James percorria aqueles corredores pela última vez. Ele não acreditava que depois de sete anos ali ele iria voltar para casa e nunca mais regressar para Hogwarts, o seu lar. A cerimônia de formatura havia acabado há alguns momentos e vários dos alunos estavam chorando, principalmente os lufanos. O moreno saíra de fininho do grupo enquanto Minerva falava sobre como todos eles foram importantes para ela, e como ela gostava de cada um ali, James sabia que não precisava de mais um momento sequer naquela sala, ele precisava desfrutar de alguns minutos sozinhos ali em Hogwarts, afinal, eram os últimos em seu “lar”.

            A gravata mista vermelha com dourada pendia em seu pescoço. James fizera questão de usar o uniforme da casa a qual pertencera assim como os demais alunos, ele sabia que uma vez que removesse aquele uniforme e o colocasse novamente ele não sentiria a mesma coisa.

            Enquanto caminhava pelos corredores sob os olhares atentos dos quadros ele se pegava pensando nela. Lily Evans e todas às vezes que ela o rejeitara. Um sorriso sempre aparecia em seu rosto ao lembrar da ruiva, do mesmo modo que uma tristeza o abatia sabendo que agora não poderia ter mais um ano com a sua ruivinha, mesmo ela nunca tendo sendo sua, literalmente, pois em sua mente ela pertencia à ele e a mais ninguém e aí de quem dissesse o contrário.

            Ele havia tentando lhe dizer o que sentia inúmeras vezes, mas ela sempre o tratara como se isto fosse uma mentira, e o desprezava, o que parecia a coisa certa para ela, mas de modo nenhum James deixara de gostar dela, muito pelo contrário, era como se aquilo aumentasse o que ele sentia, aquelas borboletas voando em seu estomago, o fazendo parecer um bobo, sorrir feito um bobo e agir feito um bobo, esse era o efeito que a ruiva tinha sobre ele. Durantes as férias ele tentara a escrever inúmeras vezes, quem sabe assim ela não iria acreditar? James deveria admitir que fora uma tarefa árdua com Sirius em seu pé falando sobre como era namorar Marlene McKinnon e que nunca imaginara isso, mas que finalmente estava apaixonado por alguém e até que estava disposto a abandonar o cargo de “Pegador” por causa dela.

            As cartas nunca chegaram a ser enviadas ao seu destinatário. Medo? Talvez. Irônico, não? Um Grifinório com medo. Mas o medo era de ser rejeitado e continuar sem aceitar que Lils não gostava dele, e nunca iria gostar, não do modo que ele gostava dela.

            Ele deveria tentar mais uma vez?

            “Sim!” Uma voz em seu interior dizia. Ele respirou fundo e partiu a procura dela, afinal, aquela seria a última vez que tentaria.

            James foi para o salão comunal da Grifinória, mas assim que o retrato da mulher gorda abriu, lá estava ela sorrindo na companhia dos outros marotos, Lene e Dory. Ele ficara estático com a visão da garota sorrindo, sorrindo de um modo que ela nunca sorriu para ele, mas ele gostava de vê-la assim, a deixava bela.

            - Hey Prongs! – Sirius havia o chamado assim que o viu parado ali na porta.

            - Hey! – respondeu sorrindo e passando as mãos nos cabelos, um gesto que adquirira com o tempo.

            - Junte-se a nós, estamos nos despedindo – Sirius fingiu estar chorando para conseguir um beijo de Lene, a morena revirou os olhos.

            - Desista Black, eu não irei te beijar agora – ela falou, mas envolveu-se com os braços dele. James lançou um olhar a Lily que esperava que ele começasse a jogar suas cantadas.

            - Sinto informar que vocês não terão a minha companhia nesse momento – James falou sorrindo marotamente indo em direção as escadas do dormitório masculino.

            James abrira o seu malão que havia depositado sobre a sua cama. Respirou por um momento pensando no que iria fazer. Era o certo. Ele continuou a colocar suas roupas ali dentro, assim como os objetos de valor. O seu primeiro pomo de ouro como capitão da Grifinória, ele ficara aproveitando a visão daquele pequeno objeto lembrando-se de como conseguiu capturá-lo e como quase perde-lo ao ver a sua Lily ao lado de Snape.

            - Pensei que você iria fazer alguma coisa para a Lils, tipo, se declarar, afinal esta é a última vez – a voz de Remus soou na porta, fazendo com James virar-se para encarar ele e Sirius ali. James bufou.

