-Senhorita! - a aeromoça gritou, já pela décima vez, eu acho -O avião precisa decolar!

Justin me encarou por alguns segundos ainda.

-Eu... - sussurrei, desolada.

Ele soltou um riso fraco e tocou uma mecha caída de meu cabelo.

-Eu sei - sua voz soou rouca.

Então eu ouvi em minha mente a décima segunda badalada do relógio e o vestido se desfez. Eu lembrei da dura realidade. Ele não era meu. Ele pertencia a Selena. Ela estaria esperando por ele quando sua turnê acabasse.

Justin me encarou brevemente enquanto minha mente já estava distante.

-Cary - me chamou a atenção - Você sabe que preciso resolver umas coisas, certo?

-Sei? - disse confusa e irônica.

-Sim. Isso aqui tem que acontecer do jeito certo.

-Ou seja...

-Tenho que conversar com Selena - aquelas palavras me deram uma sensação tão bipolar, que não conseguia ter expressão exata. Era ótimo ouvir de sua boca algo daquele tipo. “Resolver” significava romper. E eu me sentia muito feliz por ouvir aquilo. Não só pela voz desesperada gritando dentro de mim pelo tanto que eu desejava Justin, mas também pelo fato dele se desprender da garota que o transforma em quem ele não é. Mas também era ruim. E Chaz? Como se sentiria? E Selena? E metade de suas beliebers? Ou o pior: eu estava sendo pivô da separação deles?

Sim, obviamente. Eu estava.

-Princesa? - ele disse franzindo sua sobrancelha.

-Hm?

-O que houve?

-Eu... - eram tantas palavras que eu tinha a dizer. Tantos “eu te amo” atrasados que precisavam se por em dia, tantos beijos que eu queria dar, mas a sensação de ser a culpada do futuro rompimento e manchetes ridículas a respeito de Justin estava gritando mais alto - Eu tenho que ir.

Ele me olhou, confuso. Mas não disse uma palavra. Ele simplesmente me abraçou. Pude sentir seu coração pulsar rápido contra seu peito. Beijou minha testa, ergueu meu rosto e me arrancou um selinho. Sua boca quente pressionando a minha. Era uma sensação tão boa.

-Promete que vai me esperar? - ele sussurrou.

-E o que eu faria nesse tempo senão isso?

Ele sorriu. Sorri de volta. Aquilo era um “tudo vai dar certo”. Pelo menos era o que eu esperava.

Era uma despedida momentânea. Eu o veria de novo. Beijaria, possivelmente. E poderia tê-lo só pra mim.

-Tchau baixinha - ele disse antes de se afastar um pouco - Daqui a uma semana, vou te dar outras surras no XBox.

-Esperarei sentada.

Virei em direção ao avião e ele a direção contraria. Era bom deixá-lo ir agora. Sorri me sentindo uma completa idiota apaixonada. Apaixonada pelo melhor amigo.

-Podemos decolar agora? - a aeromoça me olhou sorridente quando já havia entrado no avião. Ela havia visto toda a cena.

-Sim - disse rindo.

-Senhores passageiros, o avião vai decolar. Mantenham-se sentados.

Entorpeci de cansaço e felicidade desmanchada na poltrona.

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-Beijaram? - gritou Vick sentada na minha cama.

Era bom estar de volta. Ao meu lar, a minha casa. A minha garotinha. Mal havia se passado duas horas que eu saí do aeroporto e estava em casa e ela já me enchia de perguntas.

-Sim Vick - suspirei e repeti - Nos beijamos.

-Eu sabia que ia dar nisso! - ela disse dividindo-se entre gritos e risos - Mas e o Somers? E aquele beijasso lá? - ela arregalou os olhos.

-Eu também não sei. Eu não sei nem como ficarão as coisas com Justin - suspirei novamente - Eu sei lá. Eles são tão diferentes... Mas com Justin foi especial. Eu me senti exatamente onde deveria estar quando nos beijamos. Eu queria aquilo.

Vick me agarrou num abraço e me puxou, fazendo-me cair em seu colo. Sentia falta disso também. Tanto tempo longe dessa chata e morri de saudades de seu colo. Ela afagou meu cabelo ate que a porta do meu quarto foi aberta e os meninos passaram por ela, se jogando na minha cama.

-PIRALHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! - Murilo me agarrou, arrancando-me da Vick me puxando para um abraço.

-Olá, idoso - disse rindo.

-Solta ela - disse Peter - Vem cá, baixinha - também me abraçou.

-Ahnw, Peter - beijei seu rosto macio - Senti falta de vocês, seus chatos.

-Sentiu o caramba! - disse Murilo - Você tava ocupada demais com o Bieberzinho lá e mal lembrava quem éramos nós!

Rolei os olhos, rindo e agarrei ele novamente. Mais um abraço apertado.

