeu estar no Chuck E. Cheese junto com Connor na hora do almoço, assim como o combinado. Derek agradeceu e despediu-se, jogando o telefone em qualquer lugar e decidindo ficar no sofá mais uma vez. Aquilo daria uma dor nas costas insana, mas a preguiça não o deixava subir aqueles degraus. Logo lembrou que não tinha dado boa noite às filhas, mas concluiu que elas já estavam dormindo, então desistiu. Olhou para o relógio mais uma vez e, desejando que os ponteiros voltassem um pouco, caiu no tão desejado sono profundo.

***

Desta vez, Derek não sentiu-se tão indisposto ao acordar. Os músculos ainda estava preguiçosos por ficarem tanto tempo parados, mas as dores nas juntas, companheiras do homem desde os vinte, já estavam mais amenas. Olhou-se num espelho ali perto, seu rosto estava mais... Claro. As olheiras, outras companheiras, estavam num tom mais claro, quase imperceptíveis. Agradeceu por aquilo, ele simplesmente as odiava. Resolveu terminar sua sessão de análises e acordar as filhas, que ainda não sabiam facilitar sua vida e acordar sozinhas.

– Julie, acorde. - a menininha mexeu-se relutante na cama. Derek riu - Vamos, princesa, o dia será longo.

Fez o mesmo com Jazmyn e saiu do quarto, disposto a dar início a sua rotina matinal. Leite das filhas, café para si mesmo, a edição atrasada do jornal e Jazmyn insistindo em crescer rápido demais. Mas aquilo iria mudar, certo? Tinha ganhado um ex-mulher pedófila e alienada de um dia para o outro, era uma mudança e tanto.

– Os planos mudaram: Eu venho buscar vocês e vamos direto para o Chuck E. Cheese, ok? - disse ele abrindo a porta para as filhas, assim como todos os dias - Lembrem-se, a Jess é a mamãe de vocês. Não me olha assim, Julie, não é de verdade. - comentou ao ver o olhar repentino da filha - Agora vão. O papai ama vocês!

Esperou-as entrar no prédio e praticamente voou para sua loja.

Depois de um expediente um tanto complicado (devido a completa alienação de Derek para com os clientes), ele resolveu ir embora. Deixou alguns recados com os empregados e saiu, rumando outra vez para a escola das filhas, dando início a sua "personalidade paralela".

Chegando já no portão do prédio, Derek estava intrigado. Na saída, via-se mães sorridentes com crianças hiperativas provavelmente contando seu dia de brincadeiras e aprendizagem, crianças indo embora sozinhas, outras esperando os pais, talvez... E nada das filhas. Elas deviam estar ali esperando-o, então porque não estavam ali? Não seriam tão ousadas a ponto de desobedecê-lo, seriam? Jazmyn já estava encrencada, não seria tão idiota a ponto de arrumar mais uma confusão.

– Ai meu Deus. - murmurou antes de sair do carro e adentrar o prédio já vazio.

Enquanto andava pelos corredores desertos, ria sozinho ao ver diversos desenhos feitos pelos alunos, os quais estavam colados na parede. De repente, todas as lembranças de seu tempo de escola tomaram-o bem ali. Justin já havia estudado naquela escola, o que deixava as coisas cada vez mais claras. Os milhares de amigos, a indisciplina com os professores, ascenção no basquete, as namoradas... Quem olhasse para Derek atualmente nunca sequer pensaria em assemelhá-lo ao Derek McCann do colegial, das festas e paqueras. Ele foi muito popular no colégio, tendo a proeza e o desejo de muitos, que foi namorar a menina mais popular e invejada, Shay Misuraca. Uma coisa levou a outra e eles acabaram tendo Jazmyn, uma gravidez indesejada. Shay enlouqueceu no começo, afinal era nova e tinha tudo para brilhar naquele tempo. Mas desistiu de tudo e foi criar uma vida nova com Derek e a pequena Jazzy. As coisas se estabeleceram e, sete anos depois, de uma forma mais planejada, nasceu Julie. Derek não podia imaginar-se mais feliz, afinal tinha a mulher que amava e duas filhas!

