O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 31
Decisão




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XXXI

DECISÃO

Linda sonhava.

Em seu sonho, ela via Severo acariciar o abdômen proeminente dela e lhe dizer o quanto estava feliz por finalmente poder ser pai. E ela sorria, surpresa por estar ansiosa para se tornar uma mãe.

Aquele sonho em particular estava sendo bem comum para Linda, nas últimas duas semanas – ela o tinha quase todas as noites. E sempre se sentia bem depois dele; como se ela esperasse que aquele sonho estivesse profetizando um futuro tranqüilo.

Sorrindo, ela abriu os olhos. Severo estava ao seu lado, imerso num sono profundo. O seu braço pesava sobre a cintura de Linda, possessivamente. Ela o afastou, com cuidado para não perturbar o seu marido. Lentamente, Linda se levantou da cama.

Com os pés no chão, ela deixou-se encaminhar para a ante-sala. Pegou uma taça de vidro que estava junto às bebidas de Severo e a encheu com água. Um raio iluminou o céu, e ela foi até a janela para apreciar um pouco a ruidosa tempestade, antes de voltar para a sua cama.

Foi então que aconteceu.

A dor foi tão excruciante, que a fez soltar a taça que estava em suas mãos e perder o equilíbrio, quase caindo. Aquela foi a dor mais terrível que Linda já havia experimentado: o seu braço esquerdo inteiro queimou, como ela tivesse mergulhado-o em ácido. Da sua garganta, escapou um grito rouco.

- LINDA! – Ela ouviu Severo bradar. – ONDE-?

- Eu estou aqui! – Tentou se apoiar no parapeito da janela. – Eu estou bem!

Severo quase imediatamente saiu do quarto, já totalmente vestido e alerta.

- Eles pegaram o garoto! – Ele disse urgentemente, enquanto se encaminhava para a sala da direção. Linda o seguiu. – Alguém pegou o garoto! Dumbledore!

A imagem do antigo diretor já estava em sua moldura, com uma expressão quase feroz. Uma expressão que deformava o seu rosto. Uma expressão que, talvez, apenas Severo conhecesse.

"Abelforth me informou!" Ele disse rapidamente. "Harry está aqui, em Hogwarts! Você deve chegar a ele antes que Voldemort-"

- Aqui? – Severo balançou a cabeça. – Não... Nós fomos informados pela Marca, Alvo! E... – Severo deixou escapar um palavrão ao lembrar-se que a escola também era lar para dois Comensais. – Os Carrow!

Severo não queria pensar mais em nada. Ele sabia que se o garoto estava com os Carrow, talvez não fosse tão difícil recuperá-lo. Mas ele tinha que agir rápido. Ele tinha que agir antes da chegada do Lorde das Trevas e dos Comensais da Morte.

Apressou-se para a porta, mas foi impedido pela voz urgente da sua esposa:

- Severo, espere! – Ele se virou para olhá-la, visivelmente aborrecido. – E eu? Eu devo ir até o Lorde das Trevas?

- Não! Não saia daqui! – Severo respirou fundo buscando controle. – Pegue as minhas poções, todas as jóias e ouro que você puder encontrar e algumas roupas! Eu vou achar o garoto e voltarei imediatamente pela janela do nosso quarto para lhe pegar... e nós encontraremos um jeito de sair daqui!

- Certo – Linda assentiu, ofegante.

- Espere-me na janela, Linda. Se eu não voltar em vinte minutos... Se eu não voltar, eu quero que você feche a janela e se esconda aqui, na sala da direção; e não saia até que o cerco à escola tenha terminado! Mostre as suas lembranças aos Aurores, caso o Lorde seja derrotado. Ou continue fingindo, se ele vencer.

Linda balançou a cabeça.

- Não! O que você quer dizer com-?

- LINDA, EU NÃO TENHO TEMPO! – Respirou fundo mais uma vez. – Faça o que eu disse, e você ficará bem! Ok?

