Atroz escrita por Mellark


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi, garotas/garotos. Então... Faz muito tempo que eu não apareço, certo? Mil desculpas por isso. Me perdoem, de verdade. Sei que não tem desculpas pra uma escritora boba que deixou pra trás seu sonho de escrever, mas é que muita coisa aconteceu nesse meio tempo e ficou difícil lidar com a escrita. Enfim... Espero que vocês me perdoem pela ausência GIGANTE e que ainda estejam por aqui, pois fico imensamente feliz em saber que tantas pessoas curtiram a fic! Mil perdões, gente, sério. Tomara que vocês ainda estejam por aqui ♥ Beijo!



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— Está pronto? — perguntou Clove, com certa diversão em seu tom de voz. Preparou a faca junto à mão, fechando os dedos contra o cabo. Cato desviou dos primeiros golpes, certo de que venceria a luta. Segurou seu delicado corpo com a força necessária para rendê-la, mas não para machucá-la. Pressionou a mão de Clove até que a faca caísse ao chão, chutando-a para longe quando teve a oportunidade. Pôs os lábios junto do ouvido dela, debochando de seu desempenho para desmotivá-la. Mas, como bem sabia, ela jamais se daria por vencida sem que suas energias estivessem completamente esgotadas.

— Se eu fosse você, não estaria rindo agora — respondeu ela, com os dentes cerrados de ira. Esmurrou Cato na altura das têmporas, fazendo-o cair de joelhos sem nenhum outro esforço. Puxou-o pelos cabelos, fazendo com que seu pescoço ficasse totalmente evidente. Pôs a faça contra uma das veias mais grossas e perceptíveis, fazendo alusão ao que realmente faria se aquilo tudo não fosse um mero treinamento. — É como sempre dizem, Cato — disse, pondo-se à frente dele. — Aquele que ri por último, ri melhor.

Com um soco no abdômen, Clove ficou na mesma posição em que ele se encontrava – exceto pelas mãos que, pela precisão do golpe, ficaram envoltas em seu corpo na tentativa de diminuir a dor. Bramidos agudos escaparam de sua boca, deixando claro o quanto seu corpo havia sido afetado. Enobaria supervisava o treinamento e, com o gesticular de uma das mãos, interrompeu o mesmo para se pronunciar.

— Nada mal — disse, direcionando seu elogio a Cato. Estendeu a mão para que a garota de cabelos negros a segurasse, ajudando-a a se levantar em seguida. — Belo progresso, tributos.

Com um malévolo sorriso, Enobaria ausentou a sala e levou consigo qualquer tensão ali existente. Clove relaxou todos os músculos faciais quando a viu dobrar o corredor, e alcançou uma toalha felpuda para secar o rosto. Fechou os olhos por um breve momento, desejando não estar ali. Desejando não fazer parte dos planos da Capital. Desejando não dividi-los com Cato. Indagava-se porque, entre tantos outros, teve a má sorte de ser escolhida junto dele. O garoto por quem alimentava um sentimento desconhecido e negado, cujo destino estava fadado ao fim sem nem mesmo ter um começo.

As mãos de Cato deslizaram pela camiseta de algodão até encontrarem a ponta, por onde foram esticadas até escorregarem para longe de seu corpo; ele se despia sem pudor algum. Um inevitável rubor tomou conta das descoradas bochechas de Clove, que parecia desconfortável como nunca em vê-lo naquelas condições. Virou-se de costas quase que de imediato, fingindo uma indiferença que não possuía. Limpou a garganta e jogou a toalha para um canto, puxando sua jaqueta de um dos compartimentos de uma grande estante de metal.

— O que foi? — perguntou o rapaz, se aproximando da estante para escolher uma nova camiseta. A garota permanecia em silêncio, fechando os olhos por alguns segundos para escolher as palavras certas a dizer.

— Bom trabalho — disse em tom baixo, soltando um longo suspiro. Vestiu a jaqueta e fechou o zíper, pronta para sair pela grande porta de contornos em luz. Porém, antes que o fizesse, teve seu braço segurado e viu seu corpo regredir. Aquele foi o momento em que pôde olhá-lo nos olhos com sinceridade, sem seus escudos de sarcasmo e ironia. O período foi rápido, mas pareceu estender-se nas diversas possibilidades do próximo passo que Cato poderia dar.

