O Filho dos Mares escrita por Lieh


Capítulo 2
Notícia e Devaneio


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo e nem sei se ficou bom...
Aí vai e não se esqueçam de comentar! =)



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Acordei assustada naquele início de manhã. Eu sabia, pois ainda não havia amanhecido totalmente, e meus irmãos continuavam dormindo nos beliches próximas, porém havia pequenos raios de sol saindo pelas frestas da janela, que ficava próxima a minha cama.

Encarei o teto sem piscar, com medo de fechar os olhos e voltar a ter aquele sonho esquisito.

É comum, nós semideuses, termos sonhos bizarros, mas aquele sonho parecia muito real. E assustador.

E sempre o mesmo sonho. Não era a primeira vez que eu sonhava que estava numa espécie de calabouço, trancada numa cela com grossas grades de ferro. Eu sempre ficava em pé em frente às grades, e na minha direção havia outra cela, a de um garoto que estava amarrado por correntes nas mãos e nos pés preso à parede. Ele me encarava suplicante pedindo para ajudá-lo a se libertar, o problema era que eu estava tão presa quanto ele, mesmo não estando acorrentada. Eu forçava as barras, tentava abrir o cadeado com um grampo de cabelo, em vão. O garoto suspirava tristemente, me encarando em seguida com um olhar... Carinhoso. E dizia sempre

-Estou muito feliz de ter conhecido você, Annabeth. Obrigado.

E eu sempre acordava.

Eu tentei de todas as formas quando sonhei da primeira vez voltar ao sonho para ver se eu descobria o que aconteceria comigo e com o garoto. Tá legal, não adianta mentir, eu tentava voltar ao sonho por dois motivos: primeiro eu tinha a impressão que o conhecia, e segundo... Err prefiro deixar para lá, eu não sou nenhuma filha de Afrodite para ficar pensando nessas coisas. Eu sou Annabeth Chase, filha de Atena a Deusa da Sabedoria. E o mais sábio que eu concluí naquele momento era que eu não desejava mais voltar a dormir.

Mesmo sendo ainda muito cedo, me levantei, fui ao banheiro, tomei um gostoso banho matinal, vesti meus velhos jeans e minha puída camiseta do Acampamento Meio – Sangue, e meu idoso Converse, e saí tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar os meus irmãos que dormiam a sono alto.

Lá fora estava um clima gostoso de verão. Ainda não estava quente para fazer suar, mas também não estava frio. Era um clima ameno e equilibrado naquela manhã, e já estava quase amanhecendo. Resolvi dar um passeio até o lago da canoagem e esperar o sinal para o café-da-manhã.

Chegando ao lago, sentei-me na beirada, e encarei as águas limpas. Fazia anos que eu estava no acampamento, quase dez anos. Eu cheguei por volta dos sete anos e eu já tinha quase dezesseis. Meu cabelo loiro estava mal amarrado, deixando sair uns fios rebeldes, parecendo que eu acabei de levar um choque, meu rosto estava pálido e sem cor, e meus olhos estavam cansados.

Tanto tempo treinando, aprendendo e ensinando os calouros que chegavam ao acampamento, e eu não fiz nada mais do que isso. Nunca recebi uma missão, nenhumazinha. Muitos meio-sangues que chegaram ao acampamento na mesma época que eu já havia enfrentado o mundo lá fora o suficiente para escrever um livro. Todos, menos eu. Até Luke, um dos meus melhores amigos já recebeu várias missões, algumas até bobas, mas recebeu. Ele já teve várias oportunidades de se provar, e colocar a teoria na prática, saber se ele realmente valia para alguma coisa. Não que ele não valesse... Você me entendeu.

Luke, filho de Hermes, eu e Thalia, filha de Zeus e Grover outro grande amigo, sendo ele um sátiro, viajamos juntos até o acampamento há quase dez anos atrás fugindo de monstros. Encontrei os dois alguns dias depois que eu, com sete anos, fugi de casa, e logo depois Grover nos achou. Acontece que eu era motivo de muitas brigas entre meu pai e minha madrasta, ela que não ia muito com a minha cara por atrair monstros, e meu pai... Por simplesmente não gostar de mim e achar que eu um fardo para ele.

