Mu – 27 de Março

A forma que seu mestre encontrou para felicitá-lo foi liberá-lo do treinamento naquele dia. Mu sorriu meio confuso. Não se importaria em treinar, mesmo que fosse seu aniversário de sete anos.

O que faria?

Estavam no Santuário esse dia, mas Mu ainda não conhecia seus futuros companheiros de batalha. Acabou buscando a sombra de uma árvore, em um local bem distante das arenas. Seu objetivo era ler um livro, mas não demorou a ser interrompido.

– O que são esses pontinhos?

Mu olhou para cima e viu um garoto aparentemente da sua idade. Ele estava se referindo aos sinais que o ariano possuía na testa.

– Nasci com eles... – respondeu lentamente, dando de ombros.

Se Mu soubesse logo que aquele garoto era Aiolia, aspirante a Cavaleiro de Leão, e muito agitado... Bem, não teria lhe dito que estava sozinho porque era seu aniversário e não conhecia ninguém.

Definitivamente, não diria aquilo. Pois, assim que informou, ao ser perguntado, o leonino imediatamente propôs que se divertissem muito aquele dia.

Foi um dia extremamente agitado. E perigoso. Uma hora, Aiolia o arrastou para a área de treinamento das amazonas. Talvez conseguissem ver alguma delas sem máscara...

Mu tratou de puxá-lo para longe dali o mais rápido que pôde.

Apesar de tudo, foi um dia divertido. Aquela seria a última vez que Mu teria contato com alguém por muito tempo. Shion andava preocupado, ele já devia imaginar o pior e, sendo seu discípulo, Mu já devia estar preparado...

Preparado para o quê? A tristeza, a revolta, a sensação de impotência? Shion lhe ensinara a controlar as emoções, mas aquela foi a primeira vez que Mu teve que lidar com a morte de alguém. Ele se acostumaria com o tempo. Já era um Cavaleiro de Ouro e a vida dos defensores de Athena era assim, afinal.

Tudo o que pôde fazer foi esperar. Sozinho não podia fazer nada. Um dia, certamente, aquela farsa no Santuário seria descoberta. Até lá precisava ser paciente.

O que a solidão e o isolamento não são capazes de fazer? Tornou-se extremamente paciente, logo Mu que já era a pessoa mais calma e amável do mundo. Seu cosmo era poderosíssimo, assim como sua habilidade psicocinética. Sabia, com certeza, que ainda precisaria lutar muito.

Enquanto isso... Permanecia em Jamiel. Nunca atendia os chamados do Santuário e seu falso Grande Mestre. Alguns cavaleiros corajosos conseguiam alcançá-lo com suas armaduras danificadas, mas era bem raro. Mu consertava suas armaduras e voltava a ficar só.

Ficar sozinho não era tão triste. Não tinha ninguém a quem se adaptar, ninguém com quem se preocupar, ninguém que pudesse traí-lo. Havia algo de bom nisso.

As coisas mudariam um pouco quando se tornasse um mestre. Kiki, um menino muito ativo e alegre, faria a solidão ser menor. E então apareceriam aqueles Cavaleiros de Bronze que em breve desafiariam o Santuário. Eram bons rapazes e Mu daria seu melhor para consertar-lhes as armaduras.

Porém, quando ainda vivia sozinho, eis que os Cavaleiros de Touro e Leão apareceram um dia em sua pacata residência. Aiolia ainda era muito agitado e, agora, agressivo também. Nunca entenderia como Mu podia permanecer tranquilo e paciente enquanto os problemas surgiam. Principalmente quando começassem as lutas contra os guerreiros de Poseidon.

Ora, a paciência sublime veio com os anos de prática em Jamiel, mas o ariano sempre foi calmo, não é? Seu mestre sempre dizia isso. Seu mestre... Shion, sim... Seria muito triste para Mu quando tivesse que confrontá-lo. Seu mestre, um espectro de Hades!

Se era assim que tinha que ser, pois bem, que fôsse. Apesar do respeito, da admiração, de tudo o que lhe devia pelo treinamento, Mu se levantaria contra qualquer um. Até mesmo contra ele. Mu era um Cavaleiro de Ouro e protegeria Athena com todas as forças.

Fim