– Eu te odeio Megan – bufei – Mesmo.

Ela sorriu.

– Eu sei. Ainda vai me agradecer por isso – disse pegando as chaves do nosso mais novo quarto de hotel.

Detalhe mínimo. O hotel ficava em Las Vegas.

Fui carregada contra minha vontade, num vôo de menos de duas horas para a tal ‘cidade do pecado’ a fim de afundar minhas magoas em bebidas, jogos e mais bebidas.

– Vamos ter o fim de semana mais divertido das nossas vidas! – ela exclamou empolgada.

– Não tenho duvidas... – resmunguei puxando minha mala do elevador. Megan já abria o quarto.

Era espaçoso. Disso eu não podia reclamar. Duas camas de casal, um guarda-roupa imenso e um banheiro limpo.

– Megan! Isso deve ter custado o olho da cara!

– E custou. Mas sei que vai me pagar depois – ela deu os ombros.

– É... Claro!

Não, eu não ia pagar.

Deixamos nossas coisas na cama e decidimos tomar um banho quente antes de sair. Para tirar o cheiro de avião, como Megan mesma disse.

– Entra você primeiro – ela sugeriu – Eu tenho que tirar meus vidros de perfume da mala antes que quebrem ou vazem.

– Tudo bem – peguei a toalha e me dirigi tranquilamente para o banheiro. Fechei a porta e liguei a ducha.

– Vai querer que eu desfaça sua mala? – Megan me perguntou do lado de fora.

– Não. Eu faço isso depois.

– Ok. Eu vou desfazer a minha. Eu acabei trazendo o vestido vermelho...

– Não!

O vestido vermelho era meio que uma piadinha particular entre nós duas. Veja bem, Megan comprou esse tal vestido num acesso consumista. Um vestido vermelho de couro. E Megan é ativista dos direitos dos animais, e isso a ‘bloqueou’ de usar a peça até hoje. Ela falou que só usaria para o cara que desse a melhor transa da vida dela. Até hoje não a vi com o bendito vestido.

– Sim. Ainda tenho esperanças de que aja nesse mundo um cara que me satisfaça.

– Continue procurando – ri.

– Ah, eu vou continuar sim! E você devia fazer o mesmo.

– O quê? Ficar com um estranho só para ‘vingar’ Matt? Megan, eu não tenho mais dezesseis anos...

– Não vejo por que não. Ele te chutou. Deve estar comendo uma siliconada há essa hora. Aposto.

– Puxa, isso era para me animar?

– Não.

Sinceridade. Verifique se sua amiga não sofre desse mal ou ignore isso, como eu faço.

– Mas seja como for. Se você não conseguir um cara hoje, sua vinda foi em vão. Lembre-se, o que acontece em Vegas...

– Fica em Vegas... – completei mal-humorada – Frase idiota, não?

– Um pouco. Mas de certo modo é bom. Ninguém precisa saber do que acontece aqui. Aqui é a cidade do pecado.

– E você é uma pecadora – ri.

– Pelo menos aqui sim! – ela acompanhou o riso.

E então o riso foi substituído por um berro aterrorizante.

– Megan? Megan? – chamei. Mais gritos. Não necessariamente dela.

Desliguei o chuveiro e me enrolei rapidamente na toalha. O que diabos estaria acontecendo?

...

– Seus filhos de uma puta! – Duff brigava no celular – Como assim estão em Vegas?

– Estamos em Vegas, baby! – respondi rindo. Tomar vodka durante o vôo. Não aconselho.

– Mas são uns putos imbecis do caralho mesmo! – a voz de Izzy se ouviu ao fundo.

– Por que vocês não nos chamaram? – Duff parecia inconformado.

– Tínhamos dinheiro apenas para nossas passagens, cara! Relaxa! – falei.

– Como eu vou RELAXAR? Vocês estão em Vegas porra!

– Ah, por favor... – Slash que ouvia a conversa tomou meu celular – Hey Duff! Levamos uma lembrançinha para vocês. Thau!