Desde então o Acampamento Meio-Sangue é o meu lar, no entanto um alto preço foi pago para eu estar aqui, que foi o sacrifício de Thalia para salvar a mim Luke e Grover. Voltei o olhar para as colinas na entrada do acampamento. Lá havia um grande pinheiro. Olhar para ele sempre apertava meu coração, pois era o pinheiro de Thalia transformada pelo seu pai.

Voltei a fitar as águas. Eu precisava de uma missão. Eu precisava saber se eu não era uma inútil, uma fracassada, se que tudo o que eu aprendi ia servir para alguma coisa. Era esse o meu objetivo, além de ser tornar uma grande arquiteta, construindo um monumento de duraria séculos.

Mas só depois que eu receber uma missão. Eu estava tão desesperada que aceitaria qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

A trombeta para o café-da-manhã soou. Levantei tomando um susto, pois não percebi que fiquei bastante tempo parada a beira do lago. Dirigi-me até o pavilhão do refeitório para iniciar mais um dia da minha rotina. Um dia que eu esperava que fosse igual aos outros.

Como eu estava enganada.

Estava tomando meu café normalmente com os meus irmãos do chalé 6. Ainda estava com os mesmos pensamentos da beira do lago, e no sonho daquela manhã. Por isso não notei os burburinhos que os campistas fizeram quando Quíron sentou-se a mesa junto com o senhor D. Olhei em volta e vi duas garotas cochichando freneticamente olhando para Quíron. Estavam as duas do meu lado, e como a curiosidade dos filhos de Atena é tanta que chega a doer, eu também queria saber qual era o motivo de tanta fofoca.

Cutuquei a garota que estava sentada ao meu lado.

- Ei, Carol, o que está havendo?

Ela me fitou um pouco contrariada. É porque eu a impedi de mordiscar seus biscoitos com geléia.

- Você não soube Annabeth?

-Não soube de quê?

- É aquele sátiro, o Grover – disse ela voltando a se concentrar no seu café, esperando que eu tivesse entendido o que ela quis dizer. Veja bem, eu sou uma filha de Atena que possui como qualidade destacável a inteligência, não sou adivinha. Essa tarefa é do Oráculo.

- O que tem o Grover?

Sinceramente eu estava preocupada. Eu não via Grover há dias.

Carol revirou os olhos.

- Francamente Annabeth, que mundo você vive? Não tem outra coisa que o acampamento inteiro não esteja falando. Grover saiu em missão e Quíron o acompanhou, lembra? Por Zeus, você não estava sabendo?

Confesso que eu estava me sentindo muito idiota naquele momento, a ponto de querer bater a minha cabeça na mesa ou numa pedra pela minha estupidez.

Óbvio que Quíron acompanhar uma missão de um sátiro, era algo raro. Só acontecia quando se tratava de um meio-sangue muito importante, ou poderoso.

Alguma coisa não estava bem, pois quando fitei Quíron conversando com o senhor D, parecia muito mais velho e cansado. O cabelo juba de leão estava desgrenhado mais do que o habitual e seu rosto sem expressão. Procurei Grover em todo o pavilhão, não o encontrando em lugar nenhum.

Voltei a olhar para Carol que ria histericamente com a amiga sentado ao lado.

-Hã... Carol?

Ela se virou com uma careta para mim.

- O que foi?

-Quem é o meio-sangue que chegou?

- Ele não chegou – suspirou frustrada. Não entendi se foi pela minha pergunta ou pelo fato do novato não ter chegado. – É isso que queremos saber. Era para Grover tê-lo trazido para cá ontem à noite, mas alguma coisa o impediu. Só o sátiro retornou quase morto, estatelado abaixo de uma das colinas da entrada do acampamento. Ele está na Casa Grande agora sendo tratado, porém ninguém sabe o que houve com o novato, e é por isso que Quíron está tão preocupado.

