Dirty Little Princess escrita por Loreline Potter, Milady Black


Capítulo 43
O Segredo de Sara


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, quem ainda não recomendou não deixe de fazer, quem anda sumido nos comentários apareça pra dizer um "oi" que seja!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/192508/chapter/43

Dizem que um dos caminhos para o sucesso é ter um bom plano. Planejar qualquer coisa não deve ser tido como algo simples. Você tem que considerar todas as ações ao longo do caminho. Porque se na vida há uma lei máxima é a de que para cada ação há uma reação. Qualquer fuga do que você planejou terá consequências, e isso não é apenas uma hipótese, é um fato.

 Infelizmente, nem todos os planos dão certo. As grandes mentes que já passaram por esse mundo poderiam afirmar que se o plano não deu certo foi porque você não considerou a possibilidade de haver imprevistos, logo, desde o início você não foi um bom planejador.

Eu afirmo que alguns imprevistos não ocorrem por falta de planejamento. Porque eu tinha o plano perfeito. Eu só não contava com o aparecimento deste imprevisto. De quaisquer outras situações bizarras, talvez.

Mas não isso, simplesmente porque James Potter não estava no plano, me apaixonar não estava no plano, eu sabia que esse momento chegaria e deveria ter me preparado pra ele, mas não, preferi me esconder e mentir para mim mesma. Talvez se eu acreditasse que ele nunca fosse acontece ele não acontecesse, certo? Porque se você negar a existência de um problema então você tem a frágil ilusão de que ele não existe. Logo, você não precisaria resolvê-lo. E essa lógica seria simplesmente brilhante não fosse pelo pequeno problema chamado consciência. Porque se eu fosse levar em conta a minha consciência no fundo a verdade sempre foi clara. E o mais infeliz de ser um ser consciente, você pode negar algo o quanto quiser para os outros, mas não para si mesmo.

Eu amava James mais do que poderia entender, mais do que era racional ele estava em cada célula do meu corpo, incrustado sob minha pele, seu cheiro, seu gosto, sua voz.

James Potter me pertencia assim como eu também era somente dele.  Isso era um fato, eu tinha tanta certeza disso que só de pensar em deixa-lo meu peito doía.

Não estava nos planos.

Mas quando afinal, que algum plano dera certo? Veja só minha melhor amiga, fez milhares de planos, se esforçou e fez por merecer tudo aquilo que almejava. Infelizmente algum idiota invejoso acabou com tudo, Lílian fugira do plano inicial, mas isso não significava que eu poderia fazer o mesmo.

Às vezes só queria lançar um Obliviate sobre mim mesma, seria possível? Queria arrancar cada memória que envolvesse James, o pior é que eu sabia que provavelmente nem o feitiço mais forte seria capaz de apagá-lo completamente. Havia marcas demais, James Potter era algo que eu carregaria comigo para todo sempre, mesmo se ele me esquecesse, mesmo se ficasse com raiva de mim, nem mesmo a morte me separaria dele.

O que era um tanto quanto irônico, sendo criada por trouxas o velho chavão de casamento logo surge em minha mente com uma aparência meio maldosa. Era como se esse simples pensamento desdenhasse impiedosamente de mim. Como se uma voz proclamasse venenosa em minha mente ‘até que a morte os separe’. E eu simplesmente já não tinha mais escolha sobre esse fato. Não acreditava em destino. Talvez devesse usar a palavra sina. Parecia adequar-se melhor a situação.

Quando foi mesmo que eu decidi que iria aproveitar o momento e deixar as coisas acontecerem? Ah, sim no Natal, naquele encontro armado por Lílian. Seria melhor simplesmente não ter começado nada com ele? Ou teria valido a pena esses meses como a namorada de James?

A verdade é que todos esses sentimentos me confundiam, parecia que minha cabeça ia explodir e nem mesmo a Saralândia era um lugar seguro, não tinha como fugir mais. Eu iria embora em dois dias e ainda assim eu estava ali, no apartamento dele esperando ele voltar com a tal coisa que precisava pegar na casa dos pais.

Como começar a falar pra ele? Como dizer para a pessoa que você ama que vai partir em 48 horas e que sabia disso há muito tempo e mesmo assim guardou segredo?

Como explicar o seu medo, sua angústia e principalmente sua tristeza? Como fazê-lo entender que fora incapaz de explicar tudo antes?

