Eu estava sentada no meu banco na janela. Depois de receber alta do hospital. Meus pais nem vieram me visitar, mesmo sabendo do acontecido. Todo mundo sabia do acontecido. As revistas de fofoca adoraram inventar várias versões de como eu estava bêbada e tinha acabado desacordada no rio/pista-de-gelo.

Pelo que eu percebi, um caminhão perdeu o controle e acabou no rio, e como ele estava congelado, acabou derrapando e matando várias pessoas que ali estavam, a maioria aqueles casais felizes. Ned nunca mais apareceu, mas eu sei que ele está por perto, eu sei que ele está me observando de algum jeito.

Eu não posso mais sair de casa, é meio que uma prisão particular. O natal é daqui a dois dias. Kayla está realmente chata, falando de como o Papai Noel vai lhe dar a boneca que ela tanto quer. Eu quase não vi Andrew desde que estou aqui, ele tem quinze anos e não saí do computador, nem do quarto. Sammy pelo contrário, não larga do meu pé, sempre perguntando se eu preciso de alguma coisa.

Paul ainda mora em sua casa, como descobri por Sammy, mas seu cachorro morreu no ano seguinte que eu voltei para casa. Ele não saí muito de casa, eu fico aqui o dia todo, esperando ele sair, na esperança de vê-lo, mas isso nunca acontece.

Suspirei, frustrada quando ouvi a escada do sótão cair.

- Mamãe está perguntando se você quer jantar com a gente. - Kayla falou, coloando a cabeça dentro do quarto - UAU! Como aqui é legal!

Ela terminou de subir as escadas e entrou no quarto, maravilhada com os milhares de posters que eu havia pendurado.

- Mamãe nunca me deixou subir aqui. 

- Que bom, você teria acabado com tudo.

- Não teria não! - ela disse parecendo ofendida - Eu quero meu quarto assim. Você me ajuda?

- Não. - falei voltando a olhar para janela.

- O que você tanto vê ai?

Ela veio até mim e se debruçou nas minhas pernas, olhando para janela.

- É o quintal dos Gregoris? O que tem no quintal dos Gregoris?

- Nada. - respondi grossa, tirando ela de perto de mim - Diga para Tia Rosie que eu já desco.

Ela me olhou com raiva, mas desceu as escadas e depois eu fechei a entrada. Me virei para voltar ao banco e vi Ned sentado lá.

- Olá. - disse tentando parecer calma.

- Olá.

- Por favor, me diga o que está acontecendo! - implorei sentando na minha cama.

- Nada está acontecendo.

- Sim, algo está acontecendo. Primeiro você, então o incêndio, e depois o acidente! Eu sinto que tudo isso está ligado. - falei olhando em seus olhos.

Ele desviou o olhar, olhando para o chão.

- Você é diferente. Isso não deveria acontecer.

- O que não deveria acontecer? - perguntei me aproximando dele.

Sim, eu queria o beijar. Aqueles lábios dele pareciam tão macios e convidativos. Eu nunca tive tanta vontade de beijar alguém antes.

- Tudo isso. - ele respondeu me olhando de novo.

- O que seria tudo? Eu só quero entender alguma coisa! - falei inocente, fazendo-o rir.

- Você não me engana, eu sei que você não é nada do que aparenta. Nada que faça vai me fazer te contar o que está acontecendo.

- Nada?

- Nada. - ele confirmou.

Eu me aproximei mais, ficando perigosamente perto dele.

- Tem certeza? - perguntei sedutoramente.

- Valerie, você não sabe o que está fazendo. - ele disse sorrindo e então desapareceu.

Bufei irritada e desci do sótão, indo para cozinha.