Ele estava decidido, ia fazer de tudo para conseguir um consentimento, Bill tinha que levar as duas ao parque. Ele queria mostrar a Hellena que tinha muitos motivos para ela continuar a lutar, queria vê-la sorrindo e se divertindo e não ficar definhando naquele hospital.
- Senhor Kaulitz – começou o médico ao ouvir o pedido de Bill – A saúde de Hellena está delicada, ela não poderá ficar muito cansada.
- Mas você tem que fazer algo quanto a ela e Sarah.
- Eu sei, mas Sarah poderá ir, já Hellena eu não posso consentir.
- Por quê?
- É que ainda não contamos a Sarah, mas ela está curada. A medula do pai é compatível com a dela.
- O que? – gritou Bill super feliz, sem acreditar – Ela conseguiu!
- Sim, vamos fazer o transplante semana que vem, com certeza vai se salvar.
- Isso é ótimo!
- O pai de Sarah também doou medula para Hellena, mas infelizmente, não é compatível também. Eu não sei quanto tempo ela poderá agüentar, Senhor Kaulitz, por isso ela tem que ficar em observação.
- Eu tenho outra passagem, posso levar uma enfermeira com nós caso Hellena passe mal. Por favor, ela está muito triste, talvez isso a faça ficar melhor.
- Bem, eu já falei o que penso. Você tem que pedir permissão para a mãe dela, agora não é mais comigo.
Se com o médico não foi fácil, imagine com a mãe de Hellena, Bill já a vira algumas vezes, mas nunca parou para conversar com ela e saber se ela é igual a filha ou até pior. Por isso aproveitou um dia que Hellena foi para a quimioterapia e foi até ao quarto 77 para ver se conseguia falar com a mãe dela.
- Posso entrar? – Bill perguntou quando viu a mãe de Hellena, sentada imponente em uma cadeira folheando uma revista. Ela era muito bonita igual a filha, tinha um ar de superioridade, mas viu nos seus olhos que também estava fraca, angustiada.
- Ah, olá Bill! Pode entrar sim – disse ela dando um sorriso para ele.
- Eu gostaria de falar com a Senhora, lhe pedir uma coisa.
- Claro, sente-se, pode falar – disse ela apontando para outra poltrona que tinha no imenso quarto. Bill notara que não havia mais aqueles desenhos por todas as partes, que as paredes agora estavam cruas.
- Por que sumiu todos os desenhos?
- Eu não sei, Bill. Um dia Hellena começou a rasgar todos eles, e jogou tudo no lixo, sobrou bem poucos – disse ela apontando para uma pilha de papeis em cima de uma mesa – Mas o que você quer falar comigo?
- Quero lhe pedir que deixe Hellena ir comigo à um parque de diversão.
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- Sabe quem veio falar comigo hoje? – falou o médico, enquanto examinava Hellena.
- Quem?
- Bill Kaulitz, veio pedir permissão para que você possa ir a um parque de diversão.
- E o que você disse? – ela perguntou um pouco triste.
- Bem, eu disse a verdade, que você não pode se cansar, que tem que ficar descansando.
- Você fez certo – disse ela secamente.
- Por quê? Não quer ir?
- Não é isso, eu sei que não posso fazer essas coisas e não estou a fim de sair com ele.
- Ele parece bem legal, vai falar com sua mãe sobre isso também.
- É, ele é legal, esse é o problema. Não quero mais um sendo legal comigo.
- Mas ele não tem dó de você, se é isso que pensa.
- Não, ele não sente dó. Ele só acha que tem que me salvar, isso é irritante, ele é igual a Sarah, acha que pode conseguir a cura para mim facilmente.
- Talvez ele possa, desde que você o conheceu, estou notando melhoras em você. Seus olhos voltaram a ter aquele brilho que tinha quando você chegou.
- Não é verdade isso, me sinto a mesma.
- Por fora, mas por dentro é outra. Está comendo melhor e sua mãe me contou que não reclama mais da peruca, só que você está chorando mais.
- Não é nada demais.
- E também não entendo por que jogou seus desenhos e textos fora.
- Eu tenho uma cópia de alguns, e outros joguei fora por que não eram bons, só isso.
- Não minta, eu sei a verdade. Ele não mentiu para você, você já desconfiava disso antes.
- Claro que já, mas pensei que talvez eu pudesse estar errada.
- E por que queria estar errada?
Hellena não conseguiu responder, apenas mordeu os lábios.
- Não o quero ver sofrer, e eu também não quero sofrer por dentro, vai ser pior do que essa doença.
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- Bill... É um pouco difícil isso... O médico falou que Hellena está mais debilitada... – disse a mãe de Hellena sem saber o que responder.
- Eu sei, mas eu queria que pelo menos um dia ela se esquecesse o que está acontecendo. Que se sinta uma garota normal novamente.
- Eu também daria tudo para que ela se sinta assim. Mas é que um parque deve ser cansativo para ela, e se ela passar mal?
- Vou levar uma enfermeira comigo, se ela passar mal a enfermeira pode socorrê-la enquanto uma ambulância não chega. Mas isso não vai acontecer, tenho certeza que ela vai ficar bem.