Não era só a Academia Russa, não, nem eu era tão mesquinha assim, obviamente a melhor formação auror do mundo era um bom atrativo, mas eu tinha mais um motivo por trás de tudo aquilo. Um motivo que eu guardava somente pra mim, um segredo que me consumia que fazia meu sangue ferver e a vontade de desvendá-lo falava mais alto que a vontade de estar ao lado de James.

Agora eu estava ali, mais confusa do que nunca, pela primeira vez me via tão sem rumo, tão sem saber o que fazer e a sensação, eu confesso, era apavorante.

Secava a pia do apartamento de James ao modo trouxa enquanto ele não chegava da casa dos Potter. Parecia que fora ontem que ele me chamara pela primeira vez de Seu Girassol, eu sentia tanta raiva daquele garoto metido que eu mesma não entendia. Aí conforme crescia percebi que o que sentia desde aquela época não era exatamente raiva, mas algo bem mais forte algo que parecia quase irreal.

“Besteira Sara, você só tem 18 anos, com certeza ainda vai encontrar outra pessoa.”

Isso era o que minha consciência dizia pra tentar me convencer que tudo ia ficar bem, pena que meu coração idiota insistia em dizer que eu nunca amaria alguém como amava James, era algo tão forte e tão real. Droga, eu estava entregue.

A verdade era que se Sara Hale não fosse tão racional, ela, no caso euzinha aqui, se casaria com James Potter no dia seguinte.

Sem pensar duas vezes.

Escutei quando a porta do pequeno mas aconchegante apartamento foi aberta, James finalmente chegara, tínhamos combinado de cozinharmos juntos naquele noite. Porém ao ver os pratos na pia não me contive e lavei tudo antes que ele voltasse. Entre ficar alguns minutos sozinha ali ou acompanha-lo até sua casa, eu preferira ficar, não é como se estivesse querendo ver a matriarca Potter.

-Rússia? – Me assustei, de verdade, em primeiro lugar por ele já estar ali na cozinha sem eu sequer ter percebido sua aproximação, obviamente ele era um auror. Em segundo lugar pela sua pergunta incompleta, então quer dizer que Gina Potter tinha falado, ou então Lílian, desconfiava mais da primeira. A mãe de James nunca escondera o quando desprezava meu comportamento, não a culpava, se fosse meu filho provavelmente faria o mesmo. Ou talvez muito pior. Não sei como ela aguentou tanto tempo sem se meter. No fundo talvez sempre esperasse que ela lhe contasse, algo que eu parecia incapaz de tomar a iniciativa de fazer.

-Sim. – Respondi respirando fundo e o encarando, o Potter a minha frente estava com raiva, o azul que eu tanto amava desaparecera e tudo que lia em seus olhos era uma mágoa tão grande que me devastava. Não era o azul céu que costumava brilhar em minha direção sempre que o dono desses olhos me via. Não, eles estavam cinzas, como uma tempestade.

-Por que Sara? Só quero saber o motivo.  – Pediu em um tom lamentoso, eu não podia fraquejar, apesar de tudo eu sempre soube que um dia teria que ser feito.

-Você sabe o motivo James! - Respondi encarando-o com firmeza.

-A academia? É por isso que você vai pra lá? Vai me deixar por uma escola? – Perguntou agora mais agitado e demonstrado seu nervosismo ao gesticular como um italiano nervoso enquanto me fazia perguntas.

-Você sabe que não é só uma escola Jay. – Falei caminhando em sua direção, para minha tristeza James recuou para que eu não me aproximasse mais dele.

-Por que não me contou Sara? – Perguntou novamente, seus olhos mais cinzentos do que nunca.

-Porque eu não consegui James, eu tive medo de sua reação eu... – Sempre fui conhecida por conter minhas emoções, não quando se tratava dele, pois ali estava Sara Hale, com os olhos lacrimejando como há muito não fazia.

Eu o encarava tentando fazer com que ele me entendesse, fazer com que ele pudesse ver o quanto o amava, porém também o quanto era importante pra mim, ir para Moscou. Estava tão cansada de guardar segredos, mas não é como se eu tivesse uma opção, naquele momento só tinha que arcar com as consequências de minhas próprias escolhas. Ao ver que o Potter não falaria mais nada peguei minha bolsa que estava na mesa e saí de seu apartamento não sem antes ouvi-lo.