Mas foi então que tudo desandou.

Shay arrependeu-se de engravidar de Julie, não tinha preparo psicológico para cuidar de duas crianças. Foi então que simplesmente saiu de casa, deixando Derek sozinho com as meninas. Uma audiência obrigatória foi feita com intuito de fazer Shay pensar melhor e cuidar das filhas, com Derek ou não, mas ela não queria. Resultado? Derek ganhou o caso, a guarda das crianças mas perdeu o amor de sua vida. Shay foi fraca e egoísta, totalmente diferente da pessoa que Derek havia se apaixonado. Foi então que fechou-se para o mundo, trinta mil vezes mais cuidadoso em relação a... Tudo. Por isso era tão rígido em relação a liberdade das filhas. O mundo é cruel, e ele só queria protegê-las de suas tramóias.

– Vadia. - murmurou finalmente ao voltar para a realidade. Ele odiava lembrar de tudo aquilo.

Logo seus pensamentos foram interrompidos ao avistar movimentos numa sala ali perto. Quando se aproximou, sorriu ao ver uma menininha saltitando enquanto desenhava flores no quadro-negro, aquela com certeza era Julie. Mas seu sorriso desmanchou-se significativamente ao perceber a outra menina sentada na primeira carteira, o rosto abandonado nas mãos, provavelmente escondendo algumas lágrimas, sob olhares desaprovadores da professora. Aquela era Jazmyn, mas não parecia.

– Hã, com licença. - disse tentando ser discreto, o que foi falho, já que Julie correu para abraçá-lo no mesmo segundo - Hey, princesa! Como foi a escola, amor?

Jazmyn, ao ver o pai ali, só quis desaparecer. Ou ter uma máquina do tempo para desfazer a burrada que a colocaria em mais problemas do que já estava.

– Quem é ele? - perguntou a professora sentindo um calor estranho em seu corpo.

– Meu pai. - murmurou a menina com a voz abafada.

Aquilo era errado, muito errado. Se Derek sequer fizesse ideia dos pensamentos daquela mulher, colocaria as filhas embaixo do braço e sairia correndo sem hesitar. Porém, ela resolveu afastá-los parcialmente e atendê-lo, tentando ser o mais imparcial e profissional possível.

– O senhor deve ser Derek McCann. - ele assentiu colocando-se ao lado de Jazmyn, que não havia se mexido - Também deve estar se perguntando o porque de sua filha ter permanecido depois do horário normal de aulas.

– Na verdade, estou sim. - disse Derek colocando a mão no ombro direito da filha, que reagiu meio segundo depois - O que aconteceu?

Um silêncio um tanto perturbador tomou a sala naquele momento, denunciando a Derek que a coisa tinha sido feia."Fale logo, mulher! Tenho uma falsa ex-mulher para bajular para o namoradinho!"

– Jazmyn agrediu uma menina.

Derek riu involuntariamente ao ouvir as palavras da professora. Aquilo não podia ser verdade, ela havia ensinado-as a ser tranquilas e pacíficas, e havia ensinado muito bem.

– Peraí... O quê? - perguntou visivelmente desorientado - Como... Como assim agrediu? Tipo...

– Ela bateu em uma menina, senhor Derek. Na hora do intervalo. -"Bonito mas lerdo...", pensava a professora - Foi um comportamento um tanto estranho vindo de uma menina tranquila como Jazmyn e...

– Me diz que é mentira. Que só deu um empurrãozinho mal interpretado. Podemos resolver isso se foi apenas um empurrãozinho. - Derek a interrompeu dirigindo-se a Jazmyn, na esperança dela confirmar sua teoria.

Mas tudo que a menina fez foi mexer os lábios trêmulos incapacitados de emitir qualquer som num "Me desculpe" sincero. Derek fechou os olhos lentamente. Era verdade.

Ele apenas levantou e murmurou algumas coisas para a professora, provavelmente algo sobre orientações e guiou as filhas para a saída da sala.