            - Cara, não era você que vivia dizendo que amava ela? – Sirius adentrou o quarto e jogou-se sobre a sua cama.

            - Sim – murmurara James. – É só que... – ele fechara os olhos – E se ela me rejeitar novamente?

            - Antes ela te rejeitava por você ser... er... maroto demais – Remus falara pondo a mão sobre o ombro de James. – Agora... Olha James, ela parou de gritar com você há um bom tempo, vocês mudaram, você mudou. E além do mais, você nunca saberá se nunca tentar – Remus sorria para ele. James buscou o olhar de Sirius.

            - Concordo como o Moony. Mostra aquelas cartas para ela, que você passava as férias escrevendo e nunca mandou. Só não demora, vai que o Diggory resolve querer voltar atrás com ela.

            Depois de quase ser atingido por um travesseiro, Sirius saiu dali com Remus logo atrás. James voltara a fitar o seu malão. Ele deveria mesmo?

            Sem pensar duas vezes retirou os vários envelopes que continha no fundo dele, cada um dizendo uma coisa diferente, porém, todos querendo transmitir o mesmo.

            Descera as escadas lentamente, e a viu sozinha ali, em meio aos seus pensamentos enquanto fitava o fogo e por um segundo apenas a observou. Imaginou que talvez Padfoot e Moony talvez tivessem levado as meninas para um passeio.

Lily estava brincando com o pingente de seu colar que ele lhe dera, enquanto pensava na última conversa que tivera a sós com Dory e Lene, quando contou a elas sobre o “suposto” sentimento por Potter.

            Merlin deveria está tirando uma com a cara dela, como ela poderia estar apaixonada pelo cara que dispensou a vida toda?

            “Lily Evans você deve está completamente louca!”, pensou.

            - Lílian? – ao ouvir aquela voz a chamando sentiu seu coração palpitando fora do normal, sentiu os pelos de sua nuca eriçarem. Ela virou-se lentamente. James estava ali segurando vários envelopes? Seriam realmente cartas ou seus olhos a estavam pregando uma peça?

            - Anh... Oi Jam... Potter – ela corrigiu-se nervosa. “O que esta acontecendo com você agora, Lily? É só o Potter!” pensou.

            - Eu... eu posso te fazer companhia? – perguntou.

            - Claro – Lily escutou-se dizer sorrindo. “Ai Merlin! Ajude-me aqui!” pensou.

            James sentou-se ao seu lado fitando o crepitar das chamas por um momento, buscando as palavras certas para começar aquele diálogo.

            - Lils, eu sei que esses não foram ótimos anos para você – falou referindo-se a morte dos pais dela, ela assentiu. – Mas eu queria te mostrar algo – ele entregou as cartas à Lily.

  A garota abriu uma a uma, e a cada uma havia simples frases escritas por James e endereçadas a ela, tais como: “Hey Evans! Tudo bem?” “Eu estou sentindo sua falta”.

             "E todas as vezes que eu olhava para ela uma única certeza me invadia: eu quero ficar com ela para sempre. Não importam quanto tempo passe, não importa o quanto as pessoas mudem, mas a minha certeza se prevalecerá, porque mesmo que ela não me ame do mesmo modo, eu irei persistir até que eu possa ouvir o sim saindo de seus lábios durante o nosso casamento. E essa é apenas uma das muitas cartas que eu tenho guardada para você, Lily.
           

Por James Potter"

            Mas a que chamou a sua atenção fora à última.

            “Hey Evans,

            Como você está?

            Você deve me odiar depois de tantos anos te importunando, mas eu nunca seria capaz de fazer o mesmo com você sabendo que irei me machucar e mentir para mim mesmo. Acho que durante todo esse tempo em Hogwarts, você fora o que mais me fez aprender, você, Lily, me mostrou que a vida não é só diversão, você me mostrou que devemos ser fortes mesmo quando acharmos que não podemos ser.  Eu acho que eu... Oh Merlin, eu nunca achei que isso seria difícil de dizer... Eu acho que eu te amo, talvez você não possa acreditar, mas saiba que pelo menos para mim é verdade.

            Você não sabia a raiva que eu sentia quando eu via outro cara (que não fosse eu) aproximando-se de você, eu tinha vontade de usar uma maldição imperdoável nesse ser, sem me importar com as consequências, pois era você ali. Você nem imagina quantas noites em claro já passei pensando em você, como seria se nós tivéssemos nos dado bem desde o início, me perguntando se você chegava a acreditar que os meus convites eram verdadeiros. Me desculpe por ser esse idiota que eu sou, é porque próximo a você é o único papel que eu sei fazer bem, e foi graças à você que comecei a mudar. Bem, é isso.