 -ISSO MESMO HALE! FUJA, GRANDE AUROR QUE SERÁ! – As lágrimas caiam livremente e eu me misturei à noite trouxa londrina, não queria voltar pra casa, não queria voltar para a casa dos Potter e não tinha coragem para voltar para o James.

Há algo de místico na madrugada, você só caminha e sabe que em algum momento o sol vai nascer, mas também sabe que enquanto isso não acontece todo aqueles se escondem da luz estão a solta. Luz não significa estritamente algo bom, assim como a escuridão não precisa se referir a maldade, há muito tempo eu já sabia disso de modo que tomar decisões se tornou uma constante análise.

Cheguei em casa e eram quase seis horas da manhã, minha família adotiva ainda dormia e eu precisava de um banho e de uma cama. Em meu quarto vazio o pequeno cachorrinho de pelúcia parecia ser o máximo de James que eu conseguiria ter pra mim. O apertando em meus braços ele não fez nada para diminuir o enorme vazio que sentia em meu peito.

(...)

-O que aconteceu com você moê serdtze1. - O velho homem utilizando uma camisa xadrez em tons de abóbora e marrom me perguntou, suas feições eram de quem havia trabalhado muito durante a vida. Eu sabia que não era apenas a aparência, aquele velho senhor, o antigo dono do antiquário enfrentara muitos dragões desde que saíra de sua terra natal. Ou deveria dizer minha terra natal?

-Não é nada deduchka2. – Respondi tentando esconder as lágrimas que teimavam em cair sem parar.

-Como pode não ser nada se você não para de chorar? – Perguntou ele se levantando da velha poltrona vermelha e largando seu livro de lado veio em minha direção. – Nós podemos adiar sua ida, você sabe Sarah. – Falou meu avô acentuando a última vogal de meu nome como sempre fizera.

-Não ded3 nós vamos ir amanhã. – Insisti com firmeza apontando a varinha para os livros velhos que estavam fora do lugar e fazendo cada um voltar para sua prateleira de origem.

-Você e esse seu cuidado excessivo com os livros. Nesse ponto você é como Valia. – Como sempre acontecia ao citar minha mãe biológica o velho senhor deixou que os olhos negros viajassem em memórias desconhecidas de minha parte.

Gostaria de poder também ter alguma memória, infelizmente tudo que eu sabia sobre minha mãe era através de meu avô, meu ded, como o chamava em russo. Descobrira quando tinha 15 anos, ao voltar do quarto ano de Hogwarts meus pais trouxas tinham um hóspede em casa e foi assim que soube que era adotada.

Intimamente eu já sabia, desconfiava de algo há muito tempo, por mais amorosos que meus pais fossem por mais que eu os amasse sempre uma parte minha soube que algo ali não se encaixava.

Agora tudo fazia sentido, eu tinha sido adotada, escondida em uma família trouxa, deixara meu país de origem com um ano de vida e desde então nunca mais colocara os pés em território russo.

Até agora.

Meu deduchka que me procurava naquela ocasião, me contou que há anos esperava a confirmação de que eu era mesmo sua neta, contou que era dono do relicário em Londres e me ensinou minha língua materna. Algumas palavras como mamãe, mama, e papai, papa, vieram tão fácil, como seu eu já tivesse aprendido alguma vez, apenas como se a informação estivesse guardada em algum canto do meu cérebro. Meu avô não cansava de alertar sobre a importância de manter em sigilo minha real identidade, não que eu mesma soubesse muita coisa.

“Não pode contar pra ninguém, seu pai te mandou pra Londres por algum motivo.”

E então agora eu tinha um outro pai, um biológico, que vivia na Rússia e me abandonara, vovô insistia que ele fizera tudo pra me proteger, mas mesmo o velho Leonid desconhecia o motivo real. Meu avô me contara a história de como uma briga minha mãe Valia fez com que ela saísse cedo de casa. Ele apenas ouviu um boato sobre o nascimento da neta e quase um ano depois a notícia da morte da filha por envenenamento chegou aos jornais.

Eu mesma entendia tão pouco sobre o meu passado que chegava a doer, e era por isso que eu estava deixando James, era por isso que eu ia pra Rússia, enquanto não entendesse quem eu era não descansaria. Minha magia era diferente da dos outros e talvez tivesse algo a ver com sangue, talvez as respostas para o enigma Sara Hale estivesse lá, na gelada e miserável Rússia.