– Pai, está muito bravo comigo? - perguntou Jazmyn enquanto saíam do prédio.

Derek respirou fundo.

– Não. Sim. Ah, sei lá. - disse por fim, arrancando algumas risadas fracas das filhas - Mas, falando sério, por que fez aquilo, Jazzy? Sabia que isso dá um problema dos grandes?

– Mas pai, ela estava pedindo! Ela estava me provocando e não é de hoje...

– Wow, wow, wow. Estou falando com a minha filha lindinha e princesa ou com uma funkeira? - Jazmyn riu - Eu te ensinei a resolver os problemas na conversa, diálogo. Então, de novo... - limpou a garganta - Por que fez aquilo?

– Eu estava irritada. Ela já estava tirando sarro de mim há tempos... E ainda tem aquela festa...

O homem estava pasmo. A filha estava com problemas há tempos e ele não foi inteligente o bastante para percebê-los?

– Peraí. Festa? Você bateu em uma de suas amigas?

– Se aquilo são amigas, prefiro ter inimigas. - murmurou de braços cruzados.

– Já está decidido, faremos um Tumblr pra você semana que vem. Vai fazer sucesso. - falou ele debochado - Mas e aí... Quem foi a menina?

Jazmyn não queria dizer, talvez o pai não entenderia.

– A... - tossiu propositalmente - Chantal. - outra vez.

– O quê? - ele não entendeu, como o esperado - Pode repetir. E não adianta, eu conheço esse truque muito bem. - avisou rindo fraco.

– Foi a Chantal.

Derek segurou uma gargalhada ao ouvir as palavras saírem da boca da filha. Então ela bateu na menina que colocou-a no problema anterior por causa daquela festa estúpida? Brilhante!

– Ok... - disse ele ceifando a vontade de rir - Diz aí, como foi? Julie, olha a rua! - gritou ao ver a filha longe de seu alcance no asfalto.

– Ah, eu empurrei ela. Só que a besta bateu as costas na parede e caiu no chão de dor. Comecei a rir porque... Ah, foi engraçado! - Derek riu junto - E então ela puxou minha perna e me levou junto. E então eu comecei a brigar de verdade.

Derek riu alto ao imaginar a filha brigando "de verdade" com outra garota, com direito a puxões de cabelo, gritos desafinados e o coro de colegas apoiando tudo. Exatamente como no seus tempos de escola. Mas não era uma hora boa para lembrar daquilo.

– Você vai pedir desculpas e cobrir todos os danos causados nela como roupas rasgadas, galos na cabeça ou... Tufos de cabelos arrancados. - declarou ele abrindo a porta para as filhas - Este será seu castigo.

Jazmyn olhou-o a melhor expressão indignada que conseguiu. Por que o pai não podia ser normal?

– Por que você não tira meu notebook ou me bate? - perguntou com a cara amarrada - Coisas normais que pais normais fazem, sabe?

– Porque não tem graça. - Derek respondeu dando os ombros - E eu vou adorar ver você pisar nesse teu orgulho besta, roubado de sua mãe pelo menos uma vez na vida. Agora fica quieta aí que a Jess está nos esperando, estamos atrasados. - falou antes de estacionar o pé no acelerador em direção ao seu próximo destino.

***

De fato, estava mesmo. Aquele lugar fedia a criança fora da data de validade, se é que me entende. Connor parecia animado, mas também parecia cansado de esperar. Será que Derek podia parar de ser tão gay e cumprir com seus compromissos?

– Você está lindo. - murmurou aleatoriamente esbarrando seus lábios nos dele, fazendo-o sorrir.

– Não mais do que você. - rebateu antes de beijá-la levemente. Jess sorriu instantaneamente, pelo menos aquilo os deixariam ocupados até o ex-marido-problema chegar com as suas probleminhas.

Oh, aquilo ia ser bom.

– Minhas filhas não precisam ver isso, sério. - a voz rouca tão esperada os tirou do momento ternura e Jess, ao se afastar, viu Derek acompanhado de duas menininhas emburradas, a menor com uma careta de nojo. Pelo beijo, talvez.

