O jantar foi terrivelmente irritante. Não só porque eu estava brava, mas porque ninguém pareceu perceber, e ficar me irritando mais ainda. Sammy ficava rindo de tudo que eu falava, como se estivesse num show de comédia. Kayla ficava fazendo perguntas constrangedoras, tipo se eu era virgem. Andrew ficava chutando meus pés por debaixo da mesa, e falando que era sem querer. Tia Rosie ficava perguntando se eu lembrava de algo sobre o acidente ou se eu estava me sentindo bem.

Mas o que ganhava de tudo era eu saber que não veria mais Ned outra vez. E eu sabia que só ele poderia me explicar o que estava acontecendo de verdade.

Depois do jantar, eu passei pela sala fingindo não ouvir os quatro me chamado para assistir televisão com eles, e fui direto para meu quarto no sótão. Ned não estava lá como uma parte de mim desejava secretamente- a outra parte xingava, dizendo que era idiotice.

Bufando, eu me joguei na cama, fazneo com que minhas costelas reclamassem. Fechando os olhos, eu me forçei a dormir, tentando ignorar a sensação de que estava sendo observada que tinha crescido no meu peito.

Infelismente, acordei duas horas depois de ter ido dormir. Ouvia alguns barulhos lá na sala, então desci para ver quem estava acordado.

- Ei. - Andrew disse quando em viu parada na escada.

- Oi.

- Quer jogar com a gente? - Sammy perguntou.

- Não. 

Passei por eles e fui até a cozinha, pegando um pacote de biscoitos e subindo de volta para o quarto.

- Eu senti sua falta. - Adrew comentou quando eu estava no primeiro degrau.

- Você era muito pequeno quando eu fui embora. - respondi me virando.

- Ela tem razão, eu senti sua falta de verdade. - Sammy disse batendo no irmão, que revidou.

Revirei os olhos voltando a subir as escadas. Não acredito que os dois iam brigar por mim. Como se eu fosse querer um deles.

Entrei no meu quarto e fechei a porta do sótão.

- Pensei que não voltaria mais. - falei quando senti um pequeno vento invadir o quarto, seguido por um perfume delirante.

- Eu nunca disse que não voltaria. - a voz de Ned surgiu atrás de mim e me fez sorrir, ainda de costas para ele.

- Você parecia assustado quando sumiu. 

- Você me deu medo. 

Aquilo me fez rir.

- Eu provoco isso em quase todo mundo.

O riso dele ecoou pelo quarto. Parecia uma doce melodia aos meus ouvidos.

- Você está errada. Você provoca outras coisas, não medo.

Me virei para ele e encarei seus olhos negros e profundos.

- Como se você soubesse seus pensamentos. - respondi sarcástica.

- Dá para imaginar. - ele deu de ombros.

Sentei na minha cama, ficando mais perto dele.

- Não vai me dizer, não é mesmo?

- Não.

- Porque não?

- Porque eu não posso te deixar em perigo.

Aquilo me fez parar e pensar. O que ele estava tentando dizer? Eu não conseguia interpretar.

- O que isso quer dizer?

- Muitas coisas. - ele sorriu e eu pensei que o ar daquele pequeno cômodo era insufisiente.

- E o que você quis dizer com isso?

- Espero que você mesma interprete. 

Dizendo isso, ele começou a tremeluzir e eu sabia que ele ia perdê-lo de novo. E estranhamente isso doeu fundo no meu coração.

- Não vá! - implorei para ele, mas já era tarde demais, ele tinha desaparecido novamente - Eu prometo me comportar. - sussurrei inutilmente.

Olhei para minhas mãos e me joguei na cama, encarando o teto.

Pare com isso! Não pode se apaixonar por um garoto estranho como esse!

- Cale a boca, consiência! - resmunguei apertando os olhos.