 -É o garoto, certo? Seu namorado? – Perguntou ele.

-Ele descobriu. - Respondi tentando soar indiferente.

-Não vá dizer que não avisei. Devia ter compartilhado essa informação com ele antes serdtze4. – Me censurou meu avô, não respondi, sabia que ele tinha razão, apenas tratei de secar meu rosto e me obriguei a parar de chorar, por Merlin eu estava pior que Lílian.

Me levantei da poltrona onde estava e me lembrei de quando viera com James naquele local, logo depois daquele jogo beneficente, no natal.  Ele me perguntara se estávamos oficialmente juntos e aquele tinha sido um dos melhores dias da minha vida, eu quase me esquecera de tudo que já tinha planejado com meu avô, ele Leonid buscava desvendar o mistério da morte da filha. Eu apenas desejava conhecer o mínimo que fosse de minhas origens, era uma viagem em busca de minha própria identidade, ainda não tinha certeza como faria para me formar auror e ainda assim ajudar meu avô e encontrar minhas respostas, mas ia tentar devia isso a mim mesma.

Era como se eu tivesse uma vida a parte, uma vida que nenhum dos meus amigos pudesse fazer parte, e isso cansava se eu apenas pudesse desvendar as coisas talvez finalmente eu poderia me tornar apenas a Sara Hale que eu desejava ser. Namorada de James Potter, melhor amiga de Lílian, parceira no crime de Hugo Weasley. Ao passo que eu queria as coisas mais simples eu não conseguia me manter longe de um mistérios, há quanto tempo fazia que eu tentava desvendar o mistério do acidente de Lily?

Sim, minha vida não era a mesma sem milhões de coisas pra fazer e vários momentos de investigação, infelizmente eu partiria sem saber quem tinha armado pra cima de minha melhor amiga. Simplesmente não entendia como Lílian parecia não se importar em saber, era altruísmo demais, já eu pensava diferente. Aqui se faz aqui se paga, ninguém devia sair impune, a justiça era fundamental.

Eu simplesmente precisava descobrir quem tinha feito aquilo com Lily, como alguém podia ter feito isso debaixo dos meus olhos, logo eu sempre tão observadora sempre prestando atenção em tudo e em todos.  Logo se tratando de minha melhor amiga que eu sempre admirara tanto, logo com Lílian Potter, por essas e outras me sentia tão culpada em partir deixando essa lacuna aberta.

-Sarah coração, o que está pensando? – Pediu meu avô que me observava por trás de seu livro.

-Não se preocupe comigo, são apenas alguns assuntos inacabados. – Falei sem me importar muito, mexi em alguns livros e fui pega de surpresa, me esquecia que por trás da aparência frágil se escondia um feiticeiro que por muitos anos fora professor na academia auror russa.

Em questão de segundos, ele estava em pé segurando a varinha, os livros que me distraiam se fecharam ao mesmo tempo e foram empilhados e por fim a porta da antiga loja se abriu deixando entrar a luz do sol poente.

-Vá e resolva o que tem de resolver antes de irmos. – Disse meu avô em um tom de voz que deixava claro que aquela era uma ordem.

-Mas deduchka!  - Tentei falar.

-Resolva Sarah! Apenas esteja amanhã às 10 horas na estação pronta pra partir, pronta de corpo e alma. Vá deixar sua alma tranquila. – Aconselhou o senhor, sem pensar muito saí da loja, mas o momento de pensamentos em off só durou até eu chegar na calçada, pois logo minha mente já estava a mil novamente, o que eu iria fazer exatamente?

Tentei colocar a avalanche de ideias em ordem, certo a primeira parada seria a casa dos Potter precisava falar com Lílian, talvez informasse o horário de meu trem, quem sabe eu poderia tentar explicar toda a situação. Quem sabe minha melhor amiga ainda pudesse me dar um abraço de adeus na estação.

(...)

James POV

Fazia quase um dia que eu sabia que Sara iria partir, e mesmo assim a ficha demorava a cair, como ela podia? Como ela podia fazer isso comigo? Logo comigo que sempre a amei, a esperei e tive toda a paciência do mundo até que ela estivesse pronta pra ficar comigo.