- Não sei, Bill...
- Olha, eu não quero que ela morra, mas se isso ocorrer quero fazer com que os últimos dias dela sejam os mais felizes que ela já teve.
A mulher não conseguiu segurar, começou a chorar, as palavras de Bill a tocaram de alguma forma, nunca pensou que ele pudesse se importar com Hellena, não entendia por que ele queria tanto ajudá-la, mas o admirava por fazer isso.
- Sim, eu deixo. Você pode levá-la – disse ela o olhando com aqueles olhos castanhos, os mesmos da filha – Eu sei que não parece, Bill, mas Hellena também gosta de você. Olhe naquela pilha, acho que é uma das últimas folhas.
Bill se levantou e foi até a mesa onde a mãe dela apontara, havia uma pilha de folhas, aquelas de desenhos dela. Ele começou a folheá-los, ela desenha muito bem, tinha alguns desenhos que ela desenhava si mesma com cabelos, andando por jardins. Outros ela desenhava construções, e até alguns lugares do hospital, tinha até um desenho de Sarah. Mas havia dois que o chamaram a atenção, Hellena havia desenhado Bill, um parecia que ela havia copiado de uma revista, o outro desenho era ele atualmente, desenhado com perspicácia e com vários detalhes.
- Ela me desenhou... – disse Bill se virando para a mulher.
- Sim, eu não sabia disso. Esses dias quando ela não estava aqui eu decidi dar uma olhada, e também fiquei pasma quando ela te desenhou.
- Mas por quê? Sempre pensei que ela me odiasse.
- Acho que Hellena tem um jeito meio exótico de mostrar que gosta de alguém.
Ele continuou a olhar os desenhos, abobado, depois os guardou a onde estavam, não queria que Hellena suspeitasse que ele andava fuçando nas coisas dela, isso a faria ficar furiosa. Ainda bem que ele fez isso a tempo, por que mal terminou de guardar, Hellena entrou no quarto.
- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou para ele.
- Filha, ele veio pedir para você ir com ele a um parque de diversão. Eu dei meu consentimento, você pode ir – disse a mãe sorrindo para ele.
- O que? – ela perguntou surpresa.
- Você tem que se divertir, querida. Assim você esquece um pouco do hospital, vai poder sair com Sarah e Bill.
- Sério? – ela ainda não acreditava – Mas e se eu passar mal?
- Claro que não vai – disse Bill – Não pense assim, vai ficar tudo bem. Além de não ser um parque tão grande, fica em um lugar coberto.
- Isso mesmo, além de que uma enfermeira vai te acompanhar – prosseguiu a mãe.
- Vamos nesse sábado, tudo bem para você? – perguntou Bill, ela ainda estava sem palavras.
- Ah... Claro... Pode ser...
- Então se prepare! Vai ser demais, não esqueça que está frio, você tem que se agasalhar! Bem, agora que está tudo bem, vou ir para o meu quarto, você tem que descansar – disse Bill saindo para o corredor.
- Até mais, Bill – disse a mãe de Hellena – E muito obrigada!
- Não foi nada, Senhora... – Bill de repente se tocou que não tinha perguntando o nome dela e isso definitivamente era falta de educação, ele nem sabia ao certo como chamá-la – Me desculpe, mas eu não perguntei, qual é o seu nome?
- Ah, claro! – disse ela sorrindo – Meu nome é Talytta.
Todos os músculos de Bill pararam petrificados, como se uma corrente elétrica mandassem uma mensagem para seu corpo inteiro dizendo para ficar parado. Ele a olhou surpreso, será que era ela que escrevia as poesias? Ou existem várias Talytta’s por toda a Alemanha. Ele não sabia se ia embora ou perguntava, ele queria saber se ela era a tão esperada escritora, era como se a adrenalina passasse por suas veias iguais a uma montanha russa nos trilhos.
- É... Talytta do que? – continuou Bill.
- Não interessa para você, Bill, já que terminou seu trabalho aqui, por que não cai fora? – falou Hellena rispidamente para ele.
- Hellena! – exclamou ela para a filha.
Mas se a mãe de Hellena fosse a escritora, ela já saberia quem Bill era e poderia ter falado com ele antes, já que estavam no mesmo hospital.
- Não, tudo bem, Senhora Talytta, eu já vou indo – disse Bill.
Enquanto caminhava em direção ao seu quarto, Bill queria descobrir quem era a escritora, não importando quem seja. Se fosse a mãe de Hellena, ele ia descobrir isso o mais rápido possível. E quão foi sua surpresa quando viu uma carta dela em cima da mesa, outra havia chegado.
Querido Bill,
Fico feliz de ter um fã famoso e que se interessa pelo o que eu escrevo. Vou ouvir suas músicas e desfrutar de suas letras.
Muito obrigado por me contar.
Talytta Kirkhoff
Era curto e breve, nada como as cartas anteriores. Bill nem sabia se devia responder, ou melhor, ele não sabia o que responder. Ele sentiu uma pontada de tristezas, as cartas acabaram.