Assenti compreendendo e Carol se virou novamente para sua vizinha me ignorando. É, não sou a mais querida e popular do acampamento.

Voltei novamente à atenção para o meu café-da-manhã pensando sobre o que Carol contou. Eu iria tentar ver Grover depois da aula de Arco e Flecha naquela tarde, e ver se eu conseguiria saber mais detalhes do que aconteceu, como eu disse, a curiosidade dos filhos de Atena é difícil de saciar (se eu não disse, digo agora).

Naquela tarde caminhei depois da aula até a Casa Grande. Não sei explicar, mas um frio na minha barriga e uma ansiedade me acompanhou até lá. Eu precisava saber os detalhes do fracasso da missão de Grover e o que Quíron iria fazer daqui em diante. Óbvio que ele tentaria trazer o meio-sangue sumido para o acampamento, isso não havia dúvidas. E óbvio também que Grover não iria sozinho dessa vez. Com certeza o Conselho dos Anciãos do Casco Fendido não está nada contente com ele agora, e provavelmente outro semideus o acompanharia para ajudar...

Resumindo: Quíron vai convocar uma reunião no acampamento a qualquer hora e oferecer esta missão, e pode apostar que eu vou aceitar.

Só espero que ninguém também queira assumir a responsabilidade, do contrário as coisas vão ficar complicadas para o meu lado.

É difícil dois meio-sangues quererem a mesma missão, assim como é difícil o próprio Quíron oferecer uma. Poucas coisas haviam perturbado o Olimpo e o nosso mundo nos últimos anos, então missões se restringiam a coisas pequenas e específicas como arrumar a bagunça que os filhos de Hermes causaram em algum lugar de grande movimentação de mortais, seja numa estação de metrô ou numa loja (roubos aqui, roubos ali, algum monstrengo inofensivo assustando um mortal graças aos nossos adorados encrenqueiros), algum espelho favorito de Afrodite que sumiu (bom, essa é uma dessas missões que muitos querem assumir, menos eu: As filhas e filhos da deusa, por ficarem horrorizadas e querer a ajudar a mãe, e meio-sangues de outros chalés apenas para conhecer a Deusa do Amor... Se é que você me entendeu), e outras besteirinhas que não incluem risco de vida, uso da inteligência ou da força e perigo.

Nada que me interessasse.

Eu pressentia que trazer um meio-sangue que desapareceu misteriosamente ao acampamento, estudado pelo próprio Quíron, deve ser bem mais emocionante. Claro, eu não esperava nada de mais, talvez o garoto esteja perdido em Nova Iorque ou em algum outro lugar. O problema vai ser descobrir como ele se desencontrou com Grover, e como o sátiro apareceu desmaiado na colina. Eu ainda não havia chegado a uma explicação lógica.

Assim, absorta em pensamentos cheguei a Casa Grande e peguei o meu boné do Yankees que me deixava invisível, presente de minha mãe. Eu tinha o pressentimento que eu precisaria dele.

Adentrei a casa, sem encontrar ninguém, o que eu já esperava. Na verdade eu me sentia uma verdadeira bisbilhoteira. O que eu estava pensando?

Decidi acabar com isso de uma vez e procurar o Grover. Perguntaria a ele o que aconteceu, o confortaria e depois eu voltaria aos meus afazeres. Nada de idéias loucas sobre missão.

Isso, eu ia fazer exatamente o que era mais correto: não me meter...

É, grande porcaria, quem disse que consigo mentir para mim mesma?

Não sei se você já percebeu, mas tenho tendências a me perder na minha própria cabeça devido ao meu Fluxo de Pensamentos Constantes (FPC). Esse era um pequeno problema que os filhos de Atena têm que lidar, além dos problemas eventuais de todo meio-sangue como a dislexia e o déficit de atenção, inclua também o FPC, e teremos um semideus problemático. Até demais. É nessas horas que o meu FPC ataca de forma absurda que só o meu déficit de atenção trabalha a meu favor, como aconteceu naquela hora em que eu ouvi vozes na varanda, despertando-me. Estava tão perdida que nem percebi que estava parada na porta desde a hora que cheguei.

