Eu não sabia onde estava, mas eu gostava daquele lugar. Era um rio, mas com o inverno, ele congelou e fazia uma pista de gelo. Alguns casais andavam de patins e namoravam, algumas meninas da minha idade patinavam sozinhas. Eu estava sentada embaixo de uma árvore, com uma certa quantidade de neve acumulada no meu cabelo e minha bunda molhada de neve derretida.

Eu não sabia o que estava fazendo, e pouco me lixava para que horas eram. Eu não pretendia voltar para casa tão cedo mesmo. Minha barriga estava roncando e eu sabia que precisava comer algo logo. Mas nada disso parecia importar agora. Eu só queria voltar para casa, para Pheonix, com Heather e Jason, e bebidas e festas.

Então eu o vi. Do outro lado da pista de gelo, olhando para mim, com o mesmo olhar de antes. Eu sabia que precisava falar com ele. Levantei na hora, e atravessei a pista/rio, não ligando para as pessoas que reclamavam de mim.

Ele também começou a andar, entrar mais na floresta, mas eu estava o seguindo. Eu não ia desmaiar dessa vez. E do nada ele parou. Eu parei alguns passos adiante dele.

– O que você está fazendo aqui? - perguntei a ele.

– Você deveria voltar para casa. - ele respondeu.

Eu ri pelo nariz.

– Se você me ajudar, é exatamente isso que eu quero. - falei sarcástica

.- A casa da sua tia, eu quis dizer.

Meu sorriso desapareceu, eu engoli em seco.

– Como você sabe disso? - perguntei.

– Volte para casa.

– O que aconteceu naquela noite?

Ele virou para mim e me encarou. Seus olhos eram incrivelmente pretos, tão profundos que eu podia ver sua alma.

– Volte para casa. - ele disse calmamente.

– Não até que você me fale. - respondi dura, cruzando os braços.

Então eu senti meu corpo ficar mole e minha visão escureceu. Coloquei a mão na minha cabeça e eu estava queimando em febre. Minha cabeça começou a doer demais, e eu me contorci, caindo no chão. Eu vi seu pé se afastar de mim e então tudo escuresceu de verdade.

* * *

Acordei numa cama macia e confortável. Eu estava quente e protegida. Sentia braços em volta de mim e quando abri os olhos, dei de cara com ele. Os olhos pretos me analisando. Sua boca tão perto da minha que era difícil se concentrar.

– Onde eu estou? - perguntei com a garganta incrivelmente seca.

Ele não me respondeu, apenas me observou.

Então a dor voltou. Dessa vez eu tentei gritar, mas minha voz não saia, porque estava realmente seca. Droga, eu devia ter comido algo.

– Não vá. - sussurrei com a cabeça pegando fogo e senti sua mão em minha testa.

E tudo se desligou de novo.

* * *

Minha cabeça estava doendo. Que saco, eu nunca vou poder ficar com a cabeça sem dores? Um cheiro bom entrou pelo meu nariz e eu senti uma coisa entrar pela minha veia. Um barulho irritante começou, um "BII BII BII" sincronizado que me fez querer acabar com aquele barulho.

Eu abri meus olhos piscando muito para meus olhos se ajustarem à claridade e me vi em um quarto de hospital. Eu estava sozinha com aquele barulho chato e vários tubos grudados no meu corpo. Levantei a mão, deixando um fio que estava pindurado nela cair no chão e tirei o negócio que incomodava meu nariz.

O ar estava melhor sem aquele negócio forçando ar todo segundo. Arranquei os fios do outro braço e o da minha garganta, fazendo o barulho parar. Sentei na cama e senti meus músculos fangerem.

Fazia tempo que eu estava na mesma posição, pelo que percebi. Uma mulher entrou correndo no corredor, com uma prancheta na mão e me olhando assustada.

– Não pode tirar seus fios, senhorita. - ela disse ainda parada na porta com a cara assustada.

– Onde eu estou? - perguntei.

– Está no hospital Nix, querida. - ela respondeu.

– Porque eu estou aqui?

– Um acidente ocorreu no Lago Henriquez. - ela respondeu tristemente - Você foi uma das sobreviventes.

– Acidente?

– Sinto muito - ela disse saindo do quarto rapidamente, mais braca que a neve e fechando a porta.

Encostei a cabeça na parede atráz de mim e respirei fundo. Era o segundo acidente comigo em menos de uma semana. O que está acontecendo comigo? Balancei a cabeça, forçando os pensamentos insânes que estavam vindo, falando que tudo era culpa daquele garoto.

Olhei para porta de novo e vi ele sentado em uma cadeira ao lado da minha cama.

– Quem é você? - perguntei automáticamente.

– Me chamo Ned. - ele respondeu simplesmente.

– E o que está fazendo aqui?

– Estou te visitando. - ele sorriu como se isso fosse óbvio.

– E porque está me visitando, se não me conhece?

Seu sorriso aumentou e ele veio para mais perto de mim.

– Eu te conheço. - ele disse simplesmente.

Meu coração falhou uma batida ouvindo isso. Eu agradeci por ter desligado aquele negócio do barulho. Mas ele pareceu ouvir, porque seu sorriso diminuiu. Ele levantou a mão e a colocou sobre a minha boxexa, afagando-a.

Eu não desviava minha atenção de seus olhos, que pareciam refletir tudo. Eles me prendiam, e me protegiam.

A porta se abriu de repente, entrando um homem e aquela mulher de antes. Não sentia mais a mão na minha boxexa e quando olhei para onde Ned estava antes, ele não estava mais lá. Com um suspiro eu me virei para os médicos, que me olhavam como se eu fosse de outro planeta.