E justamente para a academia russa? O problema nem era a distância, mas sim o regime quase militar a que ela seria submetida, nada de férias, mínimos dias de folga nada de visitas. Além disso a tal academia era a pedra em meu sapato, o sapo em minha garganta a colher suja em minha poção.

Eu não tinha conseguido entrar, pois é, nem meu sobrenome fez com que eu fosse chamado, na época tive que me contentar com a academia londrina e agora lá estava a minha namorada sendo aceita.

Eu deveria me orgulhar de Sara, mas ao mesmo tempo me sentia traído. Não apenas por ela, mas por toda minha família que guardara um segredo assim por tanto tempo, traído pela academia que não me aceitara há quatro anos e agora levava minha namorada pra longe.

Lily sempre soube por ser sua melhor amiga. Alvo soube quando por algum motivo realizou seu exame adimensional.  Ele não deveria ser um medibruxo voltado apenas para a recuperação de acidentes graves? Como até o meu irritante irmão mais novo ficou sabendo antes de mim? Até meu pai e minha mãe sabiam. Isso simplesmente não era certo. Sara é minha namorada, ela deveria ter contado primeiro para mim.

Do que adiantava tudo aquilo agora?

Meu apartamento novo iria me torturar por muito tempo, os girassóis artificiais brilhavam em um vaso no canto da pequena sala e pareciam me provocar. Os móveis, a cortina da cozinha, as almofadas em minha cama e os pratos escolhidos a dedo por ela. Tudo isso tinha a marca de Sara, tudo isso me lembrava ela, pior do que essas lembranças matérias era a cicatriz que ficava em mim.

Quando deixei que ela escolhesse todas essas coisas eu realmente não me importei. Porque para mim tanto faz se um prato quadrado nunca superará o design clássico dos pratos redondos ou se as almofadas azuis caiam bem com o edredom cinzento. Nada importava desde que ela estivesse feliz ao meu lado. Eu não queria um apartamento com cores que combinavam e uma decoração aconchegante. Eu queria um lar, e há algum tempo eu tinha a vaga noção de que não encontraria isso sem Sara ao meu lado.

Eu deveria ter adivinhado que Sara Hale me traria problemas, não foram nem uma ou duas vezes que ela deixara transparecer sua dupla personalidade, uma delas fizera com que eu me apaixonasse a outra me alertara do problema que estava comprando.

Uma Sara era a garota que eu amava, era a monitora certinha, porém desastrada, a menina que gritava a plenos pulmões exigindo por silêncio, a mulher que amadurecia ao mesmo tempo em que conservava a criança cativante. A Sara que eu amava era sensual sem ao menos tentar ser, se vestia de modo simples sem se importar com os outros, praguejava em russo quando irritada e se recusava a falar palavrões. Acima de tudo era leal e corajosa. Era a minha Sara.

Já a outra Sara, a que eu aprendera a temer e evitar, passava por cima do mundo por seus objetivos, mentia friamente, interrogava qualquer um, invadia mentes com a mesma facilidade com que respirava. Era a menina que em questão de segundos endurecia e se tornava apenas um muro, um muro alto e intransponível que eu nunca seria capaz de atravessar. Era a Sara que eu nunca fui capaz de ter, porque não era uma pessoa para se guardar. Não era domável, e simplesmente nunca fora minha e nunca seria de ninguém a não der dela mesma.

Por esses motivos é que repito, eu deveria ter previsto que as coisas não ficariam nesse mar de rosas que estava nosso namoro, por muito tempo. Agora ela ia embora eu estava sem reação. Eu não tinha quebrado nada, não tinha gritado, apenas estava sentado em minha nova casa evitando qualquer contato com o mundo lá fora. Não teria sentido quebrar tudo a minha volta, por dentro eu já estava completamente quebrado e a minha alma já parecia sem voz de chamar por tanto tempo pela pessoa a quem sempre pertencera. Não a mim, mas a ela. Sara.

Mais cedo minha mãe tinha batido na porta por vários minutos, ameaçou arrombá-la se eu não abrisse, não me importei eu não queria ouvir nada dela.  O que minha mãe diria? Que já tinha me avisado? Que Sara não era a garota ideal pra mim?

DROGA!

Eu queria a minha garota, o meu girassol ali do meu lado, queria que ela ficasse em Londres comigo, como deveria ser.