"Qual é, elas ficam cantando e pulando 364 dias por ano, logo hoje vão ficar com frescura?"

– Crianças!!!! Derek. - fez questão de pronunciar seu nome com desprezo, o que o fez rir contido - Cadê o abraço da mami, panquequinhas?

Jazmyn e Julie se encararam confusas e se encolheram ainda mais no corpo do pai, que sorria vitorioso para Jessica.

– Abracem ela. Vão. - sussurrou Derek empurrando-as levemente e vendo-as sumir nos braços esvoaçantes da amiga.

– Ah, que delícia! - disse ela soltando-as do abraço um tanto apertado demais - Bom, este é Connor, digam oi a ele!

– Ooooi Connor... - elas cumprimentaram de má vontade. Justin estava achando tudo hilário.

Mas Jessica não estava satisfeita.

– Você deve ser Jazmyn, não é? - apontou para Jazzy que assentiu sorrindo - E você... Julie! - apontou para a menininha que não reagiu, continuando com a cara amarrada - Ahn... Adorável como a mamãe...

Jess puxou Derek para um canto, deixando Connor com as crianças numa tentativa de reverter a situação.

– O que aconteceu? Elas não são assim! - perguntou ela confusa pelo comportamento das meninas.

– Releve aí, Jess. Jazmyn está com problemas na escola e Julie... Ela ainda não aceita que você é a nova mãe dela, só isso.

– Mas não é de verdade! - disse ela como se fosse óbvio.

– Ah tá, quer puxar ela para um canto e explicar toda a sua história? Você tem sorte de eu ter conseguido trazê-la. - disse Derek comentando indiretamente o temperamento e teimosia da filha - É só inventar alguma coisa. Você é boa nisso.

Jessica mostrou-lhe a língua e eles voltaram para a mesa. O ambiente estava mais leve, Jazmyn já conversava animadamente com Connor, que ainda tentava agradar Julie.

– E então, como vão as coisas por aqui? - perguntou Derek abraçando Julie por trás.

– Tudo ótimo...! - respondeu Connor numa calma um tanto perturbada.

– Bom, eu vou fazer os pedidos, ok? Me ajuda? - falou baixo para que só a pequena ouvisse e sorriu ao vê-a sair correndo da cadeira.

– Hey, Derek, eu acho melhor algum adulto te acompanhar e... - ela parou de falar ao ver o olhar de Derek sobre ela - Ah tá.

"Ele vai falar com ela, entendi!"

***

Já no balcão de pedidos, Derek percebia uma Julie um tanto tristinha. E ele sabia o porque, mas queria ouvir suas palavrinhas doces em forma de argumentos chorosos.

– Sabia que uma princesa fica muito mais bonita sorrindo? - começou abaixando-se até atingir seu nível de tamanho - Não estou dizendo que você fica feia quando faz biquinho, você não consegue ser feia. Mas quando você sorri, o papai cai pra trás de tanta fofura. - Julie sentiu as bochechas esquentarem e Derek riu fraco - O que foi, hein?

– Papai, ela não é a minha mamãe. Eu já tenho uma mamãe. Não "mami", - imitou a voz de Jess - "Mamãe"!

Derek respirou fundo enquanto apertava os olhos. Por que ela tinha que ser tão pequenininha?

– Julie, olha. - ele começou receosamente - A tia Jess está tentando arrumar um namorado e...

– Como sempre! - a menininha o interrompeu rapidamente. Derek riu alto.

– Como sempre. Só que desta vez, é como se ela fosse a Barbie e ele, o Ken. Jess gosta muito dele e precisa da nossa ajuda para que consiga tê-lo como namorado. Você não quer que ela fique sem o Ken, quer? - Julie negou com a cabeça - Então. É só fingir que a Jess é sua mamãe e a Barbie consegue ficar com o Ken!

Aquela comparação era horrível e Derek até daria risada se o momento fosse outro. Mas pareceu funcionar, já que Julie sorriu fraco e assentiu antes de abraçá-lo, mostrando que faria como o combinado. Ele respirou fundo enquanto a abraçava, evidenciando todo o seu esforço para explicar da forma mais gay possível o quanto Jessica era exploradora de menores. Literalmente.

