Sociedade Carmim escrita por Nynna Days


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Já tem o capítulo 1 aqui, para saberem um pouco mais da história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/175103/chapter/2

Capítulo 1

“Jordan, acorde”, escutei minha madrinha gritando do andar de baixo.

Me arrastei para fora da cama e estiquei minha mão para pegar meus óculos na mesinha de cabeceira. Quando os coloquei consegui ver tudo. Era uma maldição ser quase cega. Me espreguicei e fui até o banheiro lavar meu rosto e me trocar.

Aquele seria meu primeiro dia de aula em Alma, Nebraska. Mas, era o meu último ano, felizmente. Com o trabalho da minha madrinha, tínhamos que nos mudar frequentemente, mesmo ela sempre prometendo que seria fixo dessa vez. Mas, eu não a culpava. Desde a morte de sua mãe, a cinco anos, ela tem lutado para nos sustentar.

Na minha nova escola, tinha uniforme, mas eu ainda não o tinha pego na secretária, por isso ia com roupas normais. Vesti a primeira calça jeans e um suéter preto que vi no armário. Prendi meu cabelo em uma rabo de cavala e ajeitei meus óculos.

Eu olhava meus olhos cinzas e esperava ver meus pais, mesmo nunca o tendo conhecido. Sempre que eu perguntava a minha madrinha sobre eles, ela mudava de assunto e saía de casa. Mas, não sem antes deixar escapar alguma informação. Por exemplo, como meu pai era.

Minha madrinha o via como um anjo loiro com os olhos cinzas, os que eu havia herdado. Ela via minha mãe como uma Deusa de olhos e cabelos escuros, os cabelos que agora faziam parte de mim. Soltei o ar mais uma vez para o meu reflexo e desci, me preparando psicologicamente para a multidão de pensamentos que teria que enfrentar.

Desci as escadas, encontrando minha madrinha correndo de um lado para o outro, procurando objetos que estavam espalhados pela casa. Me sentei com calma na mesa e comecei a tomar meu café da manhã. Megan parou por um segundo e sorriu para mim.

“Bom dia, querida”, ela disse e me deu um beijo na testa.

“Bom dia , madrinha.”, eu respondi.

Ela deu um breve olhar para minha roupa, mas resolver não dizer nada. Megan era bem jovem e responsável. Os cabelos loiros estavam presos em um coque e seus olhos azuis, pareciam cansados de tanto trabalhar. Eu estava com Megan desde que ela tinha 10 anos e , mesmo agora, com 27, ela ainda cuidava de mim.

“Eu não vou poder te levar para a escola, Jô, mas tentarei te buscar”, ela gritou da sala. “Ás seis na escola, não é?”, ela perguntou.

“Sete”, eu a corrigi.

“Claro, claro”, ela disse vagamente, enquanto continuava passando de um lado para o outro, pronta para um colapso. Ela parou no meio do caminho e me deu um olhar de cachorrinho perdido. “Por acaso você viu ....?”, ela começou a perguntar.

“Em cima da mesa, jogado no sofá e ao lado da televisão”, eu a interrompi.

Ela foi como um raio pegar seu celular, a chave do carro e seu crachá do trabalho. Megan voltou para a sala de jantar e me deu um abraço rápido.

“Ás vezes, essas coisas de ler pensamentos é útil, não é?”, ela disse.

É, eu lia mentes.

Começou aos dez anos. Não tive nenhum trauma que iniciasse isso. Oh, não. Eu acordei e já lia mentes. No começo, fiquei confusa, por que conseguia escutar coisas que as pessoas não falavam. Pensei até que tinha enlouquecido. Mas, minha madrinha me tranquilizou. Disse que algumas pessoas nascem especiais.

Que eu era especial.

Mas só porque eu tinha esse poder legal, não significava que eu esperando o príncipe encantando. Eu sabia que as histórias eram mentira. Eu não esperava encontrar o grande amor da minha vida, na primeira vez que entrasse nessa nova escola. Eu só tinha um sonho: Ser normal.

Porque, esse poder de ler mentes não é nada legal para mim. Não era engraçado escutar as pessoas te chamando de estranha, só porque você não aproxima de ninguém ou é sociável. Eu sou bonita, isso eu tenho certeza. Mas isso não queria dizer que eu tinha que sair fazendo amizade. Quanto mais longe das pessoas, menos dor de cabeça.