Com carinho,

James Potter”

            Ao terminar de ler os olhos de Lily encheram-se de lágrimas. Ela não conseguia fitar James.

            - Isso é verdade? – perguntou por fim com a voz embargada.

            - Sim – James respondera sorrindo. – Por incrível que pareça, sim. Eu sei só queria tentar mais uma última vez, porque depois que nós dois atravessarmos aquela barreira mágica, talvez... talvez nunca mais vamos nos ver e eu precisava te dizer isso, pelo menos te dizer novamente, mas de um modo que te fizesse acreditar – James fitara aqueles olhos verdes esmeraldas sobre os óculos que ele usava. – Eu sei que talvez você não goste de mim, mas saiba Lily, que eu te amo! Você me tornou isso que eu sou hoje, eu mudei por você! – James também estava com a voz embargada, mas por medo, insegurança e nervosismo. – Eu não queria sair daqui sem que você soubesse isso... Eu.... Eu queria ter certeza de que conseguiria fazer você acreditar que o meu amor por você não é uma farsa...

            - Você conseguiu, Potter – ela murmurou aproximando os seus rostos e acabando a distancia deles. James levara algum tempo para finalmente perceber que aquele era o beijo que esperara por toda a sua vida, mas assim que se deu conta de que estava beijando Lils, ele aprofundou o beijo, sua língua pediu passagem e Lily cedeu. Aos poucos eles foram deitando no sofá, suas mãos acariciavam a pele macia de sua ruiva. Ele sorria entre um beijo e outro. Quando separaram-se, James a fitara sorrindo e fora correspondido. Ele nunca imaginara que esse dia chegaria.

            - Você sabe que por você eu mudo? – ele perguntou, ela ainda estava sobre ele, suas mãos dirigiram-se a cintura da garota e ali ficaram.

            - Imaginei... – ela riu.

            - Pois é, agora eu sinto pena das garotas de Hogwarts que sonhavam comigo, agora eu, James Potter, tenho dona, pobre delas – James passou as mãos pelos cabelos os bagunçando mais ainda, Lily deu um leve tapa no braço de James e formou um ‘Convencido’ com os lábios.

            - Bom elas saberem mesmo – Lily disse. James a puxou para si e deitou a cabeça dela na curva de seu pescoço e assim ficaram por algumas... horas?

            - James?

            - Sim, Lírio – ela riu.

            - Eu também te amo – ele voltou a beijá-la, só que dessa vez fora interrompido.

            - OPA CASAL, EU AGRADEÇO SE PARAREM, TEMOS INOCENTES AQUI! – Sirius gritou enquanto tapava a sua visão arrancando gargalhadas de todos ali.

            - Só se for a Dory, Padfoot – Remus disse sorrindo e abraçando a namorada que estava levemente corada. – Porque de inocente você não tem nada. Lene que o diga.

            - Me tira dessa! – Lene ergueu os braços em redenção.

            - Eu também amo vocês – Sirius resmungou.

[...]

Eles encaminharam-se para o trem, a última vez que pegariam aquele trem. Tanta coisa havia mudado desde a primeira vez que Lily estivera ali. Na primeira vez ela era amiga de Severus, ela odiava Potter e os outros, e era tudo emocionante, é claro que agora também era, só que, antes era de alegria, agora era tristeza, por saber que estava deixando o seu segundo lar, mas que ele nunca a deixaria, pois viveria em seu coração.

            Logo todos os que estavam dentro daquele vagão adormeceram. Lily observava a cada um. Peter dormindo enroscado em um canto do vagão, ao seu lado, Remus que tinha Dorcas sobre si, encostada em seu peito, ele a abraçava. Sirius e Lene, o casal problema, ele estava deitado nas pernas dela. E por último, James. Ele tinha um braço que envolvia os ombros de Lils, que o fitava dormindo, e um único pensamento passava pela sua cabeça.

            “Awn! Ele baba!” pensou. Definitivamente ela estava apaixonada por aquele Maroto. Ela pegou um lenço dentro do seu bolso e limpou a baba que escorria pelo canto da boca de James. Depois acomodou-se em seus braços e ali ficou. Imóvel. Protegida de todos os comensais, pelo menos era isso que ela sentia.