– Vamos? Eu já fiz os pedidos. - pediu estendendo-lhe a mão. Julie entrelaçou seus dedinhos nos dele e eles rumaram até a mesa.

– Posso fazer uma pergunta? - começou com uma careta confusa.

– Até duas, baby. - disse num tom cansado. Duas perguntas daquela menininha o matariam, sem dúvidas.

– Por que esse Connor tem a idade da Jazzy?

O estouro de risadas que tomou o restaurante naquela hora foi impagável. Derek recebia vários olhares reprovadores de funcionários e pais conservadores pelo escândalo que fazia. Jessica, Connor e Jazmyn o encaravam confusos mas ele pouco se importava. Não era o único a achar o quão absurda esta situação era absurda, então não era louco.

– Ah, eu te amo. - disse somente e chegaram na mesa que estavam - Já fiz os pedidos, agora é só esperar.

– O que foi aquilo? - Jess perguntou querendo explicações sobre o acontecido segundos atrás.

– Digamos que minha filha é muito inteligente, sabe? Ela... Sabe das coisas. - falou brincando com o cabelo de Julie que já estava mais confortável com a situação. Derek e Jessica agradeceram mentalmente por isso.

– Então, acho que devemos nos conhecer, certo? - Connor sugeriu inocentemente.

Se conhecer. Naquela situação, sair correndo e acabar com tudo era melhor do que se conhecer. Não era nada real, caramba!

Mas, se for para analisar, não podia ficar pior, certo? Era só inventar alguma coisa. Derek tomou a palavra depois de alguns minutos de silêncio:

– Jessica e eu nos conhecemos aos sete anos de idade, ou seja, há muito tempo atrás. Era inevitável virarmos melhores amigos, nossas famílias sempre foram próximas e sempre nos entendemos muito bem. Dessa amizade criou-se um vínculo maior, algo muito grande que... Que eu não consigo explicar. - disse cruzando olhares com Jessica mas não se esquecendo que suas filhas estavam ouvindo-o - Uma coisa levou a outra e então... Tivemos Jazmyn.

A menina o encarou confusa.

– Mas pai, como ass...

– Vai na onda. - disse ele rapidamente antes de prosseguir - Eu nunca fiquei tão feliz na minha vida em saber que teria uma filha, foi uma das minhas maiores realizações. - falou sorrindo para Jazzy que corou levemente - E então, com a vida mais estabilizada, achamos que seríamos capazes de ter mais um filho. E então... - olhou para Julie que riu angelicalmente - Eu arrumei essa princesinha aqui.

Jessica estava um tanto impressionada com as palavras de Derek, ele fazia tudo parecer tão real... Era uma história incrível e apaixonante. Ela definitivamente faria de tudo para que um dia tivesse isso.

– Mas então não começamos a nos afastar. Estávamos em lugares diferentes no relacionamento, não é, Jessica?

– Claro... - disse um tanto impressionada.

– Então decidimos nos separar. Mas foi uma decisão mútua e muito amigável, tanto que estamos conversando normalmente aqui agora. - Connor assentiu rindo fraco - Tem muita sorte em tê-la, Connor. Jessica pode ser um pouco difícil mas é a melhor amiga do mundo.

Jess sorriu agradecida para Derek, que retribuiu da mesma maneira. Ele não havia mentido em momento algum ali, o que deixava o momento ainda mais bonito. Derekn lembrou-se dos motivos que levou a terminar com Jessica na adolecência e decidiu empurrar para aquela situação. Definitivamente mexeu com a mulher.

Logo o clima estranho foi quebrado pelo garçom, que se empenhava a carregar as duas pizzas em sua bandeja. Era pouco, levando em conta o número de pessoas, mas Jazmyn e Julie comiam muito pouco, o que faria do resto da comida um desperdício. Eles comeram em silêncio, tendo apenas Connor que ainda tentava agradar Julie. Ela foi mais flexível desta vez, o que deixou-o aliviado.