Outra coisa que eu não esperava era namorar. Não que eu nunca tivesse beijado. Já me beijaram sim. O garoto mais popular da minha escola de dois anos atrás. Mas, era só uma aposta. Eu li em sua mente como ele me via. Uma esquisita.

Minha madrinha disse que era apenas uma fase. Que logo, logo, eu encontraria alguém que faria eu repensar meus planos. Só porque isso tinha acontecido com ela a dez anos atrás. Ela era a garota mais popular e mais invejada da escola e namorava o jogador mais gato. Ela se apaixonou. Ele só queria se divertir e manter a tradição de jogador-popular.

Assim que minha madrinha pegou ele com outra na cama, deu o pé na bunda do século nele. Jogou as roupas dele que ficavam no vestuário na fogueira e anunciou para o colégio inteiro que ele não era grande coisa na cama. É, minha madrinha era do mal. Mas eu a amava muito.

Mas, eu não tinha nenhum tipo de trauma, como ela achava , por causa do seu namorado do colegial. Eu só não me imaginava transando com ninguém e lendo a mente dessa pessoa , ao mesmo tempo. Seria um caos. Se eu não tivesse seios tão grandes? E se meu bumbum não fosse tão arrebitado? E se eu gritasse muito? São fatos que te param para pensar em ter ou não um relacionamento.

Acordei dos meus pensamentos, quando escutei o carro de Megan indo embora. Olhei para o relógio no batente da sala de jantar e me assustei. Iria me atrasar, droga! Já conseguia até escutar os comentários dos professores. Levantei como um raio e peguei minha mochila no quarto.

Minha sorte era que a escola era bem perto de casa, senão estaria ferrada. Apertei meu passo quando uma fraca garoa começou a cair. Quase tropecei e derrubei meus óculos. Se eu era tão especial, porque Deus me fez quase cega? Reverei meus olhos e continuei andando rápido.

Rapidamente avistei minha nova escola. Era bem maior que as minhas últimas sete. E parecia ter bem mais gente também. Grupos se instalavam em frente a carros e conversavam sobre as férias e analisavam as pessoas novas. Eu fui uma das analisadas. E não fiquei impressionada com o resultado a qual essas chegaram.

Estranha.

Esquisita.

Espero que ela não seja da minha sala.

Será que ela pegou esse suéter da avó dela.

Eu apenas revirei meus olhos e passei como se não tivesse escutado nada. Mas percebi o exato momento em que uma garota colocou o pé na minha frente , imaginando eu caindo no chão, quebrando meus óculos e chorando. Então ela iria cuspir e rir de mim.

Mas, o que aconteceu foi um pouco diferente. Eu pulei o pé dela e lhe mandei meu pior olhar. Eu poderia me vestir como uma Nerd, ser um pouco Nerd, mas não era idiota a ponto de ser capacho de um bando de líderes de torcidas metidas a gostosas.

A garota deu um passo para trás e deu um olhar assustado. Eu continuei meu caminho até a secretária, me deparando com uma enorme fila de alunos, indignados com as aulas em que tinham sido colocadas. Eu cruzei meus braços e fechei meus olhos. Os pensamentos invadiam minha mente, todos de uma vez. Franzi o cenho, tentando me concentrar nos meus próprios, mas tinha certeza que não poderia demorar muito. E também tinha certeza que perderia a primeira aula.

Uns 20 minutos depois, chegou a minha vez. Uma moça que estava do outro lado do balcão me deu um sorriso. Seu rosto era rechonchudo e seu cabelo tão vermelho que quando batia a luz, meus olhos ardiam.

“No que posso ajudar, querida?”, ela perguntou.

Eu torci a boca um pouco por causa dos seus pensamentos sobre mim.

Essa deve ser mais uma daquelas alunas deslocadas que sempre acabam na psicóloga.

Dei meu melhor sorriso e ajeitei meus óculos.

“Sou aluna nova e tenho que pegar meu uniforme.”, eu pedi.

Ela me olhou de cima a baixo e pediu meu nome e minhas medidas.

“Jordan Leight”, eu respondi e lhe dei minhas medidas. Ela olhou no computador e voltou com seu sorriso um pouco apagado. Eu já sabia o que iria dizer, mas mantive meu rosto branco.

“Querida, sinto muito, mas seu número só chegará amanhã”, ela se desculpou.

Eu apenas assenti e fui para minha primeira aula.