Isso, Annabeth continue fazendo papel de louca que muito em breve você vai conseguir uma participação na novela das oito...

Expulsei todas as idiotices que invadiam minha mente, coloquei o meu boné e fui até a varanda, já sabendo de quem eram as vozes. Não preciso dizer que era Quíron e Grover, né? Você já deve ter deduzido isso sozinho (a). Ou deveria...

Em fim, não importa.

A porta que dava para a varanda, como já era de se esperar estava aberta. Encostei-me lá casualmente, como se também eu fosse uma convidada para o bate-papo. Deitado numa espécie de cama estava meu velho amigo sátiro, com o braço esquerdo enfaixado numa tipóia, os cascos com pequenas bandanas, assim como a cabeça. O rosto estava com pequenos arranhões, e demonstrava cansaço. Quíron estava em sua cadeira de rodas, o disfarce que usava quando queria se passar por humano, e ouvia atentamente o que Grover dizia.

-Estou dizendo Quíron: já era! Dancei, game over, fim! Depois do desastre dessa missão, nunca vou conseguir minha licença de Buscador, nem hoje e nem se o senhor D entrasse num regime.

- EU OUVI ISSO, FILHOTE DE CAVALO! – gritou o senhor D de onde quer que esteja.

- Foi mal! – replicou Grover – Como eu dizia Quíron, eu não tenho a mínima chance de trazer Percy de volta. Olha o que aconteceu comigo quando tentei brigar com aqueles feiosos – ele apontou para o braço enfaixado, suspirando – Acabou. Não vamos vê-lo tão cedo...

- Ora, pare com isso Grover. Vamos sim trazer o garoto para o acampamento, mas é você quem tem que fazer isso, Grover, e você sabe disso. Você precisa convencer o Conselho a lhe dar mais uma oportunidade, e completar a missão, só assim você vai conseguir sua licença de Buscador. Obviamente que você não irá sozinho, porque você vai precisar de ajuda para encontrar Percy Jackson, ainda mais se ele estiver a bordo do “Queen Anne’s Revenge”...

Grover estremeceu, fazendo uma careta, enquanto Quíron franzia a testa. Como eu captei a metade da conversa, fiquei confusa também. Então, o meio-sangue foi seqüestrado? E o que tem a ver esse tal de “Queen Anne’s Revenge”? Não é um navio lendário?

-Por enquanto, eu acho que devemos esperar a decisão do Conselho hoje à noite, Grover, antes de tomar qualquer atitude...

- Quíron, não vá me dizer que você vai convocar uma reunião? Fala sério, isso vai ser humilhante demais!

- Grover, você quer ou não sua licença de Buscador? – indagou Quíron parecendo irritado com o chilique do sátiro.

- Sim, mas...

- E claro que para trazer Percy Jackson para o acampamento você vai precisar enfrentar piratas sanguinários, risco de morrer afogado, ou com a sua sorte, morrer em alguns dos confrontos que essa raça maligna causa em alto mar.

- Também, mas Quíron...

- Então, não temos mais nada a discutir até a noite, meu caro sátiro. Na reunião do Conselho vou interceder por você, e caso tenhamos sucesso, convocarei uma reunião com todos os líderes dos chalés e contar o caso. Acho que teremos uma missão... E espero sinceramente que dê tudo certo.

Quíron sorriu solidário para Grover, este com uma carranca enorme. Eu não o culpava. Eu entendia bem o sentimento de se sentir um inútil, o que eu tenho certeza que era como Grover estava se sentindo. Essa é um das poucas coisas que eu e ele temos em comum, essa idéia de sempre querer se por à prova. Desde o que aconteceu com Thalia, mesmo que já faz anos, Grover ainda não superou o fracasso, mesmo que só parcial, porque Luke e eu sobrevivemos dos monstros para contar a história, pois ele ainda se sente culpado e um perdedor.