E desligou.

– Parabéns, graças a você perdemos o baixista, o guitarrista – base e o baterista. De uma vez só! – briguei.

– Perdemos nada. Se couber uma stripper na mala, vai ser a lembrançinha deles. Eles vão adorar.

Revirei meus olhos enquanto eles girava a chave na porta do quarto.

– Coisa estranha... – ele murmurou.

– O que é estranho?

– Essa porta já está aberta.

– Hã?

– Aberta. Alguém já entrou aqui. Ou ainda está aqui.

– Abre aí.

– Eu não. E se for algum assassino?

– O que um assassino faria num hotel – cassino em Vegas? – retruquei girando a maçaneta e abrindo a porta.

Fomos surpreendidos por uma ruiva de lingerie que nos olhava em choque.

Isso aqui está começando a ficar bom.

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – ela gritou quase estourando nossos tímpanos.

– Ah caramba! – xinguei. Slash parecia dividido entre correr dali ou ficar olhando mais um pouco para os seios dela.

– PERVERTIDOS! – ela atirou um frasco de perfume que estava na mão dela, quase nos acertando, por pouco.

– AHH! – eu e Slash gritamos.

Foi nessa hora que outra mulher surgiu do nada.

De toalha.

Aquilo tudo estava muito excitante. E bizarro.

– Mas o quê? – ela parecia confusa.

– TARADOS! – a ruiva psicopata se lançou nas costas de Slash que tentava fugir, e começou a bater na cabeça dele.

– Ai! Caralho! Isso dói!

– June! Liga para a policia! – ela falou histérica.

June, a morena de toalha pegou o telefone do hotel.

– Não! Moça! Não chama a policia não! – pedi em pânico. Eu estava meio que ilegalmente lá. É crime sair de um estado quando se deve dinheiro.

– Não se aproxime de mim! – ela segurava a luminária com a outra mão – Ou eu atiro isso!

Me afastei.

– Alô? Eu gostaria de fazer uma ligação. Sim, para a policia local. O quê? Como assim? Não? Isso é sério? Ah, vai tomar no...

E bateu o telefone com violência.

– Eu ainda posso te matar – ela avisou me fuzilando com os olhos castanhos. A ruiva mantinha Slash preso de uma forma sobrenatural na cama.

– Eles não vão chamar a policia? – ela perguntou nervosa.

– Não! Eles não podem!

– Como assim? Estamos correndo perigo! Eles podem nos matar!

Quanta ironia.

– Olha, caso você não tenha sacado, eu sou o único machucado aqui, ruiva – Slash grunhiu irritado.

– Calado!

Batidas na porta. Ficamos num silencio fúnebre.

– Vai atender! – June disse ente os dentes.

– Eu?

– Claro idiota! Espera que eu vá atender de toalha?

Neguei com a cabeça e corri até a porta.

Abri.

– Serviço de quarto... Opa. Atrapalhei alguma coisa? – o funcionário disse ficando vermelho. Olhei para trás. Uma mulher de toalha, outra de lingerie, em cima de um doido. Parecia uma orgia.

– Hã... Não. – respondi.

– É que recebemos uma ligação vinda desse quarto na recepção. Está havendo algum problema?

– Não é óbvio? – June falou – Claro que está algo muito errado! Eles invadiram nosso quarto!

– Não. Esse é o nosso quarto! – Slash retrucou.

– Acho que eu sei o que houve – o funcionário sorriu levemente – Erro nosso. Acho que agendamos sem querer o mesmo quarto. Nossas condolências.

Mais uns minutos de silencio, que foi cortado por um Slash desesperado.

– Eu quase morri, porra!

– Exigimos um quarto novo! – June falou furiosa mexendo seu dedo obsessivamente na cara do homem.

– Sim senhora. Providenciaremos o melhor para vocês. Um apartamento na cobertura, com vista para a cidade. Por nossa conta.

Ela pareceu amolecer um pouco.

– Certo. Mas não pensem que não vou denuncia-los, por que vou!