Depois de um pouco mais de conversa, eles resolveram embora. Derek aceitou de primeira, afinal suas filhas ainda estavam com o uniforme da escola e já eram duas da tarde. Até pensou em voltar para a loja mas desistiu, aquilo funcionaria muito bem sem ele por um dia inteiro.

– Jess, nós já vamos. – disse ele colocando o dinheiro da conta na mesa e saindo – Foi um prazer, Connor.

– Não, espere. Por favor. – pediu ela acompanhando o namorado até a saída. Derek esperou atendeu seu pedido e esperou, brincando com as filhas. Logo ela estava de volta – Bom, conseguimos!

– Pois é, tivemos sucesso na missão! – disse ele estendendo a mão para ela bater, aproveitando para fazer o mesmo com as meninas.

– Obrigada, Derek. E obrigada, Jazzy e Julie! – disse bagunçando os cabelos das meninas – Desculpe por qualquer coisa.

– Que nada, Jess! – Jazmyn tranquilizou-a.

– Eu achei legal! – Julie disse angelicalmente.

– Sério? – Derek perguntou impressionado, a menininha assentiu – Que bom! Temos que ir. – falou olhando para o relógio.

– Derek, será que eu posso falar com você? – Jess pediu discretamente.

Ele a conhecia como a palma de sua mão, aquele tom significava que era uma conversa particular. Apenas tirou a chave do bolso e entregou para Jazzy, que já sabia o que fazer.

– Só o rádio, hein?! – gritou para a filha que assentiu enquanto acompanhava Julie para o carro – Então, o que quer me dizer?

– Obrigada por tudo. Sério, você se mostrou um amigo incrível e teve a boa vontade de fazer isso só para me ver feliz. Ainda bem que é meu melhor amigo! – ela riu e Derek acompanhou – Obrigada mesmo. Eu sei que fui muito chata...

– Jess, relaxa... – ele não queria concordar, mas ela foi um pouco difícil nas exigências.

– Não adianta dizer que eu não fui, porque fui. E peço desculpas. E mais, agora que tudo vai voltar ao normal, eu vou sentir falta do ex-marido mais bonito que já tive.

Derek riu alto com a fala da amiga, puxando-a para um abraço logo depois. Tinha que admitir, sair um pouco de seu personagem rotineiro foi saudável, ele riu bastante com os incidentes. Isto com certeza ficaria guardado com as melhores lembranças, simplesmente pelo fato de ter sido maravilhoso. Apesar dos pesares, foi divertido.

– Eu gostei, também. Agora vê se segura esse, tudo bem? O moleque tem quinze anos mas é uma boa pessoa. Eu abençôo a relação de vocês. – falou debochado fazendo o sinal da cruz na testa da amiga – Eu já vou, ela devem estar destruindo meu carro!

– Tudo bem. Hey, hambúrger na sexta? Na sua casa! – gritou para o homem que parou no meio do caminho.

– Ah, vai ser ótimo. Julie quer isso há tempos. – falou lembrando da conversa passada.

– Então tudo bem. A gente se vê, McCann.

Ele apenas sorriu e correu para o estacionamento, encontrando o carro com duas menininhas dançantes no interior. Sorriu fraco ao vê-las, tudo tinha voltado ao normal. De volta para sua vida de pai coruja que acorda cedo e nem tem notícias das ex-mulher. Mas ele havia gostado desta aventura. Uma segunda dose, talvez?



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Notas finais do capítulo

GENTE
GENTE
GENTE
A FIC JÁ TEM UMA RECOMENDAÇÃO
COMO
COMO ISSO
TÁ NO COMEÇO AINDA
AI MEU DEUS EU TÔ MUITO FELIZ
OBRIGADA MEEEEEEEEEEESMO
Deixem os reviews aí, me digam o que acharam!
PS: MINHA PROFESSORA DE FÍSICA SE CHAMA TERESA CRISTINA
~TODOS CHORA DE RIR~
~~DESMAIA~
~MORRE~
~RESSUCITA~
~RI DE NOVO~