-Estávamos no meio de uma conversa particular, sabiam? - disse Vick, cruzando os braços.

-Estamos matando saudades da nossa cantora favorita, ok? - disse Murilo, irritando Vick. Somente ri, cansada e deitei no travesseiro.

Estávamos os quatro na cama king size. Os meninos conversavam entre si e Vick afagava meus cabelos. Ela queria me ajudar mais sabia, tanto quanto eu, que nenhuma de nós poderia fazer nada. A única pessoa que poderia, estava a quilômetros de distancia de mim. E eu já sentia sua falta novamente.

-John disse que temos que ir ao estúdio. Travis também está esperando, temos que fazer algumas gravações - disse Peter a mim.

-Tudo bem - dei um meio sorriso - Eu preciso tomar um banho. Nos encontramos lá em baixo em vinte minutos.

-Ok - disseram os três. Vick e eles saíram do meu quarto, logo após dela me lançar seu olhar amigo. Sorri e ela saiu.

O barulho da porta sendo fechada ecoou, e o silencio se fez. Eu não sabia o que pensar. Nem o que fazer. Mas eu queria estar com Justin novamente. Eu queria tê-lo e agora. E que todos os problemas fossem resolvidos. Era tão simples.

Abri meu closet. Intacto. Exatamente como havia deixado. Sorri de canto e peguei algumas roupas, largando-as sobre a cama. Puxei um roupão qualquer e me dirigi ao banheiro. Me encarei no espelho, com meu rosto cansado. Ri de mim mesma, lembrando de hoje mais cedo. Abri a torneira da banheira e deixei a água cair na mesma, enquanto me despia. Entrei na banheira, a água quente chocando contra minha pele, causou arrepios. Meu IPod estava ainda ao lado da banheira, como havia deixado a 3 meses atrás. Pelo visto minha mãe não deixou que a governanta ou alguém entrar e mudar alguma coisa.

Peguei ele, e entrei na playlist. Coloquei em Hey Jude e fechei os olhos. Fiquei assim por mais ou menos dez minutos até ouvir batidas na porta. Levantei da banheira, vesti o roupão e fui ate a porta.

-Cary - era Murilo - Ah, desculpe - ele disse embaraçado e desviando o olhar.

-Tudo bem - ri fraco.

-Então, July vai chegar daqui vinte minutos pra fazer vocais com você - ele disse e eu assenti - Depois vamos ao estúdio e John mandou uma mensagem de texto avisando que temos uma entrevista com TMZ as três.

-Ok.

-Bom, eu vou deixar você se vestir agora - ele disse rindo, e saiu.

Peguei a saia e o corset sobre a cama, coloquei-os, calcei meu sneaker preto e arrumei a boina bufante em minha cabeça. Peguei um colar legal, algumas pulseiras, um par de brincos aleatórios e passei um deliniador bem marcado. Quando estava pronta, peguei uma bolsa no meu closet e agarrei meu IPhone da outra bolsa. Havia uma nova mensagem:

Você chegou bem?

XOXOXO Jus.

Respirei profundamente e apertei “responder”.

Sim, estou indo para o estúdio. Depois tenho umas entrevista com TMZ.

XOXO, Cary.

Joguei o celular dentro da bolsa e saí do quarto. Vick, os meninos, tia Mary e minha mãe estavam lá embaixo acompanhados de alguns seguranças, o que deixava minha sala mesmo espaçosa, ficar cheia.

July estava na sala ao lado, repleta de papéis. Caminhei ate ela, a cumprimentei, disse a verdade sobre minha dieta nesses três meses, levei algumas broncas em relação ao excesso de água gelada, refrigerante e sorvete e a falta de leite puro que eu era obrigada a tomar mas tanto odiava e de maçã que não era lá minha fruta preferida. Brigas a parte, fizemos uns ensaios vocais. Estava difícil no começo, eu estava sem pratica mesmo com Mama Jam em cima de mim e de Justin, mas logo que voltei a pegar o jeito, tudo ocorreu como devia. Saí da sala, July sorriu contente e voltei a sala de estar.

-Vamos? - disse ajeitando a alça da bolsa no meu ombro.

Um a um, fomos saindo de minha casa. Minha mãe trancou a porta e fomos divididos em dois carros. Minha Mercedes estava lá. Sorri ao vê-la e lembrei de Justin novamente. Tudo me fazia lembrar dele, afinal. Quando eu teria minhas aulas?

Quando o carro que estávamos saiu do condomínio fechado que vivíamos, a aglomeração de pessoas gritando e paparazzis se tornou bem visível. Abri meu vidro no nível que era me permitido - lê-se no qual os seguranças deixavam - e acenei. Mais gritos, mais pessoas correndo atrás do carro.

-Eu amo vocês! - gritei antes do carro de afastar.