- Bom, vou deixar você descansar... Porém eu acho que você ainda vai ter companhia, não é Annabeth?

Estaquei no meu lugar. De alguma maneira Quíron sabia que eu estava presente, mesmo estando invisível. E isso significa que ele sabe que eu estava espionando!

Oh meus deuses! Eu estava morrendo de vergonha, eu até podia sentir meu rosto queimando.

- Annabeth? – replicou Grover – Ela está aqui?

Quíron se virou para onde eu estava parada olhando diretamente para mim. Como sou tola, querer enganar um centauro que treinou vários meio-sangues! Ele já viu de tudo quanto é truques e disfarces, e não ia ser um boné da invisibilidade que o enganaria, além dos seus sentidos aguçados de centauro.

- Não se preocupe Annabeth – ele sorriu para mim – Eu sabia que você viria mais cedo ou mais tarde. Bem, vou deixar você conversar com Grover à vontade. – Virou-se de novo para o meu amigo – Cuide-se meu caro sátiro, e fique preparado para hoje à noite.

Ele arrastou a cadeira de rodas para a porta onde eu estava. Dei passagem a ele, e posso jurar pelo Rio Estige que ele estava rindo da minha cara de boba.

Humpf! Ótimo! Todo mundo gosta de tirar sarro da Annabeth. Acho que ao invés de eu ganhar um papel na novela das oito pela minha loucura (sério, esses escritores de novela estão com sérios problemas em criar personagens. Eu hein, cada um mais sem noção que o outro...), vou ganhar também um emprego num circo, aí todo mundo vai poder rir de mim à vontade...

Foco, Annabeth, foco, controla esse seu FPC.

Tirei meu boné, materializando-me diante de Grover, que por sinal levou um susto. Agora foi minha vez de rir.

- Olá, Grover.

- Ei, Annabeth, odeio quando você faz isso...

- Desculpe – dei uma risadinha – Mas sua cara foi engraçada.

Ele sorriu fracamente. Foi por pouco tempo, pois logo sua expressão murchou. Preocupado, percebi. Envergonhado também entra na classificação no olhar que meu velho amigo dirigiu a mim.

- Você ouviu tudo, né?

- Não tudo – sentei-me em uma cadeira em frente a ele – Só a parte de você enfrentar piratas sanguinários e o “Queen Anne’s Revenge”.

Grover reprimiu um balido de agonia.

- É a culpa é minha, eu não devia ter inventado de querer trazer o Percy durante a noite e sozinhos. Eu deveria ter esperado e pedido reforços a Quíron... Mas fui arrogante, eu pensei que eu daria conta sozinho. Estúpido demais, depois do Minotauro eu me desesperei...

- Vocês enfrentaram o Minotauro? Pode contar tudo desde o começo, eu quero saber o que aconteceu! – exclamei morrendo de curiosidade.

Grover respirou fundo e continuou:

- Percy enfrentou o Minotauro, eu só o ajudei como pude, não sei lutar muito bem. Foi assim que eu contei a ele sobre ele ser meio-sangue, etc. Estávamos voltando da escola, e como era ainda claro resolvemos dar um passei no parque. Agora que eu penso, foi realmente idiota. Quando vi o monstro farejando entrei em pânico. A sorte nossa foi que Quíron apareceu e deu a Percy Anaklusmos, do contrário...

Meus olhos brilharam de espanto. O garoto enfrentou o Minotauro sozinho! Claro, Quíron ajudou dando uma espada a ele, mas mesmo assim... Impressionante.

- Mas deu tudo certo, não é?