— Bom trabalho! — exclamou, zerando as possibilidades antes pensadas. Largou o braço de Clove vagarosamente, com um leve sorriso no rosto. — Você é uma ótima adversária. É uma pena que eu sempre consiga superar você.

— Sério, Cato? — retrucou, rindo em seguida. Deu um tapinha amigável em seu ombro, dando o seu costumeiro olhar debochado. — Por favor... Eu posso vencê-lo a qualquer momento. Só me frustro em saber que você seja tão otimista... Será triste vê-lo perder esse brilho em um só golpe.

— Mal posso esperar para o próximo treino — sussurrou, mantendo o mesmo sorriso e a mesma expressão. Clove apenas se distanciou e perpetuou nos ouvidos de Cato uma risada aguda, de fundo vingativo e perverso.

...

“Uma bela garota de cabelos escuros corria em direção ao mar, quase tombando ao pisar seus pés na areia macia. Seu sorriso poderia iluminar uma cidade. Seus lábios possuíam aparência rosada e branda, prontos para receber um beijo que, se dependesse dele, duraria uma eternidade...”.

— Acorda! — gritou uma pessoa de voz grave, porém inconfundivelmente feminina. Sentiu o chacoalhar de seu corpo e, aos poucos, abriu os olhos. À sua frente, aparecia a silhueta de uma garota de estatura média e de cabelos escuros, assim como a garota em seu sonho. Entretanto, pela expressão que carregava, ela não estava tão contente quanto parecia estar por lá. Esticou os braços para amparar o corpo e sentou na cama, esfregando os olhos para uma melhor visão. Era Clove, sua temida concorrente, garota que lhe causava arrepios de uma boa e má forma... Ao mesmo tempo.

— Vai dormir o dia todo? O treino deveria ter começado há 10 minutos, sabia?

— Não...

— O que está esperando? Levanta logo, perdedor!

— Está com um bom humor hoje, não é? — satirizou, levantando da cama para tomar um banho. Começou a tirar o pijama ali mesmo, sem cerimônias e sem avisos. Clove, mais uma vez, virou-se de costas para depois fugir pela porta e esperá-lo do lado de fora da Base de descanso. Mal conseguia canalizar seus pensamentos em algo além da estrutura física de Cato... Seus braços torneados, as costas largas, o cheiro de seu perfume...

Dispersou os pensamentos, antes que seu cérebro lhe levasse a lugares que não estava disposta a ir. Passou a alongar-se para aquecer os músculos, olhando em direção à base e esperando que Cato saísse pela porta a qualquer minuto. Se havia algo no mundo que odiava, era o atraso de outros. Isso lhe dava a impressão de descaso e má vontade. Entretanto, os treinos estavam cada vez mais pesados e nem todos possuíam sua disposição física de treinar por diversas horas e descansar por poucas.

Cato ausentava a Base de descanso, com uma feição pouco promissora no rosto. Não parecia feliz ou animado, apenas cansado e prestes a explodir. Correu até Clove e, sem dizer uma palavra, continuou correndo. A morena apenas o seguiu em silêncio, fazendo o trajeto destinado em volta do grande campo destinado ao treinamento dos Pacificadores. Ambos corriam no mesmo sentido e na mesma velocidade, sem a necessidade de provarem suas habilidades. Alguns futuros Pacificadores se digladiavam entre treinos, lutando como se suas vidas dependessem disso... E, na verdade, dependiam.

No fim do percurso, Enobaria os esperava com novos equipamentos em mão. Novas armas letais que aprenderiam a usar e que possivelmente ganhariam na Arena, presentes que futuramente seriam cedidos pelos patrocinadores expectadores dos Jogos. Expectadores esses que eram sedentos por sangue. Assim sendo, quanto mais selvageria e violência, melhor a trama ficaria... Seria mais eletrizante e envolvente, mais provocativa.

— Apresento-lhes suas novas armas de combate! — lançou em felicidade, arremessando uma faca de longo corte para Clove e uma grande e brilhante espada para Cato.