Não corri, já sabia que estava atrasada. Passei por algumas garotas no corredor e analisei o uniforme feminino. Começava com botas de cano alto, ou tênis. Saias preta pregueada ou calças apertadas. Uma blusa de manga longa e um tipo de paletó feminino preto por cima. Botas eram usadas com saias e tênis com calça. Também tinham algumas que usavam gravatas preta. Os dos meninos eram calças jeans, tênis, blusa de manga longa, paletó e gravata.

Super sombrio.

Avistei minhas sala de aula e, mesmo sabendo que atrapalharia a aula, bati na porta e a abri. O professor primeiro me encarou pronto para pular no meu pescoço, depois viu que eu estava sem uniforme e deduziu que eu fosse a aluna nova e que eu tinha me perdido no caminho. Claro, claro. Como se eu fosse burra o suficiente.

“Entre , Senhorita...”, ele deixou um aberto.

“Leight”, eu respondi e me movi até uma das cadeiras dos fundos, onde tinham alguns lugares vagos. Alguns alunos me olharam como se fosse louca. Captei alguns pensamentos e vi que eu estava sentada no lugar de alguém. Como se eu me importasse.

Dois minutos depois que eu entrei, a porta se abriu novamente. O professor parou novamente a aula e olhou para quem tinha entrado. Eu continuei olhando para o quadro, mas peguei uns deslumbres dos pensamentos dos outros.

Eles eram anjos. Não literalmente, mas quase.

A primeira que entrou, tinha os cabelos curtos e castanhos, lisos nos ombros. Sua cara era de poucos amigos e sua pele era morena clara. Seus olhos eram tão escuros que pareciam buracos sem fim. Ela encarou a todos como se fossem vermes e olhou para os dois anjos atrás dela.

Eles , com certeza eram gêmeos. Tinham os mesmos olhos verdes brilhantes e os mesmos cabelos loiros. A garota parecia animada com alguma coisa, enquanto seu irmão parecia procurar alguma coisa.

A garota loira parecia quase quicar no lugar, enquanto seu olhar vagava pela sala. Diferente do seu irmão, ela era baixa, mas a morena parecia ser mais baixa que ela, quase da minha altura. O irmão dela era bem mais alto e forte, mas sem exagero. Eu não sabia aos olhos de quem eu os estava vendo, mas assim que eles começaram a se mover na minha direção, a pessoa pensou:

Oh, cara. Ela está tão Ferrada.

Engoli a seco e continuei escrevendo, quando vi três sombras parando a minhas frente. Levantei divagar meu olhar, como não ligasse que eles fossem lindos e que eu estivesse no lugar deles. A lora ainda pulava como nunca e batia palmas, como se tivesse ganho um brinquedo novo. A morena estreitou os olhos para mim, como se pudesse me matar a qualquer momento. E o loiro me olhava com desprezo.

“Sim?”, eu perguntei indiferente.

“Está nos nossos lugares”, a morena disse e colocou a mão na cintura. Ela usava a calça e a loira usava saia. Me ajeitei na cadeira e a encarei.

“Tem o nome de vocês aqui?”, eu olhei em volta. “Oh, eu não sabia”

“Olha aqui, garota”, ela começou, mas foi interrompida pelo loiro.

“Nara, se comporte”, ele lhe disse e ela fez um biquinho para ele. “Tem muitos lugares aqui. Acho que estava mesmo na hora de mudar.”

“Mas, Ethan...”, ela continuou. “É o meu lugar.”

“Tem outo ao lado de Christina.”, Ethan lhe disse e se sentou ao meu lado, sem ao menos falar comigo. Como se eu fosse um nada. Como se eu me importasse. Continuei prestando atenção na aula. Mas a loira ainda estava na minha frente. Levantei o olhar e ela ainda me encarava.

“O que foi?”, eu perguntei.

“Nada”, ela deu um passo a frente. “Sou Christina Ramirez.”, ela balançou a cabeça em direção ao mal educado ao meu lado. “Esse é o meu irmão, Ethan Ramirez. E nossa amiga, Nara Jazz.”

Eu olhei para o lado, para cumprimentá-los, mas os dois me olharam com desprezo. Voltei a olhar para Christina. Ela parecia a única legal ali. Lhe dei um sorriso e ajeitei meus óculos na ponte do meu nariz.

“Sou Jordan Leight” , eu disse.

“É, eu sei.”, ela disse e saltitou até o seu lugar.

Pessoal estranho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sociedade Carmim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.