Ela desviou o olhar. A sua voz saiu mais amarga do que ela planejara quando anunciou:

- Severo, eu estou grávida!

Ele ofegou. Os olhos negros perderam a urgência de imediato, como se ele tivesse acabado de mudar as suas prioridades. Como se cumprir os planos de Dumbledore já não fosse mais tão importante assim.

"Não há tempo, Severo!" – Bradou com urgência a imagem de Dumbledore.

- Cale a boca, Alvo! – Ele pôs uma mão no rosto de Linda. – O que- O que você disse?

- Eu estou esperando um filho seu, Severo. E eu não quero... eu não vou cuidar dele sozinha!

Rapidamente, os lábios dele tomaram os dela quase num beijo quase desesperado. A mão esquerda acariciou o ventre de Linda e, quando o beijo terminou, Severo a olhou com uma ternura que ela jamais vira em seus olhos.

- Eu estarei aqui em quinze minutos. Faça a sua parte!

E, dizendo isso, Severo partiu como um raio. Linda soltou um longo suspiro aliviado e até se permitiu sorrir. Tudo daria certo.

"Você não deveria contado nada a ele."

- Não existem mais segredos entre Severo e eu, Dumbledore. Ele tinha direito de saber que a mulher dele está grávida, antes de decidir enfrentar o Lorde das Trevas e se matar.

"Não existem mais segredos... Devo supor, então, que você acabou de descobrir a sua gravidez?"

Ela deu de ombros.

- Talvez eu tenha esperado o momento certo para dar a notícia.

"Porque você acha que ele não vai conseguir pensar em outra coisa, certo? Porque você sabe que ter um filho é o maior desejo de Severo..."

- Eu apenas quero que o meu marido fique vivo, Alvo. E você não pode me julgar por usar uma informação em meu próprio benefício... Afinal, não foi você quem passou anos torturando Severo com a lembrança da morte de Lílian?

A imagem de Dumbledore assentiu lentamente e, vendo aquela discussão como vencida, Linda se levantou e começou a se encaminhar para o seu quarto. O tom acusador de Dumbledore a impediu assim que ela chegou à porta.

"Sete anos de casamento. É estranho que a sua primeira gravidez tenha chegado numa hora tão oportuna."

- Você está me perguntando se eu engravidei de propósito, Alvo? Para atrapalhar os seus planos? – Linda deu um meio-sorriso. – Talvez.

"E isso lhe deixa orgulhosa."

- Não mesmo. Mas me dá certa satisfação contar isso para você, sim. Porque, Dumbledore, eu passei a lhe odiar nesse tempo que eu fiquei em Hogwarts. Você não se importa em ver o meu marido morto, e eu não me importo nem um pouco com essa guerra! Eu só quero que ele sobreviva. Aparentemente, eu vou conseguir.

"Linda Marie-"

- Malfoy. Linda Marie Malfoy. Não se pode confiar numa Malfoy.

XxXxXxX

Ele caminhava em passos largos. Em sua cabeça, Severo tentava pensar em todos os lugares onde os Carrow poderiam estar, mas era difícil se concentrar em outras coisas, quando se acabara de descobrir que o maior desejo da sua vida fora realizado.

Ele bufou, frustrado.

Teria que começar pela Torre da Corvinal, três andares acima.

Decidido, ele quase correu pelos corredores vazios. Severo já estava muito perto da escadaria quando escutou passos tão determinados e frenéticos quanto os dele. Empunhando a sua varinha, escondeu-se atrás de uma armadura.

Os passos pararam.

- Quem está aí? – Era a voz de McGonagall.

Ele saiu do seu esconderijo, e olhou para a professora. Ela estava sozinha, apesar de Severo ter certeza de que ouvira pelo menos três pessoas caminhando com ela.

- Sou eu – Respondeu, fingindo calma. – Onde estão os Carrow?