Era pedir demais? Era muita prepotência da minha parte querer ser mais importante que a academia?

DIM DOM

A campainha de novo, quem seria? Minha mãe novamente, minha irmã? Alvo?

DIM DOM

Foda-se eu não quero falar com ninguém.

DIM DOM

Posso fingir que não estou em casa, é só eu ficar bem quietinho.

DIM DOM

-Vai embora! – Grito me sentindo incomodado pelo barulho, meus pensamentos já gritavam alto o bastante não precisava de uma campainha pra ajudar!

DIM DOM

-EU DISSE PRA IR EMBORA! – Repeti falando mais alto e com mais veemência dessa vez.

-Não enquanto você não abrir! – A voz firme era tão conhecida, e mesmo brava sempre soava como veludo para meus ouvidos. Eu já estava enlouquecendo ou ela realmente estava ali?

-O que é você quer? – Perguntei me levantando e indo até a porta.

-Você me acusou de covarde James e isso eu não admito. – Respondeu ela e quase pude imaginar seu rosto enfurecido.

Abri a porta apenas para confirmar a imagem que já tinha em mente, ali estava ela, os cabelos revoltos e castanhos, os olhos de águia, quase tão alta quanto eu, o corpo magro que eu aprendera a idolatrar.

-Você fugiu. – Acusei encarando-a.

-Eu chamo de retirada estratégica. – Me respondeu ela sorrindo timidamente, nos encaramos por alguns segundos, percebendo que estávamos parados na porta, dei um passo para o lado e fiz sinal para que entrasse.

O silêncio logo se tornava constrangedor, eu não conseguia parar de olhar pra ela mesmo que quisesse não fazê-lo, o sentimento de humilhação por ter sido enganado ainda cru em mim me deixava confuso.

Acho que essa era a palavra, cru, tudo ainda estava confuso eu não conseguia processar a informação. Sara tirou da grande bolsa vermelha que carregava um envelope de papel pardo e me estendeu.

-O que é isso? – Pedi pegando o envelope e deixando meus dedos encostarem propositalmente nos dela, como sempre o toque acendeu uma chama em mim.

-Isso James é tudo que consegui sobre o acidente de Lílian. – Ela explicou pausadamente, a informação me pegou de surpresa o que ela tinha pra investigar, afinal?

-Como assim?

-Não acho que tenha sido um acidente Jay. – Insistiu ela levando meu cérebro ao modo auror em segundos, como assim? As investigações tinham sido encerradas, mesmo meu pai antes tão empenhado já não acreditava que o tal balaço estivesse enfeitiçado.

Talvez a bola estivesse com defeito, a magia poderia ter se enfraquecido com o passar do tempo, era isso que tinham concluído. Mas ali estava Sara Hale dizendo que não, dizendo que alguém tentara machucar minha irmã mais nova, e isso eu não podia admitir.

-Acha que alguém tentou matar a Lily? – Pedi temendo sua resposta.

-Sim James, eu acho que tentaram matar sua irmã. – Respondeu ela me encarando com firmeza, o simples uso das palavras, matar e irmã na mesma sentença me dava calafrios.

Por que alguém iria querer machucá-la? Lily era um anjinho, sempre fora, desde o dia que nascera eu fora tomado por um senso de proteção por aquele ser de cabelos ruivos e um sorriso meigo. Lílian sorriu na primeira vez em que me viu, e eu mesmo com apenas quatro anos entendi aquele gesto como um modo dela me dizer que já me amava.

-Eu não vou poder continuar com a investigação, não fora da escola e principalmente em Moscou. Ouvi dizer que será responsável pela área de Hogsmeade esse ano então não será difícil pra você ter acesso à escola. - Continuou ela de modo sugestivo.

-Mas nem que eu não estivesse no povoado eu faria isso, se alguém tentou machucar Lily eu vou descobrir quem foi Sara. Obrigado por confiar em mim. – Falei apertando o envelope e voltando a analisar a expressão daquela garota. A ultima parte da frase saiu amarga, afinal, aparentemente eu era bom o suficiente para ser encarregado de uma suposta tentativa de assassinato, mas não para receber a verdade sobre os planos da minha namorada.

-Eu confiaria minha vida a você James. – Ela me pegou de surpresa, não devia me dizer algo assim, não quando iria partir em breve.