— Eu já tenho uma faca — respondeu Clove, enquanto olhava mais detalhadamente para a extensa lâmina. — Não preciso de outra.

— Tenho certeza que precisará. Essa possui peso diferente, tem uma estrutura mais encorpada e bruta. Tem certeza que consegue manuseá-la? — intimidou Enobaria, com um demoníaco sorriso entre os lábios. — A que você tem me parece um tanto frágil e leve. Quem sabe aquela seja a única que você consegue controlar, não é mesmo?

O ódio pareceu subir para a garganta de Clove a ponto de sufocá-la. Seu maior desejo naquele instante era preencher o pescoço de Enobaria com as próprias mãos, reproduzindo nela a falta de ar que sentia ali. Todavia, se conteve e respirou fundo, perdendo logo o interesse em replicar a assertiva.

— Tenho certeza que Clove consegue lidar com qualquer coisa — acrescentou Cato, ainda que soubesse que Clove não apreciava amparos piedosos. Olhou para a garota e sorriu em um gesto sincero.

— Então ela precisa de porta-voz agora? — indagou Enobaria, em um tom tão afiado que foi capaz de partir a bondade de Cato em dois.

— Não! — disse Clove, limitando-se a uma monossilábica fala. Tomou a faca em mãos e em pouco tempo aprendeu como manejá-la. O peso interferia nos movimentos, porém bastava ganhar um pouco mais de peso e massa para usá-la sem impedimentos. Em breve estaria em perfeita forma para utilizá-la como se fosse extensão de seu corpo, e não meramente uma arma.

— Eu falei, não falei? — murmurou Cato para Enobaria, com um sorrisinho vitorioso nos lábios. Segurou a espada em mãos, sentindo a dificuldade que seria levantá-la e controlá-la da mesma forma que costumava controlar sua antiga espada. Enobaria se distanciou até sumir no horizonte, deixando os futuros tributos praticamente sozinhos.

— E então, está pronta?

— Absolutamente! — replicou Clove, desferindo um golpe que, se válido, cortaria a barriga de Cato e relevaria entranhas.

A ponta da espada de Cato era o bastante para garantir sua defesa. A luta se estendia e, de golpe em golpe, seus olhos se encontravam e deixaram transparecer palavras que se perdiam em seus raciocínios. Clove, quando inteiramente rendida pelos braços e pernas de Cato, sentiu seu corpo estremecer pelo controle que ele possuía sobre ela. Não só por estar ali, literalmente vencida, como por estar inteiramente louca por ele. Gostaria de tocá-lo, beijá-lo, abraçá-lo... Sentimentos antes nunca cultivados por ela ou por qualquer um que conhecia. Os relacionamentos pareciam mecânicos e sem vida. Um homem e uma mulher se escolhiam, casavam e possuíam filhos. Amar não estava envolvido em nenhuma dessas funções e, se estavam, eram perfeitamente escondidos pelos envolvidos.

— Está sentindo isso? — murmurou Cato, ainda dominando a garota. Seus lábios cederam um sorriso genuinamente feliz.

— Isso o quê?

— Isso... O sentimento de perda e humilhação! — exclamou e riu, saindo de cima da garota e libertando-a. — Você não cansa de perder, não é?

— Cato... O que está acontecendo? — perguntou, limpando a garganta para ser mais clara. — O que está acontecendo entre mim e você?

— Nós estamos lutando. Não é óbvio?

— Não, eu quero dizer... — iniciou, mas pensou bem antes de prosseguir. Era óbvio que Cato não notava o que se estabelecia ali. Não notava ou simplesmente não se interessava.

— Vai lá, fala logo antes que eu perca a paciência e nocauteie você outra vez! — brincou, sentando no chão frio e liso.

— É que... Tem uma... Uma... Tensão entre nós. Muito grande. Você não sente o mesmo? — sua pergunta se perdeu no tempo. Ela mal podia acreditar no que havia dito. Tensão?! Oh, céus...

— Claro que sinto. A tensão entre nós me parece bem óbvia, afinal, nós somos... — Cato tomou um tempo para terminar a frase. — Adversários.


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