- Sim, Percy destruiu o bicho ficando com o chifre como prêmio, mas depois disso Quíron me advertiu a levá-lo de volta para casa, explicar tudo a mãe dele e partir para o acampamento no dia seguinte, que seria hoje. Esse foi o meu erro. Eu convenci Percy e Sally Jackson que ele deveria partir durante a noite, que eu o levaria em segurança. Por Zeus! – ele baliu de frustração – O que eu vou dizer a mãe dele? E eu já achava que estava encrencado o suficiente. O que eu podia fazer depois do que eu vi? Cruzes!

-Você se refere ao Minotauro?

- Não... Eu vi outra coisa... Ou melhor, pessoa espreitando na casa dos Jackson naquela mesma tarde. Foi por isso que eu parti com Percy durante a noite. Sally queria nos levar de carro, mas era muito perigoso, então ela nos pagou um táxi até Long Island... Mas deu tudo errado! Eu não cogitei a possibilidade dele estar nos seguindo, por pura burrice minha.

Eu já estava roendo as unhas de curiosidade e ansiedade àquela altura.

- Ele quem, Grover? Quem você viu espionando o tal do Percy?

- Ele, Annabeth... O capitão do “Queen Anne’s Revenge” – ele se inclinou olhando para os lados como se temesse o que iria dizer, sussurrando – Barba Negra, filho de Ares, juntamente com sua tripulação horrorosa – ele tremeu – Quando estávamos chegando ao pinheiro de Thalia, aqueles piratas fedorentos nos atacaram. Eram centenas deles. Barba Negra gritava para pegarem Percy, mas você sabe como é os piratas, não se contentarem em só amordaçar o coitado, ele tentou lutar, mas eram muitos e... – Grover engoliu em seco – Você sabe a maldição da tripulação do Barba Negra, não é?

- Sim, são todos zumbis feiosos durante a noite – respondi.

- Então... Eles queriam se divertir às minhas custas, provavelmente querendo fazer um churrasco de sátiro. Eles me pegaram e jogaram colina a baixo, rindo histericamente de mim. Bem que eu tentei lutar, o que não deu muito certo. Quando acordei, todo doído por sinal, Percy e os piratas haviam desaparecido.

Assenti, em silêncio. Grover deu um béé-e de frustração, pegando uma lata de refrigerante do chão, comendo a tampa. Enquanto eu estava digerindo toda a história que ele havia me contado.

Então realmente haveria uma missão. Quíron não ia deixar Grover ir atrás do Percy Jackson sozinho pelo fato dele ser prisioneiros de piratas.

É nessas horas que o meu FPC é muito útil. Havia um detalhe naqueles fatos que não fazia sentido.

- Grover?

Ele mastigou um grande pedaço de aço antes de responder.

- Sim?

- Tem uma coisa esquisita nisso tudo. Porque Barba Negra seqüestrou esse Percy Jackson? O que ele quer com esse garoto?

Meu velho amigo olhou para baixo indeciso, olhando de volta para mim. Comeu mais um pedaço da lata de refrigerante, soltando em seguida:

-Ah Annabeth... É porque Percy Jackson é filho de Poseidon, o Deus do Mar. Quíron e eu suspeitávamos há um tempo, mas depois do que aconteceu é certeza.

Foi naquela hora que eu queria bater minha cabeça na parede e ter seguido aquele velho plano de saber e deixar para lá. Não me meter ou querer a missão. Minha boca foi ao chão.

Não! Só pode ser uma piada!

Eu estava cogitando a possibilidade de salvar o filho do Deus do Mar, a quem a minha mãe Atena mais detesta!

Alguém, por favor, me leve para fazer companhia a Hades, eu seria uma ótima ajudante para Perséfone e seu jardim, porque qualquer coisa antes de irritar minha mãe se ela descobrisse o que eu queria fazer! Parece que não foi só Zeus quem quebrou a promessa de não ter mais filhos...

Porque nem se o próprio Poseidon implorasse que eu iria salvar o filho dele!

Não, essa missão não era para mim. Eu não estava tão desesperada assim a tal ponto de querer me rebaixar. Eu ainda tenho o meu orgulho, ok?

O problema era que eu queria a missão. Mais do que tudo.


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Notas finais do capítulo

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