Permanecemos mais um pouco sentados até que chegamos ao estúdio. Descemos do carro rapidamente seguidos da escolta pequena de seguranças, mas não havia ninguém. Nosso estúdio era longe da cidade principal, não havia muito movimento, e até então os fãs não haviam descoberto ele.

Subimos as escadas do corredor estreito, um atrás do outro, ate começar o som. O barulho de pessoas andando, telefones, aquele cheiro de estofado de coro e barulho dos equipamentos de som. Subimos até o fim da escadaria e avistei John. Ele veio, me deu um abraço, erguendo-me do chão e eu ri.

-Sentimos sua falta! - ele disse.

Ri fraco assentindo. Fomos levados para os fundos, e conforme andávamos, eu ia cumprimentando um a um. Chegamos a sala de espera da sala de gravação e vi Travis sentado em frente aos monitores de áudio. Ele acenou a mim e eu sorri de volta.

-Vamos gravar uma tomada? - a voz dele soou nas caixas de som acima de nós e Vick e eu concordamos. Os meninos ficaram sentados nos bancos de couro esperando sua vez enquanto eu e Vick entramos na sala.

Gravamos algumas partes de musicas juntas, outras vezes cada uma de uma vez gravando a sua. Repetimos também, ate Travis dizer se estava bom ou não. Quando finalmente ele sorriu e concordou, saímos da sala de gravação, cansadas.

Era a vez dos meninos. Fomos a sala de gravação de instrumentos, e Travis nos acompanhou até lá. Sentamos nos bancos, do lado de fora, Peter foi pra guitarra, Murilo pra bateria. Haviam dois músicos extras que usávamos algumas vezes no palco, quando os meninos faziam solos. Eles também entraram.

Ficamos olhando eles pelo resto do ensaio.

POV JUSTIN

Oh Gosh. Já é quase três da tarde e eu estou brigando comigo mesmo para não perturbá-la. Ela tem tantas coisas a fazer - na verdade, eu também tenho - mas não consigo me conter.

Larguei o celular sobre a mesa e levantei do sofá. Um dia e uma noite sem ela, e já me fazia falta. Eu queria abraçá-la, ver seu sorriso e beijá-la novamente. Aqueles lábios macios e pequenos. Tão perfeitos. Tão... tão meus.

Me peguei sorrindo feito idiota enquanto pensava nela mais uma vez. Nunca foi assim com Selena. Ou foi, mas quando eu ainda era da época de “Baby” e essa garota tão linda apareceu assim na minha vida. Ela parecia ter algo. Algo que eu não entendia. Quando percebi, estávamos namorando. Agora novamente, quando percebi, estou apaixonado pela minha melhor amiga como nunca estive por qualquer outra.

Meu celular vibrou. Corri desesperado, esbarrando no maldito puff roxo em meu caminho, mas consegui pegá-lo. Mas não era da Cary:

Baby, estou em Ohio e pensei em pegar um voo pra te ver.

Daqui a 2 horas estou aí.

Luv, Sel.

Engoli a seco e fechei a mensagem. Selena vem aqui. Hoje. Daqui a duas horas.

Não ia mais prosseguir com isso. Eu tinha que falar a verdade, e dizer que havia acabado tudo. Eu não queria mais. A única garota que eu desejava estava em LA esperando por mim, como eu pedi.

Saí do quarto do hotel e encontrei Kenny e mais alguns seguranças. Expliquei a situação.

-Dudde, Selena tem seus truques - ele disse receoso - Você vai aguentar? Você sabe, ela vai chorar, gritar, implorar, fazer o que for pra você ficar com ela.

-Eu sei disso, eu aguento.

-Bom, você que sabe. Então, boa sorte.

Assenti, e voltei ao quarto do hotel. Tomei um banho rápido, saí do banheiro com a toalha enrolada na cintura, peguei algumas roupas, um par de Supras, joguei o cabelo pra cima, bagunçado, peguei minha carteira e meu IPhone.

Estou indo te pegar

Justin.

Enviei a Selena e saí do quarto. Kenny me lançou um último olhar e eu desci as escadas. Sim, todos os oito lances de escada. O pavor de elevadores vencia quando eu estava sozinho. Cheguei ao saguão, fui as portas dos fundos sem dar satisfações a Chaz e Ryan, que me viram enquanto jogavam Mortal Kombat. Ainda sentia raiva de Chaz, mas não podia culpá-lo. Era impossível não sentir atração por Cary. Alem de engraçada, inteligente, amiga e incrível, ela era linda. Muito mais que linda. Era uma beleza brasileira que eu ainda desconhecia. Mas isso não lhe dava direito de querê-la. Ela era minha. Ou pelo menos vai ser oficialmente, em breve.

Saí do hotel, entrei dentro do Range estacionada ali, e passei a dirigir.

“Que as coisas acabem bem, por favor” - disse mentalmente umas oito vezes até chegar ao aeroporto.