-Então por que está indo pra longe? – Pedi olhando para o chão, sendo incapaz de continuar minha análise naquele rosto ilegível.

-Você sabe o motivo. –Foi sua resposta dada prontamente.

-Então era só isso? – Perguntei apontando para o envelope agora na pequena mesa.

-Sim, eu precisava ter certeza que alguém continuaria a investigação por mim. – Respondeu Sara ajeitando a bolsa no ombro e caminhando até a porta.

-Fique tranquila quanto a isso. – Falei sem me mover um centímetro. Parada na porta a garota me encarava, ela sempre fora tão bonita? Ou será que o fato dela estar se afastando fazia com que eu me desse conta do que estava perdendo? O fato de eu saber que esta poderia ser a ultima vez que a via estaria mudando a minha visão sobre ela?

Não, eu sempre a vira desse modo. O meu Girassol. Linda. Nenhuma outra nunca seria igual a ela. Ninguém teria a sua risada silenciosa, que era apenas um estranho sacolejar de ombros que não emitia sons, mas acendia o seu rosto de uma maneira incrível. Ninguém teria sua obsessão por chocolates, doce que ela defendia com paixão, ser o melhor do mundo. Ninguém seria capaz de ter essa perfeita mistura de seriedade e diversão ao mesmo tempo. Ninguém seria a melhor amiga de Hugo Weasley e Lily Potter como ela foi, sendo ao mesmo tempo mandona, mas cúmplice do primeiro, e uma quase irmã para a última.

Quatro anos nos separavam. Ela sempre fora mais nova, mas nunca teve medo de me desafiar se necessário. Ela sempre teve defeitos, sempre foi imperfeita, e ao mesmo tempo, perfeita para mim.

-Então adeus James Potter. – Disse ela sem se mover para abrir a porta e sair efetivamente.

-Adeus Sara Hale. – Falei também parado. Foi como um jogo, quem seria o primeiro a se mexer? Quem seria o primeiro a quebrar aquela conexão? Quem seria o primeiro a mover o olhar para então pararmos de nos encarar?

Foram apenas três segundos, três preciosos segundos em que a bolsa escorregou de seu ombro e caiu no chão ao lado de seu corpo. Três segundos que fizeram com que ela ao invés de estender a mão, pegar a bolsa e ir embora optasse por vir até mim.

Três segundos que me fizeram agir por impulso e correr até a garota.

No momento em que nossos lábios se tocaram eu sabia que os três segundos virariam facilmente minutos, horas e se estenderia pela noite quente do curto verão inglês. A pele de Sara queimava em contato com a minha, em algum momento murmurei a maior das verdades em relação a ela.

-Acho que te amo.

************************************************************************

DICIONÁRIO RUSSO DA SARA

1 - moê serdtze – Meu coração

2 – deduchka – Vovô

3 – ded – Avô

4 – serdtze - Coração


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

NB/ OWN!!!!
Tadinho do James! Bom esta ai o segredo de Sara. Alguma surpresa que a autora foi capaz de acrescentar mais um mistério a essa história? KKKKKKKK, Lore e todos os seus personagens profundos...
E agora o q acontecerá com o James e a Sara? Só o tempo irá dizer. Mas algo que a futura auror deveria saber é que o amor quase nunca se esta em planos e não tem hora certa para acontecer!
Bjs da beta (em estranho estado romântico, mesmo que como sempre sozinha!... deve ser o excesso de chocolate!)
Milady Black
OBS: Lore, sinto sua falta! Mas fico muito feliz por vc (ela encontrou professores como o Jack e o Paul! Isso mesmo, a sortuda não tem apenas 1 mas e sim 2 professores gatos! Ih gêmea, esqueci de perguntar, algum deles ensina anatomia...)
NA/ Oi amores da minha vida que leem essa fanfic!!! Demorou eu sei, mas é que eu me mudei comecei a faculdade e ainda estou em processo de adaptação então nada de brigar comigo ok? Esse é o PENÚLTIMO capítulo dessa temporada! Sim a segunda temporada está a caminho, então o passado de Sara será melhor explicado! TODOS DIGAM OI AO VOVÔ LEONID!
Espero que estejam gostando!
Beijocas
Obs. Não Milah nenhum de anatomia, um é de fisiologia e bioquímica e ou outro de biologia celular...sério muito inspiradores...HAHSUASHUASHUA



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dirty Little Princess" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.