- Onde você os mandou ir, imagino, Severo. – Replicou McGonagall.

Leu a expressão da mulher. Ela estava nervosa. Sabia de alguma coisa, Severo tinha certeza. Aproximou-se um pouco, e viu o vinco na testa dela aumentar e a sua respiração acelerar. Examinou o ar ao redor dela, procurando irracionalmente um alvo invisível.

- Tive a impressão de que Aleto prendeu um intruso.

- Sério? – McGonagall disse. Os seus lábios tremeram e ela recuou protetoramente. – E o que lhe deu essa impressão? – Ele não tinha tempo para aqueles jogos. Não mais. Mostrou-lhe a Marca Negra. – Ah, sim, naturalmente! Esqueci que vocês Comensais da Morte têm um meio particular de comunicação.

McGonagall se moveu mais uma vez de forma protetora para o lado e Severo encarou o vazio que ela parecia estar resguardando. Tinha alguém ali.

- Eu não sabia que era a sua noite de patrulhar os corredores, Minerva.

- Alguma objeção?

- Não imagino o que teria tirado você da cama tão tarde da noite.

- Pensei ter ouvido um barulho – disse McGonagall.

- Verdade? Mas tudo me parece calmo. – Snape olhou nos olhos dela. Realmente não tinha tempo para aqueles jogos. – Você viu Harry Potter, Minerva? Porque se viu, devo insistir...

A velha bruxa rapidamente tentou azarar Snape, deixá-lo cego. McGonagall era uma boa bruxa, mas Severo era infinitamente mais rápido que ela, e logo bloqueou o seu ataque – com um pouco mais de força do que ele pretendia, Severo percebeu quando a velha cambaleou. Ele quis se aproximar, mas a Minerva enfeitiçou um dos archotes da parede, que inundou o corredor com fogo e o lançou na sua direção.

Enquanto o fogo se aproximava, a palavra "crucio" quis deixar os seus lábios; e Severo teve que se controlar para não esquecer que McGonagall era uma aliada. Em vez de lançar a maldição imperdoável, ele transfigurou as chamas e o archote numa serpente negra. E, em resposta, a serpente foi transfigurada em adagas que cortavam o ar com rapidez.

Irritado, ele colocou a armadura no caminho das adagas. Elas se chocaram com o metal com um barulho estridente.

- Minerva! – Flitwick, Sprout e Slughorn vinham ao resgate da velha. – Não! – Flitwick gritou. – Você não vai matar mais ninguém em Hogwarts!

O feitiço que o anão diferiu atingiu o peito da armadura onde Severo estava escudado e logo ela tomou vida, prendendo-o. Ele bufou e, com um pouco de esforço, livrou-se do abraço da armadura. Mandou-a de volta para os seus agressores: aquela era a distração perfeita.

Ele não tinha tempo para aquilo. Se Potter estava com McGonagall, agora ele tinha quatro professores o protegendo. Ele não se arriscaria por mais um segundo sequer – as suas prioridades, agora, eram outras.

Jogou-se pela primeira janela que conseguiu encontrar. Logo se içava em vôo livre para o seu quarto, ignorando os gritos de McGonagall. Ele não queria mais aquilo. Severo tinha que cuidar da sua família.

XxXxXxX

Dez minutos se passaram.

Ela mordeu o lábio inferior. As suas mãos tremiam.

Onze minutos.

Linda se encaminhou para a janela, com esperança de ver o seu marido; mas tudo que ela conseguiu ver foram os Comensais da Morte, cortando o ar e espalhando terror. Ficou difícil de respirar.

Rapidamente, ela voltou ao seu trabalho, pegando no cofre que ficava escondido atrás de um quadro as jóias dos Malfoy – e aquilo era a única coisa que faltava na mala que Severo a mandara preparar.

- Reducio!

A grande mala reduziu-se ao tamanho de um mero pingente – e foi assim que Linda a usou: tirou a corrente fina de ouro que sempre usava e pendurou-a nela. Suspirando, Linda sentou-se na cama: agora, ela não podia fazer nada além de esperar.

A mulher ainda olhava para a janela, esperançosa, quando viu Severo entrar por ela. Apesar de saber que o Lorde das Trevas havia ensinado o seu marido a voar sem o auxílio de nenhum objeto mágico, vê-lo executar aquele tipo de magia com tanta proficiência causou nela um misto de orgulho e medo.

- Severo! Finalmente!

Linda levantou-se imediatamente, correndo para onde ele estava e o abraçando.

- Nós temos que sair logo daqui!

- Acabou? Você conseguiu?

Ele negou com a cabeça.

- E desisti, Linda. O garoto, eu tenho certeza, estava com McGonagall, Slughorn, Sprout e Flitwick. A Ordem estará aqui logo. Eu não posso duelar com todos eles! Especialmente quando eu não tenho a intenção de matá-los ou feri-los gravemente! E o Lorde das Trevas... ele está aqui! Ele vai querer a Varinha logo!

Linda assentiu.

- Eu sei; é muito arriscado! Nós temos muito a perder agora, Severo. Você está tomando a decisão certa!

- Eu espero que sim. Eu tenho que falar com Dumbledore.

Linda o soltou, deixando-o encaminhar-se rapidamente para a sala da direção. O seu coração palpitava nervosamente – eles estavam tão perto de deixar tudo aquilo para trás...

- Eu não consegui. – ele disse, assim que pôde encarar a imagem de Dumbledore.

"Continue tentando!"

- Eu não vou voltar lá, Dumbledore. Acabou. Potter vai ficar b-

Mas Severo não conseguiu concluir o seu pensamento. Ele não conseguiu, pois, naquele momento, ecoou a voz inconfundível do Lorde das Trevas.

"Sei que estão se preparando para lutar. Seus esforços são inúteis. Não podem lutar comigo. Não quero matar vocês. Tenho grande respeito pelos professores de Hogwarts. Não quero derramar sangue mágico." Linda cravou as unhas no braço de Severo, com medo. "Entreguem-me Harry Potter e ninguém sairá ferido. Entreguem-me Harry Potter, e não tocarei na escola. Entreguem-me Harry Potter e recompensados. Terão até a meia-noite."

- Ele vai se entregar. – Severo disse, depois de um perturbador minuto de silêncio.

"Não! Harry tem amigos, e eles não o deixarão fazer isso! Ainda há chances, Severo! Por Merlin, encontre-o!"

- Eu tenho muito a perder.

"Severo, ela engravidou de propósito! Para que você se abstivesse!" Dumbledore implorou.

Ele se voltou para Linda, que desviara o olhar.

- Sinto muito. Isso não muda o fato de que ela está grávida.

- Linda Marie está grávida? – Soou uma voz feminina muito conhecida dos dois. O casal se virou para ver Narcissa sorrindo friamente à porta de entrada. – Eu devo parabenizá-los? Se eu me recordo bem, Linda Marie odeia crianças!

- Saia do meu caminho, Narcissa – Severo bradou, empunhando a varinha. A loira imitou o seu gesto. – Você queria me recompensar, pois saia do caminho! Nós vamos fugir!

- E como exatamente você fará isso, Severo? Hogwarts está sitiada. Por céu e terra! E, você ainda não sabe, estamos cercados por Dementadores... uma mulher grávida não deve entrar em contato com esses seres!

- Eu me preocuparei com isso!

- A única saída viável seria a Casa do Grito, mas o Lorde das Trevas se encontra lá. – Narcissa suspirou, se aproximando até tocar carinhosamente o ombro de Severo. – Vocês não têm saída. Então é melhor escolher como você lutará, Severo, pois fugir não é uma opção.

XxXxXxX


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