Atroz escrita por Mellark


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olááá! Então, ainda não consegui avisar todas as leitoras, muito menos responder todas as reviews. Acontece que o site bloqueia mensagens que são enviadas seguidas, então fica difícil contatar uma por uma e esperar alguns minutos entre uma mensagem e outra! :( mas pretento terminar isso logo. Enfim, esta aí mais um capítulo que foi super curtinho, mas foi pra deixar um pouco de dúvidas sobre o que acontecerá no próximo capítulo. Beijocas!



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— É, é claro — confirmou Clove, enquanto se distanciava do rapaz. Cruzou os braços contra o peito em sinal de indiferença, batucando os dedos contra o braço em puro descaso. — Somos só adversários. Só isso.

— Mas — murmurou, levantando e se aproximando com rapidez. A garota mal conteve o suspiro. — Que Enobaria não me ouça, mas podemos ser amigos, não é?

Clove jamais poderia ter previsto tal situação. Sempre havia sido tão fechada e retraída, mantendo relações superficiais inclusive com os próprios pais... O Distrito 2 não era conhecido pela compaixão, amor ou união, mas sim pela brutalidade e eficiência. Possuía, até então, uma visão fatalista das coisas. Sua vida baseava-se na sobrevivência do mais apto. Era uma garota forte e de poucas emoções, preparada para enfrentar a Colheita e possivelmente os Jogos. No momento, os Jogos deixaram de ser possibilidade e passaram a ser realidade. Tomaria o lugar de outro alguém voluntariamente. Não por pena ou por amor, mas sim por obrigação. A vitória estava fadada a pertencer ao seu Distrito e representá-lo deveria ser seu maior trunfo, motivo de orgulho para parentes próximos ou distantes. No entanto, o sentimento de vanglória estava longe de se comparar com o que sentia ali.

— Não podemos — respondeu, soltando o suspiro antes preso à garganta. Os braços permaneceram cruzados, mas dessa vez uma de suas pernas estava à frente do resto do corpo como uma presa preparada para fugir do predador. Seu corpo doía, porém não em sinal de fadiga. Algo parecia pressionar seu peito com tanta força que acabaria por partir seu externo em dois.

Cato não a compreendia muito bem. Não era tão bobo quanto imaginavam, mas também não o melhor exemplo de sensibilidade ou percepção. Não tomou muito tempo até Enobaria retornar e os convocar para uma pequena reunião de ajustes, com a perversidade de sempre entre os lábios finos e os dentes pontiagudos.

Os corredores da base de treinamentos eram estreitos e claros demais. Enobaria caminhava à frente, seguida por Clove, Cato e dois Pacificadores. Uma sala se estreitava no canto direito do corredor, mas diferente dele, era muito maior e parecia ainda mais clara. No meio dela, havia uma mesa e cadeira reluzentes. O reflexo da luz dava um brilho incomum à cor grafite do metal. Os dois futuros tributos recostaram os braços ao lado do corpo em sinal de respeito e temor ao notar a presença do Inspetor do Distrito.

— É uma bela manhã, não é? — iniciou o Inspetor, como se aquela fosse uma conversa comum entre amigos. Encostou uma das mãos sobre a mesa, deixando em evidência um anel cujo valor poderia quitar as dívidas de diversas famílias do Distrito. Com a falta de réplica, ele prosseguiu: — Bem, venho lhes informar que faltam algumas semanas para os Jogos. É agora que intensificaremos os treinos e trabalharemos na imagem que vocês exibirão durante os Jogos. É importante que vocês saibam que depois de entrar, não terá volta. Estão certos de que querem isso... Certo?

Sua voz não soou amigável ou compreensiva, do tipo que lhe pergunta e sinceramente respeita sua resposta. O real sentido de sua pergunta não necessitava de respostas. Ele mostrou-se cordial, mas sua verdadeira função era compelir e coagir para que ambos não voltassem atrás.

— É de grande satisfação que tenham nos dado a chance de tê-los como representantes. Vocês conseguem imaginar o quanto isso repercutirá no Distrito? Nós seremos vencedores novamente e isso nos trará recursos para investirmos em suas famílias e amigos. Isso é simplesmente fantástico! — exclamou tão animado que mal conseguia conter o tom.

A fala era tão certa e idealista que parecia pregar inteiramente o bem coletivo. Jogar dois jovens em direção à morte parecia justificável, afinal, o Distrito em questão lucraria em grande proporção. O lado que ninguém acentuava era o de que esses bens jamais parariam em mãos trabalhadoras, mas sim nas mãos daqueles dispostos a qualquer coisa pelo ganho de influência e poder. Ali jamais haveria a supremacia social, apenas a soberania do mais forte. Seriam duas mortes pelo preço de muito ouro e alguns privilégios cedidos pela Capital. Na ideologia do Distrito, o sacrifício seria um preço baixo a se pagar.

— Alguns novos tutores irão trabalhar o personagem que vocês serão durante os Jogos. É de suma importância que vocês sejam alguém. A vantagem só virá se eles notarem algo de diferente sobre vocês.

Um nó se formou na garganta de Clove. Ela gostaria de gritar ou replicar, mas sabia das consequências que sua demonstração de desrespeito traria. Olhou para o lado lentamente, notando as gotas de suor que se formavam na testa de Cato e deslizavam pela sua pele até o maxilar.

...

Clove socava o saco de pancadas incessantemente, alternando os golpes entre chutes e socos. Com a mente focada e o coração acelerado, continuou golpeando até sentir um dos dedos deslocarem do lugar. A dor que lhe acometeu foi grande, mas ela não fez grandes alardes sobre ela. Trincou o maxilar para impedir um grito e forçou o dedo para o seu lugar de origem, ouvindo um pequeno estralar após o encaixe.

— Se continuar assim, vai acabar quebrando um deles — disse Cato, acenando com a cabeça em direção às mãos da garota.

Cato e Clove agora possuíam uma sala única para treinamentos, isolada das destinadas aos Pacificadores. Passavam a maior parte dos dias juntos, com exceção dos momentos em que alguns treinadores e tutores se infiltravam para transformá-los naquilo que eles estavam longe de ser.

— Se continuar assim vou acabar quebrando você — respondeu seriamente, sem a usual ironia. Ela estava falando sério. Seu corpo estava mais forte e definido, mais resistente. Machucá-lo seria uma tarefa fácil de executar.

— Você não quer dizer isso de verdade, é tudo atuação — falou. Assim que se preparou para encostar as mãos nos ombros da garota, ela o impediu puxando-o pelo braço e levando seu corpo ao chão. Tudo aconteceu tão rápido que Cato demorou a entender.

Ao invés de zangar-se ou revidar, Cato riu. Riu como não ria há tempos. Não havia motivos para rir, mas isso não o preocupava muito. Clove reclinou um pouco o corpo para ver se havia algo de errado com o rapaz e, ao fazê-lo, também foi levada ao chão.

— Viu? Você pensa que está focada, mas qualquer coisa te distrai — murmurou Cato, que ali se encontrava próximo dela como nunca esteve antes.


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