Quando acordei de novo, o sol batia no meu rosto. Resmuguei e levantei para fechar a janela, mas paralizei ao ver um garoto agasalhado sair de dentro da casa naquele instante.

Meu coração apertou e eu reconheci Paul apenas pelos cabelos escuros que escapavam da touca.

Desesperada, corri para fora do quarto, passando correndo por Tia Rosie, Andrew e Sammy na sala e saindo de casa, não me importando de estar de pijama, ou de estar frio suficiente para fazer meus dentes não pararem de ranger.

- Paul! - gritei quando passei pela porta.

O garoto parou no meio de seu quintal e olhou para minha porta, parecendo confuso. Quando seus olhos pusaram na minha figura de pijama, correndo em sua direção ele sorriu e abriu os braços. Aquilo era reconfortante para mim.

Atravessei a rua correndo e pulei em seus braços, enterrando meu rosto em seu peito.

- Meu Deus, Valerie, como você cresceu! - ele disse me abraçando.

- Eu sei. -  disse ofegante - Eu senti tanto sua falta quando fui embora!

Algo em seu abraço ficou tenso, mas depois ele relaxou.

- Eu também senti saudades.

Me afastei um pouco dele e olhei aqueles olhos azuis perfeitos que senti tanta falta.

- Como você está? Quer dizer, são seis anos! - eu disse incrédula de estar vendo Paul.

- Eu estou bem, mas se não se importa, estou atrasado.

- Ah.

Sorri, tentando esconder meu embaraço.

- Bem, vejos você depois então. - disse me afastando e entrando em casa antes dele responder.

Droga! Eu sou uma idiota mesmo! O que pensei, que eu poderia sumir de repente por seis anos e quando voltasse as coisas seriam exatamente como antes?

Ignorando Tia Rosie, Andrew e Sammy na sala, eu fui direto pro meu quarto, forçando as lágrimas a pararem de escorrer pelo meu rosto.

- Burra burra burra! - eu dizia para mim enqaunto me jogava na cama e escondia meu rosto.

- Você entendeu tudo errado. - uma voz disse atrás de mim.

Eu fiquei com raiva. Levantei da cama depressa e encanrei Ned com o pior olhar que pude.

- O que você está dizendo? Você não sabe de nada! Porque você não me deixa em paz? Minha vida estava bem antes de você aparecer! - gritei para ele.

Isso não pareceu abalá-lo, porque ao invéz de gritar comigo de volta, como eu esperava, ele se levantou e me abraçou.

Naquele abraço eu me senti segura e em casa. Parecia que tudo estava certo ali, apenas eu e ele. Eu estava chorando em seu ombro, encharcando a camiseta azul de marca dele.

- Porque você faz essas coisas? - perguntei entre soluços.

- Porque eu tenho que te proteger.

Tirei meu rosto de seu ombro e encarei seus olhos pretos. Novamente aquela vontade de beijá-lo percorreu pelo meu corpo e antes que eu perdesse a coragem, me aproximei dele e colei nosso lábios.

Ned ficou parado, como se tivess sido petrificado, mas segundos depois ele pareceu se recuperar e me correspondeu.

Aquele foi o melhor beijo da minha vida. Diferente dos outros, aquele parecia a